sexta-feira, 26 de abril de 2024

Não me poupa do teu riso...

Vem. Me faz companhia,

Por um instante que seja.

Podemos cantar

E quem sabe até perseguir nossos sonhos.

Encontrar o gosto de uma roda de amigos,

Onde alguns cantam,

Outros cantarolam

E quem apenas vai no embalo,

Seguindo o murmúrio de um assobio.

 

Vou corar de satisfação ao ver

Os sorrisos que mantém bocas abertas,

Quando faltam as palavras

E a gente é feliz por uma simples recordação.

Pensei até em escrever a letra de uma música,

Como quem finaliza um café,

Sem medir o tempo,

Sorvendo o aroma que aguça

O paladar e envolve todos os sentidos.

 

O encontro é o lugar onde o futuro dá

O direito de expandirmos nossos sonhos.

Ali, não me poupa do teu sorriso,

Do teu riso, do teu olhar matreiro.

 

Terão a graça

Da brisa que arqueia

As asas de uma borboleta;

Da noite que realça

O luzeiro dos pirilampos;

O suspiro da lágrima da manhã

Que demora em escorrer por uma folha,

Na espera da música que ainda ecoa do passado.

 

Quero que seja eterno

O teu jeito travesso de ser.

Te prometo:

Confiarei em ti de todo o meu coração.

Serás sempre a minha única canção de amor.

 

Sabes bem a razão:

Aprendemos juntos que amar também dói

E que o remédio que cura

É a sonoridade que embala os corações,

Seguindo o rumo dos acordes

De uma música sem formas e sem som,

 Que abriu mão dos instrumentos.

 

Ainda vou precisar de um longo tempo

Para me dar conta de que

A palavra dita chega sempre depois,

Quando o encanto mergulha e se espraia

Por cada uma das minhas fibras.

Todas as partes do meu corpo que

Anseiam por teu sorriso,

Teu riso, teu jeito matreiro de ser...

terça-feira, 23 de abril de 2024

Meio urbano: uma paisagem desértica...

Quem acompanha meus comentários sobre a relação do cidadão com o meio urbano conhece as críticas que faço a respeito do descaso e inoperância dos serviços públicos (diga-se, aqui, em especial, a prefeitura municipal). Andando pelas ruas da cidade, veem-se tapa-buracos que se desmancham e quebra-molas que se dissolvem, por exemplo. Sabe também que as exceções são os espaços mais humanizados, que dão um respiro para a população, feitos por parte da iniciativa privada, nos bairros planejados.

Embora possa existir - mas não se conhece – é preciso um plano de revitalização, um olhar sobre o futuro da cidade. Muitas obras têm a marca de administradores de 20 anos atrás, início do mesmo grupo que se mantém até agora. Quando planejaram, buscaram investimentos que vem, sonolentamente, se concretizando. Passaram cinco mandatos e, nos últimos anos, tivemos políticos relativamente competentes em “fazer ação partidária”, sem serem administradores de visão que planejam os rumos do município.

Algumas áreas foram contempladas com núcleos residenciais junto a ruas que, no máximo, seriam auxiliares e acabaram transformadas em inter bairros. A incapacidade de projetar os rumos da malha urbana despejou populações, levando pessoas a residirem em áreas em que se desenvolve o comércio e os serviços, mas estagnou o atendimento público. Sem o alargamento de ruas, reforço nos sistemas de abastecimento e, o que não é um luxo, mas sim uma necessidade: espaços verdes de sanidade mental.

Um dos elementos desprezados tem sido o do meio-ambiente: em tempos em que o aquecimento global se torna uma realidade, está faltado o plantio de árvores de sombra. Alguns vão me acusar de atrasado. Por quê? Não teremos outras temporadas de verão calcinante, como se teve nos últimos anos? Eu, ao menos, não sei de nenhum programa de plantio de árvores em ruas, avenidas, parques e praças. A carência é tão grande que a população procura sofregamente espaços ao ar livre para o convívio e atividades físicas.

Planejamento é uma palavra repetida à exaustão e pouco praticada. Ao menos naquilo que ultrapassa a venda de uma suposta competência para chegar ao poder e usufruir dos seus benefícios. Algo que se vê com inveja em localidades do próprio estado, onde se mira a ampliação do espaço urbano com tudo o que já se falou e mais, criando bosques, por exemplo. Os problemas acontecem porque não se cuida e fiscaliza. Não basta atirar para o cidadão a responsabilidade pelas calçadas, sem uma política de cooperação.

Em muitas ruas, tem-se uma autêntica paisagem desértica... Humanizar o meio ambiente urbano pressupõe o convívio com elementos da natureza. Não apenas com aqueles que são ornamentais, de rápido atendimento para supostas necessidades estéticas, mas com pífios resultados para que o cidadão possa usufruir e beneficiar-se. Além da preservação de áreas naturais que possuem funcionalidade, como os banhados e sangas, a competência administrativa está em oferecer ao cidadão aquilo que dá gosto de viver como sendo um lar, sua comunidade, a cidade onde nasceu e optou por viver.

domingo, 21 de abril de 2024

Quando alçamos os nossos voos

Por onde anda o anjo que me guardou?

