segunda-feira, 28 de março de 2016

O olhar de Francisco

O papa Francisco pediu a crianças do Mundo que lhe enviassem perguntas. Algumas foram selecionadas e, juntamente com as respostas, fazem parte do livro "Caro Papa Francisco", onde os assuntos não são apenas religiosos, mas fazem parte do universo das famílias e mostrou o lado pedagógico deste que é um dos maiores formadores de opinião da atualidade.
Os sites já haviam noticiado o que foi matéria de televisão no último final de semana. Encantados, vamos passando pelas dúvidas de crianças na faixa dos 10 anos, que desejam saber porque os pais discutem por problemas de negócios, o que o papa faria se fizesse um milagre, ou se as pessoas más também têm anjos da guarda.
Se as perguntas já vinham carregadas de encantamento, as respostas deslumbram: pedir para os pais não irem dormir sem antes terem feito as pazes; "curaria as crianças. Nunca consegui perceber por que sofrem as crianças. É um mistério para mim"; que pedissem para seus próprios anjos falar com o anjo das pessoas más para que os convencessem a mudar!
Para os analistas de plantão, com certeza, esta é apenas uma jogada de marketing necessária para alimentar a presença do papa na mídia e recuperar o espírito religioso numa sociedade que está se afastando dos templos. É possível. Mas se vê, no homem Francisco, a disposição de fazer algo básico para todos os religiosos: ser pastor, cuidar de seu rebanho, cuidar de gente.
Uma charge recente mostrava um grupo de integrantes da alta hierarquia católica dentro de uma destas canoas de competição, todos com megafone em mãos. O papa chega e traz nas mãos um monte de remos, dizendo: "tá na hora de começar a trabalhar"! Simples, mas condizente com o homem que pode estar na mídia, porque a mídia também tem a ganhar quando lhe dá espaço. Mas o olhar, a o olhar! Este não mente e mostra um homem encantado em poder ser pastor... inclusive das crianças!
Nada a ver, mas uma propaganda de alimentos prontos que está no ar mostra um pai aquecendo alimentos como se fosse garçom num restaurante, perguntando a cada um o que queria do cardápio. Por fim, pergunta como pretendem pagar. O menor olha com todo o carinho e pergunta: "pode ser com beijinhos?"
A impressão que se tem é que são estes pequenos pagamentos que fazem a felicidade de Francisco. Depois que um outro homem simples andou pela Galileia e disse para deixar "vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino dos céus", o papa segue seus passos, descomplica questões da Igreja, alimenta uma nova esperança nas relações sociais e tem no olhar a compaixão necessária para se tornar o pastor do qual o Mundo está tão carente.

domingo, 20 de março de 2016

Pedro: o Mundo era sua estrada

A Semana Santa tem uma série de personagens que merecem atenção quando se acompanha a jornada marcante que vai da chegada de Jesus a Jerusalém - Domingo de Ramos - passando por um tempo de tristeza e consternação vividos na noite de quinta e ao longo de toda a sexta-feira, com a prisão e morte; e a alegria de Seus seguidores ao se confirmar a profecia: no Domingo de Páscoa, Jesus ressuscitou!
O Ano Litúrgico da Igreja Católica tem no Evangelho de Lucas a preocupação em iluminar a História e suas reflexões. Escrito cerca de 30 anos depois da morte de Jesus, Lucas conversou longamente com São Pedro até completar o quadro dos sentimentos, reações e tristezas por aqueles últimos momentos. Pedro, fiel a Jesus, em muitos momentos, teve arroubos emocionados, o que não impedia que precisasse ser chamado de volta à realidade. Pois foi exatamente ele que traiu o Mestre: a frase "não conheço este homem" foi repetida três vezes em uma longa noite de vigília.
O homem tosco da beira do Mar da Galiléia já mostrava a sensibilidade para ser quem dirigiria o Cristianismo nascente. Mas haviam dores e marcas que o tempo e as suas novas vivências não conseguiriam apagar: em especial, o fato de ter negado Jesus, o galo cantar e, voltando-se, encontrar o olhar daquele que o convencera da nova missão com uma frase simples: "vinde a mim e Eu vos farei pescadores de homens!"
Passados os eventos em Jerusalém, restava um grupo desnorteado. Era preciso fazer alguma coisa. Pedro é prático: "vou pescar". Precisava do silêncio das águas e da largueza de seus horizontes. Enquanto a lide com o barco, as redes, organizar seus homens, recolher o pescado ocupavam seu tempo, seu pensamento fazia o percurso de três anos intensos. Não havia mais como ser o mesmo.
No final da tarde, sentado nas areias que conhecia tão bem, pensou em voltar para a vida simples entre a pesca, amigos e família. Mas a lembrança do Galileu o incomodava: depois do primeiro contato, todo o seu mundo se transformara. Crescera com a certeza de que Javé era Deus e era um deus terrível! Mas Jesus mostrou que não era bem assim, até o chamava de "Paizinho". Repetiu a palavra: "Paizinho", soava tão bem, era mais agradável do que tratar com um deus vingativo! Um ciclone chamado Jesus passara em sua vida e nada mais seria como antes.
Ainda não se falava em Cristianismo (chamavam de Seita do Caminho), tendo Pedro como pastor e Paulo como grande estrategista. Mas já se sabia que Pedro aprendera as lições básicas: não era apenas reunir aqueles que se dispersaram. O norte, agora, estava na missão: "ide e fazei discípulos de todas as nações". Não havia mais o que pensar. O Mundo era a sua estrada. E era longa! A Eternidade seria a sua recompensa.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Crise: oportunidade ou espetáculo?

