terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Uma roda de conversa para falar de política

As eleições municipais deste ano entram para a série em que a política partidária se distancia cada vez mais da população. Não é de hoje que os ditos “cidadãos” e “cidadãs” (como se a denominação pudesse ser utilizada pelos politiqueiros como adjetivação) sentem que o que se fala não rima com a realidade do que os eleitos fazem. Ou, concretizam bem menos do que o possível nas áreas básicas, na conservação e cuidados, deixando os espaços públicos desleixados, feios, praticamente abandonados...

Esta é uma disputa “paroquial” travestida de interesses que podem ser, até, nacionais. Como se tem visto o acirramento entre as figuras do atual presidente e do ex-presidente, que jogam seus interesses não naquilo que a população precisa no lugar em que vive, mas armam jogos políticos para as próximas eleições, quando se disputa o real poder e interesses financeiros. Pena que até organismos sérios de representação popular tenham se sujeitado, o que os levou a desaparecer ou entrar em processo de inanição.


Articulações partidárias ramificaram para sindicatos, igrejas, associações. Literalmente, empestando as relações e disseminando a cizânia. Desorientaram os incautos e deram pilha para aqueles que desejavam instituir dentro destes grupos os mesmos interesses de poder que prejudicaram a máquina pública. Os mais “ousados” lançaram candidaturas próprias e se perderam nos meandros do pior que existe na política: não defendem mais os interesses das instituições e sequer se tornaram a raposa que cuida do galinheiro...

Quando sindicatos, igrejas e associações começaram a dizer em quem votar, esqueceram da sua função básica: lugar para que os congregados de todas as matizes ideológicas possam sentar, conversar e exercer o legítimo direito de pressão sobre as autoridades constituídas e representativas. Prostituiram-se as relações. Chegou a se dizer que política, religião e futebol não se discute (embora se lamente). Quem não deseja que se discuta tem interesses escusos no sentido de querer manobrar destinos alheiros.

Ambientes arejados pelo convívio democrático são plurais, onde se trata da realidade presente e se sonha em conjunto a solução dos problemas estruturais. Infelizmente, foram sendo guardados ressentimentos, que hoje, por qualquer razão se vomitam desaforos e se transformam aqueles que já estiverem próximos em desafetos. Precisamos de uma roda de conversa para se falar sobre política. Daquelas em que se contam casos, se repassa um mate e ainda se tem coragem de conversar olho no olho.

As desconfianças nos afastaram com feridas difíceis de sarar. Não somos uma sociedade politizada. Conversando com o professor Marasco sobre o primeiro mandato do prefeito Bernardo de Souza, lembramos: “fizemos a política da inocência”. Infelizmente, a inocência está perdida. Mas se pode reaprender o básico: democracia é a arte do diálogo e do consenso. Aceitando nos jogar uns contra os outros, por meias-verdades e mentiras travestidas, não é só o adversário que perde, mas todos nós que, um dia, sonhamos com uma sociedade onde os valores sejam a liberdade, a igualdade e a fraternidade...

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A primeira chuva de inverno...

Na primeira chuva de inverno,

Gotículas se desprendem das nuvens

E tomam o rumo da terra.

No caminho,

Acariciam o topo das árvores,

À espera dos primeiros raios de Sol.

Depois, descem pelas folhas,

Brincando com uma nesga de claridade.

 


Pequenos cristais multicoloridos

Deslizando,

Acariciando os galhos e a ramagem.

Pontos de luz que enfeitam o verde,

Cintilam numa trilha em que,

Ao beijar o chão, a seiva

Se transforma em ventura:

Prepara o solo para novos brotos.

 

Dão um norte às raízes,

Nas entranhas silenciosas,

Onde dormita a vida.

Depois, afloram nos mananciais,

Sem a preocupação com a intensidade.

Percorrem longas distâncias,

Juntam-se às nascentes, córregos, rios...

Até troarem nas quedas d'água e cascatas.

 

No mistério dos ciclos que extasia,

Têm a certeza de que reiniciam

O rumo que se infinita.

Aos poucos,

Tornam-se densas,

Precedidas pela névoa que aconchega,

No lugar em que as certezas se perdem

No que realmente encontra sentido...

 

Em meio à mata ou no descampado,

Perpetuam as etapas da vida,

Onde explicações dão lugar

Ao tempo que não se repete.

Mudam ao seguir seu rumo,

Amadurecidas,

Retornando ao destino,

Com as marcas que receberam do caminho.

 

Flutuam na bruma, na chuva, no frio,

Na escuridão e na tempestade.

Gotículas que não se importam

Com o olhar atento do Universo.

Absorvem brilhos e sentidos.

Entre o céu e a terra, traçam o rumo da

Derradeira jornada pelas estrelas!

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

É possível a “amizade social” de Francisco?

