domingo, 5 de setembro de 2021

Os silêncios que não fazem a comunicação

Toda a vez que se fala em comunicação, se destaca a importância dos meios e do comunicador e se esquece daquele(a) que é a razão da nossa ação: o destinatário. Pois a pandemia deu uma baita ajuda para se fazer uma reflexão a respeito desta temática, especialmente no que diz respeito às redes sociais. Creio que a maior parte já as conhecia antes de março de 2020, mas foi necessário um grande esforço para se intensificar seu uso, aprimorar o conhecimento de seus recursos e colocá-los à disposição. No maior período de solidão que a humanidade passou na sua história recente.

A psicóloga Margarete Andreazza me convidou para falar a respeito numa conversa pela TV Cidade (NET) de Farroupilha/RS. Em pauta: “Comunicação em tempos de pandemia”. Tivemos oportunidade de trocar um olhar entre a psicologia e a comunicação, num programa que tem um nome simpático: “Bem viver, corpo e mente”. Não pude deixar de registrar que poderia, também, ser incluído “espírito”, com questões relativas à fé e a religiosidade. O reconhecimento de que a comunicação é necessária para manter um equilíbrio saudável, que necessita da presença do outro.

Motivo da minha participação em encontros desta área, especialmente da Igreja Católica. O olhar do comunicador não pode ser para a câmera, mas para quem está do outro lado. Olhar para a lente é um olhar burocrático, técnico, de quem se contenta em fazer uma pastoral de gabinete e esquece de gastar os sapatos na direção das periferias existenciais, o que significa colocar a comunicação a serviço - e se fazer presente - nas demais pastorais. Em todos os meios e de todas as formas, tornam-se facilitadores para aproximar pessoas e não para ascendência de uma sobre a outra...

Tenho falado a respeito dos “três silêncios da comunicação” - a oração, meditação e reflexão. A primeira, como os espaços que alimentam a fé, que aproximam do Divino, o encontro pessoal e singular de quem abre seu coração para o Absoluto. O segundo é elementar para dar suporte à religiosidade. Em cada religião ou filosofia de vida existem autores que refletem e compartilham suas experiências, facilitando o caminho para quem está iniciando. Enfim, a reflexão dá suporte para se entender a sociedade na qual se vive, sob o ângulo de visão dos princípios adquiridos.

Também se pode falar em “silêncios doentios” e vislumbro alguns para uma reflexão: a ausência, a indiferença e a apatia. Os problemas se acirraram durante a pandemia, mas o afastamento de pessoas idosas e doentes, especialmente, transformou-se em tormento e agonia para quem se viu privado do convívio com familiares e amigos; quem tentou resolver seu problema e de familiares e não se deu conta de que não há mais como viver isolado, fechado numa concha; aquele que desistiu de toda relação porque não se sente com forças para retomar atividades físicas e emocionais.

Silêncios que não fazem a comunicação. À medida que surgem novos meios, aparecem desafios. Não é somente um “jeito” de encobrir o velho com roupagem nova, mas, em alguns casos, com o retorno às atividades presenciais, encontrar formas híbridas de reuniões e celebrações, por exemplo. A melhor forma de convívio ainda é o olho no olho, carinho, o abraço... Mas, parcela da população envelheceu ou tem doenças que a mantém em casa. Foram naturalizados como marginais na vida social. Pedem – e têm direito – à atenção e oportunidade de encontrar novas formas de conviver!

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Um santo homem de Deus

O dia 27 de agosto marcou os 22 anos de falecimento do arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara. Morreu em sua residência, aos 90 anos, ao lado da Igreja das Fronteiras. O “bispinho”, por seu tamanho, ou, apenas, o “Dom”, como era conhecido, pela ilação que os mais simples tiravam com o sentido da palavra: “um presente de Deus”. Uma das figuras mais importantes da história da Igreja Católica do Brasil, com atuação que repercutiu na ditadura militar e realização do Concílio Vaticano II (1962/1965), onde apresentou propostas para mudanças que ainda estão sendo feitas.

