segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Educação: as marcas da vida

Alguns podem me acusar de saudosismo, mas não é assim. Infelizmente, no que se refere à educação, “involuímos”, voltamos tristemente para trás. Havia uma fórmula simples, mas eficaz: as famílias davam os primeiros ensinamentos, especialmente no que se referia aos valores e às referências, auxiliadas pelas igrejas, e quando a criança chegava ao ensino formal já tinha um lastro, em condições de alcançar o seu desenvolvimento.
Onde deu errado? Já foi dito: a família foi colocada em xeque, mesmo que não se tenha encontrado nenhuma estrutura alternativa em condições de suprir as carências dos primeiros anos. A mãe, como referência em educação, precisou sair para o trabalho, complementando a renda familiar; enquanto a autoridade do pai passou a ser questionada, nas coisas mais simples, como uma palmada, que pode ser pedagógica, na maior parte das vezes doendo mais em quem dá do que em quem recebe.
As igrejas perderam a sua força e bispos, padres, pastores, hoje, são apenas vistos como “figuras interessantes”, mas não ditam normas e orientações para a maior parte da população. E a educação formal, especialmente a pública, enfrenta grandes e sérios problemas, sem solução a curto ou médio prazo. Isto é um raio-x superficial de uma questão onde as perguntas são muitas e as respostas poucas. Não podemos voltar ao passado para refazer o caminho onde erramos, mas também não podemos descartar as experiências que deram certo.
Tenho visto escolas anunciarem um ensino de qualidade e “puxado”, onde as normas são claras e cobradas dos alunos, professores e pais. E, depois de todas as experiências “democráticas”, os responsáveis entendem que há regras que precisam ser seguidas e produtividade que precisa ser cobrada para que se desenvolvam padrões de aprendizado.
Não estou advogando “linha dura” nos colégios, mas que entre a oferta de ensino, convívio, prática esportiva, muitas vezes a própria alimentação, fique claro para alunos e seus pais que não há vitórias no ensino sem que haja esforço e colaboração. Não há professores “bonzinhos”, ou “maus”. Há preocupação com aqueles que julgam que “dando uma mãozinha”, agora, vão se dar bem mais adiante. Não vão. Esta etapa só pode ser vencida por quem entende que a cumplicidade entre educando e educador está, sim, numa cobrança recíproca que deixe marcas para sempre. As marcas que indicam os caminhos da própria vida.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Um linchamento político

A campanha veiculada pelo Centro dos Professores do Estado, mais uma dezena de sindicados ligados ao setor público, deflagrou o processo eleitoral de 2010. Preparado com painéis que destacavam “a face da corrupção”, “a face da violência”, entre outros, mostrava uma foto sem definição. No dia 12 de fevereiro, em ato público, as entidades mostraram que a face era a da governadora Yeda Crusius.
A governadora vem enfrentando problemas que os últimos governadores enfrentaram, agravados pela crise financeira nacional e internacional. Não foi diferente com Germano Rigoto (PMDB) e Olívio Dutra (PT), somente para falar nos mais recentes. O movimento visa afastar a governadora do Piratini. Ora, está aí uma coisa que estas entidades ainda não entenderam: a governadora foi eleita pelo voto popular, apesar de descontentar parcelas da população, e deve ser julgada pelo voto popular para uma possível “cassação”. A outra forma de cassação se dá nas instâncias dos poderes legislativos e judiciário, sendo que, para isto, é necessário que comprovadamente existam crimes praticados pela própria ou com o seu apoio.
Não sendo o caso, o que está se deflagrando é um processo de linchamento político, baseado em opções ideológicas. Todos nós sabemos que o gênio da governadora é forte e que decisões são tomadas sem muito jogo político. Para contrapor, os ideólogos da esquerda foram buscar alguém com perfil semelhante, no caso a presidente do Centro dos Professores, Rejane Silva de Oliveira.
A deflagração da campanha, com tanto tempo de antecedência, preocupa. Não creio que seja bom ter pela frente ao menos três semestres letivos, com as categorias profissionais sendo incitadas a mobilizações que, como vimos na greve recente, acabou não dando em nada, mas prejudicando, de fato, aos alunos e, indiretamente, aos pais.
É perceptível a intransigência de ambos os lados. O que se gostaria era ver governo e o Centro direcionando sua atenção para os sérios problemas que temos na educação. Claro que ninguém nega o direito de cada um fazer as suas opções políticas e ideológicas. Mas ficando claro que, diante do quadro atual, preocupante, suas energias serão direcionadas para pensar a figura central da sua existência profissional: o aluno e o processo de educação. O evento da semana passada não foi neste nível e deixou a impressão de que está se apostando no “quanto pior, melhor”. Tomara que eu esteja enganado.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

“Estamos grávidos”

