terça-feira, 9 de agosto de 2022

Regar o sentido para a vida

Archie Battersbee estava com 13 anos quando, na semana passada, os equipamentos que o mantinham vivo foram desligados. Em abril, encontraram-no desacordado, com uma corda no pescoço, dentro de casa. Desde então, era mantido por aparelhos, com morte cerebral. Foram inúmeras batalhas judiciais para que continuasse “vivo”. Há suspeitas de que participava de um desafio entre jovens na internet, o “Ligature” (“brincadeira do desmaio”), que consiste em se estrangular durante o maior tempo possível.

Esta temática não é nova, mas precisa ser reprisada constantemente: a necessidade de regar o sentido da vida. Não importa a religião, crença filosófica ou política, é fundamental que se veja a própria vida, assim como a vida do outro, como necessária de ser cuidada, no sentido de ser preservada, mas, também, de ser qualificada. Diversos fatores no processo educacional, especialmente o que acontece em família, tem colocado, literalmente, muitas crianças, adolescentes e jovens em situação de risco.

Também é repetitivo, mas necessário alertar: nesta fase, pais e quem está mais próximo são a referência em todos os sentidos. O fato de que os progenitores, especialmente, não tiveram uma formação adequada não os isenta de suas responsabilidades. Ao contrário, provoca a que, como se diz no futebol, “corram atrás do prejuízo”. Insistindo que são as atitudes que marcam os seus comportamentos: o relacionamento entre o casal, a forma como se relaciona com os amigos, sua capacidade (ou não) de serem solidários...

São marcantes os exemplos quando pais, desde pequenos, comprometem as crianças em atividades domésticas, em cuidados com jardins e hortas; responsabilidade com irmãos, seguirem as regras estabelecidas nos jogos infantis... Mais adiante, fazer parcerias em esportes, como futebol, mas também em atividade sociais, assim como em doação de sangue, de órgãos, medula... E, já adultos, estabelecer vinculação forte com os netos, sem negar a autoridade dos pais e sua responsabilidade pelo processo educacional.

Professores reclamam que jogaram nas suas costas grande parte das responsabilidades pela educação. É verdade. A carga é pesada para muitos que ainda estão despreparados para enfrentar as suas próprias vidas e, ainda, deixar as suas casas, com os seus problemas, e passar um ou dois turnos ajudando a reparar o que se passa em outras famílias. A escola não é o pronto socorro do processo educacional. Ela tem seu quinhão na responsabilidade, mas depende, também, que a sociedade cumpra a sua parte.

Não deixe que um “Archie” esteja dentro da sua casa. A existência é uma graça quando se alimenta o seu sentido. Encontrar razão para não desistir não é apenas uma frase motivacional, do tipo “receita de autoajuda”. Inteiro ou sequelado, jovem ou idoso, em plena posse das faculdades mentais ou não, a incapacidade para conseguir esta motivação é o elemento que faz definhar o gosto por sorver cada etapa desta grande aventura de forma plena. Com certeza, a vida é única, é pessoal... e é intransferível!

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