domingo, 5 de abril de 2009

Um manual de gente

Para quase todos os produtos que se compra, procurando entre as muitas tralhas que normalmente os acompanham, sempre vem junto um manual orientando a correta montagem e utilização. Pois fiquei pensando que para “gente” não há um manual dizendo como podemos “utilizar”. Se este não for o termo, como é que se lhe faz companhia durante a existência. Os pais iniciantes sabem que, embora tenham ouvido todas as lições, o inesperado é uma das “normas”, exigindo reação rápida, imprevista, mas com raros deles se saindo mal.
Talvez o manual para adolescentes seja o mais complicado. Teria que prever a nuance de seus “delicados” sentimentos, ou, dito de outra forma: como controlar um turbilhão de hormônios insistindo em levar do zero a mil em poucos segundos, numa cadeia de reações imprevistas. O manual do adulto também não seria fácil. Controlados os hormônios, é a fase em que se escondem as emoções, em função de um “estar adulto” que requer postura adequada ao perfil social e ao status.
Mas, o mais interessante seria o do idoso, categoria que o marketing teima em chamar de “terceira idade”. Para estes, o manual deveria mais prever como se tratar aqueles que interagem com eles! Tenho o privilégio de conviver com dois de 83 anos e sou testemunha de cenas que seriam hilárias se, em certos momentos, não fossem tristes. Lembro de três situações onde a conduta das pessoas é incompreensível. A primeira, quando se conversa, com a presença do próprio, e nos perguntam: “ela (ele) está bem?” Ao que não resisto em responder: “o melhor é perguntar para ela!” A segunda, quando há objeto a ser movido e as pessoas se apressam em retirá-lo, não se dando conta de que ele precisa fazer a sua parte no convívio social, inclusive em atividades físicas. O terceiro, ao sentirem que o idoso encontra dificuldade para encontrar uma palavra e completam a frase ou falam ao mesmo tempo.
É desconhecimento de caso: o idoso, na maior parte das vezes, não é surdo e nem tem problema com a fala, portanto pode e deve ser questionado e responder; no segundo, mover pequenos objetos não é um ato de se aproveitar dele, mas mantê-lo ativo e ocupado; completar a frase ou falar ao mesmo tempo é má educação em qualquer circunstância. O ritmo e a agilidade de um idoso exigem mais tempo, mas não se pode desprezar sua capacidade de raciocínio. E um alerta aos apressadinhos: respeitar as possibilidades dos outros é um bom exercício para saber o que vai se passar num futuro, talvez ainda distante, mas que, tenham certeza, chegará.

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