segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma sinfonia para 2010

Se tivesse que escolher uma trilha sonora para esperar e homenagear a nova década que inicia nesta sexta seria a música de Susan Boyle, cantora que apareceu praticamente do nada e emocionou o mundo com a canção I dreamed a dream (Eu tive um sonho) do musical Os Miseráveis, em 11 de abril de 2009. O sucesso foi instantâneo pela Internet, com um vídeo alcançando a marca de mais de um milhão de acessos.
A que era considerada o “patinho feio”, quando soltou a voz incorporou uma legião de Anjos, liberando nossas emoções e fazendo aflorar o que de melhor temos em nós. Uma mulher que, até então, somente cuidara da casa, rapidamente foi guindada ao estrelato, com seus benefícios e também com as cobranças que a mídia sempre faz. Rapidamente passou a se ouvir que ela era fruto de uma armação de marqueteiros que conheciam o valor de sua voz e que por isto a apresentaram em situação que beirava o ridículo, uma figura merecedora da chacota e do deboche de jurados e platéia, que acabaram aplaudindo de pé, emocionadamente.
Recentemente, ao lançar seu primeiro disco, os “críticos” (já ouvi dizer que um crítico musical é um músico frustrado) tiveram que reconhecer que a voz é bem mais do que especial, mas que a estrutura melódica de todas as gravações era praticamente a mesma, enfatizando a voz, o coro e a orquestra. Ora, tenham paciência: se o melhor do que ela pode apresentar é exatamente isto, então porque não explorá-los? Infelizmente, não vai ser por uma bela performance de dançarina ou de expressão facial que Susan poderá dar seu show.
Nos bons tempos das décadas de 60, 70 ou 80, quando (lembra Geraldo Fagundes?) fazíamos “cortina musical”, as gravações de Susan, em seguida, virariam fundos, marcas para programas ou vinhetas carregadas de vibração, vida e emoção. Todos impregnados daquilo que mais gostaríamos para 2010: a realização de nossos sonhos. Pois que seja: na expectativa de novos tempos, a minha trilha sonora é uma música - I dreamed a dream – capaz de fazer pulsar mais rápido o coração, na certeza de que, para além de todas as decepções, os sonhos motivam novas esperanças. Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Um sinal de esperança

Quando a espaçonave Apolo 11 pousou na Lua, em seu retorno, o presidente americano Richard Nixon disse que aquele era o maior feito da Humanidade, pois o homem punha o pé, pela primeira vez, em seu satélite. E que ninguém poderia contestar aquele feito sob sua administração. Um pastor, presente, interferiu para dizer que de fato aquela era uma ocorrência importante, mas que a maior marca deixada na raça humana acontecera há cerca de dois mil anos atrás, quando o próprio Deus pôs o seu pé na Terra!
Claro que é muito difícil a gente ver todas as coisas sob a melhor perspectiva. Há um ditado que diz: “não apresentes um problema ao teu Deus, mas apresenta o teu Deus ao teu problema”. Alguém pode dizer que é somente um jogo de palavras. Não é. Lembro do padre angolano Quintino que dizia que ter Deus no coração era mais importante do que ter dinheiro, poder, a realização de todos os anseios e instintos. Passava pela realização pessoal e a capacidade de descartar as pedras que podem estar no caminho em função do caminho que se abre em perspectiva.
É um pouco do que deveria ser este tempo de Natal. O excesso de festas, gastos, consumo, alimentos, pode deixar a sensação de frustração, quando nos damos conta de que, passadas, pouco ou nada restou. Já falei a respeito de crianças que esperam presentes através de promoções – como a do Correio – mas que também são realizadas por inúmeras entidades religiosas e civis. De todos os comentários, um ficou martelando: “fazemos isto porque conhecemos a graça e a generosidade de Deus. E queremos fazer com que outras pessoas possam senti-la através de nós”.
Não é muita pretensão, não. É uma verdade. Ouvem-se tantas notícias em função do mal que acontece em nossas vidas – morte no trânsito, uso de drogas, maltratos a crianças e idosos – porque não podemos ser um sinal da esperança de Deus para aqueles que a vida marcou com o sinal da desesperança? Não sei a fórmula, talvez ela até nem exista, mas que é um baita desafio, isto é: no majestoso silêncio que nos aponta para a beleza de um Deus menino encarnando, Ele pede que nossas mãos sejam utilizadas para plantar um sinal de esperança. Feliz Natal!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Um “desestressado” Natal

Não sei se acontece com as demais pessoas, mas para mim a época de final de ano, com o Natal e Ano Novo, é um tempo de stress: corremos atrás de tantas coisas – comida, presentes, ornamentações – que esquecemos coisas tão ou mais importantes, como buscar notícia de pessoas – amigas ou apenas conhecidas, reforçar a carga de carinho para com os mais próximos e contar não até dez, mas até mil, quando pensamos em explodir pelos pequenos erros cometidos na rotina da vida.
Creio que uma boa forma de fazer isto é atendendo ao pedido dos Correios: buscar a carta de uma criança encaminhada ao Papai Noel e que, sem ajuda da população, não poderá ser atendida. Um jornal estadual publicou dez das muitas cartas enviadas e, confesso, fiquei emocionado com a simplicidade dos pedidos: desde um par de chinelos, passando por comida, e chegando a uma piscina plástica para uma criança com câncer, que não pode ser exposta ao sol.
Fiz a proposta aqui em casa para que apadrinhássemos algumas delas. Sei que alguns dirão que não estamos resolvendo o problema, mas, ao menos, fazemos uma parte. Diminuímos o sofrimento de algumas delas e sentimos a alegria de fazer por alguém desconhecido o suficiente para que o “espírito de Natal” se faça presente.
Mas acho que este chamado tem outro forte elemento: tira-nos da volta dos nossos problemas e daquilo que nos atormenta. Faz-nos ver que embora tenhamos a sensação de que os nossos são os maiores, podemos considerá-los insignificantes, diante do que outras pessoas enfrentam. Estamos com dor de cabeça? Há alguém que vai amputar uma perna. Temos pouco dinheiro? Há alguém em desespero por não ter nenhum e nem como colocar comida na mesa. Temos uma angústia por não poder resolver um problema imediato de um filho? Há uma mãe que já perdeu o seu e que tem no coração a marca dolorida da saudade.
Não seria capaz de fazer “hô, hô, hô, hô” nesta data, mas sim olhar nos olhos de uma criança que pediu um presente e dizer: “feliz esperança, Que ela jamais morra no seu coração!” Para nós, com certeza, restará um “desestressado” Natal!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Um livro para ouvir

Em diversos lugares – hospitais, escolas, casas geriátricas, centros sociais – aparece uma figura que se intitula de “contador de histórias” (antigamente usávamos “estórias”, para diferenciar ficção de fato). Tentam melhorar a vida daqueles que têm alguma dificuldade física para a leitura e, além de contar uma história, buscam interpretá-la, tornar vivo na imaginação de crianças e adultos o que o autor escreveu.
Minha lembrança de “contador de história” é do tempo de criança, quando minha mãe nos reunia na cama, em dias frios, e, por não existir luz elétrica, substituía a televisão, em narrativas que encantavam nossas noites. Mas adorávamos quando o pai adoecia, não importava em que grau, pois íamos todos para a cama com ele, que tinha que contar histórias novas - diferentes da mãe - com mais elementos de ação, violência e terror.
Foi pensando nisto que acompanhei com atenção um grupo de alunos de uma das disciplinas do curso de Jornalismo da Católica que resolveu transformar em áudio livro os “Causos do Romualdo”, personagem famoso de João Simões Lopes Neto, passados nas plagas do Rio Grande. Com uma bela intenção: oferecer à clientela da Escola Louis Braille, que presta assistência a pessoas com deficiência visual.
Conseguiram valorizar uma obra nossa, com características tipicamente gaúchas, e colocar à disposição daqueles que poderão ouvir um livro. Mas fiquei pensando que, além deles, também vão poder escutar os contos pessoas idosas, com dificuldade de visão; pessoas debilitadas, com dificuldade de concentração; pessoas com baixa escolaridade, que muitas vezes são somente alfabetizados funcionais; e a minha categoria: dos preguiçosos estruturais, que adoram um aparelho de som, com seus fones e uma rede, nas férias, podendo ouvir boas histórias ou bons textos de auto-ajuda, religiosos e mesmo de pesquisa como já existem na área da história, comunicação etc.
Não vou entrar na discussão da substituição do papel por um meio eletrônico. Não vem ao caso. O importante é que se amplie a abrangência do livro. Se ele pode ser acessado por mais gente, que pode usufruir do entretenimento, da formação e da informação, é bem vindo, com o desejo de que amplie mundos e faça mais gente feliz.

domingo, 29 de novembro de 2009

Uma linguagem para a vida

O presidente eleito, mas não empossado – porque morreu antes – Tancredo Neves contava para os íntimos a seguinte história: um deputado chegou a ele e perguntou: “Presidente, tenho um segredo, que gostaria de contar para o senhor. O senhor sabe guardar segredos, não?” E Tancredo, bonachão, respondeu com toda a tranquilidade: “se o senhor que é dono do seu segredo, não sabe guardá-lo, porque é que eu iria fazê-lo?”
Conto isto para falar de linguagem, que, no dito popular “é uma fonte de mal entendidos”. Explica-se pela técnica de grupos em que se retira alguém da sala e conta-se uma história. Depois, a pessoa que ouviu vai passar adiante, quando a última conta para todos. O interessante é que a história chega completamente diferente do que foi contada originalmente.
A linguagem é fonte de aproximação, sedução, encantamento, mas também pode ferir, magoar, distorcer, atormentar. É a forma como é utilizada. Talvez, nem sempre, intencionalmente, mas quando se pensa em reforçar uma argumentação, usada de forma definitiva - mas equivocada - pode ser um “tiro no próprio pé”.
Embora se diga que “de bem intencionados, o inferno está cheio”, não consigo ver em pessoas que ouvem informações e passam adiante de forma distorcidas apenas má intenção. É um processo. Trabalhamos com pessoas. E gente é uma “coisa” difícil de lidar. Já ouvi muitas vezes: “mas não era isto o que eu queria dizer!”. Mas disse, e acontece como a história daquele padre que ouvindo as duas maiores fofoqueiras de sua paróquia, resolveu dar uma penitência: soltar as penas de um travesseiro do alto da torre da igreja e voltar. Ambas foram, muito felizes. Ao voltar, o complemento da penitência: sair pela cidade recolhendo todas as penas!
Medir as palavras e pensar para quem se vai falar. Esta é uma regra elementar e que, se bem colocada, é capaz de fazer a alegria de todos. A linguagem oral pode ser uma fonte de mal entendidos, mas pode ser complementada pela linguagem do coração, do olhar, do carinho. E aí não há como errar: a gente faz da vida uma linguagem completa do que existe de mais significativo para a Humanidade: a linguagem do amor.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Aposentados, mas não mortos

Os aposentados que recebem mais do que um salário mínimo, até pouco tempo atrás uma massa disforme e sem força, estão mostrando que, embora tenham chegado à terceira idade, não entregam os pontos. Sabem que as centrais de trabalhadores, entre conseguir benefícios para os que estão na ativa e os que já penduraram as chuteiras, ficam com os primeiros. Restou a mobilização, constrangendo as lideranças do governo federal e imagens impactantes que repercutirão nas eleições do próximo ano.
Uma imagem e uma advertência: a foto dos aposentados deitados pelos corredores do Congresso correu Mundo, a mostrar o descaso com os idosos. E de um deles o aviso: “Temos todo o tempo possível e imaginável para fazer campanha ou, se for o caso, trabalhar contra aqueles que querem nos ver na mendicância”.
O certo é que a turma do “deixa disto” já está se mobilizando para que o governo tenha o menor prejuízo possível. O argumento é que, deixando o pessoal se aposentar cedo e permitindo reajuste integral pelo salário mínimo, causará problemas aos cofres públicos. Em sua defesa os aposentados - ou pretendentes - argumentam que não foram eles que causaram os problemas da Previdência que, eleitoreiramente ou não, criou uma série de benefícios sem ter caixa para tanto. Vão mais longe e dizem que trabalharam uma vida com a certeza de um tipo de aposentadoria que lhes é negada agora.
Vou colocar mais fogo na fogueira. Pelo jeito, o governo vai convencer da necessidade de que o homem some 95 anos (trabalho+idade) para se aposentar, o mesmo acontecendo com a mulher, aos 85 anos. Por quê? Eu conheço muitas viúvas e raros viúvos. Há uma campanha no ar dizendo que o homem dura sete anos a menos. Então porque tem que trabalhar e viver mais para se aposentar? O justo não seria o contrário?
O certo é que, parodiando o presidente, “nunca na história deste País” os aposentados estiveram tão unidos em busca de seus direitos. A turma ainda vai desfilar muito pelos corredores dos poderes públicos, mas, agora, é escutada e respeitada. De bobos, não têm mais nada e podem ensinar técnicas de mobilização. Quem diria, estão reconquistando o lugar de onde nunca deveriam ter saído: estão aposentados, mas não estão mortos.