Algumas coisas que o papa Francisco faz e diz soam tão simples que as máquinas políticas (inclusive da própria Igreja Católica) colocam uma pulga atrás da orelha, especulando: “será que é isto mesmo que ele está querendo dizer?” Estão acostumados a duvidar das intenções de seus dirigentes porque foram doutrinados a “tentar ler nas entrelinhas”, ou descobrir “segundas intenções”. Este o motivo do papa publicar a encíclica Fratelli tutti (“Todos irmãos”), em 2020, inspirado no outro Francisco, o santo.


Demonstrava a vontade de propor à humanidade uma coexistência com base na fraternidade e na amizade social. Com tantos interesses em jogo, especialmente de poder e financeiro, Francisco é boicotado de dentro da própria Igreja (sem contar declarados inimigos conservadores na política, na economia e na mídia internacional). Muitas especulações, são exatamente feitas por quem não leu o documento, que é uma profunda reflexão e sublima com a “Oração ao Criador” e a “Oração cristã ecumênica”.

Deseja desacomodar cristãos políticos, que estão na economia, educação e na religião, para que se transformem em pessoas de boa vontade. Motivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) trazer a proposta para a realidade brasileira, com o tema – Fraternidade e amizade social – na Campanha da Fraternidade 2024. Conceito básico de “amizade social” é “expandir o coração para caber quem desconhecemos, que não faz parte do nosso círculo de amizade, mas que também precisa de um olhar amigo”.

Este olhar diferenciado “pode” superar conflitos culturais, econômicos e políticos que se manifestam em “guerras fraticidas”. O papa é um homem atento ao mundo globalizado e percebe que a política está se tornando cada vez mais frágil perante os poderes econômicos transnacionais. Questiona, com razão: “qual significado tem hoje palavras como democracia, liberdade, justiça, unidade? Foram manipuladas e desfiguradas para utilizá-las como instrumento de domínio, como títulos vazios de conteúdo”.

A experiência brasileira recente demonstra a cultura do conflito por meio da polarização de políticas acirradas, especialmente por quem detém o poder. Francisco diz: “a política deixou de ser um debate saudável sobre projetos a longo prazo para o desenvolvimento de todos e o bem comum, limitando-se a receitas efêmeras de marketing cujo recurso mais eficaz está na destruição do outro”. Aponta como desafio construir um novo estilo de se fazer política, tendo presente um sonho quase utópico: o “amor social”.

É possível a “amizade social” de Francisco? “O núcleo do autêntico espírito da política” é o “amor preferencial pelos últimos”. Propõe às lideranças religiosas e políticas a cultura do diálogo, reconciliação e paz. Num tempo de deboches narcisistas, sublinha que a política é o mais alto grau da caridade: dar de comer a um desempregado pode ser, muitas vezes, descarga de consciência; assegurar direito ao trabalho, pela ação política, é autêntica caridade, que oferece a chance da própria pessoa alcançar a sua dignidade.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

"Senhor, por onde andaste?"

Havias sonhado alcançar o Infinito,

No desejo de ultrapassar a perfeição

E desafiar a Deus,

Com tuas pequenas vitórias.

Acreditaste que eram os

Detalhes, o diminuto,

Que escapava

Ao Seu controle,

E que te tornava singular.

 


Fazias da vida pequenos milagres,

Enquanto pretendias montar

O quebra-cabeça do Infinito.

No que eram minúcias,

Escondia-se a tua capacidade de articular

O dia-a-dia dos teus sonhos:

Provocado por aquilo que

Não alcançaste e julgavas ser teu direito.

 

Mesmo com a sofreguidão,

Na ânsia por liberdade,

Nunca teus passos

Deixaram marcas solitárias na orla da praia;

Nenhuma lágrima caiu

Sem que tenha regado um ombro;

As perdas que doloriram a alma,

De alguma forma e em algum momento,

Tiveram o consolo de um abraço

Em que cabiam todas as tuas pretensões...

 

A porta da verdade é

Aquela que desnuda o lugar do coração.

Então,

Não faz sentido perder-se na imperfeição.

Mas abdicar da arrogância,

No desafio de saber

Que queres, podes e deves

Compartilhar a vida com quem

Amas e Quem muito te amou...

 

Superar a singularidade é

A força de quem agrega.

Por toda a existência

Contaste sofrimentos, desilusões, amarguras.

Raras vezes compartilhaste

Alegrias, vitórias, momentos de sorrisos.

Quando tudo parecia emaranhado, descobriste ter

Um milhão de motivos para duvidar,

E apenas a sensação de que a fé te levava a crer.

 

Quando pudeste perguntar:

"Senhor, por onde andaste?"

Olhar sereno,

Na dispensa das palavras e o balbucio,

Como a onda que se espreguiça na areia:

"Andei por muitos caminhos,

Esperando o momento

Em que abrisses a porta para que

Eu pudesse voltar pra ti!"