Foi um sonho, ilusão, uma miragem?

Ou apenas:

O etéreo instante de uma quimera,

A fugacidade de um momento,

Meus sentidos quando deliraram...

 

Perdi a noção do tempo e

A realidade se confundiu

Com os meus devaneios.

Não são necessárias formas.

Incorpóreo, intangível,

Põe em dúvida a minha ciência,

Com as carências da minha fé e Seus mistérios.

 

Murmura ao meu ouvido enquanto durmo;

Sinto-o num abraço, num riso, num afago;

No silêncio, brinca sussurrando meu nome.

 

Meu anjo da guarda talvez nem tenha asas.

Tem um sorriso belo e acolhedor

Que sempre seduziu e encantou.      

Quem sabe tenha apenas uma asa

E me provoca para ser acolhido:      

A única forma de alçarmos os nossos voos!

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Ainda preciso andarilhar...

Há um caminho desenhado nos corações.

Não o chame de destino.

É a bagagem das muitas andanças,

Que se acumula e orienta os rumos da vida.

Onde se estaciona as emoções,

Quando se começa

A ficar mais seletivo com as lembranças.

 

Um itinerário que se constrói com a imaginação,

Ao se deixa que as expectativas

Repousem carinhosamente no peito,

O lugar privilegiado

Para não se equivocar na direção.

 

Andarilhar é preciso...

No caminho,

Não se pode estar bem o tempo todo,

Sequer os momentos de tristeza

Apagam o direito de ser feliz.

Afinal, é o que norteia cada passo

Na superação das angústias e das procuras.

 

A existência empresta momentos em perspectiva.

Horizontes,

O lugar onde se colocam as possibilidades:

Ali, os sonhos são etéreos,

As ilusões tornam-se passageiras,

As crenças são ancoradas e

As fantasias minoram as dores da realidade.

 

Um céu estrelado é sempre a esperança

Do olhar para o futuro,

Como quem já encontrou a estrela-guia.

Mesmo na tormenta, ela está lá,

Aguardando por uma nesga de céu

Para confirmar a eterna cumplicidade

E a justa inspiração.

 

Tendo a música, da qual alguém se apropria,

Tratando memórias com o bálsamo do tempo,

Um amigo que seca todas as lágrimas,

Não permitindo que se frustrem as emoções.

Na paciência de quem acompanha o vento,

Sente o rumor das ondas

Sabendo que, mesmo em seu murmúrio,

Negam-se a desvelar seus rumos.

 

No entardecer,

Quando a brisa acalenta as ondas,

Testemunha-se a leveza de quem pode

Acarinhar a turbulência sem medo

De semicerrar os olhos e deixar que

Uma lágrima sele o destino

De quem ainda precisa andarilhar...

terça-feira, 16 de abril de 2024

O direito de ter o choro frouxo...

O que tem em comum uma aula de catequese dada pelo papa Francisco; a garota cega, acompanhada por um estádio inteiro quando se preparava para fazer uma cesta no basquete; o tenista que promete não se aposentar antes de enfrentar seu entrevistador e a caminhada para colher a erva da macela, nas pedreiras de Capão do Leão? Além das redes sociais, hoje, se acompanha em vídeos “shorts” (curtos, de pequena duração) muitas coisas “fofas” em música, dança, humor, relações familiares e de amizade.

Que Francisco tem sido uma agradável surpresa, isto não é novidade. Desde o primeiro momento, como pastor da Igreja Católica, deu sinais de que quebraria protocolos. O que não se esperava é que, aos 87 anos, ainda fosse capaz de, usando uma cadeira de rodas, dirigir-se a uma sala de catequese com mais de 200 crianças e incentivá-las a viver 2024 como o Ano de Oração. Uma atitude profundamente inspiradora. Mais do que foi escrito e discursado, o que Francisco deseja é que sua Igreja viva “em saída”.

Quem gosta de vídeos curtos, viu, recentemente, um estádio inteiro acompanhar, no mais absoluto silêncio, quando uma menina cega preparou-se para tentar uma cesta no basquete. Direcionada pela treinadora, que batia com uma vara na altura do ponto, permitindo orientar-se pela audição. Preparação, dedos cruzados, aflição no rosto, suor no canto dos olhos... E lá foi ela. A bola correu pela beirada do aro e caiu pela rede até o chão. O estádio veio abaixo na demonstração da garra humana e a beleza da inclusão.

Numa destas entrevistas das quais participam crianças, uma delas pediu ao ídolo do tênis que não se aposentasse sem enfrentá-lo. A promessa foi aceita e o tempo passou... Não para o sênior, que providenciou encontro surpresa com o agora rapaz que continuava buscando um espaço neste seleto mundo dos esportes. Foi recebido na quadra pelo profissional veterano, que contou para a assistência que tinha empenhado a palavra, sendo grato pelo carinho do fã, em especial em poder realizar seu sonho.

