sexta-feira, 31 de maio de 2024

Uma gama de cores e sentimentos…

Por um momento, fecha os olhos.

Relembra o ambiente à tua volta.

É um mundo encantado de cores.

Se ainda não prestaste atenção, 

Pensa: Quais são as tuas preferidas?

Embora não se perceba,

Estão presentes em nossas vidas 

Por simpatia, instinto ou sedução…


Alegram a primavera

Com pincéis de contos de fadas,

Quando buscas o conforto de 

Uma estrada verde, onde vicejam flores, 

Árvores e trinam os pássaros.

Sentimentos que se tornam 

Confusos no outono e ainda mais

No rigor do inverno,

Num deprimente horizonte de uma tarde cinza.


Espiar a rua pela manhã,

Esperando por um raio de Sol

Que se espreguiça ao invadir o quarto,

Soprando o breu da noite.

Quem sabe, no entardecer,

Em que o aconchego das misturas de tons

Silencia o corpo cansado e

Propicia um arranjo harmonioso.


A escolha das roupas no início da jornada.

Respirar fundo quando se caminha

Por uma rua de casas multicoloridas.

Encantar-se com o arco-íris

Na pintura de um horizonte

Que somente a natureza oferece.


Deixar que a criança se lambuze,

Sem a preocupação de combinar matizes,

Apenas pelo prazer de tê-las nos dedos.

Com um olhar especial sobre

Seu pequeno mundo

Onde pincela muitos dos seus sonhos.


A agonia de quem não consegue sentir 

O gosto que os olhos alcançam nas cores.

O peixinho que tendo os limites do aquário 

Nunca conseguirá alcançar a policromia do mar.


Quem coloriu o Paraíso?

A paixão está nas cores,

O ódio está nas cores,

Os sofrimentos estão nas cores…

A vida se derrama por um desenho mágico

Onde se misturam matizes e agonias.

Pigmentos que pincelam a vida

Ao oferecer uma gama infinda de

Cores e sentimentos…

terça-feira, 28 de maio de 2024

Os rostos do “novo normal”

Quando os desastres climáticos ficaram mais frequentes, especialistas passaram a falar em um "novo normal" para um meio-ambiente em transformação, tristemente, para pior. Apesar dos negacionistas, não há como contestar que, sem completar um ano, os gaúchos passaram por cinco grandes enchentes, tomando como referência a grande Porto Alegre, os vales que alimentam o Guaíba, Lagoa dos Patos e chegam ao mar. Infelizmente, curar as feridas do planeta é tarefa para médio e longo prazo.

O certo é que, havendo eleições em outubro ou elas sendo postergadas, é necessário separar o joio do trigo no que se refere à atuação da Prefeitura e do Legislativo. Descontando-se oportunistas de plantão, os municípios precisam de nova consciência, que resulte em legislações adequadas, onde se inicie por educação, com o conhecimento topográfico das áreas rurais e urbanas, passando por planejamento estratégico de evacuação de áreas de risco, assim como maior rigor nos licenciamentos ambientais.

A grande lição está, exatamente, em saber que esta deixou para trás a enchente de 1941 (não pensando numa disputa, como fizeram alguns meios de comunicação), havendo uma troca de patamar, pois se tem bem mais gente concentrada no meio urbano do que no rural. E se presenciou o descaso na prevenção e conservação de estruturas existentes e investimentos, encontrando autoridades aturdidas, correndo atrás do prejuízo. Eleitos e bem pagos, é tarefa do governo providenciar soluções em tempo de crise.

Lamentavelmente, temos dirigentes mal preparados e uma população mal-educada. O “novo normal” começa dentro de casa, no ambiente familiar e social mais próximo, com a conservação de esgotos e tratamento do lixo. Que não termina ao se depositarem os sacos com detritos na rua, pois é comum se ver material mal-acondicionado que facilmente se rompe e tem potencial de entupir bueiros. Mas nada disto será suficiente sem ter a efetiva participação da sociedade, cobrando e fazendo a sua parte.