Durante algum tempo, trabalhando no Rio de Janeiro, ficou sensibilizado pelos problemas sociais das periferias, para onde destinava suas forças e de seu grupo. Deu-se conta de que era apenas um assistencialismo que sanava o problema do momento, mas não resolvia a longo prazo. Foi quando passou a se preocupar com os problemas estruturais, perdendo o apoio do governo e de grupos mais abastados. Em uma de suas conferências, sentenciou: “se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro porque os pobres não tem pão, me chamam de comunista e subversivo”.

Enviado para a arquidiocese de Olinda e Recife, deparou-se com a miséria e perseguição às lideranças envolvidas com as causas populares. Muitos de seus assessores foram mortos, numa tentativa de constrangê-lo e silenciá-lo. Quem assiste seus vídeos, ou conheceu-o pessoalmente, não consegue entender de onde saia tanta energia daquele corpo mirrado e desengonçado. Era enfático em declarar: seu alimento vinha da Eucaristia e de suas vigílias durante a madrugada, quando escrevia, rezava e – dizia - conversava com os santos e seu Anjo da Guarda, que chamava de José.

Sem poder controlá-lo, era necessário silenciá-lo. O governo proibiu os meios de comunicação de falar a seu respeito – de bem ou de mal – e até referenciar o seu nome. Quando uma porta se fecha, outras se abrem… e foi o que aconteceu. Instituições de Direitos Humanos e Universidades por todo o Mundo passaram a ter nele um convidado de honra para conferências, tendo-lhe outorgado prêmios como Martin Luther King, nos Estados Unidos, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega. Todo o dinheiro foi carreado para programas de geração de emprego e renda em sua arquidiocese.

Sua postura idealista e popular incomodava até mesmo a ala mais conservadora da própria Igreja Católica. Não somente no Brasil, onde um grupo deu respaldo aos governos militares, mas no próprio Vaticano, onde conservadores fizeram de tudo para mantê-lo afastado do papa Paulo VI. A implicância iniciou com a realização do Concílio Vaticano II, quando dom Helder foi um dos articuladores de muitas das mudanças que iniciaram com João XXIII, passaram por Paulo VI, empacaram com João Paulo II e Bento XVI, e voltaram a mostrar sua cara com o papa Francisco.

Padre Ivanir Rampon, da diocese de Passo Fundo, é um de seus biógrafos. Apresenta as metas que dom Helder defendeu: “sacramentalidade e colegialidade episcopal; a liturgia renovada e vivificada; o diálogo ecumênico; o diálogo entre o mundo subdesenvolvido e o desenvolvido; um novo modelo de Igreja alicerçado na pobreza e no serviço; a figura do bispo pastor; a importância de dar atenção aos ‘sinais dos tempos’”. Um místico, um santo homem de Deus que, em seguida, chega aos altares das Igrejas, mas já encontra um lugar no coração, especialmente, do sofrido povo nordestino…

domingo, 29 de agosto de 2021

“Tio, tu tens que vir aqui!”

Não sou muito exigente com relação à comida. Não vou dizer que como de tudo que colocam à minha frente, porque não é verdade. Tenho restrições… mas também tenho explicações! Sejam tolerantes! Quando pequeno, nossa situação era de pobreza e achávamos a comida da mãe, dona França, uma maravilha. O melhor dia da semana? segunda-feira: era cozido o feijão e assado o pão. Antes de colocar o feijão na panela, fritava o toicinho, em pedaços. Uma fatia de pão novinho com a gordura e nacos da fritura era um manjar que somente os deuses poderiam inspirar!

Veio o tempo do Seminário. Anos difíceis. O padre Guerino era o reitor e tinha que se virar para alimentar cerca de 50 meninos, em fase de adolescência, que comeriam um boi por uma perna! Era necessário apelar para quem pudesse dar uma mão. Uma das ajudas vinha da agência americana “Aliança para o Progresso”. A entidade enviava tabletes de carne moída, sagu com vinho e arroz com leite, que precisavam ser reidratados. Sempre chegavam próximos de vencer. Então, as irmãs tinham que preparar na segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo, segunda...