Lion Runners (os Leões Corredores) é o grupo que o escritor Jairo Costa mantém. Pelo WhatsApp, trocam informações, mensagens, mas, especialmente, preparam e avaliam as trilhas feitas no Cerro do Estado, para todas as idades e preparação física (não te cansa de esperar, ainda vou participar um dia...). Há pouco tempo, colheram o chá da macela, na Semana Santa. Destacaram o companheirismo, a colaboração, o cuidado com o meio ambiente e o incentivo para os principiantes e os que tem mais dificuldades.

Contem dez desgraças, que eu conto histórias em que o Mundo tem jeito... Infelizmente, ainda somos uma sociedade com resquícios do machismo, em que as sensibilidades são desprezadas. Emociona que um idoso deseje ser útil; uma torcida silencie e acarinhe; alguém espere para dar alegria a outrem; numa trilha, se aprenda a interdependência. Mesmo de longe, é bom sentir que faço parte de uma sociedade ainda capaz de ser bondosa, perseverante e não desistir da superação. Coloco uma toalhinha ao lado para certos casos, afinal, numa certa idade, já tenho todo o direito de ter o choro frouxo...

domingo, 14 de abril de 2024

O destino dos pingos da chuva

Num instante,

O ar se carrega do cheiro de terra molhada

E de grama recém-cortada.

Andando na chuva,

Aspira-se a fragrância que o ar úmido

Impregna, suavemente, em nossos corpos.

 

Esquecer que, há pouco tempo,

O abafamento tirava o gosto do instante,

Deixando o desânimo e o abatimento

Penetrarem por todos os poros.

 

Ainda agora,

A chuva caiu lentamente.

Enquanto escorria pelo telhado

E procurava o rumo da terra,

Formou uma cortina

Bordada por pingos e gotículas.

 

Brincou com o tempo,

Desafiou a mãe Natureza.

Zombou com nosso encantamento,

Quando a mão estendida cortou seu caminho,

Sem ser capaz de impedir o seu destino!

sexta-feira, 12 de abril de 2024

A colheita das muitas saudades

Não culpo o tempo.

Quando me dei conta, havia passado e,

Na sofreguidão de buscar pela vida,

Esvaíram-se muitos e doces momentos.

Ao envelhecer, perdi, aos poucos,

A sensibilidade do toque,

O olhar intenso e a proximidade

Daqueles que a vida deu como especiais.

 


Vasculhei lembranças para ainda

Ter presente o que era uma bênção

E muitas vezes parecia sem sentido:

A carícia da criança que explora

Com a curiosidade

Da ponta dos seus dedos;

O abraço silencioso e apertado

Da paixão ou do companheirismo,

Nos momentos de dor,

Assim como em instantes de alegria.

 

Dos beijos e dos corpos que se fundem,

Quando há o envolvimento de um olhar

Que diz quase tudo,

Ao antecipar a acolhida de um abraço.

As fragilidades que colocam barreiras

E perde-se para o medo

Que mantém afastados aqueles que se ama.

 

Dizem que nos tornamos “grandes” e

Não se pode continuar fazendo o

Que se fez em criança ou quando jovem.

A idade que leva a um leito hospitalar,

Uma cadeira de rodas, a casa de repouso,

Com o distanciamento que não se pediu

E, no entanto, se torna realidade...

 

Quem disse que deveria ter sido assim?

Não importa.

Perde-se ao não se vivenciar com os filhos

O simples fato de dar e receber carinho.

De outra forma, viramos idosos totens:

Respeitados, admirado de longe,

Mas que já não se deve tocar.

 

Não há volta no envelhecimento.

E aceitar não significa resignação.

Na escalada em que se vence o percurso,

À medida em que as forças diminuem

E o ar se torna rarefeito, enfim,

Se desvenda a compreensão do horizonte.

 

A chegada,

No silêncio e na paz,

Tem o sabor de que valeu a pena.

O instante das despedidas,

Em que se torna mais doce o tempo

De fazer a colheita das muitas saudades...

terça-feira, 9 de abril de 2024

Os aposentados e o cobertor curto

O mês de abril trouxe uma notícia que até pode ser boa para aposentados, pensionistas e outros beneficiários do sistema previdenciário: a antecipação do décimo terceiro salário em duas parcelas, sendo que a primeira será paga com os vencimentos de abril (final do mês e início de maio) e a segunda com o benefício de maio (também ao cabo daquele mês e início de junho). A justificativa ainda é a mesma: reforçar o caixa, especialmente das famílias com mais necessidades, desde o auge da pandemia e seus transtornos.

Cada vez mais seguido, ouço que escolas estão incluindo nos seus conteúdos a questão do planejamento financeiro pessoal e familiar. Ótimo, que bom que se aprenda desde criança a gerenciar as parcas moedas que, muitas vezes, vão para um cofrinho com o intuito de alguma compra futura. O problema, na maior parte dos grupos de convívio, não está em “aprender” a lidar com a situação, mas em ter o quê economizar. Deveria ajudar uma criança a entender os mecanismos de compra e de poupança. Mas como?