domingo, 15 de novembro de 2009

Um bom e demorado abraço

Uma rede de supermercados da Zona Sul do Estado lançou uma campanha em que o ator sai de uma loja carregando diversos produtos, em sacolas recicláveis, e é abraçado na rua, por diversas pessoas que lhe são estranhas, em reconhecimento por sua ação positiva em favor do meio-ambiente. Claro que o mais emocionado é quando chega em casa, de sua companheira.
Lembrei do jeito prazeroso como os abraços eram recebidos quando vivenciei igual experiência de uma amiga que teve o esposo desempregado; um aluno aprendendo a lidar com o sentimento de perda, especialmente de amigos próximos e na família; e o filho de amigos que luta para ter a afetividade respeitada, inclusive a sua sexualidade.
Estávamos conversando, quando senti que a amiga iria chorar. Abri os braços e foi tomada por convulsões, extravasando sentimentos represados, precisando, de alguma forma, ser compartilhados. Mas ela é forte - embora sejam chamadas de “sexo frágil” - o grande esteio de uma família, onde, além do marido e três filhos, ainda cuida dos pais e cumpre tripla jornada de trabalho: em casa, lecionando e estudando.
O garoto que viu desmoronar uma série de relações em pouco menos de um ano ficou marcado por ter a mesma crença que todos um dia tivemos: de que nossas relações afetivas da juventude seriam eternas. Se o normal é que, passados os anos universitários, tomemos caminhos diferentes, diversos fatores levaram à perda de amigos e problemas familiares. E ainda precisa clarear o que quer de seu futuro, sendo daqueles alunos que a gente diz: “vou vê-lo tomar conta do Mundo!”
Em caso semelhante, está aquele que também vai ser um grande profissional, mas precisa, hoje, ver sua privacidade respeitada, querendo apenas o que é de seu direito: um lugar profissional, ao qual fez por merecer, independente do que sejam suas opções afetivas e sexuais.
Nos três casos, as pessoas têm as suas próprias respostas, mesmo que, neste momento, estejam fragilizadas, precisando de um ombro amigo, um olhar atento e afetivo e, se ainda assim estiver doendo muito, um bom e demorado abraço.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O perfume da dor e da morte

“Existem cheiros marcantes. Para mim, entre eles, está o da acácia, da dama da noite, do jasmim e o da flor do pessegueiro. E foi lembrando deles que fechei os olhos para não sentir o que estava acontecendo com meu filho naquele momento”. Não sei como aquele pai podia fazer “poesia” no momento em que falava a respeito do acidente de moto vivido por seu filho e no acompanhamento que tinha dado no hospital, descrevendo todo o desespero de lutar por sua vida e encarar um ambiente carregado de dor e sofrimento.
Num tempo de Primavera, em que todos os odores são marcantes e estão presentes nas árvores, arbustos e flores que desabrocham, a analogia não podia ser mais feliz, porque todos os sinais são de vida, enquanto um acidente sempre remete à dor ou à perda de uma existência. Mas há, sim, algo em comum: a capacidade de regeneração. Este é um tempo em que toda a natureza está desabrochando e mostrando a sua capacidade de se renovar, depois de atravessar o inverno. A semelhança, para o pai, é a espera de que seu filho, com cerca de 20 anos, seja capaz de vencer a dor e reconstruir seu caminho.
As estatísticas a respeito de acidentes têm sido, no mínimo, preocupantes, e, pode-se dizer, angustiantes, porque ceifam a vida de nossos jovens, especialmente homens, que se mostram mais predispostos a exagerar na velocidade, ou em dirigir, sob o efeito do álcool. As campanhas mostrando o que aconteceu não têm sido suficiente para prevenir. O que os jovens dizem é que isto aconteceu com outros, não vai acontecer com eles. Julgam-se acima do bem e do mal e deixam os pais e familiares na angústia da espera, especialmente nas noites de final de semana, quando cada minuto é precioso para saber se retorna.
As perdas são sempre muito dolorosas. A dor por algum trauma físico também. E mais ainda quando ficam seqüelas para o resto da vida. Uma ação impensada causa uma marca que fica. E para aquele pai que pensava em odores para manter a sanidade mental, ao lado do filho, num leito de hospital, fica a impressão de que arrancou o filho do próprio fim. E sentiu o perfume da dor e da morte.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Uma esperança além da vida

A criança que perguntava: “é aqui que o papai está?”, no cemitério, fazia um questionamento de fé. Vendo a mãe chorosa e preocupada em limpar a lápide, arranjar as flores, acender velas e fazer orações, queria entender uma das mais elementares dúvidas da existência: a finitude e a conseqüente volta ao pó. Embora padres, pastores e líderes religiosos tentem, sistematicamente, argumentar com “lógica” de que, especialmente para as religiões cristãs, a morte é o grande momento de passagem, para as pessoas mais simples, isto não é tão fácil de entender. Fica a lógica da precaução: “tá certo, eu até acredito, mas na possibilidade de que reste um fiozinho de vida ali, vou tentar mantê-lo vivo”.
Como dizia um poeta: “hoje caminho meio manco, porque já são muitos aqueles que carrego no lado esquerdo (coração)”. E o passar dos anos e a proximidade da data possível do fim quase sempre tornam as pessoas mais propensas a algum tipo de espiritualidade e buscar o conforto da fé. Mas não é incomum que também busquem “adaptar” algumas coisas às suas crenças mais antigas. Quem freqüenta algum tipo de cerimônia religiosa sabe que cerca de vinte por cento tem plena compreensão daquilo que está fazendo; mais vinte devem andar próximas; mas a grande maioria busca o sentido “mágico” de uma celebração, onde quer a bênção, o pedido, o agradecimento, colocar alguém nas mãos de Deus. Na Missa católica há uma oração chamada de “coleta”, antes do anúncio da Palavra, quando o padre recolhe todas as intenções dos presentes. Questionada uma pessoa sobre o que significava não teve dúvidas: “deve ser a preparação para depois apresentarmos a oferta em dinheiro”.
Embora muitos credos busquem explicações da fé na própria ciência, por exemplo, acho difícil que isto ajude para a maior parte da população. A fé, em primeiro lugar, é uma atitude pessoal, que depois vai buscar uma religião para se expressar socialmente. Todos os processos de “conversão” só fazem sentido se já houver uma predisposição. Por isso, pode-se dizer que é uma ação, mas também uma graça, melhorando a existência e lançando uma perspectiva de esperança para além da própria vida.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Um plantador de “acácias”

A estrada que liga a BR 392 a Morro Redondo é privilegiada pela quantidade de pés de acácia ali existentes. Na Primavera, sua flor faz com que se pare e aproveite, por alguns minutos, o aroma. Numa ocasião, pensei que pudesse levar um galho para casa e que o perfume permaneceria. Engano. Em seguida, ele sumiu. Mas, enquanto estava na árvore, atraia abelhas, que produzem um mel de excelente qualidade.
Foi por este caminho que fui a Morro Redondo, conversar com professores do Estado e do Município. Tema: “A Magia da Palavra”, focado na motivação profissional. Sempre pensei que havia diferença entre comunidades que têm predominância rural ou urbana, mas mudei de idéia: a realidade é próxima e é fácil encontrar professores desmotivados, jovens sem perspectivas e a droga. Na converso com professores utilizo um argumento que encontra eco: nossa responsabilidade diante das crianças e jovens é tripla - na maior parte das vezes são nossos familiares; somos cidadãos, com responsabilidade sobre o seu futuro; e somos professores, com a missão de encaminhar o seu processo de aprendizado profissional e de vida.
Nossa maior luta é, enquanto estão neste processo, mantê-los agregados e motivados para que não se sintam atraídos pela rua e seus subterrâneos e esquecer os benefícios que podem usufruir da escola/acácia. Mas também temos que cobrar da família e da sociedade o cumprimento de sua parte. Tem sido confortável para ambas omitirem-se e achar que a escola supre todas as carências. Não suprimos. Vamos ter é a compensação de um processo atrofiado, difícil de ser plenamente revertido.
O certo é que ninguém pretende enriquecer sendo professor. Mas fica a sensação de que, cumprindo a nossa obrigação, deixamos marcas, mesmo nos mais renitentes. E no caso do ensino superior, há uma diferença quando o aluno troca o nome próprio pelo de “professor”. Está formada a cumplicidade entre pessoas que entendem que precisam ter mentes abertas e, com serenidade, crescer na sua realização pessoal e profissional. Pode-se dizer: sou professor, por opção e por missão. Planto “acácias” e pretendo que suas flores tenham o melhor dos perfumes, aquele que transforma o Mundo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O pequeno Einstein

Na semana passada, a mídia destacou o menino Oscar, considerado uma inteligência excepcional, com quociente de inteligência (qi) ao nível do cientista Albert Einstein. As matérias destacam que os pais têm inteligência mediana, mas incentivaram o filho, ainda mais quando ele manifestou, desde cedo, interesse por temas que, em tese, não são próprios da idade. Ele foi entrevistado mostrando ser uma criança bonita e alegre, mas com uma declaração preocupante: “quero amigos, quero outras crianças com quem possa falar”. Contrastando com o pai: “ele é um menino especial, quando ele tiver aproveitado ao máximo a sua inteligência é que vai ser feliz”.
Lembrei uma conversa que tive com a professora Flávia, quando discutimos a respeito de quando é necessário estimular a criança intelectualmente, ou incrementar seu convívio social. Lembrava-me que hoje as crianças são de apartamentos e, na maior parte das vezes, não tem chance de ter um familiar acompanhando, especialmente dos avós, quando os pais têm atividades de trabalho ou mesmo sociais. De meu lado, lembrava o convívio natural de muitas crianças do meu meio sempre interagindo e exigindo a participação de praticamente toda a família, em diferentes momentos. Mas que, hoje, não é assim, pois as crianças acabam indo para as escolinhas com dois, três anos, e obtêm bons resultados já que aumentam o processo de socialização, com reflexos nos seu aprendizado e até na sociabilidade.
Porque a preocupação com o menino Oscar? Fiquei com a nítida impressão de que o fato de ser por demais inteligente transformou-o numa espécie de troféu para os pais. E a felicidade somente vai ser alcançada quando ele atingir o seu auge intelectual. Não é assim. A felicidade deve nos acompanhar ao longo de toda a vida, em todos os momentos. Não é um troféu, é a realização de grandes conquistas, mas também de viver bem e intensamente pequenos momentos. E a frase do pequeno Oscar é emblemática: “quero amigos, quero outras crianças com quem possa falar”. Está certo, pois quer viver estimulando sua inteligência, mas também brincando, convivendo, sendo o que efetivamente é: um menino, com o direito de viver a própria vida.

domingo, 11 de outubro de 2009

Caminhos e descaminhos

Foi o Régis Rasia (amigo/irmão da igreja Nossa Senhora da Natividade de Ijuí/RS) quem me apresentou à música Pilares, do nativista Miro Saldanha. Régis estava convicto de que ali havia mais do que uma lição religiosa ou moral, necessária a quem pensava em constituir família, que era e é o seu caso. Escutei a música, pela primeira vez, entre Ijuí e Cruz Alta, com a “interpretação” de meu amigo. Depois a ouvi muitas vezes, inclusive quando Miro se apresentou num programa da Televisão Educativa do Estado. E foi sempre emocionante porque é o grito de um pai tentando fazer com que sobrevivam valores que a sociedade sempre teve como referência e que, hoje, são relativizados ou mesmo desprezados.
O refrão diz: “me ajuda, Pai, quero criar meus filhos, do jeito que meu pai criou a mim. Me ensina a vencer tantos empecilhos e acreditar no certo até o fim. E a força da verdade ainda vale, do jeito que valia lá de onde eu vim. Pois temo que meu filho um dia fale: “verdades mudam”. Não é assim.” A interpretação teve garra e emoção na voz e no instrumental, fazendo parar para pensar. Não era nenhum “pregador” a ter esta preocupação, mas a expressão de um pai assustado com o que seu filho pode enfrentar e mesmo vir a pensar ser a verdade. E no caso do Régis, alguém que ainda vai constituir família, ainda vai ter filhos e que já se sente desafiado a olhar para o futuro querendo que ele seja diferente do que diversos setores estão propondo.
Nossas conversas a respeito marcaram e me impediram de perder a esperança. Os valores bradados pela música – pilares - foram passados pelos pais do Régis e agora quer repassar em sua vivência religiosa na pequena e agradável cidade, assim como nas suas relações sociais. Sonho, com certeza, de ver muitos “Régis” por todos os lugares por onde ando, falando exatamente disto: embora haja uma cultura de contra valores, ainda é possível construir um mundo diferente, a partir do momento em que pais se negam a relativizar ou abandonar valores. Sabem que o exemplo é a melhor forma de solidificar valores de fé, ética e moral. Não há outro caminho. Mas, com certeza, existem muitos outros descaminhos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Hábitos de vida