Resultado: Hoje, tenho dificuldades até com o cheiro destes alimentos. E já declarei: quando morrer vou fazer uma negociação com São Pedro para facilitar a entrada da Gilse (Marmitex da Gilse) no Céu. A turma dela entrega comida caseira aqui em casa, durante a semana. Tudo vai bem quando tem o feijão, o arroz, um legume, uma salada e uma carne. Mas, quando começam as panquecas, almôndegas, bolinhos de guisado, preciso mandar mensagem pedindo a sua substituição. Não me importo que seja até um ovo frito, desde que não precise me deparar com carne moída...

Passo longe, também, de doce para pão a base de pêssego. Explico: nas férias de fim de ano, o padre Guerino passava com a kombi (também chamada de “kombi do padre Guerino”) e recolhia a molecada. Missão: ir para a chácara colher pêssego. O programa até que era legal. Mas, depois, vinha a fase da “industrialização” e a gente passava alguns dias ajudando as irmãs Da Paz e Leonida a descascar, descaroçar e transformar em chimia. Guardada em latões grandes, era a “mistura“ para o pão, no café da manhã e da tarde! Durante muitos meses! Sem nem pensar em manteiga ou frios.

Lembrei disto quando comecei a trabalhar um texto sobre catequese em que valorizo o “ágape” (refeição) e o “ludus” (brincadeira, interação). Antes da pandemia, tínhamos dois grupos que se reuniam, periodicamente, para realizar uma janta. As horas passavam muito rápido, porque o convívio era com pessoas já das nossas relações há muito tempo. Claro que era importante o que se colocava à mesa (alguns até faziam experimentos gastronômicos…), mas o que mais importava era a possibilidade do convívio, sem tempo preestabelecido e com a confiança dos amigos.

Telefonei para minha sobrinha, a Vânia, para saber notícias. A Júlia (sobrinha-neta) entrou na linha e disse: “tio, tu tens que vir aqui!” Mais do que uma convocação, o jeito de dizer que estamos distantes há muito tempo. Com cuidados necessários, é momento de voltar a conviver e ocupar espaços de sanidade mental. Aprendemos bastante com a pandemia. Encontramos novas formas de nos comunicar, mas estamos carentes da proximidade física e do afeto. No reencontro, vai ter rodas de carreta… Por favor, sem guisado, sagu com vinho, arroz com leite ou chimia de pêssego!

terça-feira, 24 de agosto de 2021

As aspas do preconceito e da deficiência

A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla deste ano iniciou dia 21 e vai até 29 de agosto. Com atividades por todo o país, teria chamado a atenção apenas de pais, amigos e educadores da área, não fosse uma declaração infeliz do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de que crianças com deficiências atrapalham os demais alunos em sala de aula. Foi tentar se explicar e complicou ainda mais ao relatar que 12% das crianças com deficiência que estudam em escolas públicas têm um grau que impossibilita a convivência com outros alunos.

O próprio site do ministério da Saúde registra que a Semana “visa ao desenvolvimento de conteúdos para conscientizar a sociedade sobre as necessidades específicas de organização social e de políticas públicas para promover a inclusão social desse segmento populacional e para combater o preconceito e a discriminação”. Parece que o ministro não leu esta parte e, se leu, não entendeu… Quem sabe uma das crianças com deficiência, que lhe mandaram cartas, ajude no seu discernimento. Uma delas chegou a afirmar: “ministro, o senhor atrapalha o Brasil!”

Os meios de comunicação mostram matérias que demonstram o quanto estamos atrasados em atender a pessoas com deficiências físicas ou intelectuais. Somam-se, ainda, as deficiências adquiridas com a idade, que colocam no mesmo patamar de um cadeirante ou deficiente visual, no acesso a calçadas, ingresso em áreas ou serviços públicos. Cuidados que as administrações das cidades precisam ter, mas que também necessitam da solidariedade de todos nós em coisas simples, como a gentileza, a orientação e a atenção com quem precisa andar pelo leito de uma rua.