Um comentarista de plantão foi pontual em afirmar: o grande problema, na política, hoje, é que não temos políticos de referência. Imediatamente, meu pensamento retornou a diversos nomes da história do Brasil de homens de ponta que tinham o que se chamava de "moral ilibada", construíram suas vidas e suas carreiras a partir de valores éticos e morais, que vinham antes de suas opções partidárias.
Mas não é tão simples assim. Do que acompanhamos em todas as denúncias e investigações na Justiça, à esquerda, ao centro e à direita, o que vemos são homens e mulheres que se deixaram envolver pelo emaranhado de uma força maior: a economia! Por detrás daqueles que utilizaram mal os recursos públicos existem grupos econômicos que beneficiam políticos, mas saem com polpudos resultados.
No tabuleiro das relações internacionais, um lance chamou a atenção: depois da condução coercitiva do ex-presidente Lula, o dólar baixou e as bolsas subiram. Não entendo de economia, mas veio a explicação: enquanto há um grupo que não se preocupa em navegar por águas turvas da corrupção, um outro procura ver que as instituições, especialmente o Judiciário, funcione. A clareza das leis e a sua aplicação seria garantia para seus investimentos.
Não existem economistas bonzinhos, que se preocupem com o bem social. Antes querem ver onde vão ganhar mais, com o retorno de seus investimentos. O que parece uma grande confusão onde investigações, prisões, exposição de figuras públicas e das caveiras que estavam em nossos armários é visto como um sinal de que os armários estão sendo limpos e há uma esperança de novos caminhos e novas perspectivas.
As crises são oportunidades para a renovação. Embora não haja no horizonte um político com envergadura para tomar a si um processo de unificação nacional, temos que encontrá-lo. Infelizmente, não está na relação dos que estão hoje na mídia. Praticamente todos têm dívidas com a Justiça ou são oportunistas e, se tivessem oportunidade, fariam o mesmo.
Esquerda e direita sofrem a síndrome da vitimização. Dificilmente aceitariam fazer um acerto nacional. Mais difícil, ainda, quando se sabe que este acordo precisa passar por uma reformatação da cultura nacional, que há gerações fez um acordo implícito por corroer princípios éticos quando se aceita atestados falsificados, passa a mão sobre falcatruas dos filhos, esquece de praticar as relações mais básicas do social... A crise pode ser uma oportunidade. Mas pode ser apenas mais um capítulo da mídia que aumenta a fome pela espetacularização, servida todas as noites em nossos telejornais.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Herança dos deuses

Quando os deuses espalharam a chama do saber, destilaram uma fagulha privilegiada para a poesia. E lançaram uma maldição: os mortais não poderiam vulgarizar este dom. O homem teria que merecer para ter acesso ao mundo que transcende a linguagem, onde significado e símbolo se confundem.
Mas em sua curiosidade infinita, o homem esqueceu da maldição e lançou-se, desenfreadamente, a tentar captar o seu significado. Deixou-se tentar pela sonoridade das palavras, pela cadência que se estabelece quando, lendo um poema, apreendemos um universo que pode ser distinto do criado pelo autor. E julgou poder transformar tudo o que pensava em poesia.
Esqueceu que este é o momento em que o homem remexe nas sombras lançadas sobre as paredes das cavernas e, mesmo não chegando à luz que lhe dá sentido, alcança a imagem e consegue, timidamente, se apropriar de seu significado. Perigosamente, próximo ao sentido. Consequentemente, próximo aos deuses.
A cada poema escrito, a cada imagem transposta, há um sentimento de frustração a ser assimilado, partilhado com o homem primitivo que, na noite, contempla as estrelas e tem medo do desconhecido, de uivos, gemidos, sombras que não se concretizam.
Para o homem, nas palavras, se revelam imagens que emergem quando se constrói um verso, socializam um sentimento que, a ser guardado, perde a razão de ser.
Esta é uma parte da maldição. Nunca poderemos estar plenamente realizados ao dar forma ao que é pura expectativa. Por mais que o autor exprima o que sente, sempre haverá algo a ser dito, deixando um quê de finitude - os deuses que se deleitam em nossa carência, brincando com nossos arroubos de estender as mãos, querendo chegar ao Olimpo.
Ao acordar, a mão ainda permanece estendida e, quase sempre, uma lágrima nos reconduz à mera condição de mortais.

quinta-feira, 10 de março de 2016

O Aprendizado - Um dia você aprende

De William Shakespeare

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes, não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem da vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa - por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a ultima vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências.
Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute quando você cai, é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!

quarta-feira, 9 de março de 2016

Aprender - um privilégio para todas as idades

Um dos privilégios que tive em minha vida de educador foi atuar como motivador junto a grupos da "terceira idade". Fui estudando, ouvindo profissionais, mas, meu real aprendizado, se deu na observação da vida daqueles que não se deixam apenas envelhecer, mas que, vendo seus membros perderem a graça e a leveza da juventude, sabem que, moderadamente, ainda podem fazer praticamente as mesmas coisas.
Este ano, então, quando pensei em me aposentar, me coloquei diante de novos desafios: assumir um programa de rádio satisfaz meu desejo de dar voz àquilo que as pessoas gostam de ouvir. Conto histórias, deixo mensagens, passo informações, além de brincar com meus ouvintes. No Seminário Arquidiocesano, o desafio gostoso de estar com rapazes que desejam clarear seu discernimento vocacional e tem um mundo de perguntas para serem feitas, mesmo que seja apenas para gerarem novas perguntas.
Foi no Centro de Extensão em Atenção à Terceira idade da UCPel que aprendi ao longo deste ano, semanalmente, lições imprescindíveis. Nossos encontros - Oficina de Espiritualidade - serviram para que eu e a Marli (enquanto pode) sentíssemos olhinhos sedentos de conhecimento, mas não daquele que apenas acumulamos no que o Jô Soares chamava de "cultura inútil". Queriam saber para "melhorar seus olhos", no dizer do filósofo Rubem Alves, "o melhor jeito de alimentar a alma".
Nesta segunda - 25 - estamos encerrando nossas atividades. Embora ainda haja a despedida, vão ficando as saudades: a Marli, que sobrevive graças a sua fé profunda; dona Ana, além dos quitutes, com seu olhar carinhoso; Maria de Lurdes, eterna companheira de jornadas nas comunidades; Joana, com sua alegria e espírito festeiro; as betes, uma que vence sua deficiência visual pela curiosidade e animação, a outra pelas experiências que traz da sua vida no interior; o Ireno, que não desiste de viver e leva sua muleta pelas ruas da vida; a Marlene, que aceitou o desafio de ser parceira nas redes sociais; a Circe, com a tranquilidade de seus comentários; Ivone, um poço de vontade de conhecer; a Diva, mais recente no grupo, mas não menos disposta a questionar; dona Lurdinha, participando sempre que possível, na sua simplicidade e idade avançada, sabendo que não quer parar.
Só posso dizer, de público, muito obrigado! Se iremos continuar, ou não, é outra história. Mas, saibam, as marcas que me deixaram ficam para toda a vida: a cada vez que pensar em focar na espiritualidade, estarei lembrando do testemunho de cada um de vocês - vocês são as velas preciosas que Deus colocou em meu caminho para mostrar que aprender é um privilégio para todas as idades.