Por detrás das estatísticas estão os rostos do “novo normal”, com histórias daqueles que foram morar em zonas de risco. A odisseia das desgraças que se repetem. A sociedade, novamente, supre carências da administração pública. Mas não é suficiente. São muitas lições a serem aprendidas, muitas perdas de vidas lamentadas, muitas perspectivas de futuro tolhidas. A vida que continua, restando um fio de esperança de que “brasilidade” seja o sentimento que não permite que nossa gente desista... inclusive dos políticos!

domingo, 26 de maio de 2024

Na dourada manhã de inverno

Os brinquedos ficaram espalhados pelo chão.

No silêncio da espera,

Aguardam por ti, no mesmo lugar

Onde a magia do sol das manhãs de inverno

Cruza os vitrais das janelas e 

Aconchega risadas e brincadeiras. 

 

Tua inocência e teus sonhos são a razão 

Para que ganhem vida e habitem a tua imaginação. 

A metamorfose da arquitetura em que 

A mesa vira garagem para os carros,

Junto com a baia em que 

Descansam cavalinhos multicoloridos.

 

O jacaré espera debaixo da samambaia,

Uma mistura de floresta e pântano, 

O lugar de onde fazes resgates e, depois,

Consertas o pneu do caminhão.

 

Crias universos que apenas tu consegues entender.

Neles não são necessárias explicações plausíveis, 

Mas o desejo de criar 

Uma realidade que corresponde à tua fantasia.

 

És o meu raio de sol em muitas manhãs.

Na espera de que me chames

Para arrumar tua meia

Ou retirar farelos de pão do teu rosto.

Quem sabe,

Ainda a distância, ouvir-te chamar por "tio"!

 

Que nome tens? De um anjo, de um arcanjo?

Rafael, Gabriel, Miguel?

O desejo de Deus de que Suas criaturas amadas

Recolham as asas, esqueçam do tempo,

Assumam o jeito e os trejeitos de uma criança 

Que brinca na dourada manhã de sol no inverno…

sexta-feira, 24 de maio de 2024

A fronteira do teu olhar

Gasta-se um longo tempo para

Construir lembranças que 

Os infortúnios não apagam.

Com elas se aprende que é difícil

Dissipar o que assombra a memória.



No lugar em que as reminiscências esperam

Ouves o eco da minha voz 

Implicando em repetir teu nome.

Quem sabe, quando deitamos na grama 

Tendo o privilégio de contemplar 

As estrelas e o voo dos pirilampos. 


Talvez, o quanto gostavas de rever fotografias,

Reencontrar bilhetes amarelecidos, 

Ou quando começamos a brincar

Com as figurinhas que diziam: "Amar é..."


Caminhar ao teu lado,

Sem rumo e preocupações,

Apenas pelo prazer da tua companhia;

No privilégio de

Mirar teu rosto

Enquanto partilhas os raios do Sol...

 

Conversar sobre amores e amizades,

De corações partidos,  

Das tentativas de costurar o que ainda sangra,

Sem tempo e sem relógios...

Sentir que a teimosia, muitas vezes, 

Impede de lutar

Pelo simples direito de ser feliz. 


Ser egoísta, 

Nem que seja apenas por um momento,

Para te prender em meus braços, 

No desejo de que não sejamos apartados das

Pequenas grandes alegrias do dia a dia.

O tempo precioso de rir sem qualquer motivo 

E não se sentir culpado por jogar conversa fora. 


A fronteira do teu olhar 

É a barreira do tempo transformada

Em frustrações e anseios;

Quando os obstáculos já não moram no outro,

Mas na incapacidade de 

Viver a expectativa da espera.


É então que deixas morrer 

O que é puro encantamento...

Construir boas memórias

É sempre a difícil e sublime tarefa

De reaprender a sonhar!



terça-feira, 21 de maio de 2024

A estrada que se constrói para o “futuro”

Os problemas do Rio Grande do Sul com as enchentes podem ser oportunidade das boas lideranças administrativas, políticas e empresariais mostrarem competência e visão de futuro. Para além das diferenças e dependência de esmolas, desde agora, governo do Estado e prefeituras precisam olhar para depois que as águas baixarem. Acompanhados pela sociedade, pois, infelizmente, fomos domesticados a aceitar, sem reclamar, termos um dos maiores volume de impostos do mundo com serviços que não correspondem.

