segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ainda vou ser presidente

A discussão entre Jornalismo e Literatura já tem alguns acertos: o Jornalismo busca na Literatura recursos que tornem os textos mais “saborosos”, deixando fórmulas pré-estabelecidas, repassando a informação para o imaginário do leitor com a maior fidelidade possível. No entanto, a Literatura diz que olha para alguns fatos narrados pelo Jornalismo e as coisas são tão “loucas”, que ultrapassam a capacidade do escritor em imaginar certos cenários, atores e roteiros da vida real.
Foi a idéia que tive ao acompanhar duas notícias. A primeira contando que o Governo Federal vai fazer um recadastramento para o “Bolsa Família” em que a inexistência de carteiras de vacinação, matrícula escolar, presença efetiva em sala de aula e notas podem servir para o descredenciamento de uma família. Por outro lado, o presidente Lula alcança a sua quinta multa por fazer campanha eleitoral antes do prazo marcado pela Justiça.
A pergunta que não quer calar - o que uma coisa tem a ver com a outra? Um elemento que está saindo de moda: comportamento ético. Se o governo pode e deve exigir das famílias, que se comportem como cidadãos – nem que seja de uma forma às avessas, porque penalizando pelo bolso – o próprio governo não faz o mesmo quando deveria se comportar diante da Lei. Antigamente, se falava de “moral de cuecas” (não sei qual é a responsabilidade desta parte da vestimenta masculina), quando alguém dizia uma coisa e fazia outra.
Infelizmente, em certos casos, a situação de miserabilidade de parcelas da população exige que, para alcançar resultados, se use da linguagem que eles entendem: a penalização financeira. No entanto, o governo utiliza-se de um recurso muito esperto e bem pensado: prefere pagar a multa (que dentro de uma campanha eleitoral é irrisória), mas mantém o principal apoiador da candidata em evidência e utilizando-se de um cargo público. Ficando na cartilha do politicamente correto da Literatura, a impressão é de que, se perguntarmos ao garoto que não quer ir à escola porque age assim, ele bem que poderia afirmar: “para quê? Eu ainda vou ser presidente!”

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