sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Onde ficou o quinto mandamento?

Artigo da semana:

Os recentes acontecimentos no Rio de Janeiro, onde uma "megaoperação" resultou na morte de 109 supostos delinquentes, expuseram a ferida aberta de um machucado que assusta. Estarrecida com a proporção da violência e da insegurança por todo o país, a população, acuada e assustada, absorve o discurso dos supostos formadores de opinião: "bandido bom é bandido morto". De tanto ser repetida (e aqui vale a pena lembrar a máxima de Goebbels, ministro de propaganda de Hitler), uma mentira se transforma em verdade.

Tudo isso serve para endossar chacinas onde os direitos fundamentais das pessoas não são respeitados, especialmente se residem em favelas, morros ou vilas. Morar na periferia torna-se, assim, um estigma que transforma pessoas em sub-cidadãos. Especialistas em segurança asseguram que as verdadeiras lideranças do crime organizado e do narcotráfico não estão nestes lugares, mas sim nos condomínios de luxo da cidade maravilhosa e nos grandes centros urbanos. Hoje, pode-se dizer que até mesmo cidades de porte médio e pequenas confrontam-se com a mesma brutalidade.

O mais difícil de aceitar é que muitos dos defensores dessa pena de morte disfarçada se dizem cristãos. Eles simplesmente pularam o quinto mandamento, que é claro: "não matarás!". Estes mesmos políticos, supostamente alinhados com igrejas, desprezam também o sétimo e o décimo, respectivamente: "não furtar" (corrupção) e "não cobiçar as coisas alheias" (poder e lucro). Embora muitos se recusem a enxergar, o que a classe política faz é instrumentalizar igrejas e religiões. Elas servem apenas para reforçar a mensagem que lhes convém, na defesa de seus próprios interesses e dos grupos que os financiam.

Países que venceram a violência trabalharam por uma sociedade inclusiva. Nesses lugares, as disparidades sociais foram reduzidas e o processo de educação tornou-se prioridade. Desde a infância, cada criança encontra um lugar onde desenvolve um relacionamento social saudável (família, escolas, igrejas, centros sociais). Os pais têm a segurança de que os filhos são assistidos, podendo trabalhar, estudar e viver a própria vida. A população que tem nos governantes a garantia de que é bem cuidada não vê seus jovens optarem pela marginalidade.

Cada um daqueles corpos estendidos no asfalto teve uma história: um pai, uma mãe, uma família, amigos, sonhos. Isso mostra que homens e mulheres de igrejas têm, sim, que se engajar nas questões sociais. Mas não podem aceitar a justificativa de uma religiosidade oca, que apenas sacramenta o lucro e o poder, violentando os mais vulneráveis. Aqueles que, muito cedo, em seu ambiente social, sentiram que era mais fácil seguir o caminho da marginalidade, porque lhes foi negado o direito de conviver em um ambiente onde são aceitos e respeitados como cidadão de pleno valor…

(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/a0itlBlsYAQ)

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