domingo, 15 de agosto de 2021

As doces vozes do rádio...

No domingo, dia dos Pais, faleceu o seu Júlio. Nos últimos tempos, com mais dificuldades, não andava tanto pela Vila Silveira. Da última vez que o vi, estava com a dona Eva e conversamos um pouco na calçada. Arqueadinho, tentava seguir os passos da esposa, que sempre andou bem mais rápido. Mas também já o havia encontrado com a Juliana e com o Leandro, seus filhos. E sempre ficava com a impressão que, ao longo de muitos anos, formaram uma família que se integrou aos antigos da rua, participando da comunidade, com bom humor, simpatia, carinho e solidariedade.

Puxando pela memória, lembrei as vezes em que a conversa foi mais longa e contou do seu amor pelo trabalho no rádio. Havia passado pela rádio Cultura (não tenho certeza), mas também pela rádio comunitária Imigrantes; aqui na vila, a rádio do Dodô (socorram-me com o nome) e, mais recentemente, não via sacrifício em se deslocar até a Colônia Maciel para atuar na rádio comunitária Padre Reinaldo. Acompanhava meus comentários pela rádio Tupanci, com o Jorge Malhão e, agora, com o Sérgio Correa. Atualizado, comentava textos que reproduzia por leituras ou por gravações.

Torcedor do Pelotas, tinha um olhar inquieto pela curiosidade e descobrir fórmulas de melhorar a sua atuação no rádio. Brinquei, numa ocasião, que “cachorro que come ovelha, só matando”. Explico: se o cachorro comer uma vez, é certo que vai tornar a fazê-lo. Então… Quem trabalha em rádio (e com política) não é diferente. Tem uma “cócega” por entrar no ar para um programa, boletim ou prosa. Fica viciado em espaços de notícias, esportes e variedades. O programa, em si, não importa muito, mas a companhia que o aparelho dá nas diversas horas do dia.

Aparelhinho que se transformou, nos últimos anos. Dos antigos rádios nas salas, já nem se fala. A da febre dos radinhos de pilha nas décadas de 70, 80 e até 90. Primeiramente, ouvindo em Amplitude Modulada (AM), já com fones; ou Ondas Curtas (OC), para acompanhar emissoras mais distantes, xingando todas as mães quando, à noite, diminuía a intensidade do sinal das emissoras locais (por ser região de fronteira) e as castelhanas entrava com força, assim como as do centro do país. E a Frequência Modulada (FM) melhorou a qualidade para ouvir, especialmente, músicas.

A informática facilitou o acesso às emissoras mais distantes, especialmente pela qualidade de som. O smartfone foi “adaptado” para ser o novo radinho que permite o alcance a esportes em nível internacional; acompanhar redes de notícias, na origem; segmentação musical, no estilo e no gosto de cada um: nativismo, samba, sertanejo, orquestras, rock, clássicos, enfim, o cardápio é infindo… O jeito que o meio encontrou de não perder o seu sentido e acompanhar os mais antigos ou os mais novos, com a profusão de ofertas de seleções musicais, de informação, de entretenimento...

As doces vozes do rádio se espalham pelas memórias… Paradas de sucesso; contadores de histórias; as Ave-Marias do fim de tarde; locutores esportivos; causos, conselhos, acompanhante das manhãs e das tardes, ou confidentes das noites… Memórias afetivas que contam nossa história com a música que tocou naquele momento especial… mensagem que emocionou ou o seu Júlio, que fez do rádio instrumento e sentido para chegar às pessoas mais simples, sabendo que ali está o companheiro de toda uma vida, pois dá asas à imaginação, consola, compensa a ausência e diminui a saudade…



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