domingo, 13 de fevereiro de 2022

Vozes do passado: memórias e sonhos

A franquia “The Voice” faz sucesso ao apresentar talentos adultos, já quase geriátricos e infanto juvenis. Não sou de acompanhar apresentações em horários comerciais da televisão, porém uma seleção sempre é retirada dos melhores momentos, assim como do “Canta Comigo”, versão brasileira do formato britânico negociado pela All Together Now. Chama a atenção que os dois formatos (no primeiro entre três e cinco jurados e, no segundo, cem profissionais podem levantar e aprovar o candidato) têm versão juvenil, onde a emoção é forte e o envolvimento também.

Nas “férias”, com mais tempo para navegar no YouTube, descobri como são feitos os programas em outros países. Há uma massificação do que é a indústria de produção dita cultural, com interpretações que seguem o convencional, mas também resgatam compositores que fugiram aos chavões a que se está acostumado. Caso da Argentina, onde começaram a quebrar tabus pelo título: não é o “The Voice Argentina”, mas “La Voz Argentina”. E muitos dos “cantantes” se inspiram no cancioneiro revolucionário e amoroso que esteve presente, especialmente, no século passado.

Para quem quiser ouvir, está lá, nos arquivos do YouTube. Ano passado, destacou-se Francisco Benitez, 22 anos, ganhador da edição. Trabalhava numa cooperativa de eletrificação e atendia o meio rural. Com grandes dificuldades de fala, não tem o esteriótipo de cantores latinos, de galã, sem demérito, está mais para integrante de grupos “mariachis”. Mas, quando solta a voz… O repertório foi de Mercedes Sosa: “Cambia, todo cambia” e “Como la cigarra”, a Luiz Miguel, “Hasta que me olvides”... A voz afinada, bem postada, com interpretação que não tem nada de exageros teatrais…

Seguidamente falo a respeito da “bênção” que as novas tecnologias trouxeram. Quem quiser olhar pelo outro lado vai encontrar uma caçamba de motivos para declarar seus malefícios… porém… quando se olha para estes tempos bicudos da pandemia, em que se está vivendo há quase dois anos, é preciso dar-se conta de que foram exatamente elas que diminuíram o impacto do isolamento social. Aprendemos a conviver pelas redes da internet, com a falta que faz o contato físico, mas com a possibilidade da proximidade visual e auditiva, que, de alguma forma, diminui as perdas.

Nos últimos anos, confirmou-se a “aldeia global” cantada por McLuhan, nas décadas de 60 e 70, e que conectaram continentes e países, tornando possível o acesso ao lixo do consumismo universal, mas, também, permitindo chegar aos mais remotos vilarejos e conhecer o que resta de suas culturas. Mais ainda, se disponibilizam arquivos de áudio e de vídeos de parte do século passado, com riqueza de imagens, vozes que fizeram história e canções que embalaram muitos dos nossos sonhos da adolescência e juventude. Um tempo de ouro, em que éramos felizes e só agora viemos a saber…

Assistir ao “La Voz” adentra a palcos argentinos, chilenos, mexicanos... ressoando tangos, boleros, contestação e amores perdidos. Não é regra, pode ser exceção, mas também no Brasil jovens e crianças interpretam melodias que fogem à sofrência ou ao “bate-estaca”. Quem for atrás pode ter uma certeza: não se contenta em assistir ao que se faz hoje e tem a oportunidade de reviver memórias, que levam a um túnel de lembranças e acalentam muitos sonhos. O que foi se perdendo no caminho é sempre a perspectiva da vida que dá um jeito de se renovar…

Nenhum comentário: