sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Como a casa dos avós...

Conheci seu Albino depois de uma formatura. Acompanhou a família que celebrava o término do curso pelo neto. Muita gente saia do auditório. Ficamos para trás e se identificou. Depois foi como se o encerramento daquele ciclo transbordasse tudo o que tinham passado. Sabia que o neto não era dos mais brilhantes mas, em alguns momentos, o que passou ajudou a que piorasse a sua autoestima.
Minha lembrança veio a partir do programa exibido no Globo Repórter sobre este tema. Dois depoimentos em especial: mulher negra rejeitada e perseguida desde criança e outra tem na mãe um dedo sobre a ferida de estar acima do peso - e bem acima - e sofre com a chacota que a sociedade faz com as pessoas obesas.
Voltando ao seu Albino. O neto entrou para o ensino superior com muitas deficiências. Vinha do ensino médio sempre acompanhado e "policiado" pelos pais. Achou que já era crescido o suficiente para não precisar mais da tutela. Seus companheiros, mais do que a faculdade, foram os mentores desta nova etapa. Foi iniciado no uso da maconha e, depois... das drogas mais pesadas.
O pai conversou do jeito que achou correto: o filho precisava de "pulso firme". Não deu certo, quebraram os pratos. Quando encontrou o avô, se defendeu atacando: "o senhor também vai me atirar uma pedra?" Não, não queria atirar pedras, apenas dar um abraço no neto, brincar com ele, dizer que sabia que não estava tudo bem, mas que não deixaria de estar ao seu lado. Não entendia plenamente o significado de certas palavras, mas sabia que a autoestima dele chegara perto do zero!
Boa parte dos amigos se afastou do rapaz. A dependência química, para alguns, é doença contagiosa! O neto não queria ajuda: "quando eu quiser, eu paro." Fez seu curso aos altos e baixos. Anos mais tarde me procurou pedindo recomendação para mestrado. Perguntei por seu Albino. Havia morrido. voltei à carga: "tudo bem?" Silêncio: não, ainda não estava bem. Sabia que o avô tinha conversado comigo. No final do curso tentou parar. Não conseguiu. Apelou para uma clínica de reabilitação.
No programa de televisão, uma das atividades atendia filhos de trabalhadores de um condomínio. Um deles disse: "aqui é como a casa da vó..." Porque? Resposta cheia de ternura: "a gente chega e se sente bem!" O neto encontrou refúgio que precisava: longas conversas e, muitas vezes, ficava na casa dos avós, enroscado ao pé do fogão à lenha para curar suas feridas. A avó bordava, o avô no balanço da cadeira e os muitos invernos passando por suas almas. Na esperança de que não demorasse muito para que voltasse a brotar a Primavera!

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