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Feminicídio: as marcas que não se apagam...

Existem dívidas sociais que são impagáveis. Quando, de alguma forma, se violenta uma criança, não é somente a marca física que fica, mas a percepção de que, pelo resto da vida, faltará alguma coisa, para a qual não há compensação, não existe remédio que cure... Foi o que pensei quando ouvi, já no final do ano de 2023, uma matéria sobre os órfãos do feminicídio. São as vítimas indiretas da violência, que registrou, no Brasil, em 2022, 2.529 casos. Aqueles que, de alguma forma, foram apagados socialmente.

Dos diversos depoimentos prestados por jovens e crianças, ficou a sensação de que, mesmo com a atitude do governo de alcançar um salário mínimo às crianças, o que se faz é minimizar, sem conseguir apagar os traumas sofridos e suas consequências. Doeu ouvir uma menina balbuciar: “eu não lembro do colo da minha mãe”. Perdeu um direito que não deveria ser negado a qualquer ser humano, independe da situação social, quando a vítima de assassinato é uma mulher, pelo simples fato de ser mulher.


O que levou um companheiro a tomar tal atitude é difícil de entender. Autoridades e especialistas dizem que se pode especular pelo ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre o elemento feminino. Comuns em sociedades marcadas pela associação a papéis discriminatórios machistas, como a sociedade brasileira. Vergonhosamente, o país é o quinto no ranking de homicídios de mulheres. Que pode resultar em morte, mas também tomar outros caminhos.

Mulheres, jovens e meninas submetidas à violência, por assédio, exploração sexual, estupro, tortura, violência psicológica, agressão por parceiro ou familiares, perseguição, feminicídio... Os agressores acham formas e intensidades, fazendo com que a violência de gênero se perpetue nos espaços públicos e privados, encontrando no assassinato a expressão mais grave, mas não única. Pelo menos uma mulher é morta a cada 8 horas, sendo que 70% tinham entre 18 a 44 anos, ou seja, estavam em idade reprodutiva.

Seis crianças/adolescentes ficam órfãs do feminicídio no Brasil, por dia, o que tem sérias consequências na capacidade do aprendizado, da estabilidade emocional e de relacionamento social. Elas ficam propensas à depressão, ansiedade, retraimento social, atitudes agressivas, tendências suicidas, evasão escolar, dificuldades de aprendizagem e comportamento regressivo. Mas, também podem se sentir perdidas, confusas, divididas, obrigadas a intermediar conflitos ou a defender uma das partes.

Gabriel Fernandes, um menino, encolhido no chão, resumiu o sentimento pela perda da mãe: “você nunca vai ser a mesma pessoa depois do que aconteceu... às vezes você próprio não se reconhece como você mesmo”. Retirar da mãe a possibilidade de formar uma família é perder um arrimo da própria identidade. Apesar das dificuldades, hoje, de constituir uma família, ela continua sendo referência. Feminicídio são marcas que não se apagam. Na ausência, há um vazio de segurança e afeto. As mães podem ter ensinado praticamente tudo, mas não conseguiram que a gente aprendesse a viver sem elas...

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

As nuances do teu semblante

O tempo invejou


Escultores, tecelões e amantes.

Moldurou rostos,

Onde traçou a delicadeza

Que somente quem usufrui da vida

Consegue transparecer.

A serenidade dos que viram a existência fluir,

Valorizando a jornada e o caminho.

 

A meiguice dos primeiros traçados

Deram lugar à firmeza das linhas,

Que o açoite das horas, dos dias

E dos anos rabiscaram em tua face.

Foi na velhice

Que a riqueza de um mosaico

Plasmou as nuances do teu semblante.

 

Admirado,

Encantava-me em procurar

Nos esboços recém delineados

O Artista que teve paciência e carinho

Ao produzir traços irregulares,

Em que deixou de lado a simetria,

Imergiu nos detalhes,

Valorizou o que se torna universal.

 

Depois de maravilhados pelos olhos,

Recebem

A confirmação das mãos,

Que fazem seu próprio percurso,

Rabiscando

Surpresas pela aventura

Em que se envolvem

Os sentidos e as expectativas.

 

O escultor acaricia a pedra e

Antecipa os detalhes de um corpo.

O tecelão entrelaça a tela,

Sabendo que os dedos

Despertam vida na imagem

Que vem à tona, ainda sonolenta.

Os contornos que buscam a forma,

No traçado que se infinita.

 

Ou quando o amante cerra os olhos,

Desliza os dedos pelo corpo amado,

No aprendizado de que não há apenas um rumo,

Mas a multiplicidade de suspiros e anseios.

É a duração de uma existência...

O suficiente para saber que

O detalhe tem o tamanho da própria vida.

