Artigo da semana:
As novas tecnologias deram, àqueles que conseguiram vencer o século XX, o privilégio de acessar os registros de momentos marcantes nas últimas décadas. Desde que a fotografia, o vídeo e o som passaram a conservar recortes de vida, enriquecendo a compreensão de eras passadas. Casos como, recentemente, assisti Ronnie Von cantando a música A Praça (uma das muitas que ainda sei de cor), numa abertura da Praça é Nossa (humorístico) e no programa da Hebe (já falecida, ambos no SBT).
Um turbilhão de lembranças de um tempo em que este acesso era difícil, porém, hoje, se faz presente na forma de “vale a pena ver de novo” em filmes, novelas, programas de auditório, atividades esportivas. Enfim, nutrem uma sensação de nostalgia por um tempo mais simples, quando os ídolos pareciam existir em um reino além da realidade. As novas tecnologias possibilitam conviver com os tempos em que este acervo se formava e não havia, ainda, instrumentos para o seu acesso.
Hoje, vive-se num tempo de solidão institucionalizada (negada ou menosprezada) e revisitar o passado é uma das formas de superar o isolamento não apenas para idosos e pessoas doentes, mas para muitos que, no dia a dia, sentem falta do convívio social e familiar. Para estes, o que é classificado como perigo por especialistas no uso das telas ao acessar as redes sociais e streaming, é a oportunidade de sentir-se participe de algum tipo de relacionamento humano. Mesmo que seja a distância.
Recentemente, muitos filmes recuperaram personagens que frequentaram o imaginário, como “bom rapaz ou boa mocinha”, em especial dos que foram jovens nas décadas de 70 e 80. É estranho, resgatar uma história de vida, da forma como as produções apresentam, que se distancia dos “modelos” que se “comprava” como sendo os ídolos de então. Revisita-se um passado em que a imagem era a superfície sem manchas e, hoje, as histórias vão sendo contadas com o amadurecer e o distanciamento do tempo.
Emblemático assistir ao filme “Homem com H”, a história de Ney Matogrosso. Em especial, narrando dilemas pessoais (familiares e sexuais), marcando o cenário artístico conturbado de então. Resta um gosto de que a precaridade do sucesso corrói valores e a própria vida, como os mitos do passado que desmoronam muitas vezes sob o peso do tempo e de uma revisão crítica dos fatos, ecoando a pungente canção de Cazuza, "O tempo não para". A imagem concebida de forma ingênua mostra o quanto a juventude é fugaz e cria mitos que não se sustentam na realidade e na revisão da história… (Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)
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