A Prefeitura de Porto Alegre lançou campanha que vai repercutir em todo o Estado: o direito da pessoa ter preferência, quando passa a faixa de pedestre. Estendendo o braço, automaticamente, o fluxo de automóveis deveria cessar. Na grande Porto Alegre, uma professora está entre a cruz e os elogios por ter obrigado um aluno a reformar parede recentemente pintada por pais, professores e alunos e que o mesmo pichou.
Em princípio, parece que uma coisa não tem a ver com a outra. Mas não é verdade. Em ambas as questões estão envolvidos princípios, que não são aprendidos nas ruas, mas ali amadurecem, na relação entre as pessoas. Os carros que não param para o pedestre levam motoristas incapazes de um ato de gentileza e respeito à legislação, apostam no poderio da máquina. O garoto que desrespeita um bem público não tem noção de que ali está algo que é de todos, seu também, e que por isto merece ser cuidado e preservado.
É assustador como as pessoas passaram a viver aterrorizadas com o trânsito, porque não sabem o que lhes pode acontecer num simples cruzamento onde há uma faixa de pedestre, ou até onde há uma sinaleira já no amarelo, indo para o vermelho. A imprudência é tanta que, em muitos casos, carros e motos até param, mas em cima da própria faixa.
O garoto não aprendeu que a própria liberdade vai até onde inicia a do outro. Fala-se no fato de que foi “constrangedor”. Não me parece. Está mais para o caso de um menino que não tem noção de limites, porque não aprendeu isto desde mais cedo, especialmente através da família. E isto não acontecendo, mesmo com conselhos, mais tarde, tudo vai ficar mais difícil.
Precisamos aprender uma lição básica: a humanização, humanizar o contato com as pessoas. Esquecer o que temos como extensão para nossas atividades: o carro, o computador, as máquinas, os prédios. Aprender juntos que a primeira realidade à nossa frente não é a de um adversário, mas de alguém que convive conosco. Havendo respeito pelo ser humano, atos gentis serão naturais e não exceções que olhamos com tanta admiração. Podem se tornar hábitos de vida, que nos darão prazer e realização.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O respeito humano

Conversava com a Vanda e ela me disse que a emissora de rádio onde trabalha fez uma opção: realçar o positivo, sem negar o oposto, com ênfase em tudo o que pudesse ser otimista. Fiquei contente, pois se os meios de comunicação seguirem esta tendência, mais fácil se torna incutir valores. No entanto, domingo, um programa humorístico de rede nacional lançou um balde de água fria sobre este pensamento. Em poucos minutos, a cena numa biblioteca afrontava um dos maiores valores: o respeito pelo ser humano. Um “falso leitor” tirava os demais do sério por não respeitar um direito fundamental num espaço de estudos: o silêncio. Invocava o direito de estar numa área pública. Como quem diz: aqui eu posso fazer qualquer coisa. O que já se tornou comum, quando pessoas, iludidamente, entendem seus direitos, mas esquecem os seus deveres.
Pior ainda quando entrou em cena um ator caracterizado de idoso, que passou a ser o saco de pancadas do personagem principal, jogado de um lado para o outro, agredido fisicamente, além de ter seu “traseiro” chutado em diversas ocasiões.
Fiquei petrificado diante do que parecia uma brincadeira, falsamente inocente, mas que vai ser repetida por crianças, ao longo da semana, introjetando como valor o desrespeito pela coletividade e a desmoralização da pessoa idosa, já com tanta dificuldade de ver considerado o seu espaço na sociedade.
Pior é que, além das crianças, também os adultos estão sob influência nesta hora, já que se postam diante da televisão com as suas defesas desguarnecidas. A maior parte vai me dizer que não há perigo, porque já estão crescidos o suficiente e não sofrem este tipo de influência. Não é assim. Pois esta mensagem vai corroendo gradativamente os valores e se chega à máxima – e já chegamos – de considerar aquele que envelheceu como um estorvo a ser mantido afastado do lar, para, supostamente, ser protegido e cuidado.
Na maior parte das vezes, tudo o que o idoso necessita é o mesmo que qualquer um de nós: afeto, consideração e respeito. Se fôssemos seguir este trinômio, possivelmente, nenhum humorista tivesse coragem de julgar que a agressão é engraçada e deva ser incentivada e repetida.

domingo, 20 de setembro de 2009

A moral no legislativo

Instituições populares tentam passar no Congresso Nacional projetos de lei que moralizem a atuação política em todos os níveis. Os noticiários do dia-a-dia, com a avalanche de escândalos, quase sempre “justificados”, é o combustível para a insatisfação e a sensação de que, se deixarmos assim, ainda acontecerá coisas piores. A “Constituição Cidadã”, de 1988, prevê a possibilidade de que organizações protocolem projetos que contem com cerca de um milhão e trezentas mil assinaturas. A mais recente quer que políticos condenados em primeira instância não possam concorrer em todos os níveis.
Em alguns casos, são pessoas inocentes, que ainda tem direito à defesa. Mas, na maior parte das vezes, são políticos com práticas que envergonham aqueles que dizem representar. Preocupa mais ainda quando se tornou público que o Senado tem uma Comissão de Ética onde de cada dez senadores sete estão envolvidos em casos na Justiça. Como resultado, vimos nos últimos dias conchavos que livraram tanto à direita, quando à esquerda, aqueles que poderiam ser submetidos a julgamento e terem seus mandatos cassados.
Este é apenas um dos motivos que leva a outra campanha, em nível nacional, pedindo que os eleitores, em outubro do ano que vem, não votem em senadores. E existe uma forte campanha pela extinção do Senado, que, nos últimos tempos, tem se mostrado farto em gastos escusos e pobre em produção legislativa. E mais: uma redução substantiva do número de integrantes da própria Câmara dos Deputados, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores. Por aquilo que vemos em outros países organizados, não existe a necessidade de um número tão alto de representantes para qualificar o poder legislativo. Bem pelo contrário, onde aumenta o número de integrantes quase sempre diminui a sua qualidade.
E, por favor, não ofendam a inteligência do eleitor com esta história de que o orçamento do atual número de vereadores para o aumento substancial que foi autorizado se mantém o mesmo. Pode até ser que seja assim agora, mas num futuro não muito distante a conta vai ser apresentada à sociedade. Em tempos de Revolução Farroupilha, creio que está na hora de utilizarmos a única arma que temos em mãos: o voto. Trate bem dele e selecione com cuidado em quem vai votar. Assim como assine os projetos que pedem a moralização do processo eleitoral. Todos ganhamos com isto, especialmente um futuro onde possamos pensar realmente em qualidade de vida, sem estarmos preocupados com a porta do cofre.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Um bom sinal

Pesquisa recente mostrou que mais de 40 por cento da população brasileira tem por rotina reservar parcela do seu salário para leitura de revistas, jornais ou livros que não sejam didáticos. Confesso que fiquei surpreso. Não tinha ideia, em números, mas acreditava que era uma parcela bem menor da população que tinha este hábito tão saudável. E porque saudável? Porque o fato “de as” pessoas consumirem a leitura por prazer ou em busca de informação e formação é um dos pilares para o processo de conscientização, meta sempre tão almejada e tão difícil, já que, na maior parte das vezes, nos deparamos com parcelas da população alfabetizadas funcionais, pois conhecem as letras e sabem escrever seu nome, mas não são capazes de articular um raciocínio lógico.
Pode parecer estranho, mas esta informação, a meu ver, é mais importante do que a descoberta do pré-sal (ou, como brinca Luiz Fernando Veríssimo: pós-sal, já que vem depois do próprio e não antes). Enquanto as ainda misteriosas reservas de petróleo não representam uma realidade que possa, de fato, mudar a vida das pessoas, supostamente para melhor, a formação e a informação tendem a serem alavancas poderosas neste sentido, impedindo que as mesmas sejam manipuladas emocional e intelectualmente.
Fico emocionado quando um pai ou uma mãe fazem questão de afirmar que tiveram muitas dificuldades durante a vida, mas que fizeram questão de dar estudo aos filhos, sabendo que, na falta absoluta de bens materiais que propiciassem uma vida melhor, deram aos seus descendentes algo que ninguém mais pode tirar: o conhecimento e a capacidade de articular os seus próprios caminhos. Este é um bom sinal. Um sinal de que na formação e na informação está se construindo um futuro diferenciado, especialmente para as novas gerações. Em casa, temos o costume do chimarrão, às 10 horas, acompanhado da troca de informações da rua (as fofocas do dia) e da leitura dos jornais. Este hábito foi sendo passado naturalmente, sem a necessidade de qualquer incentivo. O exemplo foi mais forte e embora os mais novos iniciassem por alguma seção que lhes interessava, logo estavam lendo o jornal todo.
Pois agora vejo que este é um costume que não é tão difícil e pode fazer toda a diferença. Posso entender o que as pessoas querem dizer quando se referem à “capital intelectual”, uma moeda muito mais poderosa do que o próprio capital financeiro, especialmente porque faz parte do próprio indivíduo e lhe abre janelas que pavimentam o próprio futuro.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Os segredos da memória

Telefonei ao Charles e ele me contou que estava assistindo o filme “O E.T.” (O Extraterrestre), um clássico do cinema onde é narrada a história da amizade entre um menino e um pequeno ser de outro planeta. O motivo da “sala de cinema” era simples: os pais do Ricardo e do Gustavo deram-se conta de que, embora em seu quarto houvesse o boneco do personagem, não sabiam quem era.
Lembrei desta história ao ouvir a palestra em que o professor contava que somos incapazes de aprender algo que seja absolutamente novo. Mesmo que seja um tema muito interessante, ao sermos apresentados a uma determinada situação, precisamos de “âncoras” já conhecidas, com as quais estamos familiarizados, para podermos entender o que está sendo dito. Usou como exemplo a própria audiência, dizendo que embora estivéssemos ali para ouvi-lo, haveríamos de reter até cerca de 60 por cento das informações repassadas em nível de teoria; e alcançaríamos 80 por cento quando fossem usadas imagens que referenciassem o conhecimento. Mas que, em hipótese alguma, conseguiríamos atingir os 100 por cento.
Assim como fez o Charles com os dois garotos, também acontece no aprendizado: são muitas as situações onde precisamos recordar algo passado e que, mesmo estando de alguma forma em nossas memórias, precisa ser “renovado” como conhecimento, numa simples sessão de cinema ou em alguma atuação comunitária, sala de aula ou situação de trabalho.
Falo a este respeito quando faço minhas conversas com pessoas que atuam em paróquias ou comunidades em diversas dioceses. Embora tenhamos um vastíssimo campo pastoral e teológico, quando as pessoas procuram uma comunidade não estão sedentas de conhecimentos, mas tentando encontrar um porto para abrigo. Portanto, não é necessário que haja uma pregação ou algum tipo de envolvimento que estimule a razão, mas um coração aberto e acolhedor.
Fica claro que elas estão em busca do que possa suprir a sua emoção e o seu imaginário: a própria fé. Muito provavelmente, na preparação de uma Missa, de um Culto, ou de qualquer atividade religiosa, estejamos precisando que, antes de pensar em argumentos racionais, busquemos saber quais são as angústias, os temores, as dores, as felicidades, os motivos de celebração de quem chega. Possivelmente, será necessário, apenas, procurar nos segredos da memória um dedinho erguido em sinal de amizade, como acontece no filme, dizendo: “E.T.!!!”

