domingo, 14 de novembro de 2021

As bolinhas de gude, as figurinhas e os gibis...

Três irmãos vão passar as férias escolares no sítio da avó. Não é apenas uma área de lazer, mas lugar em que, junto com um auxiliar, a idosa faz um pouco de tudo para manter a sua sobrevivência. Durante o dia, as crianças passam bem, envolvidas em aventuras com as novidades de quem sai do meio urbano. À noite é que é o problema. O silêncio apenas quebrado pelo ruído de animais é estranho, bem diferente do agito da cidade, que percorre a madrugada. Andando e brincando pela casa, descobrem a sala onde a avó trabalha. Na mesa, um punhado de contas espalhadas…

Pensam, ser o motivo deles trabalharem tanto e andarem preocupados. Resolvem juntar tudo o que têm para colaborar, de alguma forma, e salvar o lugar. Quando a senhora e o ajudante descobrem as “contribuições”, as crianças já estão dormindo. Ficam emocionados, pois as contas são antigas e já foram saldadas. Lembrando da reclamação das crianças, resolvem subir numa árvore que fica em frente ao seu quarto e tentar reproduzir os ruídos a que estavam acostumados na cidade. Até os animais do sítio dão a sua contribuição para tornar o meio rural um pouco mais urbano…

Para quem ainda não ouviu, a história faz parte de um gibi do pato Donald. Os personagens são a vó Donald, Huguinho, Zezinho, Luizinho e o Gansolino. Criação de Walt Disney que frequentam a imaginação de todos nós há mais de 85 anos. Eram de todos os tipos, com histórias infanto/juvenis, de farwest, de terror e de viagens pelo espaço, sem contar as “eróticas”. Com apenas uma história ou mais, eram periódicas e se perseguia o seu Ananias, o jornaleiro, para saber se haviam chegado. A festa maior era, no final do ano, com os almanaques, uma coletânea especial dos personagens.

A lembrança veio com a notícia de que a Biblioteca Pