domingo, 13 de junho de 2010

O direito a um sonho

Diversos programas de televisão em nível nacional ganham audiência com quadros em que oferecem a reforma ou a construção de uma casa. Caso parecido aconteceu em Pelotas no final do ano passado quando dona Conceição, que adota crianças em situação de risco há muitos anos, viu realizado o sonho de transformar um conjunto de puxadinhos em um espaço funcional capaz de abrigar e atender às principais necessidades de crianças e adolescentes.
Quase sempre, quando os sorteados são colocados diante do dilema: reformar a casa ou uma casa nova, não há muitos que duvidem: tudo novo, casa e toda a mobília. Impressiona, sempre, a precariedade – e com certeza isto é o que dá audiência – dos lugares onde as pessoas vivem, com a torcida e a emoção de que uma casa nova signifique um novo tempo, com novas chances e novas perspectivas.
No entanto, o casal sorteado em um dos programas, por uma carta enviada pela filha, teve o pedido inusitado da avó para serem preservados os pertences do marido já falecido, porque ela precisava de um espaço que a mantivesse ligada ao seu passado, um elemento que a unisse a tudo o que passara com alguém com quem construíra uma vida.
O apresentador teve dificuldades para entender porque seria mantido um conjunto de móveis velhos, numa casa nova. Mas a insistência da avó tornou evidente que não era apenas uma questão de teimosia, mas sim de alguém que sabe o quanto é bom o novo que se pode conseguir, mas que são os elementos do passado que nos dão direito a um sonho. São os elementos do passado que nos dão as lições tão necessárias para que não erremos no futuro.
As cenas finais sempre são do comparativo entre o que era antes: móveis estragados, casa mal cuidada, pouca luz e muitos entulhos; com o que vem agora: mobiliário funcional, tudo bem arranjado, iluminação adequada e limpeza. Mas, a última sequência acabou sendo a imagem fechada num rosto idoso, marcado pelos sulcos do tempo e de onde uma lágrima procurava espaço para dizer que estava grata, mas que não abria mão do seu passado e da sua história.

Um comentário:

eng, panerai disse...

belo comentário professor!!!!