terça-feira, 18 de maio de 2021

Democracia: oportunidades e oportunistas

A partir deste início de semana, as atenções se voltam para o Chile onde, sábado e domingo, a população elegeu os integrantes de uma assembleia que fará a sua nova constituição. Depois de grandes - e nem tão pacíficas - mobilizações populares, o país que vendia a imagem de que havia alcançado elevados níveis de bem-estar social reconheceu que, nos últimos anos, houve um aumento na desigualdade entre as classes, como sempre, em detrimento dos mais pobres. A mudança pretende enterrar de vez a herança política da ditadura do general Augusto Pinochet.

Com o descrédito dos velhos partidos e a fragmentação política (semelhanças com o Brasil, não são mera coincidência), inicia jornada de um ano para apresentar em plebiscito uma nova carta constitucional. Classificado pelo jornal El País como um salto para um futuro desconhecido”, inova ao ter representação quase paritária: 155 integrantes, sendo 50% de mulheres, 50% de homens e representação de povos originários, como mapuches e aimarás, com 17 parlamentares.

O que acontece no Chile tende a se alastrar pelos demais países da América Latina, que vivem problemas semelhantes. O Brasil, por exemplo, teve sua “constituição cidadã” apresentada em 1988. Infelizmente, o que se viu, depois de três décadas, é a existência de itens ainda não regulamentados e, em alguns casos, deformações que a colocaram a serviço de grupos econômicos e de quem “interpreta” seu texto, com altos ganhos, o que a transformou em autêntico “frankenstein”.

O quadro de pobreza e miséria a que chegou o país que costeia o Pacífico levou multidões às ruas, quando se deram conta de que os propalados avanços marginalizaram populações periféricas, indígenas, o sistema previdenciário faliu e a perspectiva de atendimento social tornou-se nula. O Chile serviu como modelo de desenvolvimento econômico no continente e a indignação patriótica da sua gente clamou por mudanças que, mais cedo ou mais tarde, também vão chegar por aqui…

No Brasil, não são apenas os desmandos do governo que paralisam a máquina pública, comprovado pelos cortes no orçamento da União e resulta em menos obras e serviços, ainda este ano, mas de uma sucessão de “erros”. O problema não começou com o coronavírus, mas se acentuou com ele. E tem tudo para ficar pior. A população mais pobre já sentiu que a água chegou ao nariz, para a classe média – que deflagra mobilizaçõesjá está no peito; indicativo de que o perigo está próximo

Tempos de crise são ninhos para oportunistas, como os desvios de recursosque já são poucos – na saúde. Também oportunidade de repensar a educação, emprego, moradia e segurança... itens básicos para quem nem sabe que é regido por uma constituição, mas ela lhe deve a proteção a fim de não perder a dignidade. Não é preciso temer a mudança. O povo do Chile mostrou que pode ser feita pela resistência pacífica e, se não der certo , é começar de novo... A causa é justa e a população já sofreu bastante e merece reencontrar os verdadeiros caminhos da democracia.


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