quarta-feira, 13 de junho de 2012

Conviver no meio urbano

Segunda à noite, perto das 22, passei por uma padaria na dom Joaquim, voltando para casa: a avenida que comporta uma trilha para caminhada está plenamente arborizada e as sombras do horário, davam contornos de paz e tranquilidade àquele recanto da cidade.
Não pude deixar de comparar com a atual situação da minha rua que, com as obras na avenida Fernando Osório, transformou-se em parte do escoadouro do tráfego para a zona norte da cidade. Um caos. Na segunda, para sair de casa, fiquei a uma quadra da avenida XXV de Julho. Na terça, foi impossível o acesso por esta avenida. Tive que sair pelo fundo da rua, com quase dois quilômetros a mais para chegar à faculdade.
Como diz o meu amigo Hélio Madruga: "quem viver, verá". Mas também dizem que para melhorar, tem que piorar. Mas, creio, isto faz parte de um processo que passou longe do planejamento e que não teve estratégias de comunicação eficiente para que a população pudesse se organizar.
Algumas pessoas querem que a população se conforme e aceite os benefícios que virão. Quanto à primeira, não concordo, pois ela tem o direito de conhecer plenamente o que está acontecendo. Quanto à segunda, é um direito ter as melhorias que já deveriam ter acontecido há mais tempo.
Conviver em sociedade, tem suas vantagens e seus defeitos. Fiquei chocado quando me contaram que uma senhora integrante de um grupo passou quatro dias sem conversar com alguém. Embora todos os aborrecimentos do trânsito, ainda temos, ao sair à rua, ou receber em casa, alguém com quem conversar. Há males que vêm para o bem.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Vileiro, por opção

Andar, pela manhã, por minha rua, é o encontro do passado e do futuro. Pelas calçadas, vou encontrando os antigos moradores e ainda se fala do tempo, de doenças, de vivências comunitárias. Ao mesmo tempo, a antiga estrada da Silveira convive com novos condomínios de casas e apartamentos, sendo necessário todo o cuidado para atravessar as ruas.
Entre o silêncio das noites de poucos anos atrás, hoje há o buliço de veículos que transitam ao longo de todo o dia... E também da noite. Lembro que fiquei chocado quando, pela primeira vez, em Porto Alegre, presenciei um engarrafamento. Já não foi do mesmo jeito quando, recentemente, em algumas avenidas principais de Pelotas o mesmo começou a acontecer em horários de pique. Mas foi hilário ver a tranqueira que começou a acontecer na minha própria rua!
Neste espaço onde sobrevivo e ajudo minha mãe a sobreviver, ainda há um senso de vizinhança que faz a gente almoçar juntos, estranhar que determinados amigos não apareçam durante algum tempo ou sentir falta daqueles que se fazem ausentes.
Embora a geografia e a paisagem não sejam mais as mesmas, há um sentimento de pertencer a um lugar, raízes que se estabelecem não por nascimento, mas por criação e opção de ser vileiro. Lembro de um dos últimos momentos em que encontrei seu Udo, falecido recentemente, em que ele me disse que daqui não sairia, de jeito nenhum. Tinha passado a vida aqui e aqui pretendia terminar.
Brincava com um amigo que, daqui, somente queria como última morada o cemitério. Ele respondeu prontamente: "não seja o problema, faço a tua cremação e, depois, de avião, atiro as cinzas sobre a Silveira".   Boa ideia, mas, afora o Google Earth (onde se pode ver regiões a partir de fotos de satélites), não tive o privilégio de ver minha vila de cima. Quem sabe minhas cinzas a verão.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tem solução para o trânsito?

Entre o domingo e a segunda-feira, aconteceram dois acidentes de proporção, na área urbana de Pelotas, sendo que num deles houve a perda de uma vida. Todos estamos acompanhando os esforços do governo federal para energizar a indústria automobilística nacional, mas não vemos o mesmo empenho em dar qualidade de trânsito para uma frota de veículos que aumentou, assustadoramente, especialmente no que se refere às motos.
Minha experiência do dia a dia me leva a pensar que, cada vez mais, não é suficiente uma direção defensiva: aquela em que você cuida do veículo que dirige, mas também tenta entender o que está acontecendo nas ruas. Há a necessidade de uma sensibilidade criativa, onde se encontrem formas, até, de prevenir o que pode acontecer.
Vejam como exemplo: quando você vai entrar numa rótula e é o terceiro carro na fila. Quando o primeiro passa e há espaço suficiente para outros dois ou três, não basta você olhar para seu lado para ver se ainda é tempo, pois o carro da frente pode não ter passado, por receio ou inexperiência. Outro caso, as faixas de pedestre. Você para quando vê um transeunte buscando seu direito, mas o detrás não. Então, é necessário, por exemplo, acionar o pisca-pisca, tentando alertar o desavisado.
Mas, além de sensibilidade, é preciso ter paciência. O aumento absurdo do número de veículos faz com que dobre o tempo em que, normalmente, você percorreria um determinado espaço. Neste caso, é bom se munir de um bom som e relaxar. Usar e abusar da buzina não vai adiantar nada, a não ser deixar todo mundo mais nervoso.
Solução seria termos um serviço coletivo mais competente. Infelizmente, na atual situação, pouco mudaria, porque você estaria livre da direção, mas demoraria o mesmo ou até mais tempo para cumprir suas tarefas. Discutir mobilidade é essencial, com aperfeiçoamento da malha urbana, mas também com novos hábitos que tornem o conviver nas ruas algo que faça a pena viver em sociedade.

