terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Francisco (o santo) e os desafios da Economia

Nos dias 26, 27 e 28 de março, acontece em Assis (Itália), o Encontro Mundial pela Economia de Francisco (o santo, não o pontífice). Convocado pelo papa Francisco terá jovens economistas, empreendedores e pesquisadores de 115 países. O Vaticano diz que é o lugar apropriado porque foi ali que o "pobrezinho de Assis" se despojou de tudo (até da própria roupa do corpo, ainda no século XIII) para abraçar a pobreza e deu origem a uma visão econômica de solidariedade que, até hoje, se busca concretizar.
Uma discussão e tanto em tempos em que o enquadramento econômico internacional produz desigualdade e exclusão, fruto de políticas que podem, sim, ser questionadas e transformadas. O objetivo do Santo Padre é que se tenha no mundo uma economia socialmente justa, economicamente viável, ambientalmente sustentável e eticamente responsável. Não faltam recursos e dinheiro, o que há é falta de justiça e de partilha. Hoje, 1% da população mundial detém mais riqueza do que os restantes 99%.
O planeta produz alimentos suficientes para 11 bilhões de pessoas. A população mundial hoje é de 7,6 bilhões de seres humanos. No entanto, 851 milhões de pessoas passam fome - números da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Falando a economistas, ministros de finanças e banqueiros, Francisco constata que o mundo é rico. Todavia, os pobres aumentam ao redor e o nível de riqueza e de técnica acumulados pela humanidade pode e deve acabar com a pobreza.
O meu texto anterior: "a herança do papa Francisco" deixou algumas pessoas em dúvida sobre meu apoio ao pontífice. Pois não tenham. Acredito neste papa como pastor, como já se teve um João XXIII, depois um papa político, João Paulo II; e um intelectual, Bento XVI. Embora, muitas vezes, não concordasse com eles, resignei-me ao silêncio. O que espero dos críticos católicos de agora, que se sentem no direito de jogar pedras, mesmo que muitas vezes envoltas em tecidos finos e escarlates...
Para dizer exatamente que as ações de Francisco condizem com sua função: a Igreja precisa zelar pela espiritualidade, religiosidade e presença no mundo. Para fazer isto se vale da oração, da meditação e da reflexão, respectivamente. Sendo que, cada uma delas, vai se fazer presente na fé, na esperança e na caridade. Como mãe e educadora, ajuda aos leigos que trabalham nesta área a definir a Economia como lugar de prática da caridade, onde se vivencia a justiça.
Experiências se multiplicam: "café que sustenta", dormitórios para pobres em grandes cidades; refeitórios comunitários, espaços para o aprendizado e aperfeiçoamento profissional: mão que se estende em direção a quem definha por falta de esperança. Lugar para se pensar que todo o dinheiro, recursos, todas as instituições perdem o sentido se não estiverem a serviço da realização plena e concreta do próprio homem!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A herança do papa Francisco

O papa Francisco encontra-se - mais uma vez - em meio a uma discussão infindável a respeito da recepção dada ao ex-presidente Lula. Uma jogada inteligente de grupos políticos que têm católicos como integrantes e outros que sabem da repercussão que podem causar na mídia a simples perspectiva do fato, ou, em consequência, declarações, fotos e vídeos. Numa sociedade polarizada entre o "bem" e o "mal" fica difícil dizer quem é quem, mas atiram-se pedras para todos os lados...
Assessores que já pensam em próximas eleições presidenciais movem suas peças no tabuleiro das relações internacionais e produzem "informações" facilmente repercutidas, especialmente pelas redes sociais. No entanto, mostram-se "surpresos" quando a grande mídia não lhes dá respaldo. Novamente, de ambos os lados, "pedra na Geni", porque significa que os meios de comunicação são "comprados", manipulados, a serviço do capital e não exercem seu papel de agente social.
Não creio na inocência da mídia - assim como não creio na inocência de nenhuma categoria profissional - mas conhecendo muitos dos profissionais que ali atuam - sei do esforço para, honestamente, desempenhar funções e ganhar o "pão nosso de cada dia". Infelizmente, o que se vê são agentes políticos - ou com interesses não tão declarados - denegrindo a tudo e a todos, respaldados por uma moral duvidosa em que o que vale é o que seus interesses colocam em jogo e se dane o que os outros pensam ou fazem...
O fato em si de Lula ter sido recebido sem constar da agenda do pontífice significa que houve articulação e interesses que envolveram o Vaticano. Uma máquina de estado que muitas vezes não avalia corretamente o que está em jogo. A prepotência de achar que "sabem de tudo" impede consulta adequada a pessoas de bom senso dos países de origem e artimanhas são geradas por "marketing político" (no caso, marqueteiros) acostumado a valer-se de situações que exploram de imediato e em tempos de campanhas eleitorais.
Para a maior parte da população, infelizmente, não há como discernir entre o que faz o papa pastor e o papa mandatário de um estado, com representação internacional e uma carga pesada de homens que integram seus escalões fazendo carreira política. Herança da qual Francisco gostaria de se libertar e libertar sua Igreja para que exerça efetivamente seu papel, tendo como referência as virtudes teologais da fé, esperança e caridade. Um horizonte que a política(gem) teima em minar e desestimular...
Francisco conseguiu a simpatia de pessoas cansadas de "pastores" incapazes de atender ovelhas porque têm instituições e um ritualismo - na maior parte das vezes incompreensível - colocados em primeiro lugar. Cansados e dispersos - talvez seja exatamente isto que religiosos e seus críticos não vêem - afastam até os poucos que manifestam o desejo de ter a sua fé articulada e vivenciada em uma religião. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Redes sociais: uma janela para o Mundo

