Do meu livro "Remendos e arranjos", a segunda história sobre um Mestre e seu Aprendiz.
O Aprendiz estava à beira do
pequeno lago e brincava atirando pequenas pedras contra o espelho d’água. Ele
alternava formas rápidas e precisas, com outras vezes em que jogava para o alto
as pequenas contas que, igualmente, iam mergulhar de encontro aos seixos.
Observando à distância, o Mestre pensou que somente podia ser uma brincadeira
de criança. Aproximou-se, dizendo:
- Também sou bom em atirar
pedras na água. Quando era da sua idade, no mosteiro em que morávamos, tínhamos
um grande lago, onde, quando nos era permitido, gostávamos de chapinhar com as
pedras, vendo quem conseguir fazer com que elas deslizassem mais até mergulhar.
Você está gostando de brincar com as pedras na água?
- Meu amado Mestre, eu não
estou brincando com as pedras na água.
O Mestre fez-se de sério e
perguntou:
- Então o que foi que eu vi,
vindo por este caminho, e com estes olhos que a natureza vai pedir de volta um
dia?
Tranquilamente, o pequeno
garoto apanhou uma nova pedra e jogou-a na água, agora quase a soltando,
fazendo com que a agitação da água fosse pouca e o barulho menor ainda.
- Posso saber, então o que
fazes?
- Eu me preparo para ouvi-lo.
- Creio que não entendi!
- É muito simples. Quando
estou agitado, o que o senhor diz é como a pedra que lanço muito alto e quando
ela cai faz mais barulho e buliço do que sentido.
- E quando você a solta como
agora a pouco?
- É como se eu estivesse me
preparando a longo tempo para ouvi-lo. Neste caso, estou preparado e o que diz
cala dentro de mim, pois eu envolvo suas palavras com todos os meus sentidos.
Era melhor pensar em alguma
coisa para argumentar. Mas não encontrou. Teve vontade de experimentar jogar
uma pedra das duas maneiras, para ver como estava se comportando nos últimos
tempos. Mas já sabia que havia muito agito e pouca serenidade; muito buliço e
pouca capacidade de silenciar. Quem lá em
cima prepara esta pequena estrela para dizer estas verdades? Quando lá
chegasse iria precisar de uma pequena cadeirinha, sentar-se diante do Deus
e pedir-lhe explicação.
- Mestre, porque o senhor quer
explicações de quem já lhe deu todas as chances de compreender? Quando chegar
lá em cima, não vai precisar de explicações. Você já vai ter entendido tudo!
Era uma grande verdade. Mas
também era verdade que estava precisando, com urgência, controlar seus
pensamentos. Mas era hora de voltar aos demais meninos e aprender como é
difícil ser pai.
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