O salário mínimo não atende a todas as necessidades, corroído por uma inflação inclemente que aparece no mercado, na feira, na farmácia, mas se “esconde” quando se fazem os levantamentos, especialmente dos governos. Recentemente, as donas de casa tiveram que colocar seus orçamentos em regime. Eliminaram produtos da cesta básica, pela alta dos preços, enquanto as autoridades navegavam por seus números encantados, em mares de rosa. A realidade continua sendo mais malévola do que a ficção...

Receber agora o décimo terceiro é a teoria do cobertura curto. Entrando na conta, deixa a tentação de se gastar - o que não precisa ser esbanjar - o pagamento de dívidas bancárias e contas comerciais, por exemplo. Somente que, em dezembro, aparecem gastos extras com IPTU, IPVA, taxas e material escolar do próximo ano... O que parece um benefício se transforma numa baita dor de cabeça quando não é possível fazer uma reserva financeira. Atendidos os ditames políticos, volta-se a correr atrás dos prejuízos.

Existem arapucas caçando incautos no meio do caminho. Uma delas é o “empréstimo consignado” para aposentados. Um imprevisto faz com que estes anúncios soem como música: crédito com juros menores, que cai diretamente na conta do freguês, e também dali é descontado, chova ou faça sol. O brasileiro faz as contas prevendo que seja uma parcela pequena, que cabe nos seus vencimentos, e vai dando um jeitinho. Esquece que isto é um extra, além de comer, vestir, morar, cuidar da saúde, educação, etc., etc., etc.

Negar este pagamento já repetido pode ter reação negativa em ano eleitoral, com o governo em baixa nas pesquisas. Enquanto se vê os poderes judiciário e legislativo acumularem ganhos de supostos benefícios não pagos, pouco ou nada se fala do que se cogitou como um décimo quarto salário para, aí, sim, reforçar os ganhos dos mais idosos. O Brasil não é um país pobre (que bom!), porém, infelizmente, grande parte dos brasileiros o é, o que não deixa de ser muito triste, especialmente quando se fala em aposentados que, ainda hoje, em muitos casos, são os verdadeiros arrimos de família...

domingo, 7 de abril de 2024

A trilha, o rumo e os recomeços

No primeiro frio da manhã,

Os raios do Sol acariciam o espelho d'água.

Emerge a névoa transformada em manto e,

Nas bordas, cantam os primeiros pássaros...

 

A placidez da imagem se desenha na retina.

Semicerrar os olhos com a claridade que surge,

Vencer a noite e o silêncio,

Recuperando o gosto do dia que alvorece.

 

No encantamento de todas as promessas,

Ao aconchegar-se no próprio abraço,

Deixa-se de lado, cansaços e incertezas.

Na trilha, é preciso não perder o rumo.

Quando a bruma, finalmente, levanta,

Se descortina o caminho,

Com todos os seus recomeços...

sexta-feira, 5 de abril de 2024

No encanto em que voam as borboletas

Quedei-me em silêncio

Quando doeu mais forte a tua ausência.

Machucava saber que não te veria mais.

Não importava

Em que fase da tua vida nos encontramos

Ou o momento em que estiveste ao meu lado.

As lembranças se acumulam

Com o sentimento de que

Se transformam num eterno consolo...

 

Dolorosamente lindo

Poder ainda encontrar nos olhos de quem parte

O instante em que desvela o rumo do Infinito.

Quando teus lábios

Depreenderam o derradeiro sorriso,

Que já não tinhas na velhice,

E senti que tuas mãos não perdiam as forças,

Faziam o derradeiro repouso,

Porque já não precisavam das minhas...

 

No adeus, se respingam palavras,

Enquanto as lágrimas destilam emoções.

Só então se entende a razão pela qual

As estações preparam

O caminho da mãe Natureza.

 

Ensimesmado, embriagado pelo silêncio,

Descortina-se

O encanto em que voam as borboletas,

Fazendo a migração das almas,

Ao se liberarem da condição humana

E retornarem ao pouso por sobre as flores.

 

No bailar do ato de quem crê,

A dança dos sentimentos faz a coreografia

Em que cada movimento

Carrega a nota solitária

Que faz toda uma música!

 

Não há silêncio na Eternidade.

O som que atrai e inebria tem

A sonoridade das vozes que se amou.

Mais do que tocar cada parte de um corpo

Alcançam e acariciam a alma.

Borboletear

É reencontrar a alvura de um espírito,

Por sobre todos

Os lugares em que almas geminaram...

 

O tempo da espera, em que se retardam sonhos,

Quando o horizonte torna realidade

A delicadeza do pequeno ser

Que, num suave voo,

Depois de beijar cada flor pelo caminho,

Pousa e repousa

Na palma da mão de quem Lhe alcançou a Eternidade...  

terça-feira, 2 de abril de 2024

A causa e a razão de se fazer política

Passados os eventos do início do ano (Carnaval e Páscoa), está na hora de se recomeçar as rotinas de trabalho. Especialmente, num ano eleitoral em que se escolhe quem vai administrar os destinos dos municípios: prefeitos e vereadores. São os guardiões e os cuidadores da população, já que mantém os serviços básicos, fiscalizam e determinam as legislações que norteiam a vida das comunidades. E quem são aqueles e aquelas que deveriam merecer uma atenção especial por parte de nossas autoridades constituídas?


