terça-feira, 17 de setembro de 2019

Suicídio: "não ignore os avisos"

O slogan já é um alerta: "não ignore os avisos". O Movimento Gente Ajudando Gente - o mesmo que participou da ajuda em favor dos venezuelanos que entraram no Brasil - se uniu com outras instituições objetivando salvar vidas através de campanha de prevenção ao suicídio no Estado. Objetivo: atenção aos sinais - muitas vezes desprezados ou ridicularizados - de pessoas propensas em tirar a própria vida.
Criado em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria - junto com o Conselho Federal de Medicina - o Setembro Amarelo levantou dados a respeito de suicídio no Brasil, que já assustavam. O Gente Ajudando Gente trouxe para a realidade local esta preocupação: o suicida atenta contra a própria vida em torno de cinco vezes. O índice do RS é três vezes superior à média nacional: chega a quatro mortes por dia!
Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de drogas. Considerado tabu, tratado no recôndido dos lares e com medo de possíveis estigmas, fica encoberto pelo silêncio, sem ter resultados satisfatórios. A campanha torna pública uma realidade que precisa ser contada, conversada, compartilhada... Inclui uma série de atividades procurando minimizar as dores e ganhar espaço para a vida.
Não é fácil, mas existem indícios de um problema em potencial, hoje, especialmente com jovens: mudanças de atitude, que levam ao isolamento, desinteresse, aumento ou diminuição da alimentação, dormir demais ou de menos, agressividade... Até a forma como se expressam, dizendo que desejam morrer ou cansados de viver... Na iminência do perigo, o melhor, sempre, é buscar auxílio e acompanhamento profissional.
Uma conhecida dizia que o filho tinha "uma tristeza patológica" e tentara a morte. Repetiu a frase que lera numa publicação: "quando alguém pensa em suicídio, ela quer matar a dor e não a vida." Fiquei imaginando: se os números já tabulados assustam o quanto ficaríamos preocupados se fossem contabilizados os casos em que, de alguma forma, familiares ou amigos conseguiram evitar o pior.
Ouvi de uma terapêuta que as pessoas se atrapalham ao acompanhar a situação, especialmente pela falta de informações. Disse: "não é drama, não é pra chamar atenção, nem é falta de Deus, muito menos frescura." Quem está próximo fica preocupados em dar "conselhos" ou em falar de religião, quando o emocional já está bloqueado. Neste momento, quem ama precisa demonstrar - muito mais do que dizer: "você não é um fracasso. Você não é um caso perdido. Você não precisa se machucar. Você é necessário. Você é amado. Você não está sozinho. Eu acredito em você!"

terça-feira, 10 de setembro de 2019

"Pátria amada, Brasil"...

Embora o gaúcho não goste de se reconhecer como emotivo, quando chega a Semana da Pátria e a Semana Farroupilha nossos símbolos ficam mais em evidência e as cerimônias que envolvem a bandeira, o hino, a chama acesa são motivo de orgulho. Despertam sentimentos adormecidos, porque não dizer, embotados, durante o ano, quando a preocupação acaba sendo, literalmente, tocar a vida...
O emprego indevido por grupos de muitas matizes ideológicas - mais preocupados em utilizar-se da população do que em servi-la - desgastou o que deveria unir quem vive numa mesma terra e almeja, simplesmente, o direito de ser feliz. Gaúchos e brasileiros quando vão às ruas vestindo verde e amarelo ou algum cor em protesto não estão se insurgindo contra os símbolos, mas sabendo que são exatamente isto... símbolos!
Símbolos nacionais são a liga, reunindo pessoas que suplantam preconceitos por elementos básicos como a educação e a solidariedade. A primeira não sendo apenas adicionar conhecimentos, mas capacidade de discernir entre o lobo e cordeiro, o verdadeiro e o falso, bons e maus... A segunda é capaz de criar mentalidade que supera o individualismo, aproximando e aparando as arestas da desigualdade.
No sábado, 7 de setembro, a televisão recuperou imagens da campanha que beneficiou o sertão nordestino. Entre as doações, um par de chinelos infantil. Na sola, escrito que já havia dado bom uso, agora, que outra criança o fizesse. Também, o menino que aprendeu a ler aos 10 anos com os gibis do Maurício de Sousa. Aos 13, ajuda a tia e a mãe a sustentar a casa vendendo panos de prato e reserva parte para comprar livros...
Bondade e persistência não nos faltam. Mas para que a "Pátria amada, Brasil" veja cidadãos amadurecendo, precisa transformar-se em gente solidária e educada. Nas coisas simples: grita-se contra a corrupção e se pede que o guarda retire a multa; discursa-se contra a prefeitura que não limpa as sarjetas, mas atira-se lixo nas calçadas; e se exercita a Lei de Gerson: "é preciso levar vantagem em tudo, certo?"
JJ Camargo diz no seu texto "Coragem para ser otimista" que há uma receita para a realização pessoal. Creio que vale para um povo: determinação insubmissa; resistência diante dos fracassos; coragem para se manter no comando; vontade para vencer a acomodação e a preguiça; otimismo para acreditar que tudo vai melhorar.
Está tudo nas mãos dos brasileiros... É preciso atitude para cobrar investimentos em educação, postura solidária e convicção em exigir dos políticos destinação das riquezas no maior de todos os bens: a criança. Embrião da nova mentalidade, onde os símbolos deem sentido ao que almejamos: "paz no futuro e glória no passado" e que se torne uma realidade: "dos filhos deste solo és mãe gentil. Pátria amada, Brasil!"

