Conto de Natal:
Era quase meia-noite quando alguém bateu à porta. Muito estranho: a luz da rua estava acesa e havia uma campainha bem ao alcance da mão. Quando conseguiu fazer a chave funcionar e enfrentar o rangido da dobradiça, que pedia por um desengripante, não viu mais ninguém. Correu os olhos ao redor, também não existia viva alma. Quando desceu o olhar, ouviu ao longe um sino que anunciava a passagem da véspera para o dia de Natal. E ali estava: uma caixa de papelão com o que parecia ser um amontoadinho de gente…Fechou e abriu os olhos diversas vezes. Parecia um clichê de novela. Antes que o sino repicasse as 12 badaladas da meia-noite, abaixou-se para examinar a “entrega”. Na primeira dobra de uma fralda, encontrou uma mãozinha que se agitava. Na seguinte, um rostinho de criança, com os olhos arregalados… Em seguida, sentiu o cheiro, que não era de “incenso”, mas da necessidade de banho e trocar os panos. Com medo de que a caixa se desmanchasse, tomou cuidado em trazê-lo para sobre a mesa da sala.
Passaram-se doze anos e, numa outra véspera de Natal, esperava que o seu “presente” daquela noite inesquecível voltasse da rua. Mirava a porta enquanto as lembranças iam se acumulando e insistindo em retornar. Como a necessidade, mesmo após tanto tempo, de acreditar no que foi preciso para readequar a sua vida e a da família para, já idosa, enfrentar a tarefa de criar alguém. Em nenhum momento pensou em desistir. Mas sentia o coração contraído ao pensar que, possivelmente, não conseguisse ver a sua idade adulta. Ainda na calçada, ouviu chamá-la de “mãe” e invadir a casa como um furacão.
O menino, agora pré-adolescente, tinha marcas de doce pelo rosto e um sorriso brincalhão. Correra pela vizinhança, ajudando a montar presépios e iluminar as árvores. Para ela, a confusão alegre que causava ao entrar era um bálsamo contra a solidão que a idade insistia em impor. Ele jogou a mochila num canto e, antes de ser repreendido, correu para a beirada da mesa, onde um prato de rabanadas o aguardava. O doce, o frito e polvilhado de canela e açúcar era uma das muitas “cumplicidades” que haviam construído juntos.
Sorriu, sentindo que, de alguma forma inexplicável, aquela noite de doze anos atrás não tinha sido um clichê, mas uma dádiva. A incerteza da velhice era suavizada pela certeza de um amor inesperado. Enquanto ele mastigava apressadamente, contando sobre os fogos de artifício que veria mais tarde, ela agradeceu silenciosamente pela campainha ter tocado, pela “música de fundo” que foi o rangido da porta e, principalmente, pela caixa de papelão, que ainda guardava. Aquele era o seu Natal. Completo. Pois fora presenteada com o seu próprio “Menino Jesus”!
Que tu recebas o Menino Jesus em teu coração. Meu carinhoso abraço. Deus te abençoe sempre!
(Imagens e revisão pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/Jjj2S4lfF2c)

Nenhum comentário:
Postar um comentário