Leituras e lembranças:
Quem assistiu às recentes edições do programa Fantástico, pela RBS TV, nos domingos à noite, acompanhou uma série de reportagens sobre a China. Um dos primeiros livros que li a respeito foi "Sobre a China" (2011), que combina história, memórias pessoais e análise estratégica da diplomacia chinesa e das relações sino-americanas, escritas por Henry Kissinger, um dos arquitetos da reaproximação entre os dois países no século XX.
Kissinger visitou a China mais de 50 vezes e utiliza sua experiência pessoal e conversas com quatro gerações de líderes chineses (incluindo Mao Zedong, Zhou Enlai e Deng Xiaoping) para oferecer uma visão própria do processo político cultural. Examina a história milenar, argumentando que a abordagem diplomática e estratégica do país hoje é influenciada por princípios clássicos e pela sua identidade como uma civilização-estado (o "Reino do Meio") e não apenas como um estado-nação moderno.Prioriza a manutenção da ordem interna e do status civilizacional em vez de uma expansão territorial agressiva. Valoriza a sutileza, a paciência e o wei qi (jogo de tabuleiro chinês que enfatiza o cerco estratégico e o ganho de pequenas vantagens ao longo do tempo, em contraste com o xadrez ocidental, mais focado na aniquilação do adversário). Detalha momentos cruciais da política externa chinesa, como os primeiros encontros com potências ocidentais, o colapso da aliança sino-soviética, a Guerra da Coreia, a histórica viagem de Richard Nixon a Pequim e as reformas de Deng Xiaoping.
É testemunho ocular da história, com depoimentos sobre os bastidores da diplomacia internacional. Proporciona uma análise sofisticada da mentalidade estratégica chinesa, ajudando a entender o papel do país na balança de poder do século XXI. A crítica mais recorrente é que Kissinger adota uma leitura essencialmente estratégica e sistêmica, atenuando ou até mesmo omitindo discussões sobre as violações de direitos humanos, a censura e o impacto das decisões nas populações e minorias.
A abordagem foca nas interações entre elites e Estados. Reflete a filosofia da Realpolitik de Kissinger, onde o interesse nacional e o equilíbrio de poder se sobrepõem a questões ideológicas ou morais. A obra é a narrativa de um diplomata em ação. "Sobre a China" é obra complexa que oferece a visão do estadista sobre uma das civilizações mais antigas e potência emergente. Explica como a China usa a história para formatar sua estratégia moderna e reflete sobre os desafios que seu crescimento representa para a nova ordem política e econômica internacional.
(Pesquisa e imagens com IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/s5Zp9Jjp3hM)

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