sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A imagem das palavras esquecidas

O tempo em que as fotografias desbotam

É o mesmo em que se sentem as marcas

Que definem nossas histórias.

Os retratos que esmaecem

São amores que aos poucos ficam etéreos,

Desejando que não se percam

E, se possível, virem lendas...

 


Não têm e não necessitam de explicação.

O que fica na lembrança 

Precisa ser contado e cantado,

Até que se transforme em memória,

Que, mesmo assim,

Vai se toldando e toma o rumo do esquecimento.

 

Lá vão ficando rostos, corpos, expressões

O sentimento de que amores

Não precisam ser eternos...

Até podem. Mas não precisam,

Pela própria finitude humana.

O que resta são os registros físicos

E precisam, sim, ser intensos!

 

Amor não pode ser confundido com paixão.

Amor atende às necessidades primárias do espírito.

Depois de vividos,

Impregnam cada fibra do corpo.

São receptores de energia

Que transpiram pela sofreguidão da vida.

Ilusão pensar que

Amores se escondem no peito.

Ali apenas renovam-se, voltam a pulsar

E partem quando precisam de espaço,

E suspiram pelo brilho da luz.

 

Emergem,

Como as fotografias que, com o passar do tempo,

Silenciosamente, vão ocupando os móveis.

Tornam-se lembranças,

Que se apropriam das palavras

E se refazem no interior dos pensamentos.

São testemunhas e, ao mesmo tempo, companhias...

 

No entardecer da vida, quando eu as esquecer,

Preciso que me ajudes

A criar novas ou revisitar lembranças.

Rever álbuns onde dormita o meu passado,

No silêncio da noite, quando um relógio tiquetaquear,

Ainda marcando o compasso do coração.

 

Do mesmo jeito que os registros fotográficos,

Algumas coisas são inevitáveis,

Como as palavras que morrem porque são esquecidas.

Fotografias sussurram mistérios e silêncios,

Andam de braços dados com as horas,

Fazem parte de um relógio que eterniza a memória.

Mas que também se esvai,

Como a ampulheta que não mede o próprio tempo,

Sem que suas areias saibam que tornam refém a Eternidade.

Alimentada por presenças que murmuram carinhos

Pelos balcões, cômodas, bidês, estandes,

O agridoce sabor da vida que embala as minhas saudades...

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