terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Fazer-te feliz

Hoje pude sentir que estavas ao meu lado.
Mais do que uma sensação, era a certeza de que tua partida
foi um erro de Deus.
Cruzei meus braços pensando nos muitos abraços que recebi,
a cada vez que sentia tuas mãos percorrendo meus cabelos,
deslizar por meu rosto, desenhando minha boca.

Saudade, saudade e quando penso que tudo passou
ainda sinto saudade!

Andar sem rumo já não tem mais graça,
Contemplar os últimos raios de sol já não vale a pena,
Acordar sem ti, deixa um sabor amargo em meus lábios.

Hoje pude sentir...
O quanto me fazes falta,
O quanto te amei sem nunca ter sido capaz de fazer-te feliz!

Contraditórios

Quando falo a respeito do quanto somos "contraditórios" no nosso modo de existir, durante palestras sobre "comunicação pessoal", sempre há um olhar de ceticismo ou, até mesmo, de deboche. Começa pelo fato de, tratando de comunicação, pensar que esta possa ser pessoal: "ora, como é que eu vou me comunicar comigo mesmo?" Pois é, na verdade, sempre temos necessidade de que, além de preparar bem o nosso corpo para este processo, também azeitemos nosso espírito, seja pela meditação, oração, leitura, ouvir música etc.
Pois o contraditório fica por conta de que não somos nenhuma unidade absoluta entre o que dizemos e o que vivemos. Querem um bom exemplo? São muitos aqueles que adoram programas de saúde através da televisão. Aqueles quadros em que comidas politicamente corretas são preparadas, suplementos são sugeridos e atividades físicas são praticadas. Qual é o percentual dos que põem em prática o que viram pela televisão? Baixíssimo. A impressão que se tem é de que as pessoas assistem como quem purga seus próprios erros a respeito da sua qualidade de vida. Não fazem nada daquilo, mas ao menos assistiram e sentem-se menos culpadas.
Outro exemplo vem da economia: todos os dias algum crânio desta área recomenda que as pessoas não se joguem loucamente no consumo de bens, preferencialmente, que façam uma boa poupança para depois fazer a compra, tendo o direito a uma melhor escolha, pedir descontos, pechinchar da melhor forma. No entanto, apareceu aquele computador do sonho, ou aquela televisão que faltava na sala em "15 vezes sem juros"! Quem é que resiste?
Somos, sim, contraditórios. Não é nenhum grande defeito, quem sabe um dos pecados menores, com o qual precisamos aprender a conviver. Nem me animo a levar para outros lados, como religioso, político, educacional que, aí sim, a casa cai. Fiquemos nestes e já temos bastante matéria para fazer uma boa reflexão e, quem sabe, sentir que mesmo estando longe de sermos santos, o bom é que, a cada dia, aperfeiçoemos a capacidade de sermos humanos.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Dia do Gibi

