segunda-feira, 17 de abril de 2017

Identidade ao envelhecer

O que faz a identidade de uma pessoa? As definições são muitas. Prefiro pensar ser aquilo que a torna diferente das demais, "especial", individualizada, com uma marca que a sua história construiu. A identidade é fruto de escolhas individuais, mas passa pela marca do social.
Foi o que tentei passar para as "meninas" do projeto da Universidade Católica de Pelotas, Voltando à Sala de Aula: chegamos à vida buscando nosso espaço, tentando dar sentido à nossa identidade; passamos o tempo construindo e podemos dizer que mesmo ao morrer ainda há um processo que não acaba até o último suspiro.
Não estou dizendo nenhuma novidade, mas envelhecer, na maior parte das vezes, é um privilégio. Muitos não chegam. Outros o fazem parecer um castigo. Neste meio, há muita gente que compreende ser uma nova etapa da vida, na qual temos problemas, mas também desfrutamos de momentos privilegiados.
Este "desfrutar" depende do que se fez nas etapas anteriores. Alcançar a velhice, mais do que vencer etapas, dá o direito de amadurecer. Com tudo o que daí advém: os protocolos não são mais da representação social, mas de viver em conformidade com aquilo que nos agrada e usufruir dos outros o que de bom nos podem dar.
Ouvi pessoas que precisavam criar sua identidade a partir de princípios falsos: ao invés de outros reconhecerem suas qualidades, repetem à exaustão que são isto ou aquilo tentando convencer. E se convencer. Se dizem "humildes" (mas são arrogantes!) ou "sinceras", gostassem os outros ou não.
Nos dois casos, ainda não se encontraram. Têm medo do que representam. O que as torna incapazes de viver a própria existência e se metem na vida dos outros para ter um sentido. Abandonam a própria felicidade, que não está no quintal alheio, mas esquecida de ser cultivada num recanto do próprio jardim.
Na maior parte das vezes, os espelhos e as fotografias não são justos conosco. O passar do tempo muda nossas aparências, é verdade. Mas quem percebe isto mais facilmente são os outros. Dentro de nós há um espírito brincalhão que nega. Diz que ainda somos os mesmos. Por mais que cansemos, ele não nos deixa desistir.
Dá sentido a anos serenos e produtivos centrados não apenas em buscar momentos felizes, mas vivê-los com quem deu sentido ao passar do tempo. Que cada ruga, articulação dolorida, esquecimento foi fruto de um viver intenso e nos fez mais próximos da realização maior: saber que cada instante valeu a pena... e alcançar a paz!


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