sábado, 7 de março de 2009

Gasolina na fogueira

O estupro de uma criança na faixa dos nove anos, que ficou grávida, e a decisão das autoridades, juntamente com a mãe e uma equipe médica pelo aborto, foi o destaque nas discussões dos últimos dias. Para apimentar, a mídia foi procurar a posição da Igreja Católica que se manifestou da única forma que poderia fazê-lo: por princípio é contra e nega àqueles que assim agiram os direitos da própria Igreja.
O arcebispo que informou a excomunhão ficou surpreso com a repercussão e foi explicando que era um ato automático, pelas normas da Igreja. Ora, a Igreja não é um estado e legalmente é separado deste, portanto, não estabelece (como alguns veículos chegaram a dizer) leis. No máximo dá orientação aos seus fiéis e pede que sejam exatamente isto “fiéis”. Depois disto, é uma questão de consciência.
Ninguém é obrigado a ser católico, como não é obrigado a ser evangélico, umbandista ou espírita. Mas os credos têm o direito de serem respeitado em suas posições, mesmo que possa haver muita discussão interna e externa a respeito. Crucificar a Igreja Católica por uma posição considerada “conservadora” é reforçar o óbvio: ela é conservadora e, talvez por isto mesmo, sobreviveu aos séculos como referência da moral.
O grande problema é que, desta forma, desviou-se o foco da questão. Não haveria esta discussão se não tivesse acontecido o abuso sexual por parte de uma pessoa responsável pela menor. Sendo assim, temos que considerar duas possibilidades: um desequilibrado mental, ou uma postura social de quem já perdeu a noção do que seja ética e moral. A degradação, especialmente de populações marginalizadas, chegou a tal ponto que os instintos sexuais falam mais alto atentando contra inocentes. Um agente do estado afirmou que, em regiões pobres nas fronteiras, estes casos são comuns, com meninas e com meninos! É um problema sério. O que fazem autoridades públicas e pretensos defensores do direito das crianças que somente se apresentam quando a mídia faz o seu circo?
Embora a Igreja Católica se mostre avançada em outras áreas, nesta permanece inalterada e não há indicação de mudança a curto e médio prazo. Quando levanta debate sobre segurança, corrupção e necessidade de reformas passa a ter “denunciados os seus pecados”, para que se toldem suas virtudes. Os acusadores esquecem que, no Brasil, uma das poucas instituições que, efetivamente, lidam com crianças em situação de risco é a Pastoral da Criança, preocupada em prevenir problemas ao invés de lançar gasolina na fogueira.

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