domingo, 30 de novembro de 2025

As madrugadas da existência

Simplesmente assim:

Andarilhar.

A eterna busca por recantos que

A Natureza desenhou.

O lugar onde Deus resguardou

A trilha que leva a um pedaço do Paraíso.

Ali, onde a mãe Terra envolve,

Com o sussurro das matas.

 

A brisa faz coro ao bramir das águas,

Espraiando-se nos rochedos,

Quando o vento destila assobios, 

Em murmúrios cúmplices,

Com o desejo

De apenas se quedar em contemplação.

 

Na placidez de um final de tarde,

As horas já não importam,

E a luz vai esmaecendo.

As Estrelas se tornam 

Senhoras de todos os sonhos, pois

Na madrugada da existência,

Sempre é tempo de esperar…


A perspectiva de um caminho

Transforma promessas 

Em sentidas ilusões…

A trilha demanda a bengala e a

Força para, sempre que necessário,

Retomar o rumo.

A sina traçada pelo coração

Tem o destino do encantamento:

Um lugar para se descansar em paz!


(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/9hPNKibhkXU)

sábado, 29 de novembro de 2025

Espelhos, de Eduardo Galeano

Leituras e lembranças:

"Espelhos" é a tentativa do escritor uruguaio Eduardo Galeano de reescrever a história da humanidade – desde a sua origem até os dias atuais – sob uma perspectiva crítica e, sobretudo, através da ótica dos desvalidos, dos esquecidos, dos anônimos e de quem foi marginalizado pela história oficial. Em vez de seguir uma narrativa cronológica, o livro é composto por quase 600 histórias breves, textos curtos que se assemelham a crônicas poéticas, aforismos e microrrelatos.

As histórias se espalham por todos os mapas e todos os tempos, misturando passado e presente de forma instigante. Os "espelhos" do título refletem não apenas os eventos grandiosos, mas também as pequenas e ignoradas resistências, a beleza e a crueldade da condição humana, dando nome e voz aos que foram silenciados. Galeano dá destaque a figuras como as mulheres (frequentemente ignoradas), os povos do Sul e do Oriente (desprezados) e os "loucos lindos" e rebeldes que, segundo o autor, são o "sal da terra".

Sua forma de escrever é diferenciada e controversa. Na crítica à história oficial, é uma denúncia da história tradicional, escrita pelos vencedores, que tende a obscurecer e justificar as atrocidades cometidas pelos poderosos. O autor inverte essa lógica, oferecendo um contraponto humanista e político. Pode-se dizer que viola as fronteiras rígidas entre os gêneros literários. A obra é uma confluência de narração, ensaio, poesia e crônica. 

Essa estrutura fragmentada e concisa confere ao livro um ritmo diferenciado, onde cada breve história é o fragmento de um mosaico maior que reflete a complexidade do mundo. O tom é frequentemente lírico e reflexivo, apesar da profundidade dos temas abordados. O cerne do livro é dar visibilidade aos que não a tiveram: os colonizados em vez dos colonizadores; as mulheres em vez do patriarcado; os artesãos e trabalhadores em vez dos reis e imperadores; os oprimidos e perdedores em vez dos heróis e vencedores…

“Espelhos” resgata e recorda os esquecidos ("Os invisíveis nos veem. Os esquecidos nos lembram") e convida o leitor a nos reconhecermos na história, desafiando as próprias ignorâncias e preconceitos. Faz nos refletir sobre nossa origem comum e a memória humana. "Espelhos" é obra para entender a história do mundo sob uma perspectiva de justiça social e memória popular, reforçando o legado de Galeano como um dos grandes cronistas da América Latina.

(Pesquisa e imagens com a IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/YsY2gNyhfeQ)

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Quando se fere a verdade…

Artigo da Semana: 

Michael Wolff, em seus livros sobre o presidente americano Donald Trump, "Fogo e Fúria" e "O Cerco", oferece uma lente para analisar líderes populistas de extrema-direita. Ele retrata a Casa Branca não como um repositório de fatos imutáveis, mas como um ambiente de caos e intriga incessante. A chave é a constante "guerra contra a realidade e a mídia", onde a "verdade trumpiana" prevalece. Nesses bastidores do poder, o que importa é a narrativa que mobiliza a base e deslegitima qualquer acusação externa.