Tinha lá os meus dez, onze anos, em meados da década de 60. Da Vila Silveira, onde sempre morei, em Pelotas, ouvíamos as cornetas (caixas de som de então) dos cinemas Principal ou do Tupy, transmitindo músicas próprias, ou a Grande Parada da Rádio Tupancy, nas tardes de domingo. Na sombra da casa, esperávamos que meus pais saíssem da séstia e dessem o dinheiro necessário para os ingressos das matinés.
Depois, era um desespero entre trocar para a roupa de domingo, juntar os gibis e as bolinhas de gude e fazer a opção por um dos cinemas. Antes das apresentações, a negociação de quem trocava o quê com quem. Acompanhávamos o filme com muita torcida pelos infindáveis sofrimentos dos mocinhos, chegando a hora da torcida numa desabalada carreira em que o bater de pés, nos chãos de madeira, fazia com que o projetista interrompesse o filme até que a calma voltasse a predominar.
Terminado o filme, concretizavam-se as transações e, depois, partia-se para um entardecer onde as rodadas de bolinhas de gude interrompiam as ruas praticamente sem movimento, em contendas que podiam se tornar violentas do tipo: "você roubou!", "não roubei", "roubou, sim!", que poderia ir às vias de fato.
Durante as férias, na semana, alguns horários eram restritos para as atividades de rua. Era então que nossos mundos e os mundos dos gibis se confundiam. Deste tempo ficaram o Pato Donald, Mickey, Tio Patinhas, Huguinho, Zezinho e Luizinho, Madame Mim, Maga Patológica, as Fadinhas, Vovó Donald, daquele mundo de Walt Disney onde a fantasia era um passo para a realidade.
Na Vila Silveira, o mago desta outra realidade era o seu Ananias. Todos os dias, passava com um papelão reforçado onde escondia um mundo: revistas, jornais e, claro, os gibis. Nunca entendi qual era o critério pelo qual meu pai me dava dinheiro para comprá-los. Mas era o suficiente para que, entre os que comprava e aqueles que trocava, tivesse leitura constante.
No Dia do Gibi, a constatação de que é uma literatura ainda existente e necessária. Seguidamente, quando vamos ao supermercado, meu sobrinho acaba também tendo um e fazendo o mesmo ciclo do namoro, encantamento, leitura em sorriso e alegria ao terminar. Mas, claro, são outros tempos: ele já não tem os cinemas de rua, não faz as trocas de gibi, nem passa os finais de tarde jogando bolinha de gude. No entanto, mesmo assim, parece que os Gibis continuam tendo o mesmo valor: afiam a fantasia e auxiliam a que vivamos esta etapa infanto-juvenil com o encantamento que só a vida é capaz de nos dar.

Seu Clayr

Fui escutando e lendo o muito que se disse a respeito de Clayr Lobo Rochefort e me dei conta de que não poderia deixar de homenagear a lembrança de uma figura que marcou a história recente do Jornalismo, em Pelotas, tanto pelo conhecimento de causa, quanto pela fidalguia que marcava seus relacionamentos.
Fui um dos muitos que usufruíram tanto de uma, quanto de outra característica. Eram os idos da segunda metade dos anos 70 e eu iniciava o curso de Jornalismo, assim como trabalhar na assessoria de comunicação da Diocese Católica de Pelotas. Levando e refazendo releases sob a sua orientação, fui aprendendo, no confronto entre a teoria e a prática, como se estabelece a relação entre uma instituição e um meio de comunicação.
Eu, completamente tosco e cheio de confiança próprio da idade, fui aprendendo que não basta um texto que eu considerasse muito bom, mas que não fosse inteligível para quem fosse ler. O mais interessante é que, naquele tempo, não o conhecia por “doutor Clayr”, mas havia uma intimidade de redação em que o chamávamos de “seu” Clayr. Foi assim que o chamei toda a vida, até agora, na história recente, quando ele me dava a honra de aproveitar semanalmente meus textos, com pequenos ajustes e orientações. Na relação com “seu” Clayr, fiz minha graduação e passei pelas diversas etapas da minha pós-graduação.
Mas tenho que ser repetitivo: a voz tranqüila, o olhar incentivador, o carinho no trato, acabavam fazendo um diferencial que me incentivou pelos caminhos que tomei. Hoje, quando alunos meus espalhados pelo Brasil fazem contato pedindo orientação, lembro daqueles que foram os meus próprios referenciais de profissão: “seu” Clayr e o padre Olavo Gasperin, por exemplo, na produção de texto.
A grande lição dos grandes homens não é aquilo que eles fizeram, mas aquilo que eles conseguiram provocar para que outros fizessem. Exatamente aí, “seu” Clayr faz o diferencial: dos muitos depoimentos que ouvi e que li, todos dizem que viram no seu exemplo não apenas o profissional, mas o homem focado na busca pelo bom Jornalismo e a realização plena de cada um dos seres humanos com os quais conviveu.