Artigo da semana:
Já lá vão duas semanas desde que tive o privilégio de acompanhar o Jairo Costa, sua esposa, a Eleida; a Clélia, o Paulo e o Jairo Trindade numa trilha pelo Cerro das Almas, em Capão do Leão. Conhecem a expressão: “para baixo todo o Santo ajuda”? Pois descobri que não é bem assim… Até que subimos bem, considerando que o caminho percorrido era a antiga estrada por onde passavam as cargas de pedra. Agora, a trilha é reduzida, com a proteção de mata que ameniza a temperatura e aconchega os passos.
Chegar ao topo é testar o fôlego, nos dois sentidos: físico e psicológico. Ainda não estava arfante, mas quase. E lançar o olhar à distância tinha o gosto de contemplar um instante precioso e privilegiado. A Natureza do que parece uma imensidão, com matas, pastagens, pequenos lagos, a cidade e os pequenos agrupamentos, além das estradas dos homens, de onde chega o silêncio, num riscado de carros, ônibus e caminhões que fogem a sua pretensa importância urbana.
Ao sairmos da Pedreira do Estado, esqueci de pedir uma das varas que se usa como apoio. O Jairo Costa foi gentil em ceder a sua. E foi de três pernas que começamos a descida. Em determinado momento, olhei para a frente e o Jairo Trindade estava indo ao chão. Pensei que eu também não iria escapar de me abraçar com a mãe Terra. Foi automático. Senti faltar o apoio e fui ao chão com a parte das nádegas sofrendo o impacto. Não sei se doeu mais a dor física ou o ego ferido, já que estava convencido de ser um grande trilheiro…Um lado mais íngreme, ainda judiado pelas recentes chuvas, com os sulcos por onde a água avança e deixa sua marca na encosta. Demoramos mais na volta. Não por cansaço, mas por ser necessidade de um maior cuidado. Em duas ocasiões, acreditei que iria repetir o tombo. Não aconteceu por algo que se faz natural entre pessoas que se aventuram nas trilhas: a solidariedade. Cuidar de si, sem deixar de estar atento a quem está junto, especialmente quando se percebe a maior fragilidade em outros acompanhantes.
Valeu a pena. Inclusive, o tombo. O menino Zezé, no livro Meu Pé de Laranja Lima, ouviu dizer que era feio falar em “bunda”, que deveria substituir por “nádegas”. Achou difícil pronunciar a palavra, mas, quando usou, para ter certeza de ser entendido, preferiu usar “as nádegas da bunda”. Mesmo a experiência do chão duro do Cerro das Almas não arrefeceu a vontade de voltar. Afinal, entre tombos e trilhas, o importante é não perder o foco no companheirismo. É a resiliência que justifica vivenciar a solidariedade…
(Imagens geradas pela IA Gemini. Áudio e vídeo em https://youtu.be/V6m5EI6uask)
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