Que não oferece uma segunda chance!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Janeiro Branco: tempo de acalmar o coração

O desafio do Janeiro Branco segue a trilha do Outubro Rosa (prevenção e diagnóstico do câncer de mama, mas não só) e do Novembro Azul (diagnóstico precoce do câncer de próstata) tendo como referência cuidar bem da saúde da mente, para cuidar da saúde da vida. Este ano, a campanha quer desacomodar os incautos, alertando: “saúde mental, enquanto é tempo!” Iniciativa que ganha apoio por investir na qualidade de vida, o que representa, em muitos casos, nas empresas, por exemplo, a retenção de talentos.


Quando se começa o ano novo, sempre existe a possibilidade de repensar metas e cuidar de si. Então, utilizando simbolicamente o “branco” (no que foram muito felizes) como a possibilidade de escrever uma nova história, pode-se refletir sobre tabus relacionados com a saúde emocional. Em especial, mostrar o quanto preconceitos podem inibir um ambiente acolhedor, onde quem se sente fragilizado possa expressar suas emoções e buscar o apoio necessário, especialmente por parte de profissionais.

Novamente, a importância de que se abram espaços de debates e conversas no ambiente de trabalho, de estudos, de convivência social e religiosa. Já se evoluiu (mas ainda há muito o que fazer) na questão do diálogo como lugar para os grupos de discussão internos, criação de canais de comunicação institucional e, porque não, sessões de aconselhamento. Vai depender muito da criatividade, mas uma ideia possível é a criação de uma caixinha no espaço onde se convive para a colocação de dúvidas e desabafos.

Importante garimpar nos espaços da internet materiais informativos, formativos e lúdicos, como cartilhas e vídeos técnicos e motivacionais. Produções que auxiliam na formação de consciência e, até, ajudam a que o interessado forme um quadro a seu próprio respeito. Mas não é só. Grupos que se organizam e precisam ou buscam conviver, podem encontrar disponíveis atividades que promovam o bem-estar mental, ocupando intervalos, inclusive de descanso, quando é o caso de expediente.

É fundamental capacitar líderes e gestores, oferecendo treinamento para o diagnóstico e lidar com questões de saúde mental. Detectar sinais de estresse e ansiedade entre os membros da equipe é motivo de alerta. Há um espectro onde pode estar inserido, que passa por inteligência emocional, felicidade e propósito de trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, sinais de alerta sobre a saúde mental, importância da atividade física e alimentação, autoconhecimento, cuidados em tempos de home office...

Dos muitos preconceitos que ainda se tem, o cuidado com a saúde mental é um deles. Daqueles que ninguém reconhece, mas faz questão de dizer que é “aberto à discussão”, porém, sem ânimo de tomar a iniciativa quando se sente incomodado com algo que o atormenta. Lidar com as próprias emoções é o aprendizado de toda uma vida. Não é fácil. Acalmar o coração é tarefa que, muitas vezes, não se consegue alcançar sozinhos. Reencontrar o equilíbrio é o rumo do que há de melhor em ser feliz... e viver em paz!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Os contornos que imprecisam o tempo

Eu me iludi com o tempo.

Busquei formas de enganá-lo.

Naveguei pelo calendário

Sem compromissos com o tiquetaquear das horas.

Quando percebi o relógio da existência,

Já era tarde:

Inebriado, esqueci da realidade

E mergulhei no redemoinho da imaginação.

 

Um turbilhão.

Quis gritar pedindo pela tua insensatez.

Havia perdido a noção e já não me importava

Com a idade do corpo físico,

Com as marcas que o mudaram,

Assim como as dificuldades que

Venceram meus reflexos juvenis

E me obrigaram a andar sem pressa.

 

Confundi vagareza com prudência.

Confinei lágrimas e risos

Nos momentos em que esperavam por um adulto.

Era necessário estabelecer referências,

Tornar-me aquilo que desejavam,

Deixar a fase

Da crença nos eternos sonhos possíveis,

Em que não pensava que a vida pudesse ser finita...

 

Apesar de que o espírito teime

Em se sentir como em outros tempos,

O que vi na imagem refletida

Foi de alguém que deixou escapar

As gotas da vida que escorreram pela flor,

Brilharam por um instante,

E, como a lágrima,

Regaram os caminhos por onde andei.

 

O espelho brinca comigo.

Ali onde o devaneio

Fez desfilar rostos e corpos,

Que não apenas trocaram de figura,

Mas moldaram sentidos,

Com ausências e ressentimentos.

Os musgos se

Acumularam pelas fendas dos sonhos...

 

Hora de fazer as pazes com a vida.

Quanto tempo resta? Difícil dizer.

O certo é que estou distante

Dos tempos da juventude.

Nos contornos que imprecisam o tempo,

Tracei o caminho que se chama destino,

Sabendo que a chegada deu direito à vida e,

Em algum momento,

Preciso cruzar a linha da partida...