terça-feira, 16 de outubro de 2012

Aposentado e política

O fato de já ter escrito diversos artigos a respeito de aposentadoria e envelhecimento tem me granjeado convites para conversar a respeito de espiritualidade e de vivências para esta etapa da vida. Agora, que expectativa de vida aumentou, assim como a sua qualidade, tento colocar em pauta a questão da política, visto que é nela que se faz o convívio dos diferentes e se administra a vida de todos os cidadãos.
Embora, em princípio, todos torçam o nariz para falar a respeito, os preconceitos vão sendo superados quando as pessoas se dão conta de que se não agirem nesta área. Deixarão para outros a definição de seus próprios destinos, sendo eles encaminhados do jeito que é feito até agora, passando – no caso dos aposentados – a se contentar, em muitos casos, com as misérias que caem das mesas dos “senhores” da política.
O primeiro passo é assumir uma visão crítica das relações políticas, participando ativamente dos processos eleitorais, acompanhando candidatos - eleitos ou não - buscando repercutir aquelas mobilizações que visam dignificar o setor público, assim como a busca pela transparência dos gastos públicos.
O segundo passo é não ter receito das organizações sociais se envolverem com a política, sem que se envolva com a política partidária. Então, Igrejas, Sindicatos e outros organismos sociais têm, sim, que orientar seus quadros, especialmente quando se prepara uma campanha eleitoral, mas, também, quando está em jogo algum dos nossos valores, como foi o caso recente do “ficha limpa”.
Como falo para aposentados, quando se questiona a respeito de prejuízos causados pelos diversos planos governamentais e ação de nossos mandatários, todos têm alguma coisa a reclamar. Então, é hora de mostrar que esta categoria tem uma capacidade de mobilização que nem uma outra tem: tempo disponível, recursos mínimos necessários e uma formação que lhes permite discutir e argumentar. Um aposentado bem preparado é uma arma perigosa, pois pode ser um formador de opinião na família, na vizinhança, entre os amigos, disponível para encontrar candidatos dispostos a assumir suas causas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Para que termos parlamentares mais caros da Terra?

"Acho estranho e muito grava que alguém diga com tranquilidade que houve caixa 2. Caixa 2 é crime e atinge a sociedade brasileira. Fica parecendo que, no Brasil, o ilícito pode ser praticado". Fiquei feliz quando ouvi, ao vivo, para todo o país, a afirmação da ministra Cármem Lúcia, ao condenar o ex-ministro José Dirceu, dando condições que a sociedade passe a respirar com a certeza de que nem tudo está perdido.
No entanto, se vemos o Supremo Tribunal Federal dando o direito a um respirar já menos aflito com relação ao nosso futuro, alguns deputados deram, na semana passada, um triste exemplo, depois que o Bom Dia Brasil publicou uma matéria comparativa entre os custos parlamentares no Brasil e em diversos países do primeiro mundo. Damos de goleada: temos os parlamentares mais caros da Terra!
Com receio da repercussão, choveram telefonemas nas redações e direção da Rede Globo e a matéria não repercutiu nos demais telejornais! Triste que a potência deste meio de comunicação tenha se dobrado às pressões daqueles que têm medo que a sociedade saiba de suas mazelas.
Sobrou as redes sociais compartilharem o vídeo - que pode ser encontrado no You Tube - para nos enchermos, cada vez mais, de indignação. Não há como fazer uma limpeza nos três níveis do poder. Mas podemos, sim, pelo voto e pressão popular, encontrar exemplos positivos de cidadania. Os condenados agora - e outros que surgirão - mesmo com histórico político, aproveitaram-se da máquina pública e precisam ser punidos até para darem exemplo do que não se deve fazer. Discutir a relação entre a mídia e poder é uma consequência que ainda precisamos aprender para não ver nossos recursos sendo desperdiçados em ações que nada têm de públicas.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aposentados, mas não mortos III