sábado, 29 de agosto de 2009

Transparência

Seguidamente, uma palavra entra na moda e é repetida - necessária ou desnecessariamente - como uma espécie de marca de um tempo: foi o caso de paradigma, assim também aconteceu com cidadania ou mesmo com pós-modernidade. Pois o caso, agora, acontece com “transparência”, que deveria significar apenas que os poderes públicos – nos três níveis: municipal, estadual ou federal – estão atuando de forma honesta, especialmente no que se refere aos recursos que administram. Ficando apenas neste item – outros poderiam ser elencados, como o gasto do tempo de trabalho no setor público – já sabemos que não é bem assim, pois a farra do desperdício está todos os dias nas manchetes dos meios de comunicação.
Os governos têm se cercado de especialistas que atuam desde a forma de modernizar as estruturas administrativas, passando pelas ações em diversas áreas e chegando à publicidade de todos os gastos. Começa aí a primeira reclamação: de que não é justo que se tornem públicos os salários dos políticos em cargos no executivo, judiciário e legislativo, ou mesmo dos servidores. Ao contrário, é justíssimo. Afinal, quem paga esta conta são os contribuintes, que têm o direito de saber o que foi bem empregado e o que não foi. Utilizar, hoje, por exemplo, a internet é alcançar mais um instrumento para que o cidadão tenha um retorno daquilo que espera do setor.
Não havendo este retorno pode ser hora de mudar a própria máquina. Saber o salário do presidente, governadora ou prefeito, assim como dos demais cargos, é apenas respeitar um direito, pois constatamos que, em muitos casos, eles são bem superiores ao que aqueles que preenchem estes cargos merecem. Quando se ouve que senadores e deputados federais reclamam de seus salários, assim como das inúmeras ajudas de custo que recebem, vejo que se estabeleceu uma orgia nos gastos públicos, com uma desfaçatez que assusta, pois se fala pseudamente de forma séria, sem levar em consideração a míngua de quem recebe salário mínimo ou dos aposentados que têm seus vencimentos defasados.
Cobrar transparência de quem está em qualquer um dos poderes é questão de decência. Precisa-se responder com honestidade àqueles que ganham o salário no final do mês com o suor de seu rosto. Das muitas vivências e andanças, vejo que pessoas simples vivem a desconfiança e decepção, ouvindo de seus representantes balelas que não significam nada na sua vida prática. Mas que pode ser mudada, na próxima eleição. Pelo voto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Reverter a pobreza

Cinco municípios da região sul do Estado – Amaral Ferrador, Cerrito, Herval, Pedro Osório e Santana da Boa Vista – resolveram pedir socorro, pois se deram conta de que sozinhos não poderão reverter o quadro de pobreza existente em suas áreas urbanas e rurais. Seus prefeitos apelaram ao Ministério do Desenvolvimento Social para obter a inserção em programas que beneficiem estas regiões com a injeção de recursos.
Estão certos tomando tal atitude. Em cada uma das macrorregiões do Estado existem municípios pólos e aqueles que gravitam à sua volta. Quando conseguem que empresas, indústrias ou prestadoras de serviços se instalem em seus territórios, muitas vezes com serviços terceirizados, ainda têm alguma chance de desenvolvimento, caso contrário, definham e pouca ou nenhuma perspectiva apresentam a seus moradores.
Vemos, hoje, é que muitos são os recursos investidos nestes pólos, com uma preocupação de valorizar o capital econômico. O empresário que pensa assim tem lá suas razões, mas o dirigente político municipal, estadual ou federal não pode fazer o mesmo. Sua obrigação é pensar o capital humano que se encontra nos grandes e nos pequenos municípios; naqueles que merecem a atenção dos empreendedores, mas também naqueles para os quais é necessário montar estratégias que se não os tornam atrativos, ao menos podem viver das migalhas que caem da mesa.
Pois esta é, exatamente, a função do dirigente político: incentivar o investimento em áreas alternativas, para que não se tenham regiões onde há a abundância de recursos, em detrimento de outras onde a pobreza é palpável, quando não se encontra a própria miséria. Algum tempo atrás, um prefeito dizia que a sua maior fonte de arrecadação eram os aposentados! Quando estes recebiam, todo o sistema econômico do município era beneficiado, o resto do mês restava para esperar o próximo pagamento.
Buscar alternativas que beneficiem estes municípios mais pobres é concretizar a inserção social. Muitas de nossas mazelas vêm, exatamente, de pessoas que não têm renda e, consequentemente, também não têm informação e formação. Em muitos casos, a pobreza ou a miséria deixaram marcas que os tornam apáticos e incapazes, inclusive, de pensar que poderiam viver melhor.
Tomara que prefeitos e lideranças políticas sensibilizem o governo estadual e federal para que se diminuam as diferenças sociais e se dê um mínimo de dignidade a todo o ser humano. Não é tudo, mas ajuda a vislumbrar a possibilidade de dias melhores.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Cachorro, Prata e suíno

Eu tinha em torno de cinco anos quando fui apresentado ao mundo do Jogo do Bicho. De uma lista de animais, meu pai quis saber qual eu escolhia: tasquei o cachorro e ele jogou o número correspondente. No final da tarde, não deu outra e o bilheteiro, pensando me agradar, chegou acenando com o dinheiro. Cruzei os braços, fechei as mãos e não quis o valor que ganhara, pois eu queria era um cachorro de verdade1! Lembrei deste fato quando, semana passada, uma das atletas que conquistou Ouro nas Olimpíadas disse que estava em dívida com a filha, pois quando apresentou a medalha, ela foi taxativa: aquela não queria, queria a Prata!
Nos dois casos, houve um foco diferenciado de criança que, da nossa perspectiva, pode parecer errado. Mas não é, é “diferente”. Não é a mesma coisa o que está acontecendo no caso da nova gripe e o tratamento dado pelos setores públicos que deveriam cuidar da população, sem ter o direito de errar ou de se enrolar. Escolas reiniciaram aulas no dia 17, outras reiniciarão nos dias 24 ou 31, e outras, ainda, nem deixaram de dar aulas. Qual dos grupos está certo? Em compensação, festas são realizadas, bailões, shows musicais, com centenas, milhares de pessoas em ambientes propícios à transmissão do vírus. Parece-me que, novamente, o erro é de foco. Não creio que a suspensão das aulas seja o melhor. Até porque, há crianças que precisam do alimento distribuído nas redes municipais e estaduais, assim como escolas que, muitas vezes, funcionam como “creches”, pois permitem que os pais trabalhem neste horário.
Uma rede nacional de televisão fez um editorial mostrando que o ministro da saúde mais atrapalha do que ajuda quando se pronuncia, pois sua assessoria, em muitos momentos, precisou retificar informações dadas ao público. Em qualquer nível, há problemas acontecendo e aquela população que anda de ônibus, trabalha nas fábricas, circula pelo comércio, está confusa: recebe informações contraditórias, desencontradas e tristemente alarmistas.
Não há como conter este vírus. Assim como não se conseguiu conter muitos outros vírus espalhados pela sociedade e criando mais problemas e mortes do que este. Um cachorro, uma Prata ou um suíno, em princípios parecem não ter nada em comum, mas enquanto o cachorro e a Prata podem ser considerados como o foco errado ou diferenciado de uma criança, o suíno – que entrou de inocente útil nesta história – precisa ser enfrentado com a seriedade que a saúde pública há muito tempo não vem merecendo neste País.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Saudades do Infinito

Foi num programa sertanejo: o garoto, dos seus 15 anos, perguntou à apresentadora se poderia lhe pedir a bênção. Parei o que estava fazendo para voltar aos meus tenros anos vendo aquele menino inclinar-se, tomar a mão estendida e beijá-la. Tive que sorrir e regressar no tempo, pois quando acordávamos, ou quando se acendia o lampião, prontamente nos dirigíamos ao pai e à mãe para pedir “bênção”, obtendo como resposta: “Deus te abençoe, meu filho”.
Uma lembrança ingênua, causada por um programa de músicas com cheiro de terra, onde o tratamento é simples, cordial e respeitoso. Claro que não poderia deixar de estabelecer a comparação com aquilo que hoje temos, quando, muitas vezes, sequer um “bom dia” se dá àquelas pessoas pelas quais se passa. A pressa, a necessidade de concentrar atenção em algumas atividades, ou até a falta de costume, fez com que deixássemos de lado hábitos tão saudáveis, que mantinham relações de afeto e de autoridade, não estabelecidas pela formalidade, mas pelo convívio.
Fui lembrando, também, o final de uma Missa, em que o padre, quase se desculpando, disse que todos aqueles que desejassem poderiam ficar para uma bênção especial pela saúde. Ninguém foi embora e achei interessante que algumas pessoas mais velhas chegaram a entrar duas vezes na fila! O próprio padre me disse que achava que fossem poucas as pessoas que ficariam, mas não se deu conta de que elas têm carências e a bênção supre um momento especial da relação entre elas e o Divino, numa forma bem concreta, na reminiscência, especialmente para os mais idosos, de sua vivência nos primeiros anos de vida.
Já tenho falado a respeito em artigos e palestras que as igrejas se distanciaram de atos concretos que envolvem a gestualidade, ficando cada vez mais intelectualizadas. Esquecemos que também temos um pé na África e que, embora inicialmente envergonhados, todos nós gostamos do balanço de uma música, de uma gestualidade mais viva e de uma bênção, em qualquer momento e por qualquer razão ou desculpa.
O ritual da Igreja Católica é rico em elementos que, muitas vezes, na prática, são perdidos, em qualquer destas áreas. Mas fica sempre a lembrança de momentos como o do menino cantor, ou o susto do padre pelo número de abençoados, em que nos defrontamos com as carências humanas. E as carências humanas são, historicamente, as mesmas, talvez adquirindo outras formas, mas continuam sendo a sede de quem vive sentindo saudades do Infinito.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Um pai trabalhador

No início da semana, o presidente Lula sancionou lei que, em tese, facilita a adoção de crianças, processo muitas vezes engessado pela burocracia, legislações superadas e estruturas despreparadas para facilitar a vida daqueles que já levaram golpes demais e, se houver uma chance que seja, possam agarrá-la com as duas mãos.
Das muitas matérias que vi, ouvi e li, fiquei sensibilizado pelas crianças menores, abandonadas ou retiradas da guarda dos pais, mas facilmente adotadas, por uma preferência que categoriza, por ordem: menina, recém-nascida, branca.
E a tristeza ao saber que para os meninos, especialmente se forem pardos ou pretos e se tiverem passado dos cinco anos, torna-se praticamente impossível uma adoção. Foi justamente de um deles, enquanto retorcia as mãos, nervoso, mas querendo passar uma mensagem, que ouvi o que mais me chamou a atenção: “o que eu mais quero é ter um pai, um pai trabalhador!”
Confesso que fiquei surpreso com a declaração. Esperava de outro tipo: “alguém que me dê carinho”, “alguém que me tire daqui”, “alguém que me consiga dinheiro”. Mas, porque um “pai que seja trabalhador”?
Na proximidade do Dia dos Pais, é digno de muita reflexão: se criar os próprios filhos já é algo difícil, criar e amar filhos que vêm de situação de risco, sem saber que tipo de marcas lhes ficou da vida anterior, é um ato que não pode ser considerado de ousadia, mas de amor, de muito amor. Um amor incondicional pela vida e pelo direito de sobrevivência e de realização de alguém que lhe foi colocado no caminho pela graça de Deus.
Nos depoimentos que ouço, tanto em meios de comunicação quanto na vida real, vejo pessoas que não sabem explicar racionalmente porque tomaram tal decisão, mas que precisavam fazê-lo, superando o fato de que estão auxiliando alguém, para a própria realização. E que fariam de novo, se necessário. Tanto assim que muitos dos que adotam uma vez, acabam repetindo o mesmo ato.
Tomara que a nova legislação auxilie crianças de todas as idades, de todas as cores e de todos os sexos. Que elas consigam encontrar pais capazes de dar o que necessitam: amor, companheirismo, cumplicidade no ato de existir. E, mirando o seu próprio futuro, sabendo que este é um grande valor na construção de uma família, olhar para aquele que lhe deu abrigo, em especial no seu coração, e dizer que está se realizando porque encontrou um pai, “um pai trabalhador”.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Um homem de Deus

