Éramos três sonhadores quando iniciamos o curso de Filosofia, no distante ano de 1976. Três calouros, seminaristas, estranhando o ambiente com alunas na Universidade Católica de Pelotas. Eu, mais o Pedro Bettin e o Gomercindo Ghiggi. Nas primeiras aulas, sempre se tinha receio dos trotes de calouros. Dos três, a única vítima acabou sendo o Gomercindo, que foi pintado, mas, que bem me lembre, não teve a cabeça raspada.
Lembrei deste bom tempo ao saber da morte do Gomercindo, aos 69 anos. Estava fora de Pelotas e comecei a receber mensagens cedo da manhã. Transbordaram as lembranças desde o nosso ingresso no seminário, nos tenros 12 anos, onde estudamos o equivalente ao primeiro e segundo grau. As aulas, quase que particulares, com tempo para estudar, cumprir tarefas na horta e arrumação da casa, assim como atividades esportivas, culturais e religiosas.
Findava a década e, já acabando os cursos nas faculdades, tomamos rumos diferentes. O Pedro ainda fez mais quatro anos de Teologia e faleceu no ano em que iria ser ordenado padre. E o Ghiggi, agora. Acompanhei à distância seu trabalho de educador que, ainda no seminário, por inspiração do presbítero Cláudio Neutzling, sempre teve uma forte conotação social. Inicialmente, com atuação na comunidade católica do Pestano, em Pelotas, época em que se formavam as primeiras comunidades eclesiais de base.O reencontrei algumas vezes em atividades da Igreja Católica. Participava da vida em comunidade e também gostava do canto coral. Em outros tempos também apreciava jogar futebol, ao estilo dos melhores zagueiros de então, que definiam ser, "abaixo do pescoço, tudo é canela". O Seminário tinha um bom campo de futebol e não importava se era uma pelada de um jogo como atividade física ou uma disputa com os freis, juvenis do Brasil ou do Pelotas, o assunto era debatido em detalhes e com paixão por muito tempo...
O Gomercindo constituiu família e tomou seu rumo. Infelizmente, a ausência é sempre o sentimento de que algo (ou alguém) vai fazer falta. Vivemos um tempo especial por mais de dez anos que marcaram as nossas vidas. Porém, é necessário continuar, com a impressão de que se poderia ter feito diferente, mas não se fez... quem sabe, conviver mais. Não existe compensação pelo tempo que vai passando e quando nos damos conta a vida também passou. Creio que meus dois colegas agora convivem com os padres Guerino, Olavo e Cláudio Neutzling. A esperança é que um dia a gente consiga se reencontrar…
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