O governo federal – diga-se presidente Dilma – se comprometeu com o Congresso Nacional – leia-se presidente da Câmara dos Deputados, o gaúcho Marco Maia – de que, passada as eleições, fecharia a negociação a respeito do fator previdenciário, que reduz o valor dos salários de aposentados, se estes buscarem o benefício antes dos 60 anos, para mulheres, e 65, para homens.
Não contava, no entanto, que, exatamente agora, as ações começassem a desaguar no Supremo Tribunal Federal e que os juízes declarassem a medida inconstitucional, tendo que a Previdência refazer os cálculos e indenizar aqueles que foram prejudicados. As reclamações começaram no eixo Rio-São Paulo, onde já são quase um milhão e trezentas mil ações, ameaçando espalhar-se por todo o país.
Já falei a respeito desta questão em artigos anteriores, reclamando deste “ajuste” feito no governo Fernando Henrique Cardoso, que teve o amém do presidente Lula. Em muitos casos, aqueles que ultrapassaram os 35 anos de serviço (período mínimo exigido para aposentadoria para o homem, assim como 30 anos para a mulher) cumpriram com aquilo que lhes era exigido mas... às portas da aposentadoria, viram mudar as regras do jogo, com o jogo em pleno andamento!
Uma brincadeira inconseqüente dos governos Tucano e Petista que viam neste arranjo um jeito de sanar as contas da Previdência, cobrando daqueles que sempre foram pontuais em recolher suas contribuições, mas incapazes de azeitar a máquina tributária para buscar os recursos que escorregam pelas valas da corrupção, no próprio órgão.
Hoje, vemos “mensalões” sendo julgados (da esquerda, centro e direita), fazendo com que se olhe de forma diferente para o Judiciário. Depois que este poder declarou a validade do “ficha limpa” para esta eleição, a esperança de que não sejamos mais apenas “um país do futuro”, mas sim a construção de uma realidade renovada, hoje, não parece longe. Mais ainda, se o Executivo for obrigado a reconhecer que aqueles que se recolhem da ativa estão aposentados, mas não estão, de fato, mortos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Seu voto é sua dignidade

Compartilho das orientações emanadas da arquidiocese de Pelotas.

Juntamente com a equipe de Coordenação Pastoral Arquidiocesana, no cumprimento de minha missão pastoral, elaborei algumas orientações dirigidas aos nossos fiéis, em vista da participação nas eleições municipais deste ano. Veja a seguir.
Participe e vote. Não deixe de seguir a campanha para as eleições municipais e de exercer bem o seu direito e dever de cidadão. Valorize seu voto, que ajudará a definir o futuro do seu município. Evite o voto nulo ou branco.
Vote em quem você conhece. Procure conhecer os candidatos, verifique se estão comprometidos com as grandes questões que requerem ações decididas do Poder Legislativo e Executivo municipal, como: habitação, educação, saúde, segurança, transporte, cuidado do meio ambiente, limpeza pública, saneamento básico, atenção especial aos pobres e às camadas sociais mais vulneráveis do município.
Tenha consciência que prefeito e vereadores devem promover o bem comum. Veja se os candidatos e seus partidos estão comprometidos com a justiça e a solidariedade social, a dignidade da pessoa, os direitos humanos, a cultura da paz e o respeito pleno pela vida humana desde a concepção até a morte natural. Estes valores são fundamentais e irrenunciáveis para o convívio social.
Pergunte-se: candidato de quem? Avalie se os candidatos têm propostas realistas e viáveis para promover políticas que beneficiem a comunidade como um todo ou se estão ligados mais ao interesse de grupos específicos e de bens particulares. O bom governante deve governar para todos.
Confira a ficha pessoal do candidato. Dê seu voto de forma consciente e não decida apenas na última hora. Não dê seu voto a quem já esteve envolvido em casos de desonestidade e corrupção, mas somente a candidatos com "ficha limpa". A corrupção na política pode ser superada também com o seu voto.
Não venda o voto, nem troque por favores: seu voto é sua dignidade. Fique atento a toda prática de corrupção eleitoral, à compra de votos, ao abuso do poder econômico e ao uso indevido da máquina administrativa pública na campanha eleitoral. Fatos como esses devem ser denunciados imediatamente, com testemunhas, às autoridades da Justiça Eleitoral.
Vote com consciência e liberdade. Procure conhecer as ideias e as propostas defendidas pelos candidatos e pelos partidos aos quais estão filiados e seu vínculo com as comunidades locais. Vote em candidatos dignos, capazes, com credibilidade pública e que estejam em sintonia com suas próprias convicções.
Questione os candidatos. Verifique se os candidatos estão dispostos a legislar e administrar de forma transparente, aceitando mecanismos de controle por parte da sociedade. Candidatos com um histórico de corrupção ou má gestão dos recursos públicos não devem receber seu apoio nas eleições.
Saibam o que pensam em relação à política, à religião e à família. Vote em candidatos que respeitem a liberdade de consciência, as convicções religiosas e morais dos cidadãos, seus símbolos religiosos e a livre manifestação de sua fé. Da mesma forma, apóie candidatos que amparem a família e a protejam diante das ameaças a sua identidade e missão natural. A sociedade que descuida ou abandona a família, herdará muitos problemas.
Fique de olho. Votar é importante, mas ainda não é tudo. Depois das eleições, acompanhe as ações e decisões políticas, legislativas e administrativas dos governantes municipais, para cobrar deles coerência em relação às promessas de campanha e para apoiar suas decisões acertadas.
Dom Jacinto Bergmann

