terça-feira, 20 de dezembro de 2022

José: o sonho de um pai do coração

José acordou preocupado. Como todo o seu povo, tinha profundo respeito por aquilo que lhe aparecia em sonhos. E não podia negar: naquela noite, o que vira tinha sido muito estranho. Estava carregado de ansiedade porque havia uma jovem que lhe tinha sido prometida em casamento. No entanto, a menina estava grávida e, até o dia anterior, sua decisão havia sido de que a rejeitaria secretamente, para não difamá-la. Não queria expô-la à vergonha pública, à condenação por adultério e, como pena, a própria morte.

Mesmo sabendo que havia sido um sonho, ainda estava abalado com a clareza com que lembrava de cada detalhe da presença de um anjo de Javé. Não se considerava um dos maiores conhecedores da Torá e dos livros sagrados, mas a presença deste ser especial iluminara sua morada com o anúncio de que não deveria renegar Maria, mas que o menino que estava a caminho era o esperado por Israel. Nasceria pela ação de Javé, com a humanidade de uma mãe e a graça de um pai adotivo, um pai de coração.

Foi para a oficina, onde talhara as mãos e o espírito no serviço em que enrijecia o corpo, sem perder o perfume e a leveza do amor que tinha por Maria. Com certeza, não conseguia entender tudo, mas sentiu que faria parte de algo maior, sem reivindicar o direito de primogenitura do sim de Maria, certo de que Jesus encontraria um pai, apoiador, companheiro, capaz de segurar a mão da esposa e do filho. O filho seria mais do que uma expectativa, a realização de uma lufada de ar fresco sobre a humanidade.

Não eram tempos fáceis, bem sabia, mas, se dependesse dele, facilitaria os caminhos para que o despertar daquele dia fosse o motivo para continuar um belo sonho. Haveria muito trabalho para explicar para as pessoas que estava resignando a um filho biológico para ganhar o direito de trilhar não um caminho que explica, mas uma senda que acolhe. A fragilidade da criança precisaria ser vencida pelos cuidados com sua jovem esposa e com o recém-nascido, que em breve acolheria e haveria de ninar em seus braços.

Por onde andaria? Em que situações precisaria de cuidados? Poderia ser um pai normal, enquanto Deus explicitasse a sua vontade? Olhou pela porta e pensou que, logo, Maria estaria ali com seus pais. Conversariam, trocariam confidências, partilhando alegrias e preocupações. Apresentariam ao filho suas experiências de vida. Explicariam a Lei e os Profetas, como vivia e sofria seu povo, passeariam pelos arredores de Nazareth, mostrando o seu pequeno mundo, e viveriam intensamente cada instante em família!

Não tinha todas as certezas. E não precisava. Tinha a sua fé e um lugar onde vivê-la: o seu lar, a sua família. Queria tempo suficiente para ver se cumprir o que era anunciado nas sinagogas, para onde, logo-logo, iria, acompanhado de Maria e de Jesus. Colocaria o seu conhecimento e o seu coração para que Ele fosse apenas um menino, trazendo em si a presença de Javé. Descobririam que nem toda a lágrima precisa se transformar em dor, mas que todo o sorriso do menino, mesmo enquanto dormia, seria uma bênção!

Receba, no seu coração, um beijo da família de Nazareth!

Um feliz e abençoado nascimento do Senhor!

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