Candidatos precisam focar na palavra “cuidar”, especialmente imergindo no difícil mundo de quem se encontra marginalizado, desassistido, como desempregados ou subempregados, idosos, doentes, deficientes físicos e mental. Ora, ouvem-se muitos discursos de quem enche a boca (e também prostituí) com a palavra solidariedade. Se fizessem um exame de consciência veriam que, para além dos discursos fáceis e pré-programados, as palavras não têm lastro, significado concreto para o outro.

São políticos (e poderia se dizer, em muitos casos, também religiosos) que abdicaram de princípios (alguns, infelizmente, nunca os tiveram). Profissionais que construíram ideologias em cima de teorias que nunca serviram ao povo. Infelizmente, o mau exemplo dos gestores fez com que a população voltasse as costas para a participação democrática. Sabe que a máquina pública é mantida às custas do seu sangue e suor, mas não acredita que ela encontre respostas para os seus problemas. Então, improvisa...

O caso de organizações que providenciam alimentos e atendimento, suporte para idosos, deficientes físicos e mental, mendigando o direito de fazer o que a própria Constituição prevê como sendo responsabilidade do Estado. Esmolam migalhas para sobreviver e atender quem, de outra forma, cai na vala dos desassistidos e marginalizados. Em todos estes casos, o discurso dos “engravatados” não rima com gestos concretos, a não ser aqueles que repercutem na mídia e nos aparelhamentos de seus “currais” eleitorais.

A sobrevivência política faz com que se entregue os anéis para não se perder os dedos. Assim, em todos os níveis, encontram-se grupos que buscam se perpetuar (com pequenas variações). Já foi dito que “o distanciamento entre os governantes e os governados é a negação da democracia”. Mais do que o distanciamento, a indiferença e a apatia tornam-se elementos perigosos na convivência republicana. Raposas interessadas em cuidar do galinheiro sempre existiram. E fazem discursos sedutores!

Pregam mostrando que, na prática, a teoria é outra... Não aprenderam que solidariedade não pode ser uma atitude acadêmica que se aprende por elucubrações mentais. Pelas esquinas, vielas e grotões dos municípios aparecem aqueles que se acomodam aos chamados “benefícios sociais”, porque é a forma que encontram de sobreviver. Este é o “povo” (palavra também já bem judiada) que deveria ser causa e razão de se fazer política: o lugar onde o cidadão vive e é tratado com todo o respeito que merece.

domingo, 31 de março de 2024

Despertares: o desafio da esperança

O primeiro raio de Sol é mágico no dia

Que se segue ao silêncio da morte.

Desenha o colorido da vida por sobre

O despertar de forças

Em que se empenha cada ser humano.

 

Domingo de fé,

Em que crer dá sentido à ressurreição.

Emergem momentos

Em que se aspira vencer

Os limites de todas as possibilidades.

 


Os despertares em que o reinício

Fica impregnado do gosto de superação.

 

Muito tempo não é o mesmo que Eternidade.

Ressurgir-se no eterno desejo de

Fazer do encontro possível

Um degrau da própria fé.

 

A via dolorosa é o desafio da esperança.

Ao mergulhar nas trevas,

Intensifica-se o desejo de que,

No final, ainda exista a Luz:

 

Um Cristianismo que não despreza o caminho,

Nem perde os sinais de que

O Infinito não desiste de alimentar sonhos e utopias!

 

Feliz e abençoada Ressurreição!

sexta-feira, 29 de março de 2024

O Santuário onde mora o teu coração

Não vais encontrar paredes.

Com certeza, não haverá um teto.

Dificilmente

Algum móvel estará no seu interior.

Mesmo assim,

Cintilará com

O cheiro dos raios do Sol ao amanhecer

E a abóboda terá o recheio de risos

Que ecoam pelos vales e colinas.

 


Um santuário...

Não precisas percorrer estradas;

Procurar lugar

Em meio aos parreirais

Que revestem a encosta da montanha;

Aguardar que teu coração bata

No ritmo do repicar dos sinos...

 

A música que se desapega da nave

Prescinde dos instrumentos

E se associa à brisa do fim de tarde,

Quando as últimas cores

Dão forma a um ateliê

Onde se desenham

As lembranças e se esculpem as saudades.

 

O condão que desperta a magia

Pulsa no átrio onde se

Abandonam ansiedades e dores.

Não são as palavras que manifestam

As mais puras súplicas.

Elas se derramam pelos olhos

E tornam bentas as mãos

Que se juntam em prece!

 

A fé se alimenta da esperança

Ou a esperança se alimenta da fé?

Isto já não importa.

Dobra os joelhos,

Fecha os olhos,

Posta as tuas mãos...

 

Ali, quando

Pensaste que tua essência se perdia,

É o lugar em que, finalmente,

Encontras abrigo para o teu espírito.

O oásis em que vislumbras a paz,

O santuário onde mora o teu coração.

 

Relicário do teu silêncio,

Em que te revelas ao Mistério

E Ele acolhe a tua finitude.