No Brasil, o recente cenário envolvendo a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro traça um paralelo com a dinâmica descrita por Wolff. As notícias sobre a prisão preventiva, motivada por acusações de trama golpista e risco de fuga após condenação anterior, geram imediatamente múltiplos e conflitantes relatos. A verdade objetiva dos fatos jurídicos é submersa por narrativas paralelas. Instala-se um choque de realidades onde o sistema judicial e os fatos são vistos apenas como ferramentas de perseguição política.

A essência do populismo reside na capacidade de transformar reveses legais em combustível político. Assim, a prisão não é aceita pela base como consequência de atos ilegais, mas sim como prova cabal da "ditadura da toga" ou de uma "caça às bruxas" promovida pelas elites. O "cerco" político une os apoiadores, fortalecendo a crença de que o líder estava certo sobre ser vítima. A rejeição à grande mídia em favor de redes sociais amplifica essa narrativa alternativa de desconfiança e vitimização.

Na era dos líderes de extrema-direita, a "verdade" deixa de ser um dado objetivo e torna-se uma arma política. Assim como o caos e as acusações na Casa Branca eram irrelevantes para a base de Trump, os fatos jurídicos contra Bolsonaro são absorvidos como meros "detalhes da perseguição". A prisão, embora legalmente um revés, é imediatamente convertida em capital político. Isso reforça a narrativa de um líder martirizado, vítima de forças ocultas ou poderosas que tentam silenciá-lo.

Esta fase de "cerco" representa o momento final, onde o líder, encurralado pela Justiça, se torna mais "errático" e exposto, mas paradoxalmente, mais perigoso e polarizador. A verdade do Judiciário se choca irremediavelmente com a verdade da fé política de seus seguidores. A narrativa de vítima, tanto para Bolsonaro quanto para Trump, mostra a dificuldade em desmantelar essas construções. A semelhança entre os casos ressalta o ponto crucial: não é apenas na guerra que a verdade é a primeira vítima. Nos embates políticos polarizados, rasga-se o consenso social, e ela acaba sendo ferida gravemente…

(Pesquisa e imagens com a IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. Áudio e vídeo em https://youtu.be/_kc1Vi2hDr8)

domingo, 23 de novembro de 2025

Com as rédeas do coração

Simplesmente assim:


Uma nesga de sol, no inverno,

Um pedaço de sombra, no verão.

É um carinho ansiado 

E que, muitas vezes, não se consegue.

Fica um gosto de incompletude, ao

Se desejar atenção,

Um jeito terno de olhar,

Receber uma flor...


Quando tudo mais perde o sentido, 

A realidade parece precisar apenas da lógica. 

Loucura é deixar 

O coração tomar as rédeas. 

Multiplicam-se, então,

Gestos de ternura e carinho,

Que, na maior parte das vezes,

Não precisam de explicações. 


Desnudam a intimidade da alma

Onde um espírito 

Acolhe e sintoniza com o outro.

A porta deste mistério 

É um olhar silencioso,  

Em que se dispensam as palavras.


Abrir frestas e janelas,

Arejar tristezas, dispensar as mágoas.

Ali, onde se guardam segredos,

O tempo recolhe imensos vazios.

Nas ausências e desassossegos,

Livrar-se do que atravanca 

Os corredores da memória, 

Para que a luz desnude 

O caminho onde se perde o medo

De tropeçar e cair…


(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/Aud-fOeBS4M)

sábado, 22 de novembro de 2025

Sobre a China, de Henry Kissinger

Leituras e lembranças:

Quem assistiu às recentes edições do programa Fantástico, pela RBS TV, nos domingos à noite, acompanhou uma série de reportagens sobre a China. Um dos primeiros livros que li a respeito foi "Sobre a China" (2011), que combina história, memórias pessoais e análise estratégica da diplomacia chinesa e das relações sino-americanas, escritas por Henry Kissinger, um dos arquitetos da reaproximação entre os dois países no século XX.

Kissinger visitou a China mais de 50 vezes e utiliza sua experiência pessoal e conversas com quatro gerações de líderes chineses (incluindo Mao Zedong, Zhou Enlai e Deng Xiaoping) para oferecer uma visão própria do processo político cultural. Examina a história milenar, argumentando que a abordagem diplomática e estratégica do país hoje é influenciada por princípios clássicos e pela sua identidade como uma civilização-estado (o "Reino do Meio") e não apenas como um estado-nação moderno.

