terça-feira, 10 de setembro de 2024

Redes sociais: entre Zorro e dom Quixote

Os meios de comunicação tem apresentado a disputa entre Elon Musk (o homem mais rico do mundo e executivo da Tesla e da SpaceX) e o ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal) como a culminância de uma série de atritos pessoais. Não é verdade. Musk representa um grupo de conglomerados que compra empresas, visando turbinar e depois revender. Não “prega prego sem estopa”. Sabe que, em seguida, terá multiplicado seu lucro. É o caso da rede social X (antigo Twitter), foco da questão.

Já o ministro Moraes é o relator, no STF, dos inquéritos das fake news, milícias digitais e dos atos golpistas de 8 de janeiro. As investigações resultaram no bloqueio de uma série de perfis em redes sociais de pessoas acusadas por atentar contra a democracia e atacar o processo eleitoral brasileiro. Motivo de o acusarem de censura e cerceamento da liberdade de expressão pelos canais da internet. O Supremo é a casa que deveria resguardar e fazer cumprir a Constituição Brasileira. Paradoxalmente, em especial, do mundo do direito…

Eis uma boa discussão. Necessária e oportuna, embora, como sempre, no Brasil, a polarização nos coloque em atraso com relação a outros países. A liberdade de se expressar não pode ser confundida com permissividade e desrespeito às leis e agir contra o ordenamento democrático. A omissão do Congresso e a leseira do executivo permitem a sanha de interesses sectários e investidores internacionais, transformando o Brasil numa terra sem lei ou, no dizer do ministro, “uma terra de ninguém”.

Não morro de amores pelo sistema judiciário, especialmente sua mais alta corte. É a demonstração de como grupos se encastelaram no sistema, tornando-o refém de seus interesses. Como agora, quando se pretende o “direito da mais ampla defesa” para quem debocha da Constituição Brasileira. O magnata diz ter um dossiê contra o magistrado, demonstrando a pequenez da discussão: se há provas, deixar de as revelar também não é crime? Para o bem da democracia, tudo deve ser público até que, como na fábula, o rei fique nu…

Musk não é nenhum Zorro, defensor dos pobres e oprimidos. Nem são aventuras quixotescas. Ao contrário, o que foi passatempo nas redes sociais, hoje, é assunto sério, com vieses escabrosos. Em especial, no uso dos algoritmos que possibilita à rede X conhecer gostos, preferências e disseminar conflitos, de olho nas visualizações e aumento de seus lucros. Uma luta sem inocentes. Perdão, inocentes somos nós ao vermos apenas o que nos mostram e fazer uma “grenalização” até de uma coisa séria que deveria ser a política…

domingo, 8 de setembro de 2024

A magia em que transparece a realidade

Sonhar é o privilégio de abrir os olhos para

A magia que surpreende em uma imagem.

O sonho em que o despertar não é o fim,

apenas aceitar possibilidades.

Deparar-se com um rosto amigo,

Sorvendo a energia que transpira

Pelo silêncio do encantamento.

 

Sonhar é o mergulho na profundeza de um olhar,

Quando se flutua por universos de sentimentos,

Apropriando-se da luz que nasce de um sorriso.

Depois de passar despercebido por longo tempo,

Sentir um dia de sol na carícia

Que abraça o corpo inteiro,

Deslizando por cada fibra e aquecendo a pele...

 

O devaneio que emana

Do som da palavra que brota

Da boca da pessoa amada,

Sem se importar com o dito

Apenas compartilhar impressões.

O riso que parece sem sentido,

Onde toques e olhares

Reforçam a doçura de amar e ser feliz.

 

Passando pela névoa em que se perde

Na busca pelo conhecimento humano,

Desponta a magia do que é irrealizável…

Sôfregos, luta-se por se perder

Em pensamentos e devaneios, em que 

O sentido supera a fantasia e a imaginação.


A dança dos sonhos e da magia

Tem gosto de poesia.

Abrem o portal da mente, 

Se desnuda o inimaginável e

Liberta o coração das amarras do quotidiano.

A sensibilidade em que a alma respira,

Fugindo ao torvelinho

Que habita o mundo da fantasia.

Onde esperar é tão simplesmente 

A razão de divagar… e de sorrir! 

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Me faça rir, me faça sorrir…

Não sei contar coisas engraçadas.

Nem fazer caretas que contagiam.

Sequer ser espirituoso.

Admiro quem é capaz de, 

Apenas comprimindo um olhar,

Fazer com que todo um ambiente se desanuvie.

Pessoas que fazem rir 

Dão razão para nos sentirmos amados…


O que é diferente em alguém

Que nos faz gostar ou não de uma pessoa?

Algo da graça de Deus as atinge.

Ficam marcadas pela capacidade

De tornar mais leve um estado de espírito.

Apenas são exatamente o que são...

O que é supérfluo, 

O que se percebe que não é delas,

Incomoda ao ponto de turvar nossa

Capacidade de as acolher.