 

O sacrário onde

A alma dispensa explicações,

Deixa-se imergir na transcendência,

E no simples fato de apenas viver da fé...

terça-feira, 26 de março de 2024

A Inteligência Artificial, a raposa e as uvas...

Em 1970, completava 15 anos. É desta época as minhas mais remotas lembranças de preocupação com novas tecnologias. Acessávamos televisão com um número reduzido de canais, rádio em AM (amplitude modulada), algum jornal e revista de vez enquanto, e o cinema. Raramente, apareciam circos e teatros populares. Naquele ano, aconteceu a Copa do Mundo de Futebol e ganhei o primeiro radinho de pilhas, com fones, embora se preferisse andar com ele colado ao ouvido, especialmente nas partidas de futebol.


Olhava-se para o futuro sem muita expectativa. Parecia difícil se ultrapassar os anos 2000. Faltavam 30 anos... eram muitas águas passando! Pois elas vieram e se foram. Neste meio tempo, concretizou-se a maior revolução que a comunicação já teve. Os meios convencionais se expandiram, somando-se à informática, internet, robótica, holografia e, finalmente, a Inteligência Artificial. Talvez se tenha dificuldade em dizer o que vai acontecer, mas é preciso reconhecer que fomos, literalmente, atropelados.

Meu gosto por produção de texto levou a sonhar com o computador e as alternativas que oferecia à máquina de escrever. Graças a isto, cheguei a professor em Comunicação Social na UCPel. Novidades se empilhavam. Mais importante do que estar atualizado, foi ajudar alunos a terem noção crítica do que era necessário para desempenhar suas atividades. O encantamento precisava dar lugar ao profissionalismo. Discernindo o meio como instrumento potencializador da sua proximidade com o público leitor.

Aposentado, passei a compartilhar textos por jornais e redes sociais. Infelizmente, depois de um tempo, o próprio leitor se acostuma em receber periodicamente as produções e deixa de comentar. O que é pena, pois quem escreve necessita de um retorno como forma não somente de “acariciar seu ego”, mas de avaliação da qualidade, clareza e compreensão do que produz. O período da pandemia foi o ponto alto do feedback dado pelos leitores que, estando em casa, tinham mais tempo para interagir.

Quando o Google fez seus primeiros experimentos, passei a utilizar o “Bard” e, depois, veio o “Gemini”. Aprontava um texto e já submetia à Inteligência Artificial que faz uma dissecagem, análise do conjunto, com sugestões de interpretação e da forma como pode ser utilizado pelo leitor. É tudo o que se deseja de um amigo “vítima” dos nossos textos quando se quer outra opinião, de quem se debruça sobre o que se produziu e se tem a expectativa do que pode acontecer ao ser publicado, depois de deixar nossas mãos...

Meu caso com a Inteligência Artificial é recente. Reconheço as críticas, mas exploro as potencialidades. Assim como o emaranhado mundo dos computadores, não sei o que se passa na teia de neurônios de cada leitor. Não custa repetir: a Inteligência Artificial é mais um dos meios colocados à disposição das pessoas para que se possa viver melhor. Ao longo da história, os detratores das novas tecnologias parecem como a raposa de Esopo, andando por debaixo da parreira, sem conseguir alcançar as uvas, que estão lá, viçosas e cheirosas. Simplesmente resmunga: “não as quero, elas estão verdes!”

sexta-feira, 22 de março de 2024

A ousadia de se perder na aventura

A lua deixa rastros

Com marcas na ondulação das águas.

Tempo de espera.

As redes estão postas.

O pescador abre o baú das memórias do mar,

Que conhece aqueles que tomam seu

Pulsar como bússola norteando destinos...

 

As lembranças se enfileiram

No breu da noite, onde se turva

O encontro entre o céu e o oceano.

Mergulhas

E, na volta à superfície,

Há um leque de luz

Em que a Lua dá contornos

Ao silêncio que murmura a melodia das marés.

 

As estrelas observam,

Com ciúmes das sereias

Que brincam ao teu redor.

Se ouvires o seu canto,

Não protege os ouvidos.

Deixa-te levar pelo encantamento.

Quando atraem um homem do mar

Sinalizam um farol

Que não ilumina o fim do caminho,

Mas o norte para o aventureiro.

 

No momento em que não houver sequer

Um ponto de luz no horizonte,

Saberás que ali começa um outro mundo,

Na imensidão em que ficaram traços do Infinito.

É o lugar onde,

Quando alguém se despede,

Fica a certeza de que,

Um dia, haverás de reencontrá-la.

 

Como uma oferenda que se entrega ao mar.

Ao terminar a terra dos homens,

Inicia o teu lugar do aconchego.

O porto que referencia chegadas e partidas.

 

Tão logo teu barco quebre

As primeiras ondas em direção ao desconhecido,

Superam a rebentação e

Te aspergem com as bênçãos das marés.

Terás as gaivotas por companhia,

Parceiras na busca pelo alimento

Do corpo e sentido da vida.

 

O olhar absorto ao longe

Chama para

Emergir dos teus sonhos.

Não te importa.

As lágrimas que mareiam teus olhos

Têm o gosto do destino.