Conheço o padre Alberto desde o tempo em que ele era o “irmão Alberto”, atuando no Colégio Gonzaga, na esquina com a Catedral de São Francisco de Paula, em Pelotas, onde atendia crianças da catequese. Mas sempre sobrava um tempinho para atravessar a rua e chegar ao Secretariado de Pastoral, onde mantivemos boas e agradáveis conversas. Depois, cada um seguiu sua vida e fiquei contente quando soube que ele alcançara um sonho: ser ordenado sacerdote. Um padre com discurso claro, forte, sempre incentivando as pessoas a buscarem uma espiritualidade forte, além de uma formação adequada, em especial, no caso, a fundamentação nos documentos da Igreja Católica.
Reencontrei-o nas oportunidades em que fui convidado para palestrar no Cenáculo (um retiro espiritual Mariano), onde foi, até recentemente, orientador espiritual. Continua a sê-lo, mas, agora, com idade avançada, precisa de outro sacerdote que o auxilie, pois a bengala já é um suporte, a energia já demanda maior atenção e a voz e a leitura precisam de cuidados. Num domingo frio pela manhã, encontrei-o lendo um dos documentos do Vaticano, antes de uma palestra. Tirava o sono dos eleitos. Tranqüilo, sereno, passando exatamente aquilo que fez durante toda a vida: a certeza de uma vida bem vivida, na santidade de quem entendeu no homem sua capacidade de superar barreiras, a cada momento, com a fé que se realiza no dia-a-dia.
Fiquei olhando para aquela figura e lembrando as diversas ocasiões em que teve que se afastar de suas atividades para tratamentos, especialmente na luta contra o câncer. Uma luta silenciosa, sem cobertura da imprensa, mas com a oração e o carinho de amigos granjeados ao longo de uma vida de testemunho. Claro que a lembrança me veio a partir do exemplo do vice-presidente José Alencar, que está permanentemente entrando e saindo de hospitais lutando pela vida. Em que os casos são parecidos¿ em ambos há o sentido de lutar pela vida que transcende apenas a duração da existência. Passa pela luta da dignidade própria e dos outros e de valores religiosos e espirituais impregnando a própria existência.
Tenho no padre Alberto um homem de Deus. Sei que foram muitas as lutas para chegar à idade que chegou com a lucidez de enfrentar os problemas próprios e dos outros sempre com a serenidade dos homens especiais. E homens especiais são aqueles que nos marcam pela capacidade de compreensão, pelo testemunho e pela fé que vivem e transpiram.

sábado, 18 de julho de 2009

Braços abertos para a vida

Pode parecer pretensioso que entidades e igrejas de Pelotas direcionem esforços para a realização de um “Fórum de Cultura da Paz”, mas, ao invés de discursos, o que ouvi dos professores Veiga, Marco Antônio e Alessandra foram testemunhos de pessoas que lutam para que ações construam a diferença no dia-a-dia da família, da escola e da religião. Confesso que depois de tantas palestras, mediação em debates ou assistir, fui com o intuito de motivar, mas sem esperar nada de novo. Com um “ritmo quase parando”, o Veiga falou dos acertos e dos erros em família e cada uma de suas palavras calou fundo, passando pela experiência de consumo de droga de pessoas mais próximas e a certeza de que as vitórias são construídas no dia a dia. Com fé e muito carinho.
O professor Marco Antônio mostrou a experiência de sua escola em buscar a inserção em cada disciplina, assim como atividades ao ar livre, de uma cultura de paz. O início pelo próprio colégio e hoje quando outras instituições educacionais somam-se à sua experiência. E o toque final ao contar a experiências de familiares e de alunos, necessitando da família, dos amigos e de apoio na fé.
Quando pensei que mais nada tão comovente poderia ser dito, a professora Alessandra, de estrutura física reduzida, mas de espírito forte e batalhador, contou a experiência passada na Escola Lima e Silva, num dos bairros mais pobres de Pelotas, a Guabiroba. A motivação para as artes, os esportes, o incentivo à cidadania, como elementos fundamentais para ensinar valores e referências e, até mesmo, buscar jovens que experimentaram a droga. Uma das mães presentes deu o seu testemunho com relação ao trabalho na Guabiroba, dizendo que seus filhos passaram pelo crack, mas a persistência da professora Alessandra, dos professores e alunos havia trazido de volta os dois rapazes. E a luta, todos os dias, para se “manterem limpos”.
Não fiquei para a segunda parte dos trabalhos. Não precisava. Já estava envolvido pelo Fórum e disposto a fazer todo o possível para que ações de paz sejam implantadas. Em comum, a luta que precisa, urgentemente, de atenção: contra o consumo de drogas. Ou, como evitar que nossas crianças e jovens fiquem expostas a elas. Em todos os casos, carinho, presença, nada de supostas “lições”. E a certeza de que há uma volta, realizada todos os dias, na esperança de que filhos, sobrinhos, irmãos, netos encontrem Veigas, Marco Antônios e Alessandras de braços abertos para a vida.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O sentimento da indignação

Dona Águeda tem 78 anos. Lúcida, ágil, andava por toda a cidade fazendo as atividades de banco, compras, ou apenas passeando. Mas na semana passada ela teve um braço machucado e a alma ferida. Embora seguindo todas as “normas de segurança” – a bolsa junto ao corpo, zíper para frente, segura com firmeza – foi literalmente atropelada por um assaltante que não teve nenhuma preocupação em seguir os “itens de segurança” e deixou-a com o braço dolorido e, agora, com a perda da confiança de que podia fazer tudo sem temor de que algo lhe acontecesse, nas ruas por onde andou durante toda uma vida.
Roubaram os 465 reais da aposentadoria - e toda a sua documentação - com os quais contava para a alimentação e a compra dos remédios, já que os filhos mantêm os demais gastos. Mais do que isto, ficou em sua cabeça a dúvida e o medo de andar pelas ruas, tornando-a refém em sua própria casa, de onde não quer sair mais, a não ser até as grades que a separam da rua e trancando todas as portas e janelas, tão logo comece a escurecer.
Numa destas manhãs, num programa de televisão, um especialista em segurança apontava os cruzamentos de uma grande cidade – São Paulo – como um dos pontos mais problemáticos e onde acontece o maior número de assaltos. Cético diante destas “autoridades”, fiquei esperando que sugerisse a retirada dos cruzamentos! Mais ou menos como a história de que para não acontecer “algo a mais”, os pais retiram o sofá cama da sala, reduzindo os amassos amorosos!
Uma situação que beira o ridículo. Mas todas as técnicas ensinadas eram para beneficiar o ladrão: como guardar a bolsa, como entregar a carteira, como favorecer que este gastasse o menor tempo possível em sua “atividade profissional”, evitando a sua irritação e, consequentemente, que utilizasse de arma de fogo. Foi então que a apresentadora ficou indignada e colocou exatamente isto: como é que foram invertidos os papeis e aquilo que deveria ser um direito nosso – a segurança – transformou-se num pesadelo? Silenciaram o repórter e o especialista, porque não tinham o que dizer.
Dona Águeda não quer mais andar na rua. As pessoas circulam com os carros fechados, evitando assaltos. Enquanto isto, os meliantes andam livres, leves e soltos. E as nossas autoridades dão conselhos, mas ficam devendo ações efetivas que contenham o sentimento de indignação e de frustração pela futilidade como se perdem vidas e valores que deveríamos ter o direito de ver preservados.

domingo, 5 de julho de 2009

Vencendo o cigarro

Estamos cercados, hoje, por campanhas que combatem as drogas ilícitas, mas são raras as entidades que falam das drogas lícitas. É o caso da Universidade Católica de Pelotas ao desenvolver a campanha “UCPel mais saudável“, mostrando os problemas causados pelo cigarro, tanto para quem consome, quanto para aquele que se torna fumante passivo, além de fazer as pessoas perderem a noção de respeito pelo seu semelhante, jogando fumaça em todas as direções.
“A saúde é minha e faço dela o que eu quiser”, foi o que ouvi de um entrevistado sobre as campanhas contrárias ao tabagismo. Há dois problemas nesta frase: ela é “umbigocêntrica” (coloca o mundo ao redor do seu umbigo) e, nos casos em que o fumante começa a degenerar, faz com que sua família tenha que arcar com responsabilidades desnecessárias numa outra opção de vida. Foi mais inteligente outro depoimento ao falar dos benefícios que conseguira, quando largou o cigarro: “faço de cada dia da minha vida um novo dia para estar longe do vício. E sinto meu corpo revigorado, consigo fazer coisas que não fazia sem palpitação e cansaço. Hoje, recuperei os sentidos do gosto e do odor”.
Tanto entre alunos, quanto entre professores, pude ver a felicidade daqueles que, por conta própria, ou com auxílio, conseguiram ficar livres do tabagismo “apenas por um dia a mais”. E é assim mesmo que acontece. Como em qualquer outro vício, num primeiro momento é preciso passar pela desintoxicação e, em seguida, viver dia a dia com a graça de que se venceu apenas um dia, para poder vencer por toda uma vida.
Quando o professor Roni Quevedo pediu que eu falasse respeito, achei estranho, pois nunca prestara atenção ao assunto. Observando campanhas em meios de comunicação e perguntando a respeito, tive a noção da gravidade do problema. Embora seja uma droga menor, seus efeitos são maléficos para o corpo, assim como para as relações sociais: pois se passa a achar que a fumaça não causa problemas, que “ninguém tem nada que ver com isto”, que eu “largo quando quiser”, ou se sai furtivamente para a rua para “um cigarrinho”...
A campanha está no caminho certo: faz bem à saúde do corpo, faz bem à higiene dos ambientes e libera energia. Energia que utilizada de outra forma pode render mais, quem sabe numa salutar experiência de viver livre de dependências, sentindo todos os gostos e odores oferecidos graciosamente pela natureza.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O fundo do poço

O repórter fazia a entrevista e mostrou-se decepcionado quando o médico que trabalhava com a recuperação de jovens dependentes químicos afirmou que cerca de dez por cento dos que usam drogas são plenamente recuperados: “tão poucos!?” E, da serenidade de quem aprende lições com a vida, vivendo cada dia, recebeu a resposta: “Valeria a pena se apenas um deles pudesse nos dizer que estava a um longo tempo limpo”.
Pois tive esta mesma impressão quando, recentemente, um pai me contou o quanto haviam precisado de cada reserva de suas energias para fazer com que, ao longo de dois penosos anos, vencessem a dependência do filho. Tudo iniciou quando o jovem começou a ter medo de perder o emprego, pois não se julgava preparado para enfrentar os novos desafios que se apresentavam. Depois, foi a vez de se julgar inseguro também na escola; tinha medo de que, sem uma preparação adequada, também não pudesse enfrentar o seu grande desafio: o vestibular. E a saga ficou completa quando recebeu a notícia de que a namorada estava grávida.
A partir dali, tudo desandou. Do álcool passou às drogas leves e destas àquelas mais pesadas. O fundo do poço acabou sendo numa ocasião em que, completamente chapado, conseguiu passar uma mensagem por celular dizendo que estava numa praia e que não tinha condições de retornar para casa. Descreveu-me como “um olhar vazio, num corpo já quase sem vida”. Levaram-no para casa, com muito carinho, sem falar absolutamente nada. E procuraram ajuda. Foram instruídos a tentar ajudá-lo a enfrentar seus traumas, revertendo cada um de seus medos. Sempre com mais ação e menos conselhos, mas com testemunhos de que, em qualquer circunstância, eles estariam ao seu lado.
Foi o que aconteceu: o jovem, amparado pelos pais, irmãos e amigos, procurou a desintoxicação e depois orientação. Mas, em qualquer etapa, mesmo as mais difíceis, aprendeu que, em momento algum, estava sozinho, e que nunca havia sido sufocado. Creio que foi exatamente o que aconteceu com estes dez por cento que entraram em recuperação: mais do que técnicas para uma recuperação, tiveram o amparo, o carinho e o ombro amigo de quem nunca os quis abandonar, nem deixá-los à mercê de seus medos.
Fiquei emocionado ao saber tudo por que tinham passado. Tive que perguntar de onde haviam tirado tanta força para tornarem o filho um vitorioso e recebi um sorriso: “faria isto quantas vezes fosse necessário. Ele é meu filho!”. Nem precisaria ter feito a pergunta. O motivo era bem maior do que a causa.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um diploma cidadão