terça-feira, 8 de março de 2016

A síndrome do final feliz

No último sábado (05), foi ao ar pelo GNT e Globosat o final da série Downton Abbey. Fim mesmo, porque este capítulo completou a sexta temporada e não será gravado novamente. Infelizmente, assim como o capítulo anterior, pouco empolgante e com a impressão de que os autores precisavam terminar e não sabiam bem como.
Todos os estereótipos foram utilizados: os bons foram premiados, os maus se converteram, tudo o que deu errado durante as seis temporadas foi acertado "e viveram felizes para sempre". Até os maus, que davam um sabor especial ao seriado, ficaram pasteurizados, contidos, "convertidos" pela força do bem que os rodeava.
Um ator confessou em um programa de entrevistas que o melhor era ser mau durante toda uma série, pois apenas no último ou penúltimo capítulo é que eram descobertos e acabavam sofrendo suas penas.
Uma de minhas personagens preferidas era a condessa mãe, a idosa senhora Violet Crawley. A mãe do conde Robert Crawley (a quem tentava dominar), sogra da condessa Cora Crawley (a quem infernizava por ver nela a sua sucessora). Do tipo antigo, comandava os destinos da família e de todos os agregados, percebe que vai perdendo o controle da situação, mas não quer perder a pose. Seu triste fim é dando lições de moral para netas e uma amiga, coisa que não fazia o seu gênero, já que preferia ajustar todas as mudanças às necessidades de preservação do status do título que detinham.
As cenas finais foram gravadas em locações cobertas de neve e, já uma marca tradicional da série, com uma grande festa de Natal e Ano Novo, na chegada de 1925. Tirando o final, a série tem o gosto de coisa passada mas que a gente não viveu bem ou gostaria de que não tivesse acabado ainda. Nada expressa isso melhor do que uma fala de Lorde Grantham (Hugh Bonneville), o patriarca dos Crawley, para o mordomo Carson (Jim Carter), ferrenho defensor das tradições, logo no primeiro episódio da temporada: "se eu pudesse paralisar a história em seu curso, talvez eu fizesse isso. Mas eu não posso, Carson. Nem eu ou você podemos deter o tempo".

segunda-feira, 7 de março de 2016

Ano da Misericórdia: tempo de cuidar com o coração

No domingo (6) estive na comunidade Sagrado Coração de Jesus (Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Pelotas), com lideranças, conversando a respeito da Campanha da Fraternidade Ecumênica (Planeta Terra, casa comum, nossa responsabilidade) e do Ano da Misericórdia, proposto pelo papa Francisco, que vai até novembro deste ano, que pediu: "abram o coração a esta misericórdia, escancarem o coração, para que exista a alegria, a alegria do perdão de Deus."
A celebração do Jubileu se origina no judaísmo. Consistia em uma comemoração de um ano sabático que tinha um significado especial. A festa se realizava a cada 50 anos. Durante este tempo os escravos eram libertados, restituíam-se as propriedades às pessoas que as haviam perdido, perdoavam-se as dívidas, as terras deviam permanecer sem cultivar e se descansava. Era um ano de reconciliação geral.
Apresentei aquilo que a Igreja organizou para que os Católicos, especialmente, façam deste ano um momento especial de parada para as suas reflexões e tomada de atitude diante da vida. O material utilizado para motivar a meditação, feito pela Diocese de Coimbra, terminava com uma frase pontual: "é necessário que as pessoas vejam o rosto de Deus".
Já havia ouvido diversos religiosos falarem a respeito e, especialmente num depoimento, me deparei com um argumento que era especialmente forte, me seduziu e fiz questão de apresentar às lideranças: qual é o rosto de Deus? Na verdade, o rosto de Deus é o rosto de cada um daqueles que se apresentam como seus agentes em fazer melhor a casa onde moramos (a Terra) e também tornam melhor as relações com aqueles com quem convivem.
Na tradição Judaico Cristã, há um elenco de obras de misericórdia (seguido também pelo Islamismo). Corporais: dar de comer aos famintos; dar de beber aos que tem sede; vestir os nus; acolher o estrangeiro; visitar os enfermos; visitar os encarcerados; sepultar os mortos. Espirituais: aconselhar os duvidosos; ensinar os ignorantes; admoestar os pecadores; consolar os aflitos; perdoar as ofensas; suportar com paciência as injustiças; rezar a Deus pelos vivos e pelos mortos.
Os valores apresentados, hoje, pregam o utilitarismo, a beleza, o próprio prazer, entre outros, não servindo para quem já não consegue produzir, em idade avançada, fora dos padrões estéticos, debilitado ou deficiente. Dá-se, então, um sentido especial à palavra "misericórdia". A Igreja pede que se olhe para as mazelas que encontramos nos diversos continentes, mas que não esqueçamos que sem uma mudança interior, não há o que fazer nas relações sociais: é um tempo de cuidar com o coração!

quinta-feira, 3 de março de 2016

o melhor para os seus filhos é você

No consultório de um pediatra, uma mãe tirou uma foto de um texto (pregado numa parede) com uma lista de conselhos sobre criação de filhos. Ela resolveu colocar a foto no Facebook. Escrito originalmente em espanhol, o recado aos pais acabou rodando o mundo e se tornando motivo de milhares de comentários na internet.

