domingo, 11 de junho de 2023

Nossas tardes de domingo...

O auditório não estava cheio. Embora a mudança, com a inclusão do público masculino, as “minhas colegas de trabalho” não respondem com a mesma animação às tentativas da apresentadora Patrícia Abravanel de preencher os vazios deixados por seu pai, Silvio Santos, 92 anos. Era exatamente ele que faltava, na homenagem que ganhou do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, no domingo passado, num programa que já dura 60 anos. Tentou resgatar um pouco da história do camelô que virou o apresentador.

Quem teve a sua infância e adolescência nas décadas de 60 e 70, com certeza, muitas vezes esteve sentado à frente da televisão para assistir ao programa que iniciava com o refrão “Sílvio Santos vem aí!” Na época, começava às 11 horas e percorria a tarde de domingo até as 22 horas. Tinha diversão para todos os gostos, desde o show de calouros, a portas da esperança; boa noite, cinderela; qual é a música, namoro na tv, arrisca tudo; ela disse, ele disse; quem sabe mais, o homem ou a mulher?

Músicas que grudavam na memória: quem não lembra de “ritmo de festa”, “sorria”, “hoje é domingo, é alegria, vamos sorrir e cantar”! Apresentado em grandes auditórios que tinha a marcação de excursões de todo o Brasil. As “colegas de trabalho” faziam sacrifícios para estar perto do ídolo, ao menos uma vez na vida, respondendo à claque de apoio, uma espécie de torcida ensaiada com antecedência e avisada por cartazes quando da sua participação: batendo palmas, vaiando ou gritando palavras de ordem...

Não existiam muitos aparelhos de televisão. O remédio era recorrer ao “televizinho”. Onde também se assistiam as novelas. Depois, a tv se transformou em rainha da sala e, aos domingos, era ligada pela manhã e somente desligada quando o Silvio Santos dava o seu boa-noite. Era comum que se servisse um prato, ao meio-dia, e se fosse em busca de um lugar no sofá para não perder nenhum dos quadros. Até ficando incomodado quando chegava uma visita e os pais faziam questão de desligar a televisão.

Já no Seminário Diocesano, também se tinha autorização para assistir, especialmente à noite, depois da janta. Ainda sem a concorrência do Fantástico, o quadro mais aguardado era o “Boa noite, Cinderela!” Nele, uma criança pobre era selecionada dentre três e contava o sonho que gostaria de realizar. Recebia um manto, era conduzida para o trono e um “príncipe” (o mais famoso foi o cantor Ronnie Von) aparecia trazendo uma coroa e o sapatinho de cristal. Nem é necessário dizer o quanto era emocionante!

Nossas tardes de domingo... A história da televisão brasileira se confunde com a história do empresário, político, banqueiro, apresentador, que conquistou espaço, por negócios ou no coração de grande parte da população mais simples. Pragmático, defendia: “Queres ter paz, sucesso e ser feliz? Não fale da tua vida a ninguém. O que ninguém sabe, ninguém estraga.” Pois é, Sílvio, teu legado é assim: amado por uns, odiado por outros, mas com a certeza de que deixas tua marca consolidada na cultura popular brasileira.

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