Surpresa. E revolta. Não poderia ser outro o sentimento, ao receber o veredito do Supremo Tribunal Federal, por oito votos a um, de que a profissão de jornalista não precisa mais ser exercida apenas por aqueles que alcançaram diploma de curso superior.
Com uma argumentação que beirou o deboche, os ministros liberaram a ponta do iceberg, pois abrem as condições para que outras profissões na área de humanas e sociais, também sejam liberadas de formação superior, ou qualquer tipo de formação.
Já argumentei, anteriormente, que posso atuar na área da psicologia ou do direito. Mas não é só, por conhecimentos adquiridos, também posso lecionar na área da sociologia, filosofia, história, geografia...
É pena que a sociedade não tenha se dado conta de que, mesmo que a formação não seja a melhor que almejamos, ainda adequa mais o profissional à sua atuação em Jornalismo. Podemos questionar, alimentar a discussão e fazer mudanças em currículos, mas entregar à sanha de empresários a definição de quem é competente é muito perigoso.
Ao que tudo indica, exatamente por sua formação, o Jornalismo passou a ser perigoso para o Poder Judiciário, pois resolveu escancarar as suas entranhas. Passando pelo fato de que o Poder Executivo e o Poder Legislativo já vinham sendo denunciados, restou uma mesquinha vingança contra o chamado "quarto poder".
Perdeu o processo democrático. Os homens públicos que fizeram isto esqueceram que são pagos pelo povo para defender os valores dos cidadãos e não os próprios. Abriu-se uma porteira que dificilmente será fechada e que lançou o caos à regulamentação da maior parte das profissões. Por todas as situações de risco que encara, pelos perigos constantes e pela capacidade de denunciar os "cadáveres insepultos", o diploma do jornalista é, com certeza, um diploma cidadão.

domingo, 14 de junho de 2009

O vírus da violência

Nesta transição entre o calor do verão e o frio que já inicia no Outono, é comum a recomendação de que “todo o cuidado é pouco”. Vale utilizar bastante roupa, tomar algo quente para manter o calor do corpo, ou até fazer alguns exercícios. E há, também, a vacina, que ajuda o organismo, aumentando suas defesas e prevenindo das famosas gripes.
Mas já não se fazem mais gripes como antigamente e a mais recente a preocupar o Mundo ganhou um nome científico e popularmente ficou conhecida como “a gripe do porco”. Infelizmente, o porco foi apenas uma “incubadora” de vírus, que ali se instalaram, se misturaram e criaram novos, capazes de assustar não apenas o México, onde surgiu, mas causar mortes em diversos países, continentes a fora.
É interessante que tanto o vírus da gripe quanto o do porco podem, em estado avançado, causar a morte e, por este motivo, tomam-se as preocupações possíveis: autoridades sanitárias fiscalizam, cientistas buscam vacinas eficazes e todos ficam alerta para não se transformar na próxima vítima.
Pena é que ainda não se nomeou devidamente o maior de todos os “vírus” que já apareceu na humanidade: ele se faz presente especialmente nos finais de semana e ceifa a vida especialmente de jovens, a maioria do sexo masculino, contaminados pela violência. Esta já é uma pandemia brasileira, capaz de acabar com mais de 30 vidas num feriadão, entre acidentes de trânsito e uso de armas.
Autoridades e meios de comunicação tentam fazer campanhas para conscientizar motoristas que fazem de suas motos, carros, caminhões, armas que acabam com a esperança de pessoas que morrem ou que têm o futuro comprometido por ficarem com seqüelas. Mas a única campanha que mostrou resultado foi quando começaram a sentir que perderiam carteiras, veículos ou teriam que pagar multas pesadas. Mas estas blitz, infelizmente, não prosperaram.
Aqui no Estado, um grupo de comunicação desencadeou campanha contra o crack, mal que assola as cidades, desde crianças até pessoas adultas. Seguidamente, são mostrados criminosos presos por fornecer a droga, mas o que a polícia aponta como ação inibidora é apenas a ponta do iceberg, um nada comparado ao que circula em porta de colégios, festinhas badaladas e pontos de venda que todo mundo conhece, mas...
Infelizmente, impera a indiferença, que assusta, pois a facilidade em tirar uma vida ou de propiciar elementos para que a própria pessoa se destrua é um caminho difícil de ser revertido. Vivemos um tempo crucial: além de agir, é bom rezar para encontrarmos uma vacina que atue na mente e no coração do próprio homem.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Os zumbis do crack

Os números são estarrecedores. Não falo dos danos físicos e emocionais, classificados como um flagelo social, mas do “investimento” que um jovem faz ao consumir o crack: em torno de R$ 700,00, ao mês! Alguns podem pensar que é frieza iniciar a reflexão por este dado, quando há tanta coisa envolvida. Pois não é. O jovem que gasta este salário mínimo e meio não tem renda e não consegue com a família mesada que auxilie a sustentar seu vício. Então, começa a desgraça: dependentes e desesperados partem para o roubo, primeiro em casa, em dinheiro; depois em objetos que possam ser vendidos; e sairão às ruas em busca do recurso que permita continuar a consumir a droga maldita.
Estes números foram mostrados recentemente em reportagens denunciando as proporções que tomou a entrada do crack na noite e na periferia das cidades médias e grandes. Movimentam o comércio absurdo de uma droga que não permite a famosa “experiência”, mas torna dependente desde a primeira ocasião em que é consumida, inocentemente, muitas vezes como oferta de uma “bala” doce, na saída de um colégio ou de uma festa.
Eventos recentes, organizados por autoridades da área, mostraram casos desesperados de pais em busca de ajuda, pois não conseguem vencer, sozinhos, a desgraça que se abateu sobre seus lares. Crianças pedem socorro e vemos exemplos extremos de pais que acorrentam seus filhos, trancam portas, buscam mantê-los afastados das ruas. Ou, até, como caso recente, em que uma mãe, em desespero de causa, tirou a vida do próprio filho.
Esta é a situação em que o garoto não tem condições de tomar decisões e a responsabilidade é dos familiares, da sociedade e das autoridades. A simples internação não é a solução, mas parte dela. Depois de desintoxicado, é preciso mantê-lo afastado das ruas, precisando de políticas públicas de policiamento ostensivo inibindo a farra dos traficantes, que usam das táticas infames para abastecer o mercado.
Se você está contente porque seus filhos, sobrinhos, os filhos de seus amigos não estão utilizando a droga, pode ir se preocupando. Esta horda de desesperados está nas ruas, transformaram-se em zumbis que perderam o sentido da vida e, para consumir a droga, podem fazer de você a próxima vítima. Não é terrorismo, mas a necessidade um posicionamento diante deste flagelo, causador de estragos para o resto da vida em garotos que perderam qualquer perspectiva de uma vida sadia.

sábado, 30 de maio de 2009

O sentido da própria vida

Ele, um amigo de longa data; ela, quase irmã de toda a vida. Ele, capaz de transmitir paz e tranquilidade em situações de trabalho, ou no convívio de família, mesmo em momentos conturbados; ela, a segurança e a certeza de braços amigos recebendo em situações difíceis, nos retornos e nas despedidas. Em ambos os casos, algo em comum: a luta pela vida, superar o que o corpo acabou aprontando como uma traição a muitas esperanças - o surgimento e o desenvolvimento de um câncer.
Quando os ouço falar a respeito do que estão enfrentando, tenho uma certeza: amam a vida, não temem a morte, mas não querem morrer! Com toda a tenacidade possível, querem dar outro sentido àquilo que entenderam como missão: deixam de lado o próprio sofrimento, porque sabem que existe algo maior no que fazem por suas famílias, na interação com os amigos ou mesmo no papel que ocupam na vivência em sociedade e na fé.
Ele, embora receoso do que pode lhe reservar o futuro, cuida dos filhos e levou a filha ao altar, com um olhar de esperança e de dignidade que parecia superar aquele momento fugaz para se tornar uma intenção de futuro. Ela, acompanha o filho com Síndrome de Down e tenta fazer com que ele não desanime e não tenha preocupações com a sua doença - acabou doando cada momento do seu dia a dia para dar sentido àquele que restou como sua companhia.
Fico olhando para as pessoas que reclamam de tudo aquilo que a vida lhes dá: porque perderam cabelos, porque tiveram alguém afastado, porque não receberam o que julgavam ser a devida atenção. Em suma, orbitam em torno do próprio umbigo. E vejo que meus amigos qualificam o tempo que têm de vida exatamente por este motivo: foram capazes de ver que a vida se constrói quando nos esquecemos de nós mesmos!
Esta não é a pretensão de uma homenagem. Eles não precisam. Esta é uma lição de que, em qualquer momento, em qualquer idade, a vida perde o sentido quando fica restrita a atender as nossas exigências e caprichos. Mesmo o sentido da fé está em deixarmos de pedir, para podermos agradecer; em deixar de rezar por si mesmo, para rezar pelo outro; em não querer um deus serviçal, para entender a beleza do Deus que nos alcança a sua própria graça!
Sou grato por meus amigos. Talvez não tenha com eles o convívio e o carinho que merecem, mas rezo para que eu também possa entender o sentido dado por Deus às suas próprias vidas, que supera o meu entendimento, mas que precisa ser entendido numa perspectiva de fé.

domingo, 24 de maio de 2009

O diploma de jornalista

O Poder Judiciário julgará a necessidade de diploma para o exercício do Jornalismo. Aqueles que são contra argumentam que, ao se limitar o direito apenas àqueles que obtêm curso superior, está se “restringindo a liberdade de expressão”. De tudo o que tenho ouvido, fica claro que existem interesses no mínimo escusos para tal defesa. A quem interessa o aviltamento de um setor tão importante na atualidade, capaz de fazer denúncias no quarto mundo (nosso caso), com os “castelos” e benefícios parlamentares, assim como no primeiro (Inglaterra), onde o jornalismo desnudou as entranhas do Parlamento?
Embora não possamos dizer que temos uma formação por excelência (mas que habilitação a tem?), sabemos que é melhor ter um profissional formado, do que alguém que pura e simplesmente faz um bico em jornalismo vindo das mais diferentes áreas, como o era antigamente, quando escritores, professores, advogados, das áreas de humanas ou sociais, completavam seus vencimentos escrevendo para os jornais.
Alerto que outras profissões poderão correr perigo: se advogados podem atuar como jornalistas, porque é eu não posso advogar? Tenho um bom raciocínio, sei formular claramente minha argumentação, saberia fazer uma boa defesa diante de um júri. Então, porque não posso advogar? Outra: Se tenho boa argumentação, sei dar bons conselhos, tenho sensibilidade para entender as mazelas e os sofrimentos da raça humana, porque não posso ser psicólogo? O raciocínio é o mesmo, assim como para diversas outras áreas.
Esta é uma questão séria, numa sociedade que está com pouco mais de vinte anos de democracia. E, na situação atual, com tantos desmandos e escândalos, com a população partindo para a indiferença, somente os meios de comunicação – dos grandes aos nanicos – conseguem balançar com as consciências. Sendo assim, argumentar que a profissão já é exercida livremente nos Estados Unidos e Europa é meia verdade. Lá, os conselhos e sindicatos são fortes o suficiente para impedir que pessoas desqualificadas ocupem postos jornalísticos.
Precisamos que o Poder Judiciário reconheça o direito de exercício de uma profissão que deseja manter a dignidade e exercer um papel fundamental na atualidade: em nome dos cidadãos, fiscalizar o estado e mostrar as suas entranhas, quando necessário. Talvez esteja exatamente aí o problema. Se for assim, é hora da sociedade se mobilizar, porque ela também corre perigo.

domingo, 17 de maio de 2009

A hemorragia da vida

No próximo domingo, a Igreja Católica celebra o Dia Mundial das Comunicações. O papa Bento XVI publicou mensagem que deve repercutir por todas as dioceses, inclusive no Estado. Embora pareça uma preocupação técnica, questiona sua influência e capacidade de transformar a sociedade. Na verdade, a igreja começa – já não era sem tempo – a preocupar-se com um elemento que merece especial atenção, também com a forma como a mídia trata: a família.
Dias atrás, recebi a carta de um médico. Manifestava interesse por aquilo que eu havia falado sobre família, igreja e educação. Contava sua experiência com mães e crianças de periferia, onde a falta de conhecimento, estrutura e condições, tornavam tudo mais difícil, muitas vezes brutalizando o processo de gestação e do nascimento. Resultado: pais despreparados e incapazes de assumir responsabilidades e crianças iniciando a trajetória com a amargura de ter o Mundo como abrigo, mas nenhuma família.
No nascedouro da sociedade, já se traça um destino que, depois, fatalmente, será repetido, aprisionando a criança, o jovem, o adulto, nos grilhões que o fazem ser aquilo que talvez não quisesse, mas para o qual não teve alternativa. È neste momento que vejo, como obrigação, a Igreja Católica professar o valor da família. Embora pareça um “profeta que clama no deserto”, é preciso que ela seja um sinal para estes marginalizados sociais de que podem recuperar a sua dignidade. O problema é que recursos, muitas vezes, existem, mas são mal aplicados ou desviados. As instituições que têm o respaldo da sociedade precisam agir para abalar a indiferença de todos nós.
A banalização da pobreza mostra sua cara em cada esquina, hoje, e faz com que protejamos nossos bolsos e bolsas. Mas o acinte de uma sociedade que apresenta luxo e glamour por seus meios de comunicação está provocando uma massa que, se não consegue o seu lugar por direito, vai tentá-lo pela violência. Cobrar, acompanhar e atuar em áreas de risco humano para reverter esta situação é somente o início. Os problemas que temos, hoje, fizeram metástase por todo o organismo social e igualaram diferentes classes sociais – como é o caso das drogas.
É um processo hemorrágico que precisa ser estancado. Talvez até com o esforço para revertermos certos discursos de que a criança tem seus direitos e precisam ser respeitados. Ninguém duvida, somente que, no momento em que acontece o pior, muitas explicações são dadas, mas não recuperam o bem maior, que é a própria vida.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O papel da comunicação