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Pequenas coisas bobas...

Durante as últimas semanas, as rodas sociais e os meios de comunicação tiveram elementos para fazer uma ampla discussão do que está se passando nas áreas da política, economia, comportamento moral e ético... São tantas coisas "sérias" tratadas que senti falta de quem falasse das coisas simples da vida, aquelas que não chegam a fazer uma grande mudança, mas alcançam significado especial quando se olha pelo lado dos relacionamentos, especialmente os afetivos...
Por exemplo, o grupo de ciclistas que inovou ao adaptar bicicletas com dois lugares e partilhar o prazer de percorrer estradas e caminhos acompanhados por pessoas com deficiência física (inclusive da visão) ou mental. Para aqueles que não enxergam, há um complemento: fazem uma descrição do ambiente percorrido... com detalhes! Nem é necessário falar da felicidade de quem utiliza o serviço.
Ou, a emoção da mãe do menino portador da síndrome de down. Sabia que o filho demoraria mais para articular as primeiras palavras. Tempos depois que outras crianças da mesma idade já diziam praticamente tudo, veio a primeira surpresa: som que jura ter sido "mãe", que se não foi inteligível na primeira vez acabou se tornando claro, sonoro e desafiador como a marca de uma das tantas conquistas...
No meu caso: no pátio tenho um pé de Camélia. Chamo de rosa do Inverno, porque neste tempo se torna exuberante pelo porte altivo e quantidade de flores. Sempre que chega uma amiga, ofereço algo simples, mas capaz de mudar uma fisionomia, alegrar um olhar e dar um novo significado a uma relação, sem necessitar de palavras, apenas transparecendo o quanto um pequeno gesto torna pessoas mais próximas...
Na verdade, é exatamente o que são... As pequenas coisas simples, que parecem bobas, fazendo o dia a dia: numa singela mudança de rotina ou nas surpresas que acontecem em nossas relações e desacomodam, dando um novo ângulo para a vida. E ainda tem mais: o amigo que mora sozinho e diz que fala com as plantas; a amiga que redescobriu desenhos animados da sua infância; aquela que não consegue dançar num grupo, mas se vê gingando enquanto limpa a casa...
Cada qual descobre o jeito de fazer a vida ter sentido. Pode-se dizer que uma boa viagem, um bom show, uma boa peça de teatro, a ida a um jogo de futebol... tudo isto é capaz de dar um "up" motivacional. Porém, isto não acontece sempre. O dia a dia é feito para se valorizar encontros: a viagem de ônibus e a conversa com o cobrador; o idoso na varanda esperando que alguém o cumprimente; a criança que provoca e se esconde atrás da mãe; aqueles que trazem as "notícias" mais recentes da rua. A vida... a vida que continua, flui e precisa ser feita, também, de pequenas coisas bobas...