Prioriza a manutenção da ordem interna e do status civilizacional em vez de uma expansão territorial agressiva. Valoriza a sutileza, a paciência e o wei qi (jogo de tabuleiro chinês que enfatiza o cerco estratégico e o ganho de pequenas vantagens ao longo do tempo, em contraste com o xadrez ocidental, mais focado na aniquilação do adversário). Detalha momentos cruciais da política externa chinesa, como os primeiros encontros com potências ocidentais, o colapso da aliança sino-soviética, a Guerra da Coreia, a histórica viagem de Richard Nixon a Pequim e as reformas de Deng Xiaoping.

É testemunho ocular da história, com depoimentos sobre os bastidores da diplomacia internacional. Proporciona uma análise sofisticada da mentalidade estratégica chinesa, ajudando a entender o papel do país na balança de poder do século XXI. A crítica mais recorrente é que Kissinger adota uma leitura essencialmente estratégica e sistêmica, atenuando ou até mesmo omitindo discussões sobre as violações de direitos humanos, a censura e o impacto das decisões nas populações e minorias. 

A abordagem foca nas interações entre elites e Estados. Reflete a filosofia da Realpolitik de Kissinger, onde o interesse nacional e o equilíbrio de poder se sobrepõem a questões ideológicas ou morais. A obra é a narrativa de um diplomata em ação. "Sobre a China" é obra complexa que oferece a visão do estadista sobre uma das civilizações mais antigas e potência emergente. Explica como a China usa a história para formatar sua estratégia moderna e reflete sobre os desafios que seu crescimento representa para a nova ordem política e econômica internacional.

(Pesquisa e imagens com IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/s5Zp9Jjp3hM)

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Leão XIV: diplomacia ou pastoralidade?

Artigo da semana:

Alguém já disse que “o papa João Paulo II era para ser visto, Bento XVI para ser ouvido e Francisco para ser tocado”. Uma interpretação da ênfase distinta de cada pontificado. Sugere que João Paulo foi presença visível e atuante no mundo, especialmente na mídia. Bento, um teólogo da palavra e da reflexão. Francisco, um líder voltado para a proximidade e o contato direto com as pessoas. O que sobrou para caracterizar Leão XIV? O sucessor de um pontífice carismático depara-se com uma Igreja Católica tentando encontrar a sua identidade…

Politicamente, a renúncia de Bento XVI foi sua ação mais impactante na vida da instituição. Cansado, sem tomar as rédeas dos seus quadros, encontrou problemas desde questões financeiras até de comportamento moral, lidando com a pedofilia, por exemplo. Francisco era um pastor. Já demonstrara sua capacidade de administrar em sua terra natal, Buenos Aires, na Argentina. Mas o quadro era mais complexo, pois se acirravam os ânimos entre os conservadores, que controlavam o Vaticano, e os progressistas, que clamavam por mudanças.

Leão XIV precisa lidar com problemas herdados, desafios com os quais Francisco batalhou até o último instante: a indústria armamentista, que se mantém pela desgraça alheia; as ondas migratórias de países em conflito; a subsistência de um planeta cansado do “turismo ecológico”, que consome recursos públicos, mas não aponta soluções. Tristemente, Leão XIV é uma referência “moral”, com a qual autoridades internacionais até querem fazer uma fotografia, ouvir seus conselhos, mas entram por um ouvido e saem pelo outro…

Admirava (e admiro) Francisco por sua transparência. Não era um político da Igreja, fazendo média com quem quer que fosse. Em muitas situações, disse o que não era politicamente correto, coerente com o que pensava. Fez gestos eloquentes, mais do que palavras, no acolhimento aos deserdados da sociedade: migrantes, prisioneiros, gays… Chegou ao Vaticano como pastor e morreu sendo pastor. No estilo de vestir (sem luxo) à forma de morar (em comunidade, na Casa de Santa Marta), suas convicções balizaram seu comportamento.

