domingo, 6 de maio de 2018

Sonho e compromisso

Noite de temperatura amena. A janta terminou e se ficou ao redor da mesa. O Agostinho fez a pergunta: o que os manteve juntos por 40 anos? Um olhou para o outro. Não responderam em coro, mas confirmaram o que já se sabia: a capacidade de manter a cumplicidade - sem perder a identidade - fizera deles um casal exemplar.
José Inácio e Sandra têm uma longa história. Ela disse que aquilo que os manteve unidos foi um sonho. Ainda estava nos bancos escolares quando conheceu um grupo de jovens - ele estava no meio - que se apresentou falando a respeito de vivência comunitária. Estavam nascendo as Comunidades Eclesiais de Base, nos fundos do Areal e depois migrando para Monte Bonito, onde ainda hoje residem e atuam.
O José Inácio é mais tranquilo. Olhar sereno procurando quase que falar com cada um em particular, e tinha a receita: o compromisso. O sonho se fazia concretude no compromisso que um estabeleceu com o outro e os dois fizeram com a comunidade e, mais tarde, com a família. O jeito de ser de cada um - diferente e complementar - ajudou no engajamento social e a cuidar dos seus.
Foi o Paulo Sérgio que insistiu em jantarmos juntos. O que foi uma bênção. Não os via há muito tempo e tive a graça de encontrá-los numa fase em que já se pode avaliar a caminhada porque, embora não pareça que o tempo tenha passado, há uma estrada percorrida. Ele diácono da igreja, ela lidando com educação, sabem que participaram da história de muitos moradores daquela região e também da diocese católica.
Falou-se de família e do que leva, muitas vezes, a relação de um casal a dar certo - ou não. Que é fundamental estabelecer a cumplicidade sem perder a autonomia de cada um. Quando isto desaparece, não há mais sentido em permanecer juntos. Mas há um outro elemento que ainda pode fazer com que tenham atividades conjuntas: os filhos.
Naquela noite fiquei com esta impressão: juntos ou não, encontrei casais que souberam educar filhos e, especialmente, ajudaram-nos a criar a própria identidade e buscar o seu lugar social. A referência continua sendo a família - do jeito que for - com a tranquilidade de saber que ali encontram um porto seguro.
No interior de Monte Bonito, à beira de um fogão à lenha, um casal alimenta o seu sonho: uma família amadurecida e que a humanidade ainda tem jeito. Em suas atividades continua com o entusiasmo que os encontrou quando jovens e que não perderam ao longo de sua história. Um mistério? É possível, um mistério que somente o compromisso de viver a fé, a sua religião e o serviço de busca por uma sociedade mais justa conseguiu manter ao longo de 40 anos!

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