O desconhecido ministro da Educação foi infeliz ao falar sobre as crianças com algum tipo de deficiência. O direito, no que é elementar para que todos tenham condições semelhantes, é oferecer oportunidades, não para igualar diferentes, mas para que possam realizar suas potencialidades. Alguns precisam ser atendidos por primeiro, exatamente como responsabilidade dos poderes públicos, oferecendo as estratégias necessárias para que não precisem abandonar seus sonhos, nem serem enjeitados pela sociedade e suas lideranças, mas acolhidos e compreendidos na sua diferença.

O ministro refez seu comentário dizendo que “atrapalha” seria entre aspas. Com ou sem aspas, é uma expressão preconceituosa, própria de adultos. As crianças não possuem este problema e, para elas, crianças são apenas crianças, com as quais vão brigar, testar seus limites, discordar... Tornam-se preconceituosas quando adultos incutem nos seus valores a discriminação de quem é diferente porque possui deficiência física ou mental. As experiências pedagógicas mostram que a inclusão se dá naturalmente quando os “maiores” não atrapalham e deixam o processo de socialização fluir.

O pensamento de que uma criança assim, na escola, atrapalha é tecnicista, descartou a compreensão do processo de educação. Crianças não nascem com manual que dita a montagem e o seu uso. Surpreendem desde as primeiras palavras, os primeiros sorrisos, balbucios, os dedinhos percorrendo nossos rostos… Não importa quantas vezes ao longo dos seus primeiros anos – e da vida – necessitem ser protegidos, terão avós, pais, tios sabendo que, se for necessário, os tomarão no colo, na busca por colocá-los em lugar seguro. Isto, se políticos e tecnocratas não atrapalharem…

Anjos que precisam criar asas…

Não é somente a dona Léa que gosta de desenhos animados. Vou confessar que também tenho a minha queda não somente pelos antigos, especialmente os da família Disney – pato Donald, Mickey, Pateta, Tio Patinhas... - e os recentes, com animações que envolvem não só pela plástica das produções, mas também pelas trilhas sonoras, as dublagens e mensagens que continuam dando. Pena que, em alguns casos, personagens de toda uma vida que ajudavam crianças (só elas?) a fazer um discernimento entre o bem e o mal, hoje flutuam no limbo do politicamente correto…

Num deles, chamou a atenção a cachorrinha mãe enfrentando situação de risco com seus filhotes e o único jeito de salvá-los foi pegando cada um pelo pescoço, subir uma rampa que não conseguiriam fazer sozinhos, e colocando-os em lugar seguro. Seis filhotinhos encolhiam-se num canto, enquanto um incêndio grassava e ia devorando a própria casa. Entre eles, um com defeito numa perna que mancava ao andar. Foi o primeiro a ser retirado. A cada volta para buscar mais um, cada vez mais fraca, aumentava o risco de desabamento e poderia perder a própria vida.

Sou um chorão inveterado e, ao ver todos salvos, brincando em torno da mãe, deitada no chão, cansada, mas realizada, era a parábola de quem, de alguma forma, preocupa-se com o outro. Quer resgatá-los dos processos em que são anulados, marginalizados por alguns que, por miopia social, cerceiam os horizontes da vida alheia. Famílias e educadores se envolvem em discussões da macropolítica e esquecem da necessidade do resgate pessoal de cada vítimas, não somente em tempos de pandemia, mas do histórico de abandono nos processos de inserção cidadã…

Sei que é exceção, mas nos últimos dias ouviram-se relatos de maus tratos com crianças e, até, o desaparecimento de um menino na faixa dos 7 anos, possivelmente morto pela mãe. Nos casos recentes, ao que tudo indica, as mães, queriam novos relacionamentos amorosos e passaram a considerar as crianças como um estorvo. Para “controlar”, usavam de medicações para dormir, além de uma forte pressão psicológica, fazendo-as se considerar “ruim, ladrão, malvado, um filho horrível...” Imagine uma criança tendo que escrever este tipo de coisa ao seu próprio respeito!

