sábado, 25 de fevereiro de 2012

Porque devemos silenciar mais?


Do meu livro "Remendos e arranjos", a segunda história sobre um Mestre e seu Aprendiz.
O Aprendiz estava à beira do pequeno lago e brincava atirando pequenas pedras contra o espelho d’água. Ele alternava formas rápidas e precisas, com outras vezes em que jogava para o alto as pequenas contas que, igualmente, iam mergulhar de encontro aos seixos. Observando à distância, o Mestre pensou que somente podia ser uma brincadeira de criança. Aproximou-se, dizendo:
- Também sou bom em atirar pedras na água. Quando era da sua idade, no mosteiro em que morávamos, tínhamos um grande lago, onde, quando nos era permitido, gostávamos de chapinhar com as pedras, vendo quem conseguir fazer com que elas deslizassem mais até mergulhar. Você está gostando de brincar com as pedras na água?
- Meu amado Mestre, eu não estou brincando com as pedras na água.
O Mestre fez-se de sério e perguntou:
- Então o que foi que eu vi, vindo por este caminho, e com estes olhos que a natureza vai pedir de volta um dia?
Tranquilamente, o pequeno garoto apanhou uma nova pedra e jogou-a na água, agora quase a soltando, fazendo com que a agitação da água fosse pouca e o barulho menor ainda.
- Posso saber, então o que fazes?
- Eu me preparo para ouvi-lo.
- Creio que não entendi!
- É muito simples. Quando estou agitado, o que o senhor diz é como a pedra que lanço muito alto e quando ela cai faz mais barulho e buliço do que sentido.
- E quando você a solta como agora a pouco?
- É como se eu estivesse me preparando a longo tempo para ouvi-lo. Neste caso, estou preparado e o que diz cala dentro de mim, pois eu envolvo suas palavras com todos os meus sentidos.
Era melhor pensar em alguma coisa para argumentar. Mas não encontrou. Teve vontade de experimentar jogar uma pedra das duas maneiras, para ver como estava se comportando nos últimos tempos. Mas já sabia que havia muito agito e pouca serenidade; muito buliço e pouca capacidade de silenciar. Quem lá em cima prepara esta pequena estrela para dizer estas verdades? Quando lá chegasse iria precisar de uma pequena cadeirinha, sentar-se diante do Deus e pedir-lhe explicação.
- Mestre, porque o senhor quer explicações de quem já lhe deu todas as chances de compreender? Quando chegar lá em cima, não vai precisar de explicações. Você já vai ter entendido tudo!
Era uma grande verdade. Mas também era verdade que estava precisando, com urgência, controlar seus pensamentos. Mas era hora de voltar aos demais meninos e aprender como é difícil ser pai.

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