domingo, 5 de março de 2023

A dor que se mistura ao sorriso

A gente não sabe bem como acontecem as amizades, nem quando surgem, nem quando vão nos deixar. O que se sabe é que, por toda uma vida, necessitamos da sua presença, em alguns momentos mais, em outros menos. Pouco se nota quando estão ao lado, no quotidiano, mas doem quando se ausentam. Então, quando se lida com o diagnóstico de uma doença que tem o estigma de ser fatal, o câncer, fica mais difícil. A autoestima é abalada e a insegurança aumenta. Mais doloroso, ainda, ao afetar a própria aparência.

Você já viu este filme... Mas o barbeiro Danillo Mendonça Gomes, em Goiânia, viveu uma situação inusitada. Recebeu um pedido que não podia negar: raspar a cabeça da prima Núbia José Machado de Paula, então com 33 anos, que cortava o cabelo em função do tratamento de um câncer de mama. O sofrimento e a emoção fizeram com que demorasse mais, porque Danilo fez cada etapa com carinho e quando a moça teve a noção de como ficaria, viu o amigo segurando a máquina e raspando a própria cabeleira.


Guilherme Molina foi surpreendido por seu time de futebol, em Estrela (RS). O jovem, de 21 anos, foi diagnosticado com um câncer. Iniciou a quimioterapia e veio a queda dos cabelos, com a sugestão de que raspasse a cabeça. Na noite em que cortaria o que já não era muito, reuniu amigos para um churrasco e serem “testemunhas”. Na brincadeira, antes que o fizesse, um a um, diversos, rasparam a cabeça, tornando mais leve a tarefa. Quem não estava presente se apresentou no dia seguinte, já sem as respectivas melenas.

A americana Joanna McPherson foi diagnosticada com câncer de mama. Iniciado o tratamento, em seguida, o marido e as filhas viram-na perder o cabelo e sofrer com as consequências da doença. Quando começou a queda do cabeço, pediu ao esposo que raspasse os fios restantes dos efeitos da quimioterapia. As meninas Kayla, com 10 e Sophia, com 7 anos, não tiveram dúvida e quiseram demonstrar seu apreço sendo solidárias com a mãe. Diante da situação, rasparam a cabeça como forma de apoio.

Luke Nelson estava com 8 anos quando desenvolveu uma doença que causa a perda de cabelo, a alopecia. Passou a usar boné, tendo a mãe explicado que “para um menino, nesta idade, perder o cabelo foi duro e difícil”. Colegas de aula perceberam a situação e fizeram uma festa de apoio onde o grande gesto de carinho foi, também, ficarem sem os cabelos. Vendo outros “carecas” como ele, Luke não teve dúvidas: livrou-se do boné e voltou a circular entre seus amigos com a mesma desenvoltura de antes.

Chorei lendo e assistindo aos vídeos. Qualquer um de nós, em algum momento, já viveu dias de fragilidade. Quem sentiu na carne (e no espírito) o estrago que faz um câncer - ou cuidou de alguém que teve um - sabe que há momentos com o estranho gosto de dor que se mistura com um sorriso. Luta-se passo a passo, dia após dia, buscando a força que vem de quem demonstra o quanto vale a amizade, alcança o real valor da vaidade, que não está no cabelo, mas na cumplicidade do olhar e do carinho de quem se ama...

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