terça-feira, 2 de agosto de 2022

Um duro caminho para Francisco

Duas histórias de imagens impactaram, recentemente, os crentes, especialmente da Igreja Católica: a visita do papa Bento XVI ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Mais do que as palavras, foram os momentos de silêncio de um idoso, depois de afirmar que “num lugar como este faltam as palavras, no fundo pode parecer apenas um silêncio aterrorizante, um silêncio que é um grito interior a Deus...  torna-se um grito ao Deus vivo para que jamais permita uma coisa semelhante”.

Semana passada, foi a vez de se receber pela televisão, jornais e redes sociais as imagens do papa Francisco em sua “peregrinação penitencial” pelo Canadá, visitando um cemitério onde renovou o pedido de desculpas pelo papel da Igreja Católica na violência infligida a crianças de povos originários do país. No silêncio da sua prece junto ao campo santo, afirmou: “o lugar que nos encontramos e a lembrança daquelas crianças ecoa um grito de dor. Desperta em mim tristeza, indignação e vergonha”.

Quem convive ou já cuidou de pessoa idosa sabe que alguém com a idade de Francisco, 85 anos, enfrentando dores e dificuldades para se locomover, precisando de uma cadeira de rodas, despende um esforço redobrado para qualquer atividade. Muito mais quando estas ações demandam uma carga emocional negativa por todo o sofrimento causado a pessoas: adultos, no caso da Polônia, e crianças, no Canadá; e por aqueles que, dentro ou fora da Igreja Católica, não concordam com suas atitudes e tentam desmerecê-las.

O papa parece enfrentar uma corrida de obstáculos. Cada uma de suas atitudes é passada no crivo da crítica. Quando não conseguem demovê-lo, a indústria do fake news planta notícias como, das mais recentes, de que sua condição física o levaria a renunciar. Não duvido. Porém, creio, não o fará antes de que, em outubro do próximo ano, coroe o Sínodo que traçará os destinos da Igreja. Ainda será um longo período pela frente, com muitas contendas e dificuldades, que possibilitam uma depuração da própria instituição.

No que vai dar? Só Deus sabe. O certo é que a maior consulta já realizada no seio da Igreja e a gradativa substituição de bispos, arcebispos e cardeais lhe dão um novo rosto. Mais avançada ou conservadora? Nem uma, nem outra. Literalmente, incomodados, de ambos os lados, estão se retirando. O que não significa que venha a se ter “uma paz de cemitério”, com todo mundo rezando pela mesma cartilha, enquanto fervem os desentendimentos internos. Um novo patamar nas relações institucionais e pastorais.

Não se pode negar a história. O presente é tempo de perdão e reconciliação. E mudar a perspectiva do futuro. Um duro caminho para Francisco, em busca de uma Igreja do Evangelho e do Homem de Nazaré, perseguindo o “vede como eles se amam” dos primeiros cristãos. Pensavam da mesma forma? Não. Buscavam o mesmo rumo e eram presença na sociedade. O diferencial? a fé, justificada na prática religiosa; a esperança, como horizonte existencial; e a caridade, a efetiva realização do amor ao próximo.

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