Se não for possível rir, sorrir já me basta.

A disposição de compartilhar alegrias, contagiar.

Sentir-se bem em estar junto com alguém.

Aqueles que nos fazem felizes

Têm a melhor risada, que se torna única!


Me faça rir, me faça sorrir…

Meu dia preferido é aquele em que compartilho

Do teu riso e do teu sorriso.

Ficam marcados nas lembranças,

Aquecendo os momentos das tuas ausências.

Rir e sorrir é uma das garantias de existir...


É música que alimenta o espírito,

Uma bênção que entidades celestes

Compartilham com a humanidade. 

Etéreo, buscando nos sons

Os significados que transcendem a imaginação. 

Derramando-se pelos olhos, pelos lábios, 

Em cada marca de expressão do rosto.


Ali, onde se ausenta o riso e o sorriso, 

Restam rostos impassíveis,

Desprovidos de sensibilidade,

Carentes do próprio significado.  

Necessitam do rastilho

Que reinventa a própria sina:

Compartilhar um sentido

De que, no outro, está a razão de existir…

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Com o cheiro de sangue nas mãos…

A crise Israel/Palestina e as eleições na Venezuela têm algo em comum? Infelizmente, sim. Em ambos os casos, há interesses em jogo entre duas das potências mundiais (e nucleares): Estados Unidos e Rússia. Não é à toa que, lá e cá (Oriente Médio e América Latina), frotas navais deslocaram-se para atender interesses armamentistas. O Brasil já teve (e perdeu) a oportunidade de ser protagonista como força de equilíbrio geopolítico. Hoje, desfruta de um incômodo sentimento de não saber como sair de cima do muro…

Recentemente, a esquerda criticava os Estados Unidos por deslocar seus navios no mar Mediterrâneo, dando retaguarda a Israel, na sua luta contra o Hezbollah. Uma briga que a população israelita e sequer a palestina desejam. São atingidas como “efeitos colaterais”. No caso venezuelano, o resguardo russo é para manter um ditador que debocha com a sua população, assim como seus apoiadores internacionais, ao desacreditar o próprio processo democrático. Cobrado pela direita internacional.

Já falei sobre a relação Estados Unidos, Israel e o mundo árabe. Infelizmente, não se crê numa solução a curto prazo. Ali não é apenas uma questão de disputa étnica. Como já disse, as populações civis há muito tempo pedem por paz para poderem viver com dignidade. No entanto, vaidades, interesses financeiros e de poder (como a indústria armamentista) não se interessam por civis, depois que assumem os governos, o que se dá tanto em ditaduras travestidas de esquerda, assim como aquela que tem um verniz de direita.

O tabuleiro das relações internacionais deveria ser “jogado” por quem é preparado para entender de comércio, relações culturais, profissionais, entre outras. Criaram-se instâncias com alcance mundial para zelar pela correta relação, assim como, dirimir dúvidas e conflitos. Até ali. Quando interesses que não são públicos acabam “feridos” de alguma forma, estes organismos travam. Com mais competência, os governos americano e russo “convencem” aqueles que ouvem o canto da sereia a serem seus “porta-vozes”...

As frotas americana e russa na beira dos conflitos é sintomático. Farejam sangue. Sangue derramado nas mãos de dirigentes que titubeiam em condenar os vieses autoritários. A liberdade da qual estes povos foram privados e a violência que se abateu sobre eles é uma mancha na diplomacia brasileira e no próprio governo. Triste ver que, há muito tempo, as vozes mais sensatas deixaram de ser ouvidas. Hoje, os conflitos localizados têm potencial de se ampliarem, atingindo o planeta. Rezemos para que eu não tenha razão…

domingo, 1 de setembro de 2024

Os “estrangeiros” da minha rua

 

Minha rua guarda ecos de tempos perdidos.

Passaram-se os anos e testemunhei

Muitas partidas e outras tantas despedidas.

Poucos ficaram, muitos não voltaram.

No entanto, mesmo com tudo mudado,

Ali se definiram rumos,

Percursos com marcas nas lembranças.

 

Vivências fixadas nos meandros das memórias,

Voltando para não esquecer do passado.

Nas pedras e no asfalto,

Que substituíram a terra e as valas,

Há um resquício de risos, crianças brincando,

Gemidos de idosos,

O olhar esperançoso de jovens e adultos…

 

Para um passante desavisado,

Parece apenas um corredor de carros ou de 

Pessoas refugiando-se em seus pequenos mundos,

Transitando na ida ou na volta do trabalho.

Os lugares que eram esconderijos e

Campinhos de futebol ou de taco

Foram ocupados por condomínios.

Os novos moradores já não têm

As mesmas memórias.

Tristemente, perderam suas referências.


Os “estrangeiros” da minha rua

Veem na vila apenas um dormitório,

Não é local marcante nas suas histórias,

Onde se abrigam raízes.

