terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Fraternidade, fome e dignidade humana

A Quarta-feira de Cinzas (22/02), num calendário tradicional, seria o final dos festejos de Carnaval. Tempo de iniciar a Quaresma, os 40 dias que precedem a Páscoa. Nestes tempos confusos, em que as festas momescas se estendem por praticamente todo o ano, ainda assim, a Igreja Católica Romana mantém e lança a sua já tradicional Campanha da Fraternidade. Este ano, a proposta de conscientização traz o tema “Fraternidade e fome”, sugerindo como desafio o lema evangélico: “Dai-lhes vós mesmo de comer”.


Entre grupos organizados, sugere celebrações penitenciais, via-sacra (com estudantes, familiares e educadores), contextualizando seus roteiros a partir do fenômeno da fome física, mas também da fome de Deus e, porque não, a fome pela justiça e a paz. Tanto na internet quanto em opúsculos físicos, pode ser encontrado um texto-base da Campanha da Fraternidade 2023, que atua no que a instituição julga essencial: despertar o espírito de caridade e de compromisso naqueles que se propõem a seguir Jesus Cristo.

A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil respalda trabalho da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Busca conscientizar seus quadros e, também, a sociedade para o flagelo da fome sofrida, hoje, por uma população que, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, no país, é de 33,1 milhões de pessoas. O escândalo é que, somente no ano passado, 14 milhões de novos brasileiros entraram em situação de fome, fruto da ausência de políticas públicas e a pandemia.

A temática é concreta, já que a “caridade” faz parte do tripé que sustenta a crença católica, junto com a “fé” e a “esperança”. As discussões em grupos desafiam as comunidades a assumir responsabilidade diante da fome que persiste no país, assim como se revelou durante os últimos tempos em grupos organizados que prepararam e distribuíram sopões, quentinhas, cafés, roupas e material de higiene. Em casos diretos de atendimento a famílias, assim como minorando o sofrimento de moradores de rua.

É um confronto com o aumento da parcela da população que entrou na linha da pobreza e, especialmente, da miséria. Dados de institutos sociais comprovam o acirramento do desemprego (com retorno gradual em que salários são achatados) e pessoas sem condições de colocar na mesa da família um número mínimo de refeições. Flagrante contraste de uma economia que já vinha mal das pernas antes da pandemia e que não encontra equilíbrio entre atender ao capital (sua prioridade) e a população.

Além do atendimento por católicos, evangélicos, umbandistas, espíritas, voluntários de atividades sociais, haverá, em 2 de abril, Domingo de Ramos, abrindo a Semana Santa, uma Coleta Nacional de Solidariedade. Certos de que a cobrança ao poder público por políticas sociais que atendam esta população é elemento chave. Mas, também, passa por processo de educação política. Sem o direito de se omitir quando existem condições de tornar concretos o cuidado e a atenção que resgata a própria dignidade humana.

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