“O melhor é…
O melhor não é o peito.
O melhor tampouco é a mamadeira.
O melhor não é ficar dando colo.
O melhor tampouco é deixar de pegar no colo.
O melhor não é deitá-lo assim.
O melhor tampouco é deitá-lo de outra forma.
O melhor não é agasalhá-lo dessa maneira.
O melhor tampouco é cobri-lo de outro jeito.
O melhor não é dar papinhas.
O melhor não é dar comida em pedaços.
O melhor não é o que sua mãe diz.
O melhor tampouco é o que diz a sua amiga.
O melhor não é ter uma babá.
O melhor tampouco é ir para uma creche ou ficar com a vovó.
O melhor não é continuar com esse tipo de criação.
O melhor tampouco é continuar com aquele outro modelo de criar filhos.
Você sabe o que é realmente o melhor?
A melhor coisa é você.
O melhor é o que faz você se sentir melhor.
O melhor é o que o seu instinto lhe diz que é melhor.
O melhor é o que lhe ajuda a ficar bem também.
O melhor é o que lhe permite ser feliz com sua família.
Porque se você estiver bem, eles recebem o melhor.
Porque o melhor é você.
Porque se você se sentir confiante, eles também se sentirão seguros.
Porque se você acreditar que está fazendo o certo, eles terão tranquilidade e felicidade.
Porque o melhor é você.
Vamos tentar dizer a cada mãe ou pai o que é o melhor.
Porque o melhor realmente para os seus filhos é você.” (reproduzido do site http://pt.aleteia.org/)

terça-feira, 1 de março de 2016

A teoria dos Círculos

Há um pensamento na tradição popular que diz mais ou menos isto: alguns homens traçam um círculo ao redor de si e protegem a sua família; outros fazem o mesmo, mas ampliam sua abrangência, protegendo mais pessoas; mas existem aqueles que são predestinados e podem proteger a muitos, sem que seja necessário contá-los.
A ideia é citada pelos antigos quando querem definir o caráter de um homem: os últimos são os que fazem do viver a arte do conviver, observando necessidades e imprevistos, sem descuidar de nenhuma das carências daqueles que os cercam. Seu oposto são os homens que fazem de todas as lutas – políticas, religiosas, esportivas – um autêntico combate contra moinhos de vento, esbravejam inutilmente, sem a capacidade de encontrar no outro um sentido para viver.
Meu recente trabalho com o atendimento à terceira idade tem provado que o passar do tempo, obrigatoriamente, não precisa ser o de amarguras e torturas. Por exemplo, uma pessoa que perde a visão, não abdica de ser feliz! Para isto, não foge de seus momentos de silencia físico e interior, mas faz com que estes deem sentido às festas, estudos, passeios, equilibrando o existir do dia a dia. O homem que se acostumou ao silêncio mostra-se um bom companheiro e também um mestre da culinária, com um toque mágico em suas mãos, que fazem de salgados e doces a tentação que extingue toda a possibilidade de regime.
As muitas mulheres silenciosas – de todas as idades, mas de olhares atentos – não se contentam apenas em ficar em casa esperando a morte chegar. Colocam como perspectiva o salutar convívio e o espírito que transborda de emoções quando as rugas nos rostos e os calos das mãos são abençoados pelas vidas que geraram, educaram e das quais, agora, esperam apenas uma réstia de amor como recompensa.
Todos eles não se contentam em ficar com suas famílias, ou o que lhes restou delas. Também não querem a vida daqueles que ficaram na mesmice da rotina da vizinhança. Olhar curioso, resolveram fazer do Mundo seu espaço de exploração. Correm riscos, podem até se machucar, mas têm muito mais histórias para contar. São privilegiados por adquirirem mais experiência e, especialmente, têm a alma lavada e mais leve porque não deixaram toldar seus horizontes: com unhas e dentes os alargaram e resultaram em pessoas que, na luta pela felicidade, podem até perder uma batalha, mas, com certeza não perderão a guerra - o maior de todos os círculos: ser e fazer de quem se ama feliz!