quarta-feira, 30 de maio de 2018

Só queria ouvir a tua voz




A propaganda é especialista em aproveitar momentos como o Dia dos Pais para vender através de cenas que trabalham a nossa sensibilidade. Quando envolvem crianças, então, é prato cheio. Não há como resistir a rostinhos carinhosos, em lágrimas, carentes ou com um sorriso de dobrar o mais sisudo dos homens. Mas, nos últimos dias, a cena que mais me chamou a atenção é a de um rapaz que liga e se ouve apenas uma frase: “pai, só queria ouvir a tua voz”. Vencidos todos os preconceitos machistas, uma simples frase demonstra saudades, carências, necessidades, afeto. Não se ouve o que é dito do outro lado, mas nem é preciso. Até o silenciar é carregado de significados. E que significados!

Nas andanças que tenho feito nunca encontrei uma receita que desse certo na relação afetiva e no papel que o pai tem na formação de um filho. No entanto, o que se percebe é que a presença positiva, especialmente pelo exemplo, exerce um poder que, se não for determinante, ao menos indica com muita clareza o que vai ser o futuro da criança ou do jovem.

A sociedade praticamente delegou à mãe a tarefa e o dever da educação. E creio que ela sempre se saiu muito bem, na medida do possível. No entanto, são elas que reconhecem que a tarefa de auxiliar os filhos a encontrar seus rumos sempre se torna mais fácil quando há a presença do pai.

A frase “pai, liguei só pra ouvir a tua voz” tem, entre muitos significados, o da cumplicidade. Muitos adultos dizem que só se sentiram realizados quando encontraram, entenderam e aceitaram que o pai, embora com seus defeitos, também tinha muitas qualidades, uma delas era o fato de amá-los incondicionalmente, estando presente em praticamente todos os momentos de suas vidas.

Fico encantado com os filhos que não abrem mão de expressar seu carinho, através de abraços e beijos; encontram tempo para gastar com o pai em qualquer idade; acham um olhar que mostre ternura e capacidade de entendimento. Lembro de uma pequena história que dizia: na nossa “evolução”, aos oito anos, pensamos que “o pai é um herói”; chegando aos 13, “tem alguns deslizes”; aos 18, “o velho não tá com nada”; aos 40, “até que tinha razão em algumas coisas”; e aos 50, “o velho era um sábio!”

Seria bom se não levássemos tanto tempo para reconhecer o quanto são importantes! Aprenderíamos mais cedo que a presença de um pai representa um esteio para a família, um presente de Deus, que também é pai, e soube nos dar esta companhia impar para a qual sempre vale a pena dizer: “pai, liguei só para ouvir a tua voz!”

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