A ousadia de quem se perde na aventura e,

No mar, traça o rascunho da própria vida!

terça-feira, 19 de março de 2024

A palavra prostituída

Aqueles que ainda não se cansaram da guerra entre Israel e o Hamas (quem ainda presta atenção à disputa entre a Rússia e a Ucrânia?) atenta para lances que parecem contraditórios, beirando o deboche. É o caso da chamada “solidariedade” internacional em que o primeiro mundo define estratégias para lançar alimentos aos já combalidos e desesperançados palestinos, sem reconhecer que é de seus países de onde vêm as indústrias armamentistas que, no caso, angariam riquezas às custas da desgraça alheia.


Nos bancos escolares, trabalhava com os alunos algumas “palavras prostituídas”. Pode parecer forte, mas é a verdade. Muitas delas foram despojadas do sentido original e passaram a significar coisas completamente diferentes. No caso, “solidariedade” é ato de cuidar de alguém (ou de um povo). No xadrez dos interesses geopolíticos é estratégia de vender a imagem de que se preocupam, sabendo que, em muitos casos, o programado não se tornará realidade, o que não importa, já que ganhou a grande mídia...

Tão triste quanto “avacalhar” o sentido de solidariedade é o que fizeram com a palavra “amor”. Não importa a definição que se dê (e sequer sei se a definição é tão importante assim), é o sentimento de interação entre dois espíritos que passam a necessitar da presença um do outro. Formando casais, amizades, relações familiares... Não importa. O que não pode é ser banalizado para apenas “fazer amor”, como se o ato sexual sugasse toda a energia e monopolizasse o sentido. Também pode ser ato de amor, mas não só...

O papa Francisco tem alertado para a prostituição da palavra “democracia”, sobre a qual falei, aqui, no texto “é possível a amizade social de Francisco?” Transcrevia: “qual significado tem hoje palavras como democracia, liberdade, justiça, unidade? Foram manipuladas e desfiguradas para utilizá-las como instrumento de domínio, como títulos vazios de conteúdo”. A “democracia” tem sido “boa” para grupos que ambicionam o poder pelo poder e que lutam com unhas e dentes para manter seus privilégios.

Trabalhei durante algum tempo com uma das mais belas áreas do processo de comunicação com interação nas áreas da economia e da administração: o “marketing”. Usava como conceito básico ser “a arte do convencimento”. Defendia que apenas “marqueteiros” (e não profissionais do marketing) poderiam pensar que é a forma de ludibriar incautos, fazendo proselitismo e que o consumidor, seja de produtos ou ideias, tem que ser “convencido” (cabresteado) de que precisa do que se está oferecendo.

Faço um breve resumo, especialmente porque, tenho certeza, o leitor vai flagrar vocabulários que se encontram na mesma situação. A palavra tem sentido, peso e sabor. Aprender a usá-la bem é uma arte, um prazer e uma responsabilidade. Comunicação sem sabor e prazer é comunicação sem graça, sem tempero... Precisam ser acarinhadas e tratadas com respeito. Ao mesmo tempo, da forma sorrateira como é apresentada é para a população uma armadilha de cobras da qual, infelizmente, não há muito como escapar.

domingo, 17 de março de 2024

Amanheceres...

 

Inspiração” é meu novo projeto no mês de março, quando completo dois anos de “Sexta com gosto de poesia”. A forma de te enviar um carinho nas manhãs de domingo. Recebe o meu abraço!


sexta-feira, 15 de março de 2024

O medo de cansar na espera...

Esperar.

Difícil compreender

Quando o andar da vida é marcado

Por tempos que, muitas vezes,

Não nos alcançam o sentido.

 


Esperar.

O que se aprende quando, enfim,

Se vislumbra a possibilidade de

Entender uma nesga da existência.

Espelhos pelos quais

Se passa e o tempo mostra

A inquietude da idade e,

Por fim, a placidez dos anos adormecidos...

 

Segue-se o caudal das vivências,

Onde cada reencontro

Sinaliza um até logo.

Então,

É preciso vencer o medo de dizer adeus.

Encontrar

A certeza de que

Toda a despedida está grávida de

Um novo reencontro.

  

Comecei a entender

Quando um olhar silenciou minha voz

E apaziguou meu espírito...

Foi quando sorriste

Que desamarrotei meu riso;

No abraço,

Perdi-me no aconchego do teu peito;

Ao afagar a imaginação,

Partilhando o que sonhaste,

Reacendeu-se o meu próprio sonho!

 

Esperar e aprender,

Quando foge a compreensão

E, mesmo então,

Sempre tiveste paciência

De aguardar pelo meu momento.

Amadureci quando,

Experimentando o arrependimento,

Ao invés de me demorar mais um pouco,

Corri até onde imaginei que estarias...

 

Olhando ao longe, os grandes sonhos,

Se perde o gosto por aquilo que está próximo:

O devaneio

Que vaga na lembrança de uma noite.

Acordar, olhos ainda fechados,

Com o sentimento

De que a distância dói tanto

Que não se cura,

Apenas ameniza com

A aragem do que é expectativa.

 

Me ensina a não cansar na espera...