Muitas famílias têm crianças nesta faixa de idade. Estão descobrindo o mundo e são “espoletas”, precisando que os pais encontrem formas para gastar sua energia. São carinhosos, parceiros, disponíveis para fazerem “programas de índio” em família. Depois, chega a adolescência e querem seguir os próprios caminhos, com seus próprios programas. Nesta fase, muitas mães, especialmente, consideram seus meninos como “companheirinhos”. Pensar num deles dopado e morto pela mãe é doença perigosa de quem gerou sem responsabilidade e não assume o fato de que precisa cuidar.

Tempos difíceis para se ter filhos e cuidar deles. Desafios que nós, que não os geramos, apenas intuímos. Quem os concebeu sabe dos altos e baixos que existem em todas as relações, em especial naquelas em que há a responsabilidade de educar. Deus tem um jeito estranho de apresentar os pais para um filho e um filho para os pais: o filho procura asas nos Anjos que seus pais serão por toda a vida... e o “pouquinho” de gente que se forma é um anjinho que ainda precisa criar asas. Já anuncia que vai lhes tirar o sono, mas também fazer com que suas vidas, de fato, passem a valer a pena!

terça-feira, 17 de agosto de 2021

A política, a liberdade de expressão e o bom senso

A prisão do deputado Roberto Jefferson (presidente nacional do PTB) acirra o debate a respeito dos limites da liberdade de expressão. Integrante da tropa de choque do presidente Bolsonaro, tem sido um dos que cerraram fileiras contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional, pelo andamento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que analisa a atuação do governo durante a pandemia. O ministro Alexandre de Moraes citou a “desestabilização das instituições republicanas” e atuação nas “milícias digitais” como fundamento para o seu pedido de detenção.

Jefferson pregou a luta armada, ataque aos poderes e desrespeito às instituições. Deu entrevistas e postou vídeos onde “incita a prática de crimes” (com orientação de como grupos usarem armas) e “ofender a dignidade e o decoro de ministros do STF, senadores e integrantes da CPI da covid 19”. O petebista é governista inveterado… Esteve ao lado dos presidentes Collor, Lula e se distanciou quando teve interesses prejudicados. Dono da sigla, afastou as maiores lideranças do seu partido.

Teatral, fareja o cheiro de poder. Parece que a expressão popular de que “o diabo é sábio não porque é diabo. O diabo é sábio porque é velho!” não se aplica ao político. Condenado por corrupção, saiu disposto a conturbar a cena pública e atiçar a polarização que tem sido nefasta à política brasileira. O PTB criado por Getúlio Vargas - e que a ditadura não deixou retornar a Leonel Brisola – acabou se tornando mais uma das siglas que se prestam a serem coadjuvantes dos processos políticos.

Numa conversa que tive com grupo de idosos, lembro ter dito que as pessoas não se tornam melhores porque envelhecem. Elas ganham mais experiência e, possivelmente, mais sabedoria. Esqueçam a segunda parte para o político em questão. Seu comportamento tem beirado sempre o limite da ilegalidade quando usa o partido para ataques à democracia, incitamento à violência, por uso de armas e doutrinação de como se aparelhar e se comportar contra “adversários”.

A legislação brasileira é competente para tipificar crimes. Mas é considerada tolerante para que especialistas jurídicos tencionem seu uso. Andrei Thomaz Oss-Emer reproduziu no Facebook informação de que, na Alemanha, um homem levantou o braço em saudação nazista, provocando grupo de direitos humanos e refugiados. Um policial se aproximou, abaixou o braço do fascista e informou que será processado. Por lá, saudar nazistas e torturadores dá três anos de prisão.