O deputado Sérgio Moraes (PTB) disse que estava “se lixando” para a opinião pública. Foi mais longe: afirmou não estar preocupado com o que a imprensa pudesse dizer a respeito de suas posições, pois os políticos, em muitos casos, eram “perseguidos” pelos meios de comunicação e acabavam se reelegendo. Como quem diz: a população não liga a mínima para o que vocês escrevem! A repercussão foi grande pelo fato em si, já que mostrou desprezo por aquele que é considerado o quarto poder, mas também pela indignação de quem está precisando – e com urgência – pensar o seu próprio papel no atual estágio da sociedade.
O cronista David Coimbra esteve em palestra na Universidade Católica e disse aquilo que depois repediu em jornal: “eu não formo a opinião de ninguém. No máximo, as pessoas dizem que eu disse aquilo que elas já tinham pensado”. Uma brincadeira que também irritou a muitos dos ouvintes, mas que tem um fundo de preocupação exatamente com isto: o papel da imprensa. Este dois fatos receberam o reforço de uma pesquisa feita por uma universidade e veiculada por meios de comunicação de que a nossa história e as nossas origens nos fizeram um povo acomodado e incapaz de indignação. Escancarou a realidade produzida especialmente pelos políticos, com seus escândalos e tentativas de usufruir ilegalmente, ou ao menos imoralmente, de recursos públicos.
Não creio que possamos nos omitir do fato de que formamos a opinião pública. Talvez não tanto quando alguns gostariam, mas há uma reação àquilo que é escrito, ou dito pelo rádio e pela televisão. No entanto, a reação é diferenciada, conforma o nível cultural e de interesse de cada pessoa. Há aqueles que entendem, mesmo, e até reproduzem o dito em seus ambientes; há aqueles que apenas ouvem, acham lógico e interessante, mas não são capazes de reproduzir; e há aqueles que passam batidos. Não era isto o que lhes interessava.
David Coimbra, perguntado por que, num programa de rádio que é ameno e humorístico ao meio-dia, não usava para dar “formação” às pessoas foi bem objetivo: naquele momento as pessoas queriam apenas “amenidades e humor” e não tratar de cosias mais sérias. Tem razão. A facilidade de acesso a emissoras de rádio e televisão, ou de selecionar conteúdos impressos, tornou seletivo aquele que ouve, assiste ou lê. Creio que os “mais sérios” precisam perseguir um objetivo: tornar interessante e oferecer reflexos na própria vida para os temas mais complexos e que permeiam a própria vida.

domingo, 3 de maio de 2009

O milagre e o santo

O professor Rubens Blanck tentou me iniciar na matemática e, consequentemente, na economia. Infelizmente, creio que não aprendi nem uma, nem outra. A primeira até que era razoavelmente inocente e entre fórmulas e sonhos com poesias mantinha-me atento graças à persistência e empenho do mestre. Já na segunda, com o passar dos anos, tive professores e amigos – como o Erli Massaú – que mostravam ser quase uma ciência exata, com um código de conduta capaz de tornar as coisas previsíveis. Sua capacidade de fazer arranjos internacionais sobreviveram e se firmaram como um arrimo do sistema capitalista, respaldando o processo democrático, com suas próprias regras e ditando normas tanto para o giro do capital, quanto para as relações sociais.
Pois foi um baque descobrir que o sistema financeiro internacional adoeceu e precisou abrir mão da sua independência, ficando refém de governos internacionais para sobreviver. Engraçado porque o senhor, como eu, que entende pouco de economia, ouviu dizer que o dinheiro havia sumido e se criara um vácuo por onde ele foi tragado. Desapareceu, como num passe de mágica! Acontece que não há mágica em economia e dinheiro não desaparece, fisicamente, do dia para a noite. O que os cérebros internacionais da economia estavam fazendo era uma “bolha” falsa de recursos que circulavam sem que houvesse respaldo em moeda, ou como se diz nos mercados internacionais – lastro, preferencialmente em ouro.
Isto tem um nome. E bem feio: especulação. Alguns apostaram que fariam fortunas jogando sem dinheiro nas bolsas e em investimentos e deram com a cara na parede. Bem, não é bem assim. Como não adiantava se queixarem ao bispo, foram se queixar aos presidentes, que ficaram com “peninha” por achar que se estes naufragassem na tempestade que se formou nos países do primeiro mundo, o resto da economia seria arrastada por eles. E, novamente, eles saíram ganhando. Passados raios e trovões, os analistas já dizem que os mesmos que negociaram a sua “salvação”, hoje, mostram que lucraram com a crise!
Quem, então, perdeu? Um tostão por seu pensamento. Nós, claro, pois acreditamos em pseudas autoridades financeiras e políticas, sisudas e lustosas, que mostraram ser necessário voltar às aulas do Rubens e do Massaú para não cair em mais um engodo. Se não há milagres em economia, infelizmente, também não há nenhum santo atuando em administração financeira ou especulando na bolsa de valores.

domingo, 26 de abril de 2009

Cortar o mal pela raiz

O que tem em comum o fato do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ter apostado no “crescei e multiplicai-vos” e congressistas brasileiros pautarem as manchetes das semanas, sempre com um novo escândalo¿ Em princípio, parece que nada, mas não é bem assim, em ambos há uma marca do que se chama de “relativismo moral”. No Paraguai, mulheres declaram ter dado filhos ao então padre ou bispo Lugo, agora presidente do país. Tendo sido padre e bispo da Igreja Católica, que tanto zela pela preservação da moral, tal comportamento é desabonador para o próprio e para a instituição. Sim, porque já se falava a respeito destes casos antes que os meios de comunicação “fresteassem” por esta janela semi-encostada pela pudicidade dos integrantes da própria Igreja. Ou seja, acobertaram uma conduta nada edificante.
No Congresso Nacional, a cada dia se vêem escândalos ligados ao tráfico de influência e mal uso de recursos públicos. “Inocentes parlamentares” chegam a dizer que não sabiam de nada, ou, pior, que sempre foi assim e porque somente agora se cobra uma conduta honesta¿ Este possivelmente seja o problema, em ambos os casos: aqueles que deveriam vigiar para que tais situações não evoluíssem – o ditado diz que “o mal deve ser arrancado pela raiz” - foram omissos ou complacentes, acreditando que não fosse chegar a tal ponto. Pois evoluiu e já não basta uma atitude de aceitar o reconhecimento público do erro. Ainda temos a pecha do “jeitinho brasileiro” e uma triste indiferença por parte da população, que vê isto como “normal” no chamado processo democrático.
Estamos mal e quem sabe possamos trazer estes casos para mais próximo, caso da ULBRA, por exemplo, onde a omissão em nível público e privado levou a uma espécie de letargia coletiva, onde cada um quer apenas resolver os seus problemas e conseguir sobreviver. Na Alemanha nazista, um escritor registrou que “um dia vieram os soldados e levaram uma família judia. Eu não sou judeu, então não me importei. No outro, buscaram uma família de ciganos. Como eu também não sou, não me importei. Em seguida buscaram os homossexuais e também achei que não era comigo. Depois vieram me buscar e não havia mais ninguém para reclamar”.
Estou fazendo a minha reclamação enquanto cristão, pelos “lugos” da vida, e expressando revolta com aqueles que se apossam do dinheiro público, menosprezando a inteligência de cada um de nós. Esta história eu já conheço e luto, a cada dia, para que não se repita.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Humanizar os centros urbanos

Câmeras de vereadores de diversos municípios têm colocado em pauta reavaliar o Código de Postura, em especial naquilo que trata da inserção de peças publicitárias nos meios públicos, assim como a ocupação desenfreada de calçadas, principalmente no centro das cidades. Seguindo exemplos como o de São Paulo e de Porto Alegre, há uma preocupação em manter limpas, em todos os sentidos, as áreas centrais, tanto no que se refere à sujeira propriamente dita, mas também o que causa poluição visual, dificultando a orientação das pessoas e, em muitos casos, causando transtornos.
Porém, chamou-me a atenção, em muitos municípios que visitei, a ocupação desenfreada dos espaços de locomoção para pedestres por placas, expositores, caixotes, seguranças, vendedores etc. As calçadas são reduzidas em quase a metade. No caso da entrada de algumas lojas, manifesta-se mais claramente o afã em transbordar seus produtos para o lado externo das lojas, diminuindo a área das portas, impedindo, em algumas circunstâncias, o acesso de pessoas idosas ou portadores de alguma deficiência física.
Sei que especialmente os publicitários de rua, alguns lojistas e os camelôs vão fazer pressão para que nada mude. No entanto, as câmeras que estão repensando o assunto precisam levar em consideração não os interesses de setores menores, mas o interesse maior da população. Permitir a redução das calçadas, ou que a propaganda se transforme em elemento poluidor, acaba sendo “gol contra” para todos os setores. Quem procura pelo comércio de alguma cidade quer ter facilidade e comodidade na hora de fazer os seus deslocamentos. Não quer andar batendo em mostradores de camelôs ou na porta das próprias lojas, nem ficar perdido por orientações de propaganda que acabam não orientando absolutamente nada.
O que se vê em alguns grandes municípios que recuperaram as áreas centrais – quase sempre históricas – é a possibilidade de fazer uma prazerosa caminhada onde, embora sejam milhares aqueles que se deslocam, não há o bate-bate, o empurra-empurra, o desviar-se de “acidentes” nada geográficos. Nestes casos, quando vemos a facilidade com que idosos ou deficientes físicos podem se utilizar de calçadas ou calçadões, damos razão aos que defendem um centro das cidades mais aberto, com mais recursos para serem aproveitados – inclusive bancos - por quem quer, muitas vezes, além de fazer compras ou buscar serviços, apenas encontrar um espaço de convívio, numa área humanizada.

sábado, 11 de abril de 2009

À sombra de um Ingá

Plantamos em frente à nossa casa dois pés de Ingá. No início, pequenos arbustos no meio da calçada, levaram quase dez anos para se transformar em frondosas e acolhedoras copadas. Veio de um vizinho, o Marcos, a sugestão de fazer uma limpeza por baixo. Tinha razão, foi então que apresentaram mais uma de suas características: a acolhida. Reparei que, em dias quentes era ali embaixo que as pessoas paravam, refrescando-se e podendo continuar a sua caminhada. As crianças ainda subiam por seu tronco, ou colhiam suas pequenas vagens, com a volúpia de quem degusta um manjar.
O Ingá não dura muito tempo, apenas um pouco mais do que uma vida humana e não atravessa séculos. O que me leva a pensar que a sua função é exatamente esta: servir aos caminhantes. Muito próximo do sentido da própria existência humana, pois não duramos tanto quanto desejamos e quando pensamos que nossas obras nos perpetuarão pela eternidade, elas são tragadas pelo tempo ou pela natureza.
Mais ou menos como, agora, está acontecendo na Itália. Além das vidas ceifadas pelos terremotos, ainda há o registro de monumentos históricos destruídos, mostrando-se efêmeros diante de um fenômeno natural. A natureza rebela-se diante da nossa altivez com as “marcas da civilização” – templos, palácios, monumentos – e tem a força dos elementos naturais, não deixando dúvidas de que a raça humana é hospedeira neste Planeta.
É uma dura lição: para o Homem, o seu “eterno” acaba sendo efêmero; como dizia o poetinha: “que seja eterno enquanto dure”. Não quero deixar algo que perdure pelos séculos. Só gostaria de viver bem, hoje, junto àqueles com quem tenho o privilégio de conviver, pois o que se eterniza e nos diferencia de todos os demais seres é um olhar, um gesto, ou apenas uma carícia. Mais ou menos aquilo que me dá o Ingá, praticamente sem pedir nada em troca.
O Mestre dos Mestres levou-nos a olhar os Lírios nos campos, mostrando que nem o rei Salomão, em todo o seu esplendor e sabedoria, conseguiu ostentar tanta beleza. E uma flor tem a beleza do que se sabe efêmera, pois existe hoje e não mais existirá amanhã. Mesmo assim, cada um de nós teima em querer domar o tempo e as circunstâncias da História. Isto não é possível, pois somos finitos e necessitamos aprender a viver cada momento presente intensamente, pois se vivemos apenas do passado, nos frustraremos, e se quisermos viver do futuro, nos angustiaremos. Acho que o melhor jeito é à sombra de um Ingá.