Neste momento, a fanfarra de algumas autoridades propala haver dinheiro para todos os fins. Infelizmente, é apenas discurso, pois sabem que a sociedade se acomodou, ouvindo esta cantilena desprovida de ressonância no caixa. Capital existe, sim, porém, mal distribuído, especialmente em manter quem se apropriou da máquina pública. É uma conversa comprida. Os bons quadros de todas as áreas dificilmente são ouvidos porque já apontaram os problemas e soluções, mas foram desconhecidos e criticados...

São tempos de exceção. No entanto, o consumidor não pode ser penalizado pela cadeia de perdas que inicia no produtor rural, passa pelo caminhoneiro e chega ao comerciante, especialmente o pequeno. Assim como quem viu estoques destruídos. Sem contar os reajustes criminosos de quem se antecipa ao que ainda vai acontecer. Um processo doloroso, sabendo que ficam cicatrizes. Não é hora de ganhar com a desgraça alheia, mas compartilhar perdas, minimizando, especialmente, para quem ficou desassistido.

Quem deseja silenciar os críticos aposta na memória curta do brasileiro. A crítica, em qualquer momento, é o respiro de sanidade mental e o freio para os desmandos das figuras públicas. Não se preocupa em fazer média com os administradores e políticos de plantão, sendo, muitas vezes, "uma voz que clama no deserto". A generalização de que não se deve criticar agora, mas unir esforços é uma falácia histórica desnecessária. No entanto, sempre repetida por administradores e políticos incapazes de inspirar confiança.

Falando o “gauchês”, políticos e empresários têm, na atual situação, um “cavalo que passa encilhado”. Chance para projetos que não sejam oportunistas, envolvendo setor público e iniciativa privada. Apesar da rasteirice de discursos que caem na vala comum, emergem lideranças e políticos de bom senso. Eles podem capitanear a recuperação do que se perdeu e traçar novo perfil para um estado cansado de viver de glórias passadas... Precisa trabalhar no presente, com um olho na estrada que se constrói para o “futuro”.

domingo, 19 de maio de 2024

Teu segundo nascimento

Eram minúsculas as mãozinhas

 Emergindo da enchente,

Parecendo um raio de esperança,

Alvorecendo em meio à tormenta.

Envolveu os dedos da mãe,

A garantia de que ainda é possível

Encontrar uma razão para sorrir.

 

A lágrima teimando em rolar e

 

O olhar despertando de um pesadelo

Foi a gana pela vida,

Nem que seja, apenas,

Naquele instante,

Em ter a possibilidade de abraçar um filho...

 

Nos olhos semicerrados,


 A procura por um abrigo.

É muito cedo, ainda não sabes,

Mas quando teus dedinhos se fecham,

Na inocência do teu carinho,

São bênçãos e

Despertam um turbilhão de sentimentos.

 

Estás bebendo do que há de mais puro:

 

Experimentas, antes de qualquer definição,

O sentido e a razão de amar e ser amado,

Por toda a entrega que uma mãe é capaz de dar.

Razão para não te preocupares.

Estás cercado por uma muralha de carinho.

 

Sobre ela, soprarão os ventos,

 

Outras tempestades serão inclementes,

Pondo à prova a força de quem te protege.

Teu abrigo e porto seguro serão sempre

Os braços e abraços de quem te resgatou.

Teu segundo nascimento:

Os laços que desejarás serem para sempre,

O desejo de que se prolonguem por toda a tua vida...

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Na doçura do teu perfume

Não foram tuas palavras,

Mas teus olhos a derramarem 

A intensidade da tua desesperança.

Murchaste acreditando nas tuas falhas

Como brechas que,

Embora todos os teus esforços,

Não alcançavas a forma de consertar.

 

Quando acreditaste estar sozinho,


Eras uma flor se despetalando,

Sem perder a essência

De continuar exalando a tua natureza.

Mesmo quando tuas pétalas ressecaram,

Ainda guardaste o odor que permanece

Como um gesto de carinho

Bailando no ar entre seres que se amam...

