segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um olhar sem futuro

Foram muitas as matérias a respeito de crianças, na semana passada, culminando como seu dia. Diversas iniciativas positivas, incentivando valores e referências naqueles que não podem ser vistos apenas como “o futuro”, mas precisam ser trabalhados como um dos mais preciosos bens que temos no presente.
No entanto, depoimentos vindos de duas fontes preocupam: pais que não conseguem dar alimentação suficiente aos filhos em casa e crianças que não têm a merenda necessária nas escolas. No primeiro caso, o olhar entristecido dos que dizem comer até terra quando sentem fome. E pais desesperados porque já sabem que não têm como providenciar alimento para o dia seguinte. Por outro lado, professores e diretores denunciam a falta de recursos para merenda, em muitas circunstâncias, a refeição mais substancial que as crianças recebem ao longo de todo um dia.
O primeiro caso leva à subnutrição, com seqüelas para toda a vida, como foi mostrado em reportagem na qual um garoto, com dez anos, não sabe contar, ler ou entender um texto. O segundo causa problemas de atenção em crianças e jovens, que dormem durante as aulas, por não estarem alimentados. Educadores dizem que elas chegam entusiasmadas porque vão iniciar o turno pelo alimento e a decepção visível quando se vêem privadas da refeição.
A responsabilidade legal é dos pais. Até creio que lhes cabe uma grande parte, mas não só. Uma parcela significativa é das autoridades públicas e da própria sociedade, que se omite em dar o devido acompanhamento. É interessante que se estabeleçam bolsas para famílias em situação de carência. No entanto, isto não é suficiente se não existirem programas que as livrem da mais trágica das misérias: a cultural. Em muitos casos, os recursos são recebidos e destinados para outros fins. Não se transformam em alimento.
Sabemos que responsabilizar legalmente apenas os pais, em situação de carência, não é suficiente. Então, é preciso a ação do estado tomando as devidas providências para que estas crianças não sejam privadas - em casa ou na escola - do sustento necessário que lhes dê condições de sonhar com um futuro.
O momento é difícil em todos os sentidos. Mas há alguns casos em que a urgência é assustadora: ou nos responsabilizamos por elas, juntamente com seus pais, e se tomam atitudes corajosas e oportunas, ou teremos um desfile de mortos vivos, sem perspectivas e sem futuro.

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