A sombra de um Ingá

Deleito-me com tua acolhida.
Fecho meus olhos e estou envolto por ti.
Sussurras-me quando o vento desalinha teus cabelos
E embala-te ao sabor da brisa.

Eu desejo apenas ficar em teu silêncio,
Usufruir do teu frescor,
Deixar-me possuir por tua sombra protetora.

Não digo nada.
Quero apenas viver este momento fugaz/eterno.

Não quero partir.
Mas ficar não faz sentir a tua falta.
E partir é a razão para um dia voltar.

domingo, 5 de abril de 2009

Um manual de gente

Para quase todos os produtos que se compra, procurando entre as muitas tralhas que normalmente os acompanham, sempre vem junto um manual orientando a correta montagem e utilização. Pois fiquei pensando que para “gente” não há um manual dizendo como podemos “utilizar”. Se este não for o termo, como é que se lhe faz companhia durante a existência. Os pais iniciantes sabem que, embora tenham ouvido todas as lições, o inesperado é uma das “normas”, exigindo reação rápida, imprevista, mas com raros deles se saindo mal.
Talvez o manual para adolescentes seja o mais complicado. Teria que prever a nuance de seus “delicados” sentimentos, ou, dito de outra forma: como controlar um turbilhão de hormônios insistindo em levar do zero a mil em poucos segundos, numa cadeia de reações imprevistas. O manual do adulto também não seria fácil. Controlados os hormônios, é a fase em que se escondem as emoções, em função de um “estar adulto” que requer postura adequada ao perfil social e ao status.
Mas, o mais interessante seria o do idoso, categoria que o marketing teima em chamar de “terceira idade”. Para estes, o manual deveria mais prever como se tratar aqueles que interagem com eles! Tenho o privilégio de conviver com dois de 83 anos e sou testemunha de cenas que seriam hilárias se, em certos momentos, não fossem tristes. Lembro de três situações onde a conduta das pessoas é incompreensível. A primeira, quando se conversa, com a presença do próprio, e nos perguntam: “ela (ele) está bem?” Ao que não resisto em responder: “o melhor é perguntar para ela!” A segunda, quando há objeto a ser movido e as pessoas se apressam em retirá-lo, não se dando conta de que ele precisa fazer a sua parte no convívio social, inclusive em atividades físicas. O terceiro, ao sentirem que o idoso encontra dificuldade para encontrar uma palavra e completam a frase ou falam ao mesmo tempo.
É desconhecimento de caso: o idoso, na maior parte das vezes, não é surdo e nem tem problema com a fala, portanto pode e deve ser questionado e responder; no segundo, mover pequenos objetos não é um ato de se aproveitar dele, mas mantê-lo ativo e ocupado; completar a frase ou falar ao mesmo tempo é má educação em qualquer circunstância. O ritmo e a agilidade de um idoso exigem mais tempo, mas não se pode desprezar sua capacidade de raciocínio. E um alerta aos apressadinhos: respeitar as possibilidades dos outros é um bom exercício para saber o que vai se passar num futuro, talvez ainda distante, mas que, tenham certeza, chegará.

sábado, 28 de março de 2009

Por uma comunicação sem violência

Seguidamente ouço representantes ou donos de meios de comunicação, especialmente da televisão, dizerem que não têm responsabilidade sobre o que aparece em seus programas ou novelas, pois é uma questão de “criação” e não podem interferir, não pode haver “censura”. Meia verdade: infelizmente no Brasil criamos uma espécie de círculo vicioso (para quem quiser entender melhor é como o cachorro correndo atrás do próprio rabo!), onde a violência é parte da sociedade, realimentada pelo uso através da mídia.
Esta relação é complexa, mas precisa ser entendida para que possamos tomar medidas práticas e deixarmos de sermos reféns, gradeando nossas portas, janelas e cercas; utilizando alarmes em casas ou carros e sistemas particulares de vigilância, já que o estado não nos presta adequadamente este serviço. Acabamos tendo que dar razão àqueles que dizem que o cidadão foi trancado dentro de casa, enquanto os criminosos andam soltos pelas ruas.
Claro que a comunicação realimenta este e outros problemas: não se pode generalizar o que vemos em novelas e seriados, em que praticamente se diz que as pessoas de vilas e morros são violentas e criminosas. Não são. Em qualquer lugar, mesmo no Rio de janeiro, onde se roda a maior parte dos filmes e novelas, predominam os honestos, que gostariam, como nós, de viver em paz.
Assim como as novelas exacerbam o sexo e não vemos, na realidade, as coisas acontecerem do mesmo modo, devemos nos dar conta de que até no que deveria ser diversão, há mensagens e um modo de vida passado por seus autores. Só que, entrando todos os dias em nossas casas, acabam fazendo valer o ditado: “uma mentira mil vezes repetida, vira uma verdade”!
Como se diz popularmente, “não engula tudo o que ouve ou vê”. Em Igreja, chamamos isto de “ter consciência social”: desconfia-se, discute-se e aproveita-se, também da comunicação, o bom, deixando de lado o ruim. Mas, quando na sua comunidade ou vizinhança, surgirem dúvidas, procure alguém que ajude. Esta é uma área que está fazendo a cabeça de pais, filhos e educadores, muitas vezes de forma atrapalhada. Não embarque numa canoa furada! Temos em Jesus um grande comunicador e Ele pede que façamos o melhor para todos vivermos felizes, sem violência e violentos. Rompendo este círculo vicioso e praticando a solidariedade, valerá a pena acreditar que um mundo melhor é possível.

Palestra no Cursilho

Vou estar palestrando na segunda (30), na Ultréia do Cursilho. A reunião ampliada acontece na Casa do Cenáculo, na dom Joaquim, quase avenida Fernando Osório, a partir das 20h30min.
O tema tratado será "Comunicação, Fraternidade e Segurança Pública".
Creio que a comunicação também tem o seu quinhão de responsabilidade no que está acontecendo hoje. Não podemos nos eximir e temos que dar uma contribuição na discussão e na resolução do problema.

A mesma temática será abordada para a Associação das Mães Cristãs, na quarta-feira, às 16 horas, no salão ao lado da Capela Nossa Senhora da Conceição.

domingo, 22 de março de 2009

Mais próximos da felicidade

No último final de semana passamos por duas datas que, parece, em comum não têm absolutamente nada: no sábado (21), lembramos a luta dos portadores da Síndrome de Down, e, no domingo (22), a Organização das Nações Unidas marcou como a data de reflexão a respeito da água. O que ambas tem em comum: a luta pela vida. A água é fundamental para continuarmos vivendo e a perspectiva é de que ela, em seu estado natural, doce, atendendo às necessidades humanas, dure mais cerca de 40 anos, se continuarmos abusando e desperdiçando tão precioso líquido.
Mas, nas muitas entrevistas que assisti, chamou-me a atenção a luta das mães daquelas crianças especiais, mulheres que lutam arduamente para que seus filhos não sejam considerados como “anomalias humanas”. Como dizia uma das meninas: “eu quero ser tratada como gente!” Convivo com portadores da Síndrome de Down há muitos anos e vejo que eles têm uma batalha diária pelo aprendizado, qualidade do seu estado físico e espiritual; mais ainda, para serem reconhecidos como “gente”, portadores de necessidades especiais, mas que, tendo uma chance, mostram-se maravilhosamente capazes.
Ao longo deste tempo, paro para pensar e vejo que eles estariam perdidos nos meandros da sociedade, se não fosse estas “fadas” maravilhosas, que Deus revestiu em corpo de mulher e que chamou de “mãe”! Elas são as sinalizadoras, norteando os caminhos por onde seguem seus filhos; em alguns momentos, são o próprio caminho, pois carregam em seus ombros a responsabilidade de não deixá-los desistir; e, maravilha das maravilhas, são o porto seguro da chegada, onde estes jovens aportam quando recebem o sorriso da vitória!
Não são as vitórias a que acostumamos nossos filhos, mas as vitórias da superação: um movimento físico, uma letra reconhecida, um passo de dança dado com alguns segundos de descompasso, fazem a maravilhosa harmonia da vida, onde o tempo perde o sentido, embaralhar as letras é melhor do que lhe dar uma definição burocrática e a mão que afaga é uma bênção capaz de mostrar que esta é uma vida que vale a pena.
Sou privilegiado, porque ganho abraços carinhosos e apertados do meu afilhado Edinho e de alguns de seus amigos. Mas, confesso, tenho profunda admiração pelas mães – a Marli à frente - que fazem mais do que receber: dedicam suas vidas na busca de que a sociedade reconheça que talvez não saiba conviver com a diferença e que este aprendizado nos faz muito mais próximos da felicidade e da realização.

terça-feira, 17 de março de 2009

Um mutirão para falar de Deus

A Igreja Católica está organizando para o período entre 12 e 17 de julho deste ano, nas dependências da PUC/RS, em Porto Alegre, o Mutirão de Comunicação para a América Latina e o Caribe. Um evento de proporções que deseja promover espaços de diálogo sobre os processos de comunicação, à luz de uma cultura solidária, na construção de uma sociedade comprometida com a justiça, a liberdade e a paz.
No dia 16 de março, estive presente na reunião que ultimou detalhes da participação das 18 dioceses do Rio Grande do Sul, com a presença de 15. A partir de um relatório vindo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pode-se ver sinais positivos quanto à discussão da comunicação, sempre tão emperrada, quando não ignorada por parte de segmentos religiosos. Há consenso de que não basta discutir os meios de comunicação, mas ter consciência de uma identidade frente ao processo de comunicação e os meios. A partir de obras que tratam da “Teologia da Comunicação”, existe o apelo para que se veja a comunicação como um elemento que perpassa todas as atividades, possivelmente não mais como mais um setor, mas um serviço necessário desde a acolhida àqueles que comparecem às celebrações, até a presença na grande mídia.
Os sinais que estão presentes nas discussões apontam claramente para o momento social, político e econômico como gestor de mudanças significativas onde se faz necessária a presença da Igreja, esclarecendo, orientando e sendo presença efetiva para todos os homens e mulheres de boa vontade. Em todos os momentos, fica claro que a grande temática do evento – “Processos de Comunicação e Cultura Solidária” – não interessa apenas a setores eclesiásticos, mas à sociedade como um todo que não pode abrir mão de ser crítica com relação aos meios que sempre enaltecem a sua independência e autonomia, mas possuem uma forte influência sobre parcelas da população, especialmente em fase de formação ou que têm dificuldade de formar o seu próprio senso crítico.
A presença de especialistas de diversas regiões das Américas enriquecerá o debate com experiências variadas vindas de diversas identidades culturais. Nos documentos emanados dos encontros dos bispos latino-americanos e caribenhos tem se destacado a necessidade da presença da Igreja nas bases, onde estão as comunidades e as capelas, porque é ali que o mutirão pode, mais próximo ao povo, falar de Deus.

domingo, 8 de março de 2009

Aula inaugural de Fisioterapia na Unijuí

A convite da professora Simone Eickhoff Bigolin vou ministrar a aula inaugural do primeiro semestre de 2009 do Curso de Fisioterapia da Universidade de Ijuí (UNIJUÍ), às 19 horas do dia 12 de março, no salão de atos da instituição. A diretora assegurou a presença de alunos dos cursos de enfermagem e comunicação.
Falarei sobre “Comunicação e vida”, abordando os processos de interação entre paciente e fisioterapeuta, na ocasião em que o curso completa 10 anos. Meu contato com grupos de pessoas na terceira idade aponta para a necessidade de redimensionar a relação da sociedade com este segmento e levo para Ijuí experiências realizadas na Universidade Católica - Centro de Extensão em Atenção à Terceira Idade e Voltando à Sala de Aula – assim como no Serviço Social do Comércio.
Nos dias 13 e 14 de março, vou estar na diocese de Cruz Alta, participando de um encontro com lideranças, quando abordo o tema “A Pastoral da Comunicação nas paróquias, metodologias e encaminhamentos”.
No dia 16 de março, estarei em Porto Alegre, a convite da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Regional Sul 3, prestando assessoria no planejamento e montagem do “Mutirão de Comunicação da América Latina e do Caribe”, que acontece na capital do estado, entre 12 e 17 de julho.