sábado, 28 de março de 2009

Por uma comunicação sem violência

Seguidamente ouço representantes ou donos de meios de comunicação, especialmente da televisão, dizerem que não têm responsabilidade sobre o que aparece em seus programas ou novelas, pois é uma questão de “criação” e não podem interferir, não pode haver “censura”. Meia verdade: infelizmente no Brasil criamos uma espécie de círculo vicioso (para quem quiser entender melhor é como o cachorro correndo atrás do próprio rabo!), onde a violência é parte da sociedade, realimentada pelo uso através da mídia.
Esta relação é complexa, mas precisa ser entendida para que possamos tomar medidas práticas e deixarmos de sermos reféns, gradeando nossas portas, janelas e cercas; utilizando alarmes em casas ou carros e sistemas particulares de vigilância, já que o estado não nos presta adequadamente este serviço. Acabamos tendo que dar razão àqueles que dizem que o cidadão foi trancado dentro de casa, enquanto os criminosos andam soltos pelas ruas.
Claro que a comunicação realimenta este e outros problemas: não se pode generalizar o que vemos em novelas e seriados, em que praticamente se diz que as pessoas de vilas e morros são violentas e criminosas. Não são. Em qualquer lugar, mesmo no Rio de janeiro, onde se roda a maior parte dos filmes e novelas, predominam os honestos, que gostariam, como nós, de viver em paz.
Assim como as novelas exacerbam o sexo e não vemos, na realidade, as coisas acontecerem do mesmo modo, devemos nos dar conta de que até no que deveria ser diversão, há mensagens e um modo de vida passado por seus autores. Só que, entrando todos os dias em nossas casas, acabam fazendo valer o ditado: “uma mentira mil vezes repetida, vira uma verdade”!
Como se diz popularmente, “não engula tudo o que ouve ou vê”. Em Igreja, chamamos isto de “ter consciência social”: desconfia-se, discute-se e aproveita-se, também da comunicação, o bom, deixando de lado o ruim. Mas, quando na sua comunidade ou vizinhança, surgirem dúvidas, procure alguém que ajude. Esta é uma área que está fazendo a cabeça de pais, filhos e educadores, muitas vezes de forma atrapalhada. Não embarque numa canoa furada! Temos em Jesus um grande comunicador e Ele pede que façamos o melhor para todos vivermos felizes, sem violência e violentos. Rompendo este círculo vicioso e praticando a solidariedade, valerá a pena acreditar que um mundo melhor é possível.

Palestra no Cursilho

Vou estar palestrando na segunda (30), na Ultréia do Cursilho. A reunião ampliada acontece na Casa do Cenáculo, na dom Joaquim, quase avenida Fernando Osório, a partir das 20h30min.
O tema tratado será "Comunicação, Fraternidade e Segurança Pública".
Creio que a comunicação também tem o seu quinhão de responsabilidade no que está acontecendo hoje. Não podemos nos eximir e temos que dar uma contribuição na discussão e na resolução do problema.

A mesma temática será abordada para a Associação das Mães Cristãs, na quarta-feira, às 16 horas, no salão ao lado da Capela Nossa Senhora da Conceição.

domingo, 22 de março de 2009

Mais próximos da felicidade

No último final de semana passamos por duas datas que, parece, em comum não têm absolutamente nada: no sábado (21), lembramos a luta dos portadores da Síndrome de Down, e, no domingo (22), a Organização das Nações Unidas marcou como a data de reflexão a respeito da água. O que ambas tem em comum: a luta pela vida. A água é fundamental para continuarmos vivendo e a perspectiva é de que ela, em seu estado natural, doce, atendendo às necessidades humanas, dure mais cerca de 40 anos, se continuarmos abusando e desperdiçando tão precioso líquido.
Mas, nas muitas entrevistas que assisti, chamou-me a atenção a luta das mães daquelas crianças especiais, mulheres que lutam arduamente para que seus filhos não sejam considerados como “anomalias humanas”. Como dizia uma das meninas: “eu quero ser tratada como gente!” Convivo com portadores da Síndrome de Down há muitos anos e vejo que eles têm uma batalha diária pelo aprendizado, qualidade do seu estado físico e espiritual; mais ainda, para serem reconhecidos como “gente”, portadores de necessidades especiais, mas que, tendo uma chance, mostram-se maravilhosamente capazes.
Ao longo deste tempo, paro para pensar e vejo que eles estariam perdidos nos meandros da sociedade, se não fosse estas “fadas” maravilhosas, que Deus revestiu em corpo de mulher e que chamou de “mãe”! Elas são as sinalizadoras, norteando os caminhos por onde seguem seus filhos; em alguns momentos, são o próprio caminho, pois carregam em seus ombros a responsabilidade de não deixá-los desistir; e, maravilha das maravilhas, são o porto seguro da chegada, onde estes jovens aportam quando recebem o sorriso da vitória!
Não são as vitórias a que acostumamos nossos filhos, mas as vitórias da superação: um movimento físico, uma letra reconhecida, um passo de dança dado com alguns segundos de descompasso, fazem a maravilhosa harmonia da vida, onde o tempo perde o sentido, embaralhar as letras é melhor do que lhe dar uma definição burocrática e a mão que afaga é uma bênção capaz de mostrar que esta é uma vida que vale a pena.
Sou privilegiado, porque ganho abraços carinhosos e apertados do meu afilhado Edinho e de alguns de seus amigos. Mas, confesso, tenho profunda admiração pelas mães – a Marli à frente - que fazem mais do que receber: dedicam suas vidas na busca de que a sociedade reconheça que talvez não saiba conviver com a diferença e que este aprendizado nos faz muito mais próximos da felicidade e da realização.