Leão XIV tenta ser “diplomata”. Infelizmente, o Vaticano é um estado constituído. Consequentemente, o papa recebe e trata com todas as representações políticas internacionais. Sabe que, na própria “casa”, ainda há muitas fissuras, que não foram seladas. Necessita de um tempo para dizer a que veio. Com 70 anos, em tese, pode ter um longo pontificado. Os tempos são difíceis e as realidades sociais e religiosas também. Sua origem, nos Estados Unidos, e atuação missionária no Peru, o qualificam para ser mais do que já mostrou… É preciso esperar… E rezar!

(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/y4KbrwmXwEI)

domingo, 16 de novembro de 2025

As mal traçadas linhas do tempo

Simplesmente assim:

O tempo é engraçado 

Quando movimenta as suas engrenagens.

Ao proporcionar que se sorva

Momentos, oferece oportunidades,

Em que, nos tenros anos,

A impetuosidade torna 

Difícil diferenciar o néctar do fel…


Marcha-se pela vida na ilusão de que 

A existência não terá fim.

Basta procurar e desfrutar a embriaguez do

Que anestesia sentidos e sentimentos.


Mostra armadilhas que a inexperiência

Não deixa que se perceba.

Na agenda do coração,

Anestesiados pelo espelho do encantamento,

Percebe-se o apagamento 

De quem já fez parte do convívio.

 

As mal traçadas linhas do tempo…

Ao apagar mais um registro

Do que já foi uma lista de preciosa amizade,

Fica a sensação de que apenas se desejava 

A oportunidade de rever alguns rostos.

Ao perguntar se tudo estava bem,

Somente queria, mais uma vez, 

Desejar, onde estiveres, que sejas feliz!


(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/945wd3TC3aI)

sábado, 15 de novembro de 2025

O Segredo Final, de Dan Brown

Leituras e lembranças:

Minha passagem pela Feira do Livro de Pelotas/RS levou a comprar o romance O Segredo Final, de Dan Brown, e O Círculo dos Dias, de Ken Follet. O primeiro marca o retorno do simbologista Robert Langdon em uma aventura que se afasta dos enigmas históricos para mergulhar nos mistérios da consciência humana e da ciência Noética (o estudo da consciência). O thriller mantém a fórmula de sucesso do autor.

Com cenários em Praga, mistura ciência, filosofia, arte e conspiração global. Foca na consciência humana e o embate entre ciência futurista e tradições místicas/espirituais. A trama se inicia com Robert Langdon em Praga para prestigiar uma palestra de Katherine Solomon (cientista que já havia aparecido em O Símbolo Perdido, com quem Langdon mantém um relacionamento). 

Katherine está prestes a publicar um manuscrito com descobertas "explosivas" sobre a natureza da consciência, algo que poderia abalar séculos de crenças estabelecidas. A situação degringola rapidamente. Um assassinato brutal ocorre, e Katherine desaparece junto com o manuscrito. Langdon se vê, então, na mira de uma poderosa organização secreta e perseguido por um antagonista inspirado nas lendas da mitologia tcheca, o Golem de Praga. 

A corrida para desvendar o quebra-cabeça e encontrar Katherine leva Langdon de Praga a outras cidades, como Londres e Nova York. O diferencial deste livro em relação a obras como O Código Da Vinci é o deslocamento do foco. Brown troca as catedrais antigas e a simbologia histórica pela neurociência, a ciência noética e os limites da mente. 

O segredo a ser desvendado não está em um artefato religioso ou em um código de um mestre da Renascença, mas sim na compreensão da própria existência humana e da consciência. O Segredo Final é uma leitura eletrizante e instigante, que cumpre o seu papel como um thriller de conspiração intelectual. É uma obra recomendada para quem aprecia a mistura da ação, ciência e mistério que consagrou Dan Brown.

O Círculo dos Dias, do Ken Follet, a gente comenta numa próxima ocasião, antes do final do ano. Como leituras para as férias…

(Pesquisa e imagens pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/onH7F2tIdTU)

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Uma charrete no meio da rua

Artigo da semana:

Ainda existem muitas charretes andando pelas ruas da cidade. Hoje, tenta-se disciplinar o serviço de carga, que é uma espécie de subemprego, onde quase sempre um animal, um meio de transporte, um condutor e uma carga lembram de tempos idos, anteriores aos veículos locomotores. Meu pai nunca teve um carro, mas, nos idos de 1970, teve uma charrete. Servia para levar e trazer mercadorias que comercializava no seu bar e armazém. Também transportava minha mãe e suas amigas, na madrugada, para o difícil trabalho nas fábricas de conservas de pêssego.