Saúde pública no bairro

Hoje (quinta - 4), voltando da farmácia, passei pelo Posto de Saúde que está sendo montado no bairro Santa Terezinha, em Pelotas. Uma equipe da prefeitura estava vistoriando as obras. Não tive dúvida, dei um toque para o Gustavo, um amigo que está mobilizando a população e fazendo pressão para que o atendimento de saúde - suspenso há diversos meses - volte a funcionar. E lá se foi, nosso nobre futuro vereador, em busca de informações e azeitando as relações para que, em breve, a população volte a ter este serviço próximo de sua casa.
Fico impressionado do quanto as pessoas, nos bairros, pedem pouco e, muitas vezes, nem isto vêem atendido. O posto tem uma estrutura mínima, com poucas consultas diárias, tanto assim que as pessoas têm que ir para lá de madrugada para conseguir uma ficha! Mesmo assim, consideram-se felizes por ter o serviço.
Em véspera de eleições, onde todos os candidatos, pressionados pelas pesquisas que mostram ser o tema o primeiro da lista dos malefícios que o poder público pode causar, esbanjam argumentos para dizer que em seus governos vai ser diferente. Se cumprirem o que prometem, seus orçamentos serão pequenos para transformar um mar de lama num jardim de prosperidade!
No dito popular: "a esperança é a última que morre". Esperamos que não morra e que os "gustavos" da vida possam reverter a situação pontual da saúde no bairro Santa Terezinha, para que o mesmo possa acontecer em outros níveis.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

É preciso votar

Diversas Igrejas Cristãs publicaram em jornais ou na internet orientações para as eleições do primeiro turno, no próximo domingo, 7 de outubro, para prefeitos e vereadores. Claro que, para atender a legislação eleitoral - e até ao sentido de seu trabalho - devem ficar nas questões de princípios, muito mais do que nas definições político-partidárias.
Em alguns espaços onde tenho conversado, sugiro que, a primeira coisa a ser feita é recordar em quem se votou no primeiro turno da eleição municipal de quatro anos atrás. Lembrando do candidato a prefeito e a vereador, a questão é: se eleito, trabalhou bem? Se não foi eleito, deu as caras e continuou se mostrando interessado por aquelas causas das quais fez plataforma com promessas públicas?
Infelizmente, nós, população brasileira, somos considerada como desmemoriada - lembrança curta, praticamente de fatos mais recentes, não importando muito o que aconteceu há mais tempo. Isto, infelizmente, faz com que não tenhamos consciência histórica, consequentemente, não nos damos conta de que, na vida pública, é importante avaliar o que foi dito e o que foi feito.
"Mais do que bons políticos, o Brasil está precisando é de bons eleitores". Esta frase, multiplicada pelo Facebook, conta uma grande verdade, complementada por outra que está na mesma rede social: "Não é a política que faz o candidato virar ladrão. É o seu voto que faz um ladrão virar político!"
Esta é a carapuça que todos nós devemos vestir. Não adianta anular o voto ou votar em branco, isto significa omissão. Se acha que o quadro é ruim, vote no "menos pior", mas vote! Embora todas as decepções, o certo é que nosso processo democrático ainda precisa de ajustes, que passa por aprendermos - a cada dois anos - o melhor jeito de se votar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

"Sob o sol de Toscana"

Havia lido o livro e, ontem, vi o filme. Sempre acho que o primeiro supera o segundo. Não foi o caso, achei ambos muito bons: o livre realça o aprendizado, a gastronomia e as descrições alongadas; o filme fica com o lado afetivo-emocional e com o deslumbrante mundo de um pequeno lugarejo na Itália.
"O que é uma casa senão o espaço entre quatro paredes?" Esta frase é dita depois que ela recuperou a casa de mais de 300 anos, em aventuras que compartilha com uma amiga, um amante italiano e operários da construção.
Quando consegue fazer com que um amigo retire a amiga bêbada que faz uma performance numa fonte, lembrando um clássico do cinema, vem uma pérola: "não importa o que aconteça, guarde sempre a sua inocência". Que não está somente na questão sexual, mas passa pela liberdade de pensar e, em alguns casos, sair da realidade para cair no sonho ou na loucura.
No finalzinho do filme, falando de um dos personagens: "mas ele sempre tem uma surpresa". Não há como "enquadrá-lo", mas esperar, sempre, que surpreenda e te tire da monotonia e da rotina.
Bebi cada cena, com as surpresas que o elemento humano oferecia; com as coxilhas que faziam o olhar se estender ao infinito, ou apenas ao velhinho que vinha todos os dias rezar diante de uma Madona, sem dar bola para a personagem central, até que, depois de algum tempo, já fazendo parte da rotina a troca de olhares, reverentemente, o velhinho volta-se para ela e toca com um dedo a ponta do chapéu!