 

Não precisas ter medo das tuas falhas.

Com elas permites à luz chegar

Aos calabouços dos teus sentimentos.

As rachaduras que o tempo e as decepções

Deixaram como marcas em teu corpo

Não pedem apenas por cura,

Mas respeito às marcas

Entranhadas em tua pele e em tua alma.

 

Elas se formaram em torno dos teus olhos,

Marcaram tuas mãos,

Fizeram dobras e sinais por teu corpo.

Ao te olhar no espelho,

Tua imaginação percorre outros tempos

E ganha contornos idealizados.

 

Não é a tua fantasia,

Mas a realidade imaginada.

Aquela em que se convive

Com o outro aprisionado,

Mas ainda se sonha

Em manter o viço possível.

Pelo olhar, encontra-se a vida

Ainda palpitando e se negando à finitude...

 

Continuas rescendendo ao mesmo aroma,

Que já não pode ser abafado,

Assim como deixaste um rastro

De sentimentos e energias positivas

Pelos lugares por onde passaste.

A doçura do teu perfume

É mais do que uma fragrância,

É um misto de beber a saudade,

Que ainda exala

O gosto de sonhos e devaneios!

terça-feira, 14 de maio de 2024

Não se pode reclamar: fomos avisados...

 A catástrofe que se abateu sobre o Rio Grande do Sul era uma desgraça anunciada. Os avisos se sucederam e, o maior deles, veio em setembro do ano passado. Infelizmente, a perda de patrimônio e de vidas não acelerou a máquina administrativa que continuou empurrando as soluções com a barriga. Medidas que se tornaram pífias ou ações tímidas, quando não beiram o descaso. Em uma reunião, presidente, governador, líderes da câmara e do senado disseram que não é a hora de procurar culpados...

Nenhum deles deixou o cômodo dos helicópteros e aviões públicos (pagos com o seu e o meu dinheiro) e, sequer, abriu mão do pagamento de diárias ou de um mês de salário, em benefício dos flagelados, para fazer o “turismo da desgraça”. Sobrevoaram áreas alagadas, sem o desprazer de andar por ruas com água pela cintura ou entrar em casas destruídas e encontrar móveis e utensílios arrastados pela correnteza. Ali, literalmente, um pouco da história de cada um - e de suas comunidades - estava sendo jogado no lixo.

Imagens das casas desabando ou sendo levadas pela correnteza, móveis e utensílios boiando nas águas é o resultado do rio que fugiu ao seu leito e invadiu áreas de ocupação irregular, seja por teimosia de moradores ou omissão de autoridades que fecharam os olhos para habitações irregulares. Infelizmente, ainda não aprendemos: somos interdependentes no que se refere ao meio ambiente e o habitat do homem. Pois, sempre que acontecem, as desgraças climáticas têm um efeito dominó.

Na natureza, não existem castigos dos Céus, mas consequências do que o próprio ser humano provocou. Os rios apenas pedem passagem como consequência dos fenômenos naturais. O excesso de águas ou o seu assoreamento faz com que saia do seu leito e cause os transtornos que são sentidos. Vale a pena lembrar que, na década de 70, já se ouvia falar a respeito dos “ecochatos” (os ambientalistas), num tom de zombaria e de acusação, pois atrapalhavam o desenvolvimento do “Brasil que vai pra frente”.

Época dos governos militares e de um ufanismo em que o progresso era razão de ser das administrações, sem medir consequências. Os “ecochatos” mostraram-se profetas de males não tão distantes. Embora as belezas naturais, o Brasil é um país marcado por feridas ambientais. Em um tempo onde já existem tecnologias para manter cidades abaixo do nível do mar, não se pode reclamar: fomos avisados. Faltaram investimento e vontade política na prevenção e cuidado com um bem elementar: a própria vida!

domingo, 12 de maio de 2024

Uma réstia do que seja a esperança...

Quando as águas bateram

Na soleira da tua porta,

Sentiste a dor de não saber a quem recorrer.

Tinhas horizontes devastados

E o medo de pedir por um pouco de solidariedade.

