domingo, 17 de outubro de 2010

Tirando o bode da sala

A máxima que utilizo em sala de aula, na disciplina de Comunicação e Marketing, é que “marketing não é a capacidade de vender, mas sim de convencer”. No entanto, as campanhas eleitorais para a Presidência, por falta de candidatos com maior substância, têm apelado para “vender seu produto”, independente do seu conteúdo e valor político.
Convenhamos: a discussão a respeito de aborto é, literalmente, colocar na sala o bode para depois de muita conversa fiada, retirá-lo como se aí estivesse a solução. É função da Presidência propor políticas de saúde pública – e aí podem estar questões relativas ao aborto – mas a discussão tem que passar pelo lugar competente: o Congresso Nacional, onde estão presentes todos os credos e representações de segmentos existentes no País.
Nenhum candidato (ou candidata), em sã consciência, seria inconseqüente ao ponto de propor algo tão específico sabendo que é uma saia justa e que só pode resultar em ver as barbas queimadas. Também os credos religiosos têm tido posição discreta ao afirmar que não é a hora e o lugar para se falar a respeito.
Recentemente, no Chile, durante a cobertura do resgate dos 33 que passaram mais de dois meses soterrados, houve momentos em que os próprios familiares pediam para não dar entrevista. Outros passaram a cobrar. E caro.
Pois a soma destes dois elementos: a sanha da imprensa de ter algum elemento “diferente” para a sua cobertura - que pode ser uma lágrima, no caso dos chilenos; ou uma atitude destemperada, no caso dos presidenciáveis – juntando com o maquiavelismo de alguns marqueteiros, faz a receita ideal para que, mais uma vez, se confunda a população, ao invés de ajudá-la a entender o processo eleitoral.
Também nós temos parcela de culpa. A imprensa fiscaliza, mas, em muitos casos, quer fazer as regras do jogo e indicar o juiz. Não é assim: a bem da sanidade nacional, mesmo com candidatos insossos, burocratas, não se tira leite de cabra morta. Ao contrário, é um desrespeito, que já causou o descrédito da classe política e pode estar encaminhando o aviltamento de um bom segmento da imprensa nacional.

Um comentário:

eng, panerai disse...

BELA REFLEXÃO!!
BOA SEMANA CARO PROFESSOR!!