sábado, 9 de junho de 2012

Dá pra pendurar a conta?


Da série de minhas lembranças de artigos passados.
A cena parecia bastante simples - chegar ao posto de lavagem de carros, perceber que se está sem dinheiro e solicitar: “Estou sem dinheiro. Posso trazê-lo à tarde?” A resposta, com um sorriso: “claro, não tem problema”.
Depois que sai do posto, durante a caminhada pela avenida dom Joaquim, muitas e ternas lembranças vieram da época em que meu pai, seu Manoel, trabalhava em armazém, na Vila Silveira. Naquele tempo, a conta era anotada em caderneta, ou num pedaço de folha, que ficava ao lado da balança. O componente mais importante – tudo era feito na base da confiança: o crédito dado e a certeza de que, com o pagamento da semana, da quinzena ou do mês, seria saldada a dívida.
Mesmo durante o curto espaço de tempo que morei no bairro Santana, em Porto Alegre, pude ver que o mercadinho em frente ao meu prédio – com estrutura de supermercado – tinha as suas cadernetas para a vizinhança.
O dado mais interessante é que a moeda que circulava tinha idêntico nome: confiança. Dos mais antigos, ouvimos falar de tratos feitos “à base do fio do bigode”. Como este, em idos tempos, era sinal de absoluta seriedade, era o demonstrativo de que o negócio era sério. Absolutamente de confiança.
Um sentimento que é flagrado quando se olha com tranquilidade num “olho no olho”. Desde nossas mais tenras relações de família, nos acostumamos a olhar no olho de nossos pais e saber que não há porque mentir. Se mentir, deflagra-se uma cadeia de erros difíceis de recuperar. E, mesmo quando há um pedido de perdão por um erro, o perdão dado não elimina um dos mais terríveis venenos: a dúvida.
Os pais acabam percebendo que, a não se tratar os filhos com absoluto respeito, está semeando ventos. E podendo colher tempestade. Os filhos também se dão conta de que necessitam, muitas vezes, desesperadamente, de um porto seguro onde possam ancorar quando de suas dúvidas e tristezas. Esta construção tem, como elemento fundamental, a confiança.
Do muito que ouço sobre relação de pais e filhos – e do que aprendo a cada dia na Escola de Comunicação, fica sempre a sensação de que precisamos recuperar credibilidade no discurso para podermos ter relacionamentos com bases mais fortes. E nestes dois âmbitos – família e escola – estão colocados os pilares para todos os demais relacionamentos.
O que nos ajuda a sobreviver em tempos difíceis sãos as relações que estabelecemos no âmbito mais próximo de cada um de nós: a comunidade, a vizinhança e a família. Aqui, ainda hoje, é possível perguntar, com muita tranquilidade: “Dá pra pendurar a conta?”.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Próxima eleição, uma mulher para prefeita?

Os prazos legais para a campanha eleitoral para prefeito e vereadores, em outubro, estão se intensificando e deixando alguns cada vez mais nervosos. Muitos setores preparam-se para fazer a mesma coisa: candidatos já conhecidos, com as promessas de sempre e nos levando a viver o que, hoje, estamos vivendo.
No entanto, há uma reação que se levanta silenciosa e tenta ocupar espaços em meio às tradicionais raposas dos meios políticos. Nos últimos tempos, vejo esta manifestação em meio aos jovens e às mulheres.
Em meio aos jovens, o grande número daqueles que participam das redes sociais vai fazer um grande diferencial. Até pouco tempo, entendíamos como "formadores de opinião" os meios de comunicação e aquelas pessoas que, de alguma forma, participavam da vida pública - políticos, educadores, religiosos, etc. No entanto, um fenômeno se levanta com a Internet, onde as informações facilmente são retransmitidas e transformam desconhecidos em pessoas públicas em curto espaço de tempo.
Por outro lado, vemos a entrada de mulheres - algumas guerreiras, preparadas, dispostas a dar uma nova cara à política. Já disse que o homem - ser masculino - é o responsável por tudo aquilo que aconteceu até aqui. E ficamos devendo. É hora de darmos a vez e a voz às mulheres. Quem sabe elas não consertam os nossos desmandos?
Eu creio que sim. Vejo candidaturas sendo apresentadas com chance de serem o novo do próximo pleito eleitoral, que têm escola no passado, mas que, hoje, planejam com uma visão mais ampla do que o futuro nos reserva. Em boa hora, vamos ter agradáveis surpresas, neste momento de grandes mudanças regionais, quem sabe dando uma nova esperança para Pelotas que merece ser tratada de uma forma melhor do que aconteceu até agora.