 

Fizeste a peregrinação de quem

Deixou a casa

Pelas águas turvas e mal cheirosas.

Não há mais leito na rua,

Segues com aqueles que

Abandonaram o pouco que tinham,

Na luta desesperada pela vida.

 

Foram mãos de anjos

Que te levaram a um lugar seguro.

Anestesiado pelo sofrimento,

Precisas encontrar sentido em não desistir.

Pouco te restou do que era material

E o que chamam de dignidade

É um luxo que a sociedade não te alcançou.

 

Balbucias uma prece para não perder a fé.

Onde pisaram os teus pés?

Quando olhas para tuas mão e

Sentes o teu corpo cansado,

És a imagem viva da angústia de

Não saber por onde andaram.

 

Foram os momentos em que,

Ao levantar os braços para fora da correnteza,

Sentiste que outros,

Iguais aos teus, também se erguiam.

Não desistir, continuar andando,

Tentando manter

Uma réstia do que seja a esperança.

É preciso continuar olhando para os céus,

Rezando pelo Sol, que insiste em não voltar...

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Perdoa as minhas incertezas

Eu não te esqueci.

Embora continue acreditando

Que muitas vezes

Não lembrar pode ser uma bênção.

A dor mascarada

Pelo silêncio e pela ausência é

O inferno das lembranças

Que causaram mágoa e

Insistem em retornar.

 

Lembranças são pequenos fragmentos.

Precisam de tempo para se formar

E, então,

Podem ser uma promessa de proteção

Ou castigo de Deus.

Estás certo,

As reminiscências não te abandonam

Depois que se fixam nos recônditos da memória.

 

Quando se pensa em abandoná-las

Cobram um preço por

Manter alguma forma de sanidade.

Ficar preso às recordações

Aumenta a dor que se estampa

Na profundeza de um olhar,

Onde a melancolia turva as emoções

Num mar revolto por dúvidas e frustrações.

 

Só depois de dizer adeus

É que se sente o quanto pesa a solidão.

O sentimento do silêncio quase eterno,

Do abandono,

Que pesa sobre os ombros e alcança a alma.

Nem sempre é possível compartilhar,

Necessitando encontrar quem dá sentido

Em se pensar que não se está sozinho.

 

Há momentos em que

A realidade foge a qualquer compreensão.

Então,

Se não me ouvires dizer um adeus

É porque ainda há esperança de nos reencontrarmos.

Quero que sejas feliz com teus sonhos,

Negando-te a minha dor,

Transformando o teu padecimento em carinho.

 

Perdoa as minhas incertezas.

Não te entristece se não entenderes.

Porque, quando

As explicações já não conseguem revelar,

O que ameniza a dor da solidão

É, simplesmente,

Um ombro que anestesia as lembranças,

Um sorriso que costura feridas e

Um abraço que precisa ser bem demorado...

terça-feira, 7 de maio de 2024

Francisco, comunicação e Inteligência Artificial

Nenhuma definição técnica pode ser fechada em si. Porém, antes que se questione sua aplicação, é necessário entender o que é. Falo a respeito de “Inteligência Artificial”, a IA. Área fascinante e promissora da tecnologia atual, pois permite que máquinas e dispositivos eletrônicos reproduzam competências semelhantes às humanas, como o raciocínio, aprendizagem, planejamento e a criatividade. Tarefas, até então, exclusivas do ser humano, muitas vezes necessitando da atuação de profissionais especializados.

É exatamente sobre este tema que o papa Francisco propôs à sociedade internacional que se debruce, no próximo domingo, 12 de maio, considerado pela Igreja Católica como o Dia Mundial das Comunicações Sociais. O desafio está no tema: “Inteligência Artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”. A IA modifica de forma radical a informação (de uma forma genérica) e a comunicação (de um jeito específico). Surpreendendo até quem se acostumou com as novas tecnologias.

É bom repetir que todos aqueles que nasceram antes deste século experimentaram uma “rápida difusão de maravilhosas invenções, cujo funcionamento e potencialidades são indecifráveis para a maior parte de nós”. Na sua mensagem, Francisco fala que estas novidades suscitam um “espanto que oscila entre entusiasmo e desorientação” (e diria: apatia daqueles que até vão usar sem entender o que significam). Questiona: “como se permanecer plenamente humano e orientar para o bem a mudança cultural em curso?”