As que se encontram, atualmente, quase todas fazem fretes. Percorrem a cidade com a clientela certa ou em bicos ao serem parados na rua. Muitas vezes, além do proprietário, leva junto um ou mais filhos. Que vivem uma aventura, se o tempo estiver ameno, porém, no inverno, pouco protegidos, a criança se aconchega ao corpo do pai em busca de calor. Quando os primeiros pingos da chuva marcam o lombo do cavalo, põe a capa sobre o corpinho débil, protegendo o menino que deposita a confiança de que lhe proverá a subsistência.

Em muitos casos, homens que já não conseguem emprego ou idosos que não se acostumam com as atividades oferecidas. Morando em lugares distantes dos centros das cidades, percorrem longas distâncias confiando que o animal não lhes faltará e que, ao voltar para casa, garantirão o sustento da família. Como me contou um deles, a esposa faz bicos em limpeza de residências e, juntos, mantêm os filhos estudando. Ao passar em minha casa, via que, além das cargas, muitas vezes, havia doações de quem reserva roupas e objetos de uso pessoal para desapegar…

Aprendi com o tempo a ter paciência no trânsito. Duas coisas que me irritavam muito eram as motos ziguezagueando por entre os carros e as charretes trancando o fluxo de veículos. Acabei usando a moto e percebi que os dois são vítimas. As motos, caso parem na sequência da fila, encontram um apressadinho que os quer longe. As charretes são, muitas vezes, o que resta como instrumento de trabalho e de ganha-pão. Na dureza de quem “descola alguns trocados” para si e para a família está um cidadão que não desistiu.

Uma charrete no meio da rua é um dos cartões postais da pobreza urbana, ferindo a consciência social. Administradores públicos já prometeram carroças elétricas ou com um mínimo de consumo de combustível. Mas, ficou nisto: promessas. Pena. No agito das vias urbanas, onde o caos se estabelece em momentos de pico, o trotar do cavalo e seu dono é um desafio. Com pai e filhos, na cumplicidade de uma existência, se percebe que, muitas vezes, precisam mendigar o serviço para sobreviver. Sozinhos ou em família, antes do fim da jornada de um dia, preservam o sentimento de que ainda encontram o alento que se chama esperança…

(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/bErsZv8r7y8)

domingo, 9 de novembro de 2025

Inocência

Simplesmente assim:

 

A inocência que não pode ser perdida

Habita o olhar de um idoso.

Sem conceder ao tempo

Transformar sonhos em realidade,

Permite que restem momentos

De imersão na infância.

 

O gosto de um doce aguardado

Que, mesmo assim,

Enche o céu da boca,

Tornando-se um prazer

Único e indescritível.

A surpresa de abrir um presente,

Quando a imaginação descarta

O brinquedo

E constrói mundos

Com uma caixa de papelão…

 

Inocência.

A vivência da história,

Sem se perderem as raízes.

A certeza de que cada etapa

Alcança as origens,

Num emaranhado de lembranças

Que direcionam destinos.

 

A vida fecha ciclos.

Em cada um deles,

"Amadurecer" é retrocesso,

Num processo de "desinfância",

Onde a costura do que pode

Ser devaneio ou ilusão

Confunde-se com a necessidade

De nunca esquecer de amar!


(Pesquisa de imagens Internet e IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/LfPtaZDkTNw)


sábado, 8 de novembro de 2025

O Diário de Anne Frank

Leituras e lembranças:

Está aí um livro que pouca gente não leu. O Diário de Anne Frank é uma das obras mais importantes e tocantes do século XX. O relato íntimo e pessoal de uma adolescente judia que se escondeu durante o Holocausto. Longe de ser apenas um relato histórico, é um documento humano que explora temas universais como a esperança, a resiliência e a transição da infância para a vida adulta em meio ao terror. Foi escrito entre junho de 1942 e agosto de 1944, enquanto a família Frank e mais quatro judeus se escondiam da ocupação nazista em um anexo secreto em Amsterdã. 

Publicado em 1947 por seu pai, Otto Frank, o único sobrevivente da família, o livro tornou-se um dos mais lidos do mundo. O motivo é que oferece uma perspectiva rara e pessoal do que passaram, mostrando o dia a dia e os horrores da perseguição nazista sob os olhos de uma vítima. O livro se tornou um poderoso símbolo da memória do Holocausto e da luta contra a intolerância e o racismo.

