domingo, 18 de novembro de 2018

Os acordes que embalam o coração

Manhã de segunda, aguardo participação no programa Hora Marcada, do Sérgio Corrêa. O telefone está em linha e ouço o comentário do apresentador, além da trilha musical selecionada pelo Otávio: o Café com Música. Somente os sucessos das décadas de 70 e 80, com direito a dançar juntinhos... Fico divagando, sozinho, e até para a vassoura ao lado da geladeira acabei olhando, pensando em dar alguns passos...
A Clarice mostrou um vídeo onde o governador Eduardo Leite dançava com desenvoltura. Os rapazes e moças de um CTG programaram uma apresentação a partir de uma gaiteira deficiente visual. O pessoal do grupo do Edinho já fez diversas apresentações - inclusive com tango - sendo portadores da Síndrome de Down.
O vídeo mostra um casal em dança de salão. Eduardo tem a música no sangue, não somente para dar seus passos, mas vem de família o gosto por uma boa roda musical. Uma forma de aliviar tensões e receber o afago que merece em tempos tão bicudos em que a arte de embalar o corpo diz tudo da sua capacidade de empatia e superação.
A turma do CTG precisou vencer preconceitos. A preparação os fez usar vendas e compartilhar de um mundo onde as cores e as imagens desaparecem. O desafio não está em deixar de enxergar, mas superar os próprios limites, indo além do que se julgava capaz. Exercitar a dança, a sincronia, sem mais nada a não ser a sensibilidade musical, com o mesmo ritmo que embala os ouvidos e orienta os passos.
Os meninos e meninas da Síndrome de Down dançam por prazer. Subir ao palco é apenas um detalhe. Não creio que tenham a compreensão da admiração e do sucesso que alcançam. Brincam com o próprio corpo, repetem coreografias ensaiadas com a delícia de verem um conjunto que pode deixar a desejar no sentido de "perfeição" daqueles que são considerados "normais", mas que, para eles, é o máximo!
Tirando o meu bailado com a vassoura - que não aconteceu - as demais mostram o quanto dançar é daquelas artes com mil e uma utilidades. Pode até ser erótica (e porque não?), mas vai além: embriaga todos os sentidos e cada uma das fibras de nosso corpo. Para o dançarino se sair bem não é somente necessário atender à coreografia, mas fazer com que a própria alma se entregue ao prazer!
Às vezes esquecemos nosso pé na África e no meio indígena, gente que dança até em cerimônias religiosas. Vez que outra, nossas origens são mais fortes e, mesmo com um canto religioso, não resistimos em balançar o corpo! Um daqueles instantes em que matéria e espírito se dão ao direito de estarem juntos. Pode parecer loucura, mas há momentos em que apenas quem necessita da música é capaz de ouvir os acordes que nos fazem dançar, embalados pelo sussurro do coração!

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