A mãe aproveita a rede social para falar com o filho que faz faculdade longe de casa, feliz porque pode vê-lo e o lugar onde mora; a filha aciona a câmera pelo celular para monitorar o pai que fica sesteando em casa, enquanto ela pode fazer compras, efetuar pagamentos e sair um pouco da rotina; os pais acompanham o que está acontecendo com a criança na escolinha pelo sistema que lhe permite acesso remoto...
Recursos da informática, em especial disponibilizados por redes sociais, podem ser usados de forma errada - o que não é a regra e sim a exceção. Quando pessoas, especialmente com mais idade, se dão conta de que podem conversar e brincar com os netos à distância o que se dá não é a "perda de tempo", mas a possibilidade de retirar de seus ombros uma das maiores tristezas que provocam as ausências: a saudade!
Cito o exemplo da dona Alda, vizinha, que abria um pouco da sua janela e observava quem andava nas calçadas. Reclamava que, naquele tempo, era pouco o movimento e raras "almas" passavam por ali. Também já contei que da janela do meu escritório, em casa, observo a circulação dos moradores antigos, assim como dos novos condomínios da rua. As janelas por onde "fresteávamos" o Mundo, hoje são as redes sociais!
A essência da alma humana continua a mesma... Temos à disposição recursos mais poderosos, que, no dia a dia, facilitam a vida em suas rotinas. Recentemente, mudanças de configuração de aplicativos fizeram com que aparelhos mais antigos não executassem certos programas. A cuidadora/faxineira reclamou - e com razão - que era por ali que acompanhava os filhos, horários de serviços e, até, roteiros de ônibus...
Também contaram da avó que - em vídeo conferência - ditava regras para o neto. Talvez até cansada de tanto ouvir sempre do mesmo, a filha ficava calada. Lá pelas tantas, inadvertido, o esposo (avô) resolveu também dar o seu "pitaco", dizendo o que já havia dito para o genro a respeito. Um silêncio e a reprimenda: "não te mete, fulano, não sabes que a gente não deve dar palpite na educação dos filhos dos outros?"
As redes sociais não mudam o comportamento, mas revestem o velho de uma nova roupagem. Dizer que se transforma em "perdição" é abrir mão de todo o processo de educação e influência que pais e professores, especialmente, podem ter. Naquele tripé que ainda se incluíam as religiões formam-se valores e referências que são utilizados do sinal de fumaça até as transmissões de satélites mais sofisticadas...
A política do "é tudo a mesma coisa" convence incautos de que não adianta fazer nada contra a "máquina" que devora mentes - a forma mais covarde de omissão. Educadores podem ter todas as dúvidas, mas não têm o direito de desistir. Percorrem o lugar mais difícil de se encontrar certezas: a mente humana, onde se ajustam rotas e, enfim, desabrocha - no dia a dia, do nascer ao último suspiro - a essência do se tornar gente!

Que sejas muito feliz!

Fenômeno até algum tempo atrás pouco comentado, hoje se tornou comum, causando uma sensação difícil de ser definida: a síndrome do ninho vazio - a condição caracterizada pelo surgimento de quadro depressivo por parte dos pais (especialmente da mãe) após a saída de um filho de casa, a partir do momento em que já se acha em condições de abrir mão da proteção paterna, ou mesmo por sua morte.
O que era caracterizado por condições financeiras independentes ou pelo casamento, hoje foi aumentado por busca de espaços universitários, acidentes (ou incidentes) dos mais variados, além de portadores de síndromes que, até o início da década de 1980, eram diagnosticados com a possibilidade de viver até os 30 anos e, hoje, tiveram sua expectativa de vida ampliada, alguns já tendo ultrapassado os 50 anos.
Pessoas aparentemente bem ajustadas têm dificuldades quando as perdas (ou perspectivas delas) são em família. As naturais - por idade ou doenças sem volta - podem ser difíceis, mas são trabalhadas com o tempo. A dificuldade está em abrir mão de "acompanhar" quem se está acostumado a "policiar" se cuida da higiene, toma medicações nos momentos certos e, até num suspiro, se pergunta se está tudo bem...
Explicitamente - ou implicitamente - filhos acabam dando um grito de independência, dizendo (e é pena quando não dizem) que estão sufocados e precisam de um tempo para saber se já estão preparados para a vida... Infelizmente, preparados, preparados, nunca se está, mas como dizia um deles: "mãe, sou teu filho, saber o que fazer, eu sei, porque aprendi de vocês, mas preciso batalhar no dia a dia para tocar a minha vida..."
A distância (pode ser de apenas quarteirões) é suficiente para agonias, policiamento e não transformar a nova moradia apenas na filial da própria casa. É quando se percebe o amadurecimento do filho... e também dos pais. Porque, se possível, manteriam os filhos sob suas asas, mas sabem que, em algum momento (aceitem ou não) terão que jogá-los no espaço para que alcancem a sua própria realização.
Meu pai costumava guardar pendurados numa árvore do pátio todos os pedaços de arame que sobravam de obras. A certeza era de que um dia iria precisar. E teria guardado. Lá pelas tantas, em alguns lugares, havia uma penca de pedaços de fios (talvez seja exagero) que esperaram por toda uma vida para serem utilizados, até que o sucessor, numa das limpezas, acabou com todos, até aqueles que, hoje, precisa.
Não há preparação para a perda que evite o impacto da ausência. Porém, namorar e dar espaço para a depressão é flertar com a morte. Não no sentido de terminar com a vida, mas deixar de atender família e amigos, integridade física e espiritual. Ao contrário, é preciso "estocar" energia para valorizar telefonema, visita, um carinho... Oportunidade de dizer: "te amo filho, Deus te abençoe... que sejas muito feliz!"