domingo, 6 de novembro de 2022

Os doramas e o direito de adolescer...

Amigas e amigos psicólogos, estou urgentemente precisando dos seus serviços. Embora já tenha entrado naquela que é considerada a melhor idade – já contei, estou a caminho dos 68 anos - pasmem, estou adolescendo! Vocês não leram mal, não: nem eu acredito, mas “estou adolescendo!” Estou me dando ao direito de reviver a minha adolescência. Talvez não em todos os sentidos, mas naquela parte em que os sentimentos afloram por qualquer situação mais... delicada. E me vejo assistindo aos “doramas” coreanos.

Emocionado com dramas da idade e enxugando os olhos em diversas ocasiões. O que, diga-se de passagem, não é incomum quando sofre um jovem casal, uma criança ou um idoso. Recentemente, a Netflix jogou nas telas e telinhas uma enxurrada de produções asiáticas com destaque para dramas juvenis, com gosto de aventura, comédia, ficção e a sensação de que se acompanha o que já se viveu de alguma forma. Nostálgico, tenho a impressão de que reconstroem com exímia tecnologia vivências de épocas passadas.


As relações familiares, as relações afetivas, a descoberta do outro, na maior parte das produções têm aquele olhar casto e sensível de um tempo que, para nós, já ficou na saudade. É estranho ver a força do patriarcado, inclusive com agressões que hoje não cabem mais; a submissão da mulher, com expressões como: “eu vou sempre cuidar de ti”; assim como atitudes de intimidade em que beijos, proximidade, toque e o carinho estão longe dos chupões e amassos a que o cinema e a televisão nos acostumaram.

Com rostos que parecem bonecas de porcelana, são atores e atrizes que ganham vitrine no mundo do entretenimento, em contraponto às produções americanas e europeias, assim como de mercados descobertos neste novo mundo das relações pela internet. O realismo muitas vezes cru e angustiante de filmes e séries ocidentais dão lugar a romances melosos (Primeira vez amor) onde também pode estar presente a magia (Alquimia das Almas), bem como sofisticada tecnologia (Memórias de Alhambra).

De alguma forma, captaram o sentimento de que são produtos de entretenimento e, por isto mesmo, não precisam ser intelectualizados, assim como jogados para dentro de casa, onde se assiste de forma relaxada e receptiva. Antes que os politicamente corretos de plantão advirtam, creio, sim, que não existe uma proposta da Coréia do Sul de dominar o mundo com sua máquina de produzir doramas. É produto comercial que encontra comportamentos com reminiscências do século passado, que ainda se mantém.

Se você gastar seu tempo, à noite, e, ao invés de novelas, procurar no streaming estas séries, não se sinta culpado. Muito do que hoje é rotulado de “cultura” já teve época em que foi considerado “subcultura” e, até, desprezado. O passar do tempo sempre foi o melhor filtro para separar - do clássico ao popular - o que é bom e merece permanecer. Enquanto isto, aproveite: encoste-se no sofá, apronte o chimarrão, a pipoca e uma caixa de lenços... No resto, são bons risos, diversão garantida e, quem sabe até, algumas lágrimas!

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