Além de seu valor histórico, registra a transição de Anne da infância para a adolescência. Ela escreve sobre as pequenas alegrias, os conflitos típicos da puberdade, o despertar do amor e a complexidade das relações familiares, tudo isso em um contexto de extremo confinamento e medo. A escrita se torna uma forma de resistência contra a barbárie, um testemunho de sua existência e de sua voz, um ato de esperança de que sua história um dia seria lida. 

“Apesar de tudo, ainda creio na bondade humana”, resume a resiliência e a esperança que ela manteve mesmo nas condições mais extremas. Ela se agarra à esperança de um futuro em que possa voltar a ser uma escritora livre. O confinamento no anexo secreto obriga-a a confrontar sua própria identidade, emoções e os dramas da convivência com as outras pessoas no esconderijo. O isolamento a faz refletir profundamente sobre si mesma e sobre o mundo.

A publicação do diário de Anne Frank garante sua fama póstuma e a transforma em um símbolo do Holocausto. O livro se tornou um farol para a educação de jovens e adultos, ensinando sobre a história do Holocausto a partir de uma perspectiva humana e acessível. O legado de Anne Frank não está apenas em sua história trágica, mas também no poder de sua voz e na esperança que ela transmitiu, mesmo em meio à escuridão. O diário é um testamento duradouro da capacidade do espírito humano de resistir e de uma adolescente que, apesar de ter sido calada pela violência, encontrou uma forma de continuar a falar para o mundo.

(Pesquisa e imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/zTUBnM9j1lI)


sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Onde ficou o quinto mandamento?

Artigo da semana:

Os recentes acontecimentos no Rio de Janeiro, onde uma "megaoperação" resultou na morte de 109 supostos delinquentes, expuseram a ferida aberta de um machucado que assusta. Estarrecida com a proporção da violência e da insegurança por todo o país, a população, acuada e assustada, absorve o discurso dos supostos formadores de opinião: "bandido bom é bandido morto". De tanto ser repetida (e aqui vale a pena lembrar a máxima de Goebbels, ministro de propaganda de Hitler), uma mentira se transforma em verdade.

Tudo isso serve para endossar chacinas onde os direitos fundamentais das pessoas não são respeitados, especialmente se residem em favelas, morros ou vilas. Morar na periferia torna-se, assim, um estigma que transforma pessoas em sub-cidadãos. Especialistas em segurança asseguram que as verdadeiras lideranças do crime organizado e do narcotráfico não estão nestes lugares, mas sim nos condomínios de luxo da cidade maravilhosa e nos grandes centros urbanos. Hoje, pode-se dizer que até mesmo cidades de porte médio e pequenas confrontam-se com a mesma brutalidade.

O mais difícil de aceitar é que muitos dos defensores dessa pena de morte disfarçada se dizem cristãos. Eles simplesmente pularam o quinto mandamento, que é claro: "não matarás!". Estes mesmos políticos, supostamente alinhados com igrejas, desprezam também o sétimo e o décimo, respectivamente: "não furtar" (corrupção) e "não cobiçar as coisas alheias" (poder e lucro). Embora muitos se recusem a enxergar, o que a classe política faz é instrumentalizar igrejas e religiões. Elas servem apenas para reforçar a mensagem que lhes convém, na defesa de seus próprios interesses e dos grupos que os financiam.

Países que venceram a violência trabalharam por uma sociedade inclusiva. Nesses lugares, as disparidades sociais foram reduzidas e o processo de educação tornou-se prioridade. Desde a infância, cada criança encontra um lugar onde desenvolve um relacionamento social saudável (família, escolas, igrejas, centros sociais). Os pais têm a segurança de que os filhos são assistidos, podendo trabalhar, estudar e viver a própria vida. A população que tem nos governantes a garantia de que é bem cuidada não vê seus jovens optarem pela marginalidade.