A Igreja Católica, no Brasil, lança no dia 25 de fevereiro – Quarta-feira de Cinzas – a Campanha da Fraternidade. Diferente de outros anos em que concentrava seus esforços até a festa da Páscoa, nesta edição, quer ter seu “início na quaresma e ressonância no ano todo”, abordando o tema “Fraternidade e segurança pública”, com o lema “A paz é fruto de justiça”. Pontua com clareza seus objetivos: “renovar a consciência da responsabilidade de todos na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa (justiça e inclusão social) e solidária”.
Impossível não concordar: este é um tema que merece atenção e reflexão. Mas não basta: se ficar apenas em estudos e visões genéricas serve como pauta de seminários, congressos, reuniões e posicionamentos apenas para dizer que “fizemos alguma coisa”, apaziguamos nossa consciência, mas a realidade continua intocada.
Temos uma capacidade impressionante para acreditar que nossa ação intelectual é capaz de impregnar mudanças. Pois não é. Pego um dos pontos geradores de problemas e que será gerador de conflito, porque as posições são antagônicas e intransigentes: o planejamento familiar. Nem é preciso falar a respeito dos benefícios auferidos pelos países que optaram por esta tática social. Basta acompanhar entrevistas onde jovens de 14 e 15 anos declaram com indiferença que estão grávidas e não é a primeira vez, mas a terceira, quarta e, pasmem, às vezes até a quinta vez!
Se a Igreja não concorda com os meios que desejam interromper a gravidez já posta, ao menos incentive e apóie a prevenção, das mais diferentes formas, pois a conscientização não funcionou e dificilmente funcionará. A maioria destes jovens não tem parâmetros morais para tomar atitudes em conformidade com o que se prega nos púlpitos (quando não ouve todas as orientações, mas faz na prática aquilo que, na maior parte das vezes, aprende instintivamente).
É triste ver a mãe que enfrenta uma gravidez fatalista como quem diz: “se tem que ser assim...” Mas também vejo jovens assumirem relacionamentos, inclusive o casamento, planejando os filhos que desejam. Em determinado momento, felizes, anunciam: “estamos grávidos”. Entre os dois posicionamentos, há um abismo de formação, informação e acompanhamento por parte de pais, educadores e autoridades públicas, como as da saúde. É a diferença entre ser apenas mais um a nascer ou a alegria do pai e da mãe pela gravidez que chegou para os dois.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A repetição de uma desgraça

Pelotas repetiu uma catástrofe anunciada: na quarta-feira (28 de janeiro), durante cerca de dez horas, caiu sobre a área urbana uma chuva prevista, em média, para dois meses. Fazia esquecer a estiagem, mas colocava em risco todas as regiões baixas, que cortam a cidade. Estando, em média, a cerca de sete metros acima do nível do mar, a cidade foi sendo construída em áreas mais altas, como o centro, Fragata, Três Vendas e Areal. Mas o avanço urbano levou a uma ocupação legal, mas desaconselhável do ponto de vista ecológico, dos pontos em que existiam os banhados, regiões naturais para a absorção do excesso de chuvas.
Num primeiro momento, estas “esponjas” foram transformadas em sangas, que cortavam a cidade e auxiliavam no recolhimento das águas. Falaram mais forte, novamente, interesses políticos e econômicos, e a população de baixa renda ocupou estas áreas, que foram aterradas. Some-se isto o fato de que se multiplicaram o asfalto, o cimento, os telhados etc.
Infelizmente, mesmo os canais que sobraram não foram suficientes para dar vazão ao volume de água que caiu naqueles três dias. Na verdade, nenhum sistema coletor conseguiria sanar os problemas causados pelo excesso de água que encobriu canaletas, ruas, casas, arrastando árvores, postes, provocando, enfim, uma destruição que impressionou e chocou a quem viu ao vivo, ou assistiu pela televisão.
Há duas questões a serem levantadas: a primeira é de que estas áreas de risco precisam ser, terminantemente, transformadas em espaços desocupados e se manter assim porque são de interesse público e não se pode infringir àqueles que vão morar naqueles locais a repetição da desgraça. E uma ação pronta e rígida por parte do setor público. Em segundo, mais do que consciência, é necessário penalizar quem joga lixo de todo o tipo nas canaletas – sacos, pneus, móveis, pedaços de árvores – a única forma de serem contidos, pois já se sabe que não basta o alerta.
Fica uma lição: as águas são traiçoeiras. A seca dos últimos dias não pressentia as chuvas que caíram sobre o município. Juntando com as águas que vieram da serra fizeram em breve espaço de tempo a barragem do Santa Bárbara recuperar seu nível e ultrapassá-lo em quase um metro e meio. Neste momento, o melhor é não haver heroísmo: infelizmente, muitos daqueles que perderam a vida acreditavam poder vencer a força e a esperteza das correntes, mesmo que fosse por uma boa causa. Ficaram na intenção e aconteceu a repetição de uma desgraça.