sexta-feira, 24 de março de 2023

Me deixa voltar para casa...

Há um lugar no cantinho da memória

Em que, por toda a vida, ainda mora a inocência.

Lembranças são o antídoto para o que

Se representa socialmente.

É o jeito da alma abrir janelas em que se revela

Aquilo que se nega por nossos medos e fantasmas.

 

Embora se queira ser independente,

Somos carentes

De um simples toque de carinho.

Basta lembrar,

Consciente ou inconscientemente,

Das vezes em que se desejou clamar:

"Não me solta!"

 


A mão carinhosa da mãe

Que amparou os primeiros passos;

O pai que apoiou

As costas ou a própria bicicleta

Para as primeiras pedaladas;

A professora que, com paciência,

Conduziu os dedos nas primeiras letras;

Quem a gente amou,

Na novidade das primeiras carícias,

Explorando as emoções da intimidade;

Quem ainda desenhou nosso rosto

Com a ponta dos dedos,

No desejo de que ao menos restasse a saudade

E que não se caísse no esquecimento.

 

Pode ser difícil, mas é reconfortante

Quando se tem alguém para confessar:

"Eu sempre precisei contar contigo!"

 

Aprender a ficar sozinho é quase impossível,

Mas também se sofre para amar

As pessoas como elas são.

Talvez esta seja a armadilha da vida:

Reconhecer alguém que gastou

Seu tempo e energia para cativar,

Envolveu os corações em

Almofadas que ampararam nossas quedas.

Andou remexendo nas lembranças

E, agora, segura a mão como quem

Já auscultou a minha jornada

E conhece o jeito de me deixa voltar para casa.

 

Não tem importância se uma lágrima teima em aparecer.

As lágrimas, sentidas ou não derramadas,

São a resiliência de Deus.

Que amenizam as despedidas,

Transformam-se em marcante "até logo",

Quando o sorriso e o que resta de um olhar

Permitem que, num murmúrio, apenas se peça:

Quero voltar aos teus braços!

E quando serenar meu coração, no umbral do sossego,

Que eu possa ouvir: "está tudo bem!"

E, finalmente, sentirei que tenho

Um lugar para abrigar os meus sentidos...

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