domingo, 3 de junho de 2012

Sincretismo religioso

Na medida em que os restauradores das antigas igrejas, especialmente dos centros históricos de Minas Gerais, avançam em seus trabalhos, defrontam-se com um fenômeno: entre os blocos de pedras das igrejas Católicas, no meio da massa que as une, vão encontrando pequenas imagens das divindades que os negros trouxeram de seu continente.
É a comprovação de que, embora estivessem no templo de seus senhores, reverenciando as divindades dos brancos, não deixava de haver um pouco da religião de seus Orixás, que foram obrigados a deixar, por bem ou por mal.
O fenômeno em que os negros travestem santos de origem Católica - Nossa Senhora de Navegantes, por exemplo, por Iemanjá - é um esforço forte e quase no limite de suas forças, de não negarem as suas origens, de onde foram arrancados à força, transformados em mera massa de trabalho, onde a possível "conversão" era mais um elemento que ajudava a torná-los subservientes.
Este "engano" genial, lembra, de passagem, um outro que também julgo de um humor excepcional: contam que hoje, com as novas iluminações e a capacidade de acesso das lentes fotográficas (além do restauro arquitetônico), leva a que se veja em maiores detalhes as imagens que estavam em lugares onde se vislumbrava a forma, mas não os detalhes. Então era comum que artistas pintassem ou esculpissem seus mecenas - bispos, papas, reis - com o jeito com que se relacionavam: bem tratados, nas feições de anjos; explorados, nos traços de demônios e figuras malignas.
Mas voltando ao sincretismo, ele hoje é presente entre os negros, mas também entre populações que foram mantidas às margens da educação e da cultura. Condená-los ou tentar esclarecê-los é, quase sempre, um esforço inútil. Quando se aproximam das igrejas cristãs, vêm em busca do sagrado, dando uma lição de humildade que muitos de nós, pretensamente religiosos, não aprendemos em muitas e muitas horas de estudos onde sobra a teoria, mas falta a vivência do dia a dia.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Religião, política e vaidade

O texto de ontem, provocado pelo Ivan Duarte, trouxe uma discussão séria a respeito de religião. Lembrei, então, de que num outro texto, disse que "não existem guerras religiosas, ou guerras políticas, existem guerras econômicas". Querendo dizer que por trás dos conflitos ditos "políticos", ou "religiosos", estão interesses econômicos que usam de ambos para encobrir seus interesses.
Tanto na política, quanto na religião, existem aqueles que se dispõem a servir, colocando-se à disposição da comunidade na busca por qualidade de vida e ampliar o acesso a direitos elementares. Mas, por outro lado, existem os carreiristas, que usam o povo para galgar seus interesses. Estes é que são o problema, porque são eles que acabam deixando as piores marcas na História.
O Cristianismo sabe muito bem disto. Tanto Católicos, quanto Evangélicos (igrejas mais tradicionais na História) fizeram parte de uma das mais tristes chagas da Humanidade: a escravidão (veja o caso do Brasil, com o Catolicismo e os Estados Unidos, com os Evangélicos). Foi um momento em que estado e religião praticamente faziam um mesmo papel.
Assim também as questões políticas ligadas a uma suposta "democracia" (de quem? dos políticos, da economia?) onde se acusou países de práticas de guerra que não haviam acontecido e isto justificou invasões e, especialmente, massacre a populações civis.
A questão, por trás, chama-se "poder". Em qualquer área, aqueles que se deslumbram com o poder passam a querer mais, porque ele é insaciável. Neste caso, as disputas se dão nos bastidores, muito mais no incenso das vaidades do que do discurso dito "democrático" que se faz.
A História tem algumas feridas sérias causadas por estes bandos que se entranham em partidos políticos ou em religiões, mas seus interesses estão bem longe dali. Precisamos conhecer a História, mas também como funciona a entranha do poder (e este mal pode estar bem próximo, na própria família, no trabalho, na vizinhança), para buscar a mudança, ou, ao menos, um convívio consciente e crítico que, se não nos livra do mal, ao menos nos mantenha acima do nível da água.