domingo, 14 de novembro de 2010

Alicerce da educação

A discussão em cada intervalo de aulas é a mesma: o que está acontecendo com nossos alunos? Porque não conseguimos fazer com que se interessem e demonstrem mais atenção e respeito pelo professor, colegas e conteúdos apresentados? Um bom número deles entra em sala de aula atrasados, mas com a empáfia de quem merece tapete vermelho para um desfile, além de conversar com colegas e arrastar cadeiras, gerando dispersão e irritação nos demais.
O que já ouvi de mais interessante a respeito diz que novos valores – embora não saibamos bem quais são – estão buscando espaços e reproduzir o que aprendemos de nossos professores já não é o suficiente. Diante da realidade, jovens apresentam apatia e medo, tendo pela frente um horizonte em que mesmo nós – mais velhos e mais experientes – não temos certeza do que poderemos ofertar de concreto.
Todas as experiências positivas em educação, hoje, passam por motivação e parceria. Mas são realidades que até apontam o futuro, mas ensinam a viver melhor o presente. Em periferias onde os professores foram criativos a ponto de buscar no esporte, na cultura ou na curiosidade um elemento de cumplicidade, o que vale é aquilo que pode ser feito agora. Parece que viver plenamente cada dia é uma forma de colocar tijolo a tijolo na grande construção da vida.
Conversas entre educadores mostram que também nós estamos com dificuldades de dizer o que vai acontecer. Brinco com meus alunos que eles podem aproveitar bem um professor ou não. Os que se fazem humildes diante do conhecimento - e que o buscam com determinação - vão ocupar lugar no mercado. Mas, o que demonstra saber tudo, esnobando professor, colegas e o conhecimento que poderia adquirir, pagará um curo – e bem – e voltará para o emprego que tinha. Educação não é sina. Educação é construção. Uma construção que se vive passo a passo, tijolo a tijolo. Não há como se determinar ao que vamos chegar, mas se é difícil fazê-lo, suando a camisa, fica pior se desistimos e deixamos desmoronar as poucas perspectivas que poderíamos ter tido.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A lição que deveríamos aprender

Uma das primeiras declarações da presidente Dilma Roussef foi de que sua grande meta é acabar com a miséria no Brasil. Num país em que seus governantes se orgulham de terem incluído mais da metade da população na classe média, tem ainda uma significativa parcela que vive em situação crítica. Para se testemunhar, basta visitar as periferias das grandes e médias cidades. Lá está a nossa chaga social.
Infelizmente, boas intenções não são o suficiente para tornar realidade propostas estabelecidas. Recentemente, os presidentes Fernando Henrique e Lula estabeleceram metas para as áreas da saúde e as reformas política e previdenciária, por exemplo, mas chegaram ao final de seus mandatos do mesmo jeito que iniciaram.
O noticiário internacional mostra países africanos - fortes em extrair minerais - anos a fio, tendo à frente grandes empresas internacionais, sem que sua população tenha visto a cor de um centavo. Na América, Hugo Chávez, na Venezuela, tem na produção do petróleo a grande riqueza. No entanto, recente derrota eleitoral se deve ao fato de que prometeu e não cumpriu. As favelas cobraram no voto as benesses feitas em campanha.
Seria bom se aprendêssemos esta lição. Aqui, estamos em fase de encantamento com o pré-sal. Estimativas dão conta de que estamos bem na questão petrolífera (mesmo não entendendo como não repercute no preço da gasolina, por exemplo) e este novo achado nos colocará entre os maiores produtores e exportadores. Grupos da sociedade civil defendem que estes recursos sejam destinados, por lei, para programas sociais.
Todos querem erradicar a miséria. Não só a que o dinheiro resolve, mas a que se estabeleceu na cabeça das pessoas que apanharam do Mundo e, hoje, acham que não vale a pena viver socialmente, mas aproveitar-se e fazer a sua vida, do seu jeito, nas manhas e pequenos golpes que garantem a sua sobrevivência. Difícil vai ser vencer a miséria intelectual e moral. A lição que se precisa aprender é reeducar um corpo social doente e necessitado de uma reinvenção, iniciando pelo convívio familiar e a educação básica, onde são plantadas as primeiras sementes da arte de viver em sociedade.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A presidente de todos nós