terça-feira, 17 de março de 2009

Um mutirão para falar de Deus

A Igreja Católica está organizando para o período entre 12 e 17 de julho deste ano, nas dependências da PUC/RS, em Porto Alegre, o Mutirão de Comunicação para a América Latina e o Caribe. Um evento de proporções que deseja promover espaços de diálogo sobre os processos de comunicação, à luz de uma cultura solidária, na construção de uma sociedade comprometida com a justiça, a liberdade e a paz.
No dia 16 de março, estive presente na reunião que ultimou detalhes da participação das 18 dioceses do Rio Grande do Sul, com a presença de 15. A partir de um relatório vindo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pode-se ver sinais positivos quanto à discussão da comunicação, sempre tão emperrada, quando não ignorada por parte de segmentos religiosos. Há consenso de que não basta discutir os meios de comunicação, mas ter consciência de uma identidade frente ao processo de comunicação e os meios. A partir de obras que tratam da “Teologia da Comunicação”, existe o apelo para que se veja a comunicação como um elemento que perpassa todas as atividades, possivelmente não mais como mais um setor, mas um serviço necessário desde a acolhida àqueles que comparecem às celebrações, até a presença na grande mídia.
Os sinais que estão presentes nas discussões apontam claramente para o momento social, político e econômico como gestor de mudanças significativas onde se faz necessária a presença da Igreja, esclarecendo, orientando e sendo presença efetiva para todos os homens e mulheres de boa vontade. Em todos os momentos, fica claro que a grande temática do evento – “Processos de Comunicação e Cultura Solidária” – não interessa apenas a setores eclesiásticos, mas à sociedade como um todo que não pode abrir mão de ser crítica com relação aos meios que sempre enaltecem a sua independência e autonomia, mas possuem uma forte influência sobre parcelas da população, especialmente em fase de formação ou que têm dificuldade de formar o seu próprio senso crítico.
A presença de especialistas de diversas regiões das Américas enriquecerá o debate com experiências variadas vindas de diversas identidades culturais. Nos documentos emanados dos encontros dos bispos latino-americanos e caribenhos tem se destacado a necessidade da presença da Igreja nas bases, onde estão as comunidades e as capelas, porque é ali que o mutirão pode, mais próximo ao povo, falar de Deus.

domingo, 8 de março de 2009

Aula inaugural de Fisioterapia na Unijuí

A convite da professora Simone Eickhoff Bigolin vou ministrar a aula inaugural do primeiro semestre de 2009 do Curso de Fisioterapia da Universidade de Ijuí (UNIJUÍ), às 19 horas do dia 12 de março, no salão de atos da instituição. A diretora assegurou a presença de alunos dos cursos de enfermagem e comunicação.
Falarei sobre “Comunicação e vida”, abordando os processos de interação entre paciente e fisioterapeuta, na ocasião em que o curso completa 10 anos. Meu contato com grupos de pessoas na terceira idade aponta para a necessidade de redimensionar a relação da sociedade com este segmento e levo para Ijuí experiências realizadas na Universidade Católica - Centro de Extensão em Atenção à Terceira Idade e Voltando à Sala de Aula – assim como no Serviço Social do Comércio.
Nos dias 13 e 14 de março, vou estar na diocese de Cruz Alta, participando de um encontro com lideranças, quando abordo o tema “A Pastoral da Comunicação nas paróquias, metodologias e encaminhamentos”.
No dia 16 de março, estarei em Porto Alegre, a convite da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Regional Sul 3, prestando assessoria no planejamento e montagem do “Mutirão de Comunicação da América Latina e do Caribe”, que acontece na capital do estado, entre 12 e 17 de julho.

