terça-feira, 6 de julho de 2021

“Um governador gay e não um gay governador”

Periodicamente, figuras públicas anunciam a sua opção sexual. Quando acontece é porque, de alguma forma, era de conhecimento para círculos próximos e o fato de que comentários circulavam concretiza a necessidade de “sair do armário”, dito infeliz, como alertou Daniela Mercury: “eu não saí de um armário, porque nunca entrei nele”. Versão para expressão inglesa, sinônimo de “sigilo vergonhoso”. No caso dos gays, devido ao preconceito, esse segredo era sua orientação sexual.

A discussão, agora tem nome e sobrenome: Eduardo Leite, o pelotense que é governador do estado do Rio Grande do Sul. Num programa de alcance nacional, Conversa com Bial, disse: “Eu sou gay. E sou um governador gay, e não um gay governador, tanto quanto Obama, nos Estados Unidos, não foi um negro presidente, foi um presidente negro. E tenho orgulho disso.” E completou: “Apenas achava que minha orientação sexual era uma questão privada, mas com a exposição nacional, a partir do momento em que assumi a pré-candidatura a presidente, entendi que era importante falar.”

Confesso que não sei se é melhor tornar público, ou, o “menos pior”… Infelizmente, há uma “tolerância” que reveste o preconceito entranhado numa cultura “machista”. Quando converso com jovens e chegam a este tema, dou minha opinião: numa sociedade como a nossa, tornar público não diminui a pressão. Marco Nanine disse numa ocasião que, depois do anúncio de que era gay, em todas as entrevistas que dava, em algum momento, alguém perguntava pelo assunto. Sabendo que o mesmo não acontecia com outros artistas héteros, que não precisavam dar explicações.

O papa Francisco, em uma de suas primeiras entrevistas, pediu respeito aos homossexuais e disse que não condenava a pessoa em si (“quem sou eu para condenar alguém”), mas que a igreja não aceita este tipo de relacionamento. Há muitas lideranças religiosas de diversos credos que pedem a discrição tanto para hétero, quanto para homossexuais. Como dizia uma velha amiga, “ninguém precisa andar se esfregando na rua e entre quatro paredes é entre eles e as suas consciências”.

Leite é cidadão íntegro, por caráter e formação. O filho do Marasco e da Lica forjou em família valores que testemunha para um estado difícil, por não ser “o mais politizado da federação”, mas em que a intolerância está enraizada em atitudes do dia a dia. Por exemplo, ocasiões em que se ouve chamar de “bichinha” e, cobrado, defende-se com uma desculpa esfarrapada: “eu tava brincando”. Não tava brincando, não, estava deixando escorrer o veneno que já fez muitas vítimas…

Não somos “polo exportador de veados”, como certa liderança política brincou. Quem dera o estado que já teve um governador negro, uma governadora mulher, respeitasse o fato de que, agora, tem um governador gay. O preconceito, neste caso, é a ignorância que afasta da verdade. Eduardo é alguém que não tem por bandeira uma opção sexual, mas a defesa da integridade da alma de todos os gaúchos, já tão esfarrapada, necessitando de um agregador que respeita e merece ser respeitado!

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