Presidente ou presidenta? Entendidos dizem que poderá se utilizar as duas formas. Mas, o mais bonito de tudo o que muitos classificam como “festa da democracia”; é o fato de que a própria Dilma poderá escolher e nós, por uma gentileza linguistíca, também seremos gentis utilizando a forma mais adequada para designar a primeira servidora pública do país.
Passadas as eleições, Dilma Rousseff é a primeira mulher a assumir a presidência do Brasil. No entanto, é bom que não se fique na questão de gênero – homem ou mulher – mas do que mais importa: é a cidadã encarregada – como frisou – de zelar pela Constituição. E a constituição é a lei maior, pela qual - iniciando pela presidente e chegando a todos nós - deveríamos ter como preocupação de aperfeiçoar e zelar pelo seu cumprimento.
Dilma chega à presidência numa sequência de três mandatos de um mesmo partido. Então, sua responsabilidade é ainda maior, porque se atirar pedra sobre o governo anterior, vai ser sobre a própria casa. Seu desafio é avançar nas conquistas que o Brasil já obteve e guindar uma parcela da população desfavorecida econômica e socialmente.
Meu receio é de que se bata tanto nesta história de “primeira mulher”, que se esqueça que foram os homens os responsáveis pelos desmandos que aí estão. Falar em “sensibilidade social” do sexo feminino para tratar das questões é dizer que falhamos, pois, se olharmos todos os poderes, veremos que o gênero masculino é predominante e responsável maior por falcatruas, desmandos e escândalos com recursos públicos.
Hoje, enquanto os vitoriosos comemoram, sobra a expectativa: pode haver mudanças significativas num momento em que a economia internacional ainda está sestrosa? Sempre que um governante assume, há certa tolerância, dando um tempo para que mostre a que, efetivamente, veio. O importante é que, acabada a disputa eleitoral, nos demos conta de que, eleita, a presidente não é mais do PT ou dos partidos que a apoiaram, mas a primeira servidora de todos nós pelos próximos quatro anos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Um país sério

Atribui-se a Charles de Gaulle a frase de que “o Brasil não é um país sério”. Ditos e desmentidos – até para não causar problemas de relações internacionais – pode motivar uma reflexão quando chegamos a segunda etapa das eleições presidenciais e para o governo de alguns estados. No mexer do caldeirão: um presidente que percorre o país em campanha eleitoral, um Congresso Nacional atirado às moscas e um Judiciário incapaz de dar respostas às demandas eleitorais.
O nosso último presidente populista arranca gostosas risadas e aplausos quando esquece que é um estadista e ataca adversários de seu partido, deixando de lado a divisa que deveria ser respeitada entre assuntos de Estado e interesses partidários e eleitorais. Deputados e senadores – com as duas casas já eleitas – esquecem de pacotes ainda amarrados – reforma fiscal, previdenciária, etc. – e partem para seus Estados a fim de fazer campanha para governadores ainda não definidos, ou para a presidência.
E o Judiciário entristece o país quando não desamarra o “ficha limpa”, fazendo com que a eleição, por incrível que pareça, não se encerre no dia 31 de outubro, mas dure quando tempo for necessário para que se julguem todos os processos, na morosidade que lhe tem sido peculiar.
Mais do que tristeza, o sentimento é de apatia. Embora todas as recomendações para que, especialmente a classe média, não saia a viajar no feriadão, a tendência é que as pessoas lavem as mãos e achem que descansar durante quatro dias é mais importante do que escolher o presidente que governará nos próximos quatro anos.
Já tenho dito que ambos os candidatos são insossos e mesmo quando criam factóides não conseguem empolgar. O bom momento vivido pelo Brasil na sua economia faz com que suas promessas beirem a raia do desespero: cumpridas, alcançaríamos os céus e viveríamos nas nuvens. No entanto, saúde, educação, segurança, moradia – para citar alguns – tem mais o cheiro de inferno, do que de graças divinas. De fato, ainda vamos precisar amadurecer mais a nossa insipiente democracia para que sejamos um país sério.

domingo, 17 de outubro de 2010

Tirando o bode da sala

A máxima que utilizo em sala de aula, na disciplina de Comunicação e Marketing, é que “marketing não é a capacidade de vender, mas sim de convencer”. No entanto, as campanhas eleitorais para a Presidência, por falta de candidatos com maior substância, têm apelado para “vender seu produto”, independente do seu conteúdo e valor político.
Convenhamos: a discussão a respeito de aborto é, literalmente, colocar na sala o bode para depois de muita conversa fiada, retirá-lo como se aí estivesse a solução. É função da Presidência propor políticas de saúde pública – e aí podem estar questões relativas ao aborto – mas a discussão tem que passar pelo lugar competente: o Congresso Nacional, onde estão presentes todos os credos e representações de segmentos existentes no País.
Nenhum candidato (ou candidata), em sã consciência, seria inconseqüente ao ponto de propor algo tão específico sabendo que é uma saia justa e que só pode resultar em ver as barbas queimadas. Também os credos religiosos têm tido posição discreta ao afirmar que não é a hora e o lugar para se falar a respeito.
Recentemente, no Chile, durante a cobertura do resgate dos 33 que passaram mais de dois meses soterrados, houve momentos em que os próprios familiares pediam para não dar entrevista. Outros passaram a cobrar. E caro.
Pois a soma destes dois elementos: a sanha da imprensa de ter algum elemento “diferente” para a sua cobertura - que pode ser uma lágrima, no caso dos chilenos; ou uma atitude destemperada, no caso dos presidenciáveis – juntando com o maquiavelismo de alguns marqueteiros, faz a receita ideal para que, mais uma vez, se confunda a população, ao invés de ajudá-la a entender o processo eleitoral.
Também nós temos parcela de culpa. A imprensa fiscaliza, mas, em muitos casos, quer fazer as regras do jogo e indicar o juiz. Não é assim: a bem da sanidade nacional, mesmo com candidatos insossos, burocratas, não se tira leite de cabra morta. Ao contrário, é um desrespeito, que já causou o descrédito da classe política e pode estar encaminhando o aviltamento de um bom segmento da imprensa nacional.