Na polarização política, está faltando bom senso. Gastou-se muito tempo com a cortina de fumaça chamada voto impresso. É hora de trabalhar e reparar estragos da pandemia e o atendimento aos problemas sociais que se acumulavamA questão não é ter razão, mas sensibilidade para o sofrimento alheio. Na luta de línguas afiadas da política, enquanto “grandes discussões” se dão junto a mesas fartas e sofisticadas, um quarto da população vive em pobreza ou extrema pobreza. Quer apenas um lugar para dormir, um prato de comida e um agasalho que a proteja do frio…

domingo, 15 de agosto de 2021

As doces vozes do rádio...

No domingo, dia dos Pais, faleceu o seu Júlio. Nos últimos tempos, com mais dificuldades, não andava tanto pela Vila Silveira. Da última vez que o vi, estava com a dona Eva e conversamos um pouco na calçada. Arqueadinho, tentava seguir os passos da esposa, que sempre andou bem mais rápido. Mas também já o havia encontrado com a Juliana e com o Leandro, seus filhos. E sempre ficava com a impressão que, ao longo de muitos anos, formaram uma família que se integrou aos antigos da rua, participando da comunidade, com bom humor, simpatia, carinho e solidariedade.

Puxando pela memória, lembrei as vezes em que a conversa foi mais longa e contou do seu amor pelo trabalho no rádio. Havia passado pela rádio Cultura (não tenho certeza), mas também pela rádio comunitária Imigrantes; aqui na vila, a rádio do Dodô (socorram-me com o nome) e, mais recentemente, não via sacrifício em se deslocar até a Colônia Maciel para atuar na rádio comunitária Padre Reinaldo. Acompanhava meus comentários pela rádio Tupanci, com o Jorge Malhão e, agora, com o Sérgio Correa. Atualizado, comentava textos que reproduzia por leituras ou por gravações.

Torcedor do Pelotas, tinha um olhar inquieto pela curiosidade e descobrir fórmulas de melhorar a sua atuação no rádio. Brinquei, numa ocasião, que “cachorro que come ovelha, só matando”. Explico: se o cachorro comer uma vez, é certo que vai tornar a fazê-lo. Então… Quem trabalha em rádio (e com política) não é diferente. Tem uma “cócega” por entrar no ar para um programa, boletim ou prosa. Fica viciado em espaços de notícias, esportes e variedades. O programa, em si, não importa muito, mas a companhia que o aparelho dá nas diversas horas do dia.

Aparelhinho que se transformou, nos últimos anos. Dos antigos rádios nas salas, já nem se fala. A da febre dos radinhos de pilha nas décadas de 70, 80 e até 90. Primeiramente, ouvindo em Amplitude Modulada (AM), já com fones; ou Ondas Curtas (OC), para acompanhar emissoras mais distantes, xingando todas as mães quando, à noite, diminuía a intensidade do sinal das emissoras locais (por ser região de fronteira) e as castelhanas entrava com força, assim como as do centro do país. E a Frequência Modulada (FM) melhorou a qualidade para ouvir, especialmente, músicas.

A informática facilitou o acesso às emissoras mais distantes, especialmente pela qualidade de som. O smartfone foi “adaptado” para ser o novo radinho que permite o alcance a esportes em nível internacional; acompanhar redes de notícias, na origem; segmentação musical, no estilo e no gosto de cada um: nativismo, samba, sertanejo, orquestras, rock, clássicos, enfim, o cardápio é infindo… O jeito que o meio encontrou de não perder o seu sentido e acompanhar os mais antigos ou os mais novos, com a profusão de ofertas de seleções musicais, de informação, de entretenimento...

As doces vozes do rádio se espalham pelas memórias… Paradas de sucesso; contadores de histórias; as Ave-Marias do fim de tarde; locutores esportivos; causos, conselhos, acompanhante das manhãs e das tardes, ou confidentes das noites… Memórias afetivas que contam nossa história com a música que tocou naquele momento especial… mensagem que emocionou ou o seu Júlio, que fez do rádio instrumento e sentido para chegar às pessoas mais simples, sabendo que ali está o companheiro de toda uma vida, pois dá asas à imaginação, consola, compensa a ausência e diminui a saudade…