Cada um daqueles corpos estendidos no asfalto teve uma história: um pai, uma mãe, uma família, amigos, sonhos. Isso mostra que homens e mulheres de igrejas têm, sim, que se engajar nas questões sociais. Mas não podem aceitar a justificativa de uma religiosidade oca, que apenas sacramenta o lucro e o poder, violentando os mais vulneráveis. Aqueles que, muito cedo, em seu ambiente social, sentiram que era mais fácil seguir o caminho da marginalidade, porque lhes foi negado o direito de conviver em um ambiente onde são aceitos e respeitados como cidadão de pleno valor…

(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/a0itlBlsYAQ)

domingo, 2 de novembro de 2025

“Vais cair, guri!”

Simplesmente assim:


Andar pela rua é o desafio

De quem precisa respirar,

Ver "gente", conversar...

Impedir que se fechem horizontes!

No que é sonho/realidade,

Distraído, os pés conduzem

Ao meio-fio da calçada.

Vozes alertam do passado:

"Vais cair, guri!"

 

Os meios-fios sucedem às valetas,

Uma parte da infância onde

A aventura transborda da imaginação.

As lembranças constroem um tempo

Em que se ouve

Com mais atenção o passado.

 

Um velho bobo

Anda sobre o meio-fio e

Vê na sombra o guri

Que insiste em perpetuar

Sentimentos e emoções.

 

Quando se impede a luz do Sol,

Os vultos desaparecem

Em remorsos e ressentimentos.

Equilibrar-se sobre

O tempo alcança um passado

De onde alvorecem sorrisos,

Marcados

Por muitas e preciosas recordações... 


(Imagens geradas pela IA Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. Áudio e vídeo em https://youtu.be/XYUG3kUtWuc?si=6Xs1H2vOT4_XUOWE)

sábado, 1 de novembro de 2025

O Caminho Espiritual de Dom Helder Câmara

Leituras e Lembranças:

Este talvez seja um livro pouco conhecido. Mas merece atenção. Padre Ivanir Antonio Rampon, da arquidiocese de Passo Fundo (RS), publicou “O Caminho Espiritual de Dom Helder Câmara” como um estudo que ajuda a entender o arcebispo de Olinda e Recife. Foca na interligação entre a mística e a atuação profética. Destaca a ideia de que Dom Helder viveu a santidade, permitindo que a graça produzisse frutos para a Igreja e a humanidade. Classificou-o como um "místico original" cuja fonte espiritual era a religiosidade tradicional católica, especialmente a do povo cearense e nordestino. 

Dedica atenção especial às "vigílias" de Dom Helder, momentos de oração que cultivava e permitiram a experiência mística. As vigílias são marcadas pelas "meditações do padre José" (codinome), que expressam a dimensão mística e a prevalência da "vitória da Graça". O lema episcopal de Dom Helder, "In manus tuas" ("Em tuas mãos"), não era abstrato. Esse abandono total à Providência Divina tornou-se a sua "imensa força". Aponta que ela se se revelava "através da humildade", vivendo um estilo próprio da "infância espiritual", onde ternura e vigor se encontram em justa medida.

Traça a trajetória de Dom Helder, desde a primeira fase, em Fortaleza (sacerdócio e atuação política e educacional), como Secretário da CNBB (1952-1964) e a participação no Concílio Vaticano II, como signatário do Pacto das Catacumbas, onde se propunha superar a "era constantiniana" e levar a Igreja aos "perdidos caminhos da pobreza". Ao analisar as perseguições do regime militar, reforça o caráter profético de quem não era insensível às críticas, mas transformava humilhações num caminho de humildade.

"O Caminho Espiritual de Dom Helder Câmara" oferece uma leitura teológica e espiritual da sua vida, demonstrando que a atuação em defesa da justiça e dos pobres era reflexo direto e coerente de sua vida mística. Consolida a visão de precursor da "Igreja em saída" e modelo de pastor profético. Em tempos difíceis, tornou-se um mantra sua afirmação de que "quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista."

Dom Helder se doou na caridade, por amor a Cristo e sua Igreja. O relacionamento com Cristo era expresso: no calor de seu amor e na bondade de seu coração; na verdade de suas palavras; no alento dado à esperança; na beleza de sua prece. Rampon firma ser o arcebispo "autêntico doutor da fé, genuíno intérprete da verdade evangélica". O livro mostra a íntima ligação entre a vida interior e mística de Dom Helder e sua atuação pública e social, que o tornou uma figura notável para Igreja e para o mundo.

(Geração de imagens pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/5dDwxen4ZAE)