sábado, 9 de outubro de 2010

Vou envelhecer

Amiga viajou com a mãe, de quase 80 anos, e acabaram num parque de diversão, com todos aqueles brinquedos que desafiam a gravidade e a sanidade mental. A mãe, no entanto, não se fez de rogada e quis provocar os próprios limites, inclusive na Montanha Russa, que a filha passou ao lado. A rapaziada que estava na fila fez festa ao ver a velhinha “radical” que iria acompanhá-los no grande desafio. Resultado, ao final, muitas fotos e promessas de postagens em diversos recursos da Internet.
Envelhecer é sempre um mistério. O sonho de consumo é que se possa ter saúde razoável e qualidade de vida para enfrentar os problemas que, naturalmente, acontecerão. Os geriatras dizem que o envelhecimento é resultado de tudo o que fizermos (“plantamos”) ao longo da vida. Isto é: fumar, beber, comer mal ou em excesso lança uma fatura que será cobrada exatamente na chamada terceira idade.
Tenho o privilégio de conviver com diversos grupos de idosos e me arrisco a dar algumas dicas: o primeiro é de que a pessoa não fique na volta do próprio umbigo, mas tente fazer algo pelo outro – pode ser apenas tricotar meias para outras pessoas idosas. O segundo, procurar um grupo de convivência, pois precisamos de momentos de silêncio, mas também daqueles em que se atua comunitariamente ou, até, se diverte, em grupo. E o terceiro, por uma exigência natural, buscar um arrimo na espiritualidade. Alguém que teve o sustento da fé, dificilmente deixará de enfrentar cada momento com o respaldo de uma silenciosa compreensão.
Sei que vou envelhecer. Um tempo para saborear a recordação de cada momento que passou: as diabruras de criança; a contestação da juventude; os anseios da maturidade; e a proximidade do fim, quando envelhecemos. O que me seduz em viver é a capacidade de passar por cada um destes momentos como se fossem únicos: Não vivo apenas porque vai haver o amanhã, vivo pelo simples fato de que posso sorver, em cada instante, o ar que respiro num parque, na rua, na Montanha Russa, ou da janela de minha casa.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Marcas da vida

Cartão de crédito produziu peça publicitária de rara sensibilidade: menina perde um dente e, na sua vaidade, tem medo de enfrentar o Mundo, porque, ao sorrir ou ao falar, ali está a “porteirinha”. O pai parte para o humor, que não dá certo. Tenta um lance diferente: compra uma caixa de lápis coloridos e dá de presente. A criança abre a caixa e falta um - entregue pelo pai - que abre a boca e lá está “faltando” um dente (pintado de preto). A reação impressiona porque a ousadia da cumplicidade vem recheada de emoção e carinho.
Tenho ouvido relatos desta experiência ao conversar com educadores e pais: não há receitas para encaminhar bem um filho ou aluno na vida, mas é necessário dedicação, atenção e, sobretudo, criatividade em tentar o novo ou o diferente quando as coisas não vão bem. Especialmente, ocupando a crianças em áreas pelas quais demonstra interesse.
A ideia de um dente “faltante” é o jeito de dizer que, se possível, o pai gostaria de estar no lugar da filha, assumindo a sua tristeza e mágoa por aquele deslize da natureza, que derruba os dentes de leite, mas, em seguida, dá uma nova dentição. Como a criança ainda não entende, o gesto de solidariedade é o arrimo para vivenciar a situação, certa de que não está sozinha neste aprendizado.
Quase sempre me deparo com situações familiares e educacionais as mais diferentes possíveis e imagináveis, mas que não passam longe deste problema e da forma como o pai a encarou. Não havia a necessidade de muitas palavras, mas fica-se com a certeza de que a criança vai guardar por toda a vida o momento em que o pai soube mostrar o quanto a amava, num gesto simples, capaz de modificar o comportamento diante da insegurança.
Coisas que, então, nos pareceram banais são valorizadas por filhos ou alunos, anos depois, pois estava presente a solidariedade, a compreensão e o desejo de reiniciar novamente – tantas vezes quanto necessário - não tendo medo do ridículo, se vislumbramos um caminho onde deixamos marcas da vida.