sábado, 7 de março de 2009

Gasolina na fogueira

O estupro de uma criança na faixa dos nove anos, que ficou grávida, e a decisão das autoridades, juntamente com a mãe e uma equipe médica pelo aborto, foi o destaque nas discussões dos últimos dias. Para apimentar, a mídia foi procurar a posição da Igreja Católica que se manifestou da única forma que poderia fazê-lo: por princípio é contra e nega àqueles que assim agiram os direitos da própria Igreja.
O arcebispo que informou a excomunhão ficou surpreso com a repercussão e foi explicando que era um ato automático, pelas normas da Igreja. Ora, a Igreja não é um estado e legalmente é separado deste, portanto, não estabelece (como alguns veículos chegaram a dizer) leis. No máximo dá orientação aos seus fiéis e pede que sejam exatamente isto “fiéis”. Depois disto, é uma questão de consciência.
Ninguém é obrigado a ser católico, como não é obrigado a ser evangélico, umbandista ou espírita. Mas os credos têm o direito de serem respeitado em suas posições, mesmo que possa haver muita discussão interna e externa a respeito. Crucificar a Igreja Católica por uma posição considerada “conservadora” é reforçar o óbvio: ela é conservadora e, talvez por isto mesmo, sobreviveu aos séculos como referência da moral.
O grande problema é que, desta forma, desviou-se o foco da questão. Não haveria esta discussão se não tivesse acontecido o abuso sexual por parte de uma pessoa responsável pela menor. Sendo assim, temos que considerar duas possibilidades: um desequilibrado mental, ou uma postura social de quem já perdeu a noção do que seja ética e moral. A degradação, especialmente de populações marginalizadas, chegou a tal ponto que os instintos sexuais falam mais alto atentando contra inocentes. Um agente do estado afirmou que, em regiões pobres nas fronteiras, estes casos são comuns, com meninas e com meninos! É um problema sério. O que fazem autoridades públicas e pretensos defensores do direito das crianças que somente se apresentam quando a mídia faz o seu circo?
Embora a Igreja Católica se mostre avançada em outras áreas, nesta permanece inalterada e não há indicação de mudança a curto e médio prazo. Quando levanta debate sobre segurança, corrupção e necessidade de reformas passa a ter “denunciados os seus pecados”, para que se toldem suas virtudes. Os acusadores esquecem que, no Brasil, uma das poucas instituições que, efetivamente, lidam com crianças em situação de risco é a Pastoral da Criança, preocupada em prevenir problemas ao invés de lançar gasolina na fogueira.

quarta-feira, 4 de março de 2009

O "x" das estradas

Intensifica-se o debate em torno da malha viária do Estado. Entre críticas e apontamentos de estudos técnicos, temos o cidadão que utiliza as estradas esperando que o pagamento de impostos e de pedágios torne a vida um pouco mais confortável. A constatação que se pode fazer, em algumas áreas, é de que não há como aumentar o número de pistas, mas termos o bom senso de diminuir o número de carros e de caminhões.
Desde a metade do século passado, por um lobby da indústria automobilística, os governos fizeram esta opção, em detrimento de alternativas hoje utilizadas nas regiões mais desenvolvidas do Mundo: o transporte por ferrovias e a navegação. O primeiro caso poderia ser facilitado por inúmeras regiões planas ou com leves ondulações, que baratearia a sua implantação. O segundo, utilizando um sistema natural de rios e lagoas, que encanta a técnicos internacionais e os faz pasmos por não utilizarmos.
Na ligação entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, assim como deste município com a Serra, fica a impressão de que os últimos dez anos trouxeram uma evolução substancial. Mesmo onde estas estradas cortam o meio urbano, a existência de ruas paralelas e túneis descongestionam a movimentação e torna, em horários normais, um tráfego tranquilo, na maior parte das vezes, sem incidentes.
A preocupação passa a ser com as cargas pesadas que, em muitos casos, trancam as estradas. Para estas, em alguns lugares, como em subidas ou curvas, bastaria a existência de uma terceira pista, o que, por si só, já desafogaria em muito o fluxo de veículos.
Já os carros são um problema cultural. Transformou-se em sonho de consumo a propriedade de um veículo, com todas as facilidades de financiamento possível, embora, na hora de pagar, muitas vezes, o sonho se transforme em pesadelo. Faz com que alcancemos altos índices de inadimplentes, causando um fenômeno difícil de ser entendido: aumenta o número de usuários de carros e motos e diminui aqueles que utilizam o transporte coletivo.
Claro que existem casos em que o desafogo somente acontecerá pela ampliação da malha viária. Mas não pode se apostar somente nisto. Um bom transporte público, municipal, estadual e nacional, com incentivos para que os usuários passem a utilizá-lo já diminuiria, em muito, o problema. Temos muito que caminhar para chegar lá, mas não é um sonho impossível, assim como o de ter um motorista educado e responsável na estrada. Mas esta já é outra história!