Homens e mulheres que

Fazem das casas um refúgio da solidão,

O existir com pouco ou nenhum sentido…

Quem passa pela vila, 

Talvez o faça com indiferença.

Não compartilhou momentos

Com quem conviveu e luta para não esquecer.


O que dá sentido à minha rua é que,

Mesmo comparada com muitas outras,

Sua diferença está em ser nela que 

Turbinamos as mentes e os corações.

O tempo para enfrentar lugares e destinos diversos,

Onde apenas os sonhos conseguiram encantar

O que ansiávamos que se tornasse realidade…

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Posso segurar a tua mão?

A criança inicia a vida

Explorando as próprias mãos.

Se apropria do sentido das coisas,

Desenhando com elas a sua forma, 

Descobrindo cores e texturas.

Precisa-se delas para sentir o carinho,

Aprender as formas de interação, 

Receber os primeiros fluidos do amor.

 

No ocaso da vida, encontra-se o idoso

Que ficam longos períodos

Erguendo as mãos ao Sol,

Gravando detalhes que o tempo

Cinzelou na articulação dos dedos,

Escureceu num dorso judiado

E escondeu na palma

O traçado de um destino…

 

Se hoje seguro as tuas mãos,

Chegará o momento de prenderes as minhas.

Elas são capazes de atrair,

Assim como manter afastado 

Ou, quem sabe, demonstrar indiferença.

Nos momentos de cansaço,

Preciso que coloques as tuas em meus ombros,

A energia que recarrega o meu coração.


Nascemos e nos firmamos na vida

Guiados pelas mãos dos pais;

Aprende-se a valorizar 

Aquelas que se tornam amigas;

E se espera viver

A parceria com a pessoa amada,

Que redesenhe o mapa dos nossos corpos.


Dói pensar que a carência das mãos 

Faz com que se perca o brilho no olhar,

Quando o entardecer da existência

Preocupa e muitas vezes assusta.

Todas as partidas têm um aceno de mãos.

A lonjura e o afastamento

As tornam mais lentas.

Precisam secar os olhos

E mirar mais distante a própria esperança…


Ao perceberes que estou de partida,

Coloca tuas mãos sobre as minhas.

Não haverá razão em pensar ter sido o fim,

Apenas um momento de passagem.

Quando, novamente, se encontrarem,

Saciarão o desejo da eterna busca 

Por amores que preenchem o sentido 

De cada instante da existência…

terça-feira, 27 de agosto de 2024

A ira que não vem de Deus

 Os recentes acontecimentos climáticos no Rio Grande do Sul motivaram comentários de pessoas com conhecimentos técnicos e bem intencionadas, assim como "achistas" e distribuidores de notícias falsas. Recentemente, encontrei nas redes sociais comentários de supostos religiosos a respeito do que motivou as catástrofes que se abateram sobre o estado. Infelizmente, um bom número de brasileiros (e gaúchos) faz parte da "massa ignara", transformando-se em rebanho conduzido por lobos disfarçados de pastores. 

Foram muitas mensagens falando a respeito dos supostos "pecados" cometidos pelos gaúchos e que teriam despertado a "ira de Deus". Não sou teólogo e falo a partir da minha crença como cristão/católico. Quem propaga a "ira de Deus" não conhece os Evangelhos que estão na Bíblia e a pregação de Jesus. Homens e mulheres que se dizem religiosos, mas defendem o uso de armas, assim como a supressão da liberdade de expressão de seus adversários (à direita e à esquerda)... estes não entenderam a mensagem do Nazareno!

Se a população está se afastando das religiões tradicionais (e agora até das neopentecostais), é muito provável que a responsabilidade seja daqueles que se acham administradores, intelectuais, mas esquecem de ser pastores, cuidadores do povo. Homens e mulheres que fazem Deus refém de interesses. Despejam suas frustrações em pragas que servem para amedrontar e afastar quem já está repugnado com crenças que negociam um espaço nos céus. Sem a preocupação de possibilitar um melhor lugar onde viver na Terra.

Há profetas que suplicaram a tolerância de Deus com cidades supostamente pecadoras, pela existência de um pequeno número de pessoas boas. E foram poupadas da aniquilação. Nas localidades afetadas, agora, existem muitos homens e mulheres de boa vontade em diversos credos religiosos. Os cristãos acreditam na misericórdia de Deus. Existem muitas coisas que não se entende e este é o motivo de se basear a crença em um Ser Supremo na própria atitude de fé. Eis o motivo pelo qual a vida é o caminho de todas as utopias. 

O que estamos passando é a ira que não vem de Deus. Vem da irresponsabilidade humana no cuidado com nossa única casa: o planeta. Querem encontrar culpados? Procurem também dentro do magistério das igrejas cristãs tradicionais que, hoje, se omitem em trabalhar a consciência social de seus seguidores. No barro e nas dificuldades da estrada se constrói a esperança que tem no leigo o protagonista da educação, política, comunicação e todas as áreas que fazem do mundo um lugar que deveria antecipar a Eternidade…