O ponto de partida é o coração, onde é necessário limpar o terreno das leituras desastrosas e efeitos paralisadores. Romando Guardini, sobre técnica e homem, convida a “não se inveterar contra o “novo” na tentativa de conservar um mundo belo condenado a desaparecer”. Tendo como referência “um novo tipo humano, dotado de uma espiritualidade mais profunda, de uma nova liberdade e de uma nova interioridade”, num tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade.

Alerta: “a resposta não está escrita: depende de nós... Não se trata de exigir que as máquinas pareçam humanas... Chegamos às máquinas sofisticadas que funcionam como auxílio do pensamento. Entretanto, cada realidade pode ser contaminada pela tentação primordial de se tornar como Deus, sem Deus”. O certo é que “cada prolongamento técnico do homem pode ser instrumento de amoroso serviço ou de domínio hostil”. Afinal, só ele (o homem) pode tornar possível uma comunicação plenamente humana.

domingo, 5 de maio de 2024

Um pedaço de bolo e suas migalhas

A chuva de outono

Dita o ritmo da dolência,

Batendo suavemente na janela.

O meio da tarde, aos poucos,

Carrega os ruídos que chegam de

Um lugar misterioso na casa.

 

Dali, o ar fica impregnado de aromas,

Lentamente, percorrendo corredores,

Se infiltrando pelas frestas das portas,

Brincando com os meus sentidos e

Despertando da sonolência e da letargia.

 

Todos os caminhos convergem para a cozinha.

Onde receitas misturam sabores e sorrisos.

A magia de estar em torno de uma mesa

Faz com que se perca a noção das horas,

De um relógio que,

Benevolente, passa a sussurrar o tempo...

 

Mãos encantadas

Misturam grãos e temperos.

Alimentos transpiram

Na alquimia

De uma xícara de café

E um pedaço de bolo fumegante.

Sabores se dissolvem na boca e

Manjares tem um perfume inebriante.

 

A chuva batendo na janela

É um detalhe no aconchego

Em torno do fogão.

Onde o doce sabor de uma fatia e suas migalhas

É o manjar que desperta risos,

Torna a vida mais leve e acalenta o coração!

sexta-feira, 3 de maio de 2024

O pôr do Sol, o Álamo e o riso das estrelas

No pôr do Sol,

A magia dos raios

Salpica luzes por sobre as águas.

O entardecer aconchega.

As folhas do Álamo voam para longe.

Espraiam-se ou se juntam,

Ao sabor da procissão do vento.

Intensificam-se

As cores que marcam a estação da espera.

 

O dourado do horizonte

Mescla-se com o das árvores,

No tempo em que o frio se aproxima,

Já trazendo

Os rastros do outono.

É quando,

No silêncio da terra,

As sementes adormecem

E aguardam a passagem do inverno.

 

A paisagem perde muito das suas cores

E o primeiro frio

Aperta o coração que

Mareia lágrimas silenciosas.

Não é possível desistir.

Esfrego as mãos, me encolho e

Estico o olhar em direção do horizonte,

Que ainda consegue dourar

As nuvens,

Numa explosão de tons e de cores.

 

Sinto falta de alguém que ajude

A encontrar

Uma oportunidade para ser feliz.

Mesmo tendo sido capaz de

Rascunhar páginas da vida,

Onde rasguei possibilidades

E me encantei com pequenos milagres

Que alvoreceram em meu peito.

 

Preciso também fazer o tempo da espera.

É difícil parar quando tudo se atropela

E julgo que o Mundo não anda

Sem que eu possa ajudá-lo.

Dou-me conta de que o andar é constante

E outros já passaram à minha frente...

 

Quando o relógio insiste

Em tiquetaquear amarguras,

O tempo diverte-se num sorriso enviesado.

Então, basta saber que a Lua,

Soberana por sobre um mar de nuvens,

Ilumina caminhos por onde brincam as musas,

Encantadas com o riso que se ouve das estrelas!