E não desistir do que pudemos

Construir como nossos sonhos!

terça-feira, 12 de março de 2024

Um livro no meio do caminho...

O Coletivo Autores de Pelotas (CAP) realizou no início do mês de março o projeto “Esqueça um livro”, com um convite: “vamos espalhar literatura pela cidade?” Na manhã de um sábado, autores e interessados se reuniram em frente ao sebo Icária (em Pelotas, nos fundos do Mercado Público), onde fizeram registros e, depois, cada um saiu em busca de um lugar onde pudesse “esquecer um livro”, para acarinhar potenciais leitores. Também havia o pedido de que se levasse uma ou mais obras para doação.

Uma forma delicadeza de colocar um livro no meio do caminho... Ideia que segue a tendência de grupos literários pelo Brasil que se esforçam para incentivar este gosto na população, especialmente entre os mais jovens. É triste constatar que ainda somos um país onde a leitura é bem reduzida. Livrarias e sebos lutam com dificuldades para sobreviver. O mesmo se diz dos escritores, que são os retratistas da alma de um povo e, mesmo assim, não conseguem espaço para concretizarem o acesso a este bem cultural.


O livro pode ser “perigoso” porque contribui para estimular o senso crítico do seu leitor. Quando se fala assim se tem a impressão que é a respeito apenas de política, mas não: toda a área do conhecimento onde se pensam profissionais que não sejam apenas técnicos (“fazedores”), mas conhecedores das realidades sociais, seus problemas, contextualização e que procurem fazer parte das soluções. Publicações em forma de livro, no Brasil, ainda são caras na correspondência com o salário mínimo, por exemplo.

Num valor em que não cabe sequer o atendimento das necessidades básicas, não há mágica. É sonho desejar que atendam também aos bens culturais ou de entretenimento. Pior ainda é que não se tem uma cultura da leitura. Além da realidade financeira, privilegiam-se instrumentos que se tornaram “babás eletrônicas”. Até em função de que este é costume que necessita ser “aprendido”, passado de geração em geração, investir tempo em acompanhar, dispor-se a esclarecimentos, discussões e leitura em conjunto.

Mais fácil, infelizmente, é entregar um “joystick” ou um controle remoto e ter um filho anestesiado pelos meios eletrônicos durante algumas horas... Tentativas de popularizar a leitura até alcançaram alguns segmentos, especialmente o juvenil, como as sagas do Harry Potter, Senhor dos Anéis e Percy Jackson, por exemplo. Personagens que ganharam o gosto popular e que migraram das páginas dos livros para as telas e telinhas. Torna-se um mundo encantado pela magia das palavras e das ilustrações.

A ideia do Coletivo de Autores não é boa, é ótima! Encontrar um livro no meio do caminho: num banco de praça, na mureta de um chafariz, na beira da vitrine da loja, receber das mãos de alguém, se transforma numa agradável surpresa. Andar de mão em mão é melhor do que ser esquecido e juntar poeira numa estande. Como antigamente se fazia com os gibis, que eram motivo de troca, aproximando quem compra de quem quer sentir o cheiro e a sensação de folhear páginas e imergir numa boa história, numa aventura, num romance, no instante único de cumplicidade entre o autor e o seu leitor!

sexta-feira, 8 de março de 2024

Avisa, quando puderes voltar para casa...

A espera é sentimento

Com a sensação de que,

Não importa o que aconteça,

Se anseia pela volta.

Quem aguarda

É alcançado pela magia que voa

Pela brisa da saudade.

 

Depois da partida,

Torna-se um tempo de mirar as lembranças:

Coloquei teus chinelos na soleira da porta.

Sentei no degrau da varanda,

Espiei o portão enquanto espero.

 

Dormitei

Encostado ao balanço,

Onde tantas vezes sentamos,

Na certeza de que

O rangido das dobradiças será

A música que anuncia a tua volta...

 

Talvez, antes de abri-lo,

Olhes o entorno, em busca dos

Ruídos e personagens conhecidos:

O alarido das crianças

Na piscina do vizinho,

O ladrar do cãozinho

Próximo da cerca,

A discussão da moradora da frente com os filhos.

Ecos de um passado que te diziam:

Chegaste em casa!

 

Ao retornar,

Restarão silêncios e lembranças:

Da vizinha bisbilhoteira

Que espiava por sobre o muro,

Do vendedor que batia palmas ainda na calçada,

Do entregador de cartas que já não vem mais... 

 

Ao afastar a cortina da varanda

Alongo o olhar e enxergo

A esquina por onde te via voltando.

Mãos nos bolsos, mochila nas costas

E o ar de quem queria apenas sossego.

Caminhavas devagar, sorvendo os últimos raios

De um sol que teimava em se esconder

Em meio às árvores da pracinha.

 

Restam poucas pedras no caminho

Entre o portão e a varanda.

Os verdes e as flores já não existem mais.

Terás dificuldades em abrir a porta...

 

Foi o tempo.

Passou como uma lufada que carrega

Sentimentos e destinos.

No eterno bem-querer das lembranças,

Aguardo. Sinto tua falta.

Só te peço:

Avisa, quando puderes voltar para casa!