sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Os contornos que imprecisam o tempo

Eu me iludi com o tempo.

Busquei formas de enganá-lo.

Naveguei pelo calendário

Sem compromissos com o tiquetaquear das horas.

Quando percebi o relógio da existência,

Já era tarde:

Inebriado, esqueci da realidade

E mergulhei no redemoinho da imaginação.

 

Um turbilhão.

Quis gritar pedindo pela tua insensatez.

Havia perdido a noção e já não me importava

Com a idade do corpo físico,

Com as marcas que o mudaram,

Assim como as dificuldades que

Venceram meus reflexos juvenis

E me obrigaram a andar sem pressa.

 

Confundi vagareza com prudência.

Confinei lágrimas e risos

Nos momentos em que esperavam por um adulto.

Era necessário estabelecer referências,

Tornar-me aquilo que desejavam,

Deixar a fase

Da crença nos eternos sonhos possíveis,

Em que não pensava que a vida pudesse ser finita...

 

Apesar de que o espírito teime

Em se sentir como em outros tempos,

O que vi na imagem refletida

Foi de alguém que deixou escapar

As gotas da vida que escorreram pela flor,

Brilharam por um instante,

E, como a lágrima,

Regaram os caminhos por onde andei.

 

O espelho brinca comigo.

Ali onde o devaneio

Fez desfilar rostos e corpos,

Que não apenas trocaram de figura,

Mas moldaram sentidos,

Com ausências e ressentimentos.

Os musgos se

Acumularam pelas fendas dos sonhos...

 

Hora de fazer as pazes com a vida.

Quanto tempo resta? Difícil dizer.

O certo é que estou distante

Dos tempos da juventude.

Nos contornos que imprecisam o tempo,

Tracei o caminho que se chama destino,

Sabendo que a chegada deu direito à vida e,

Em algum momento,

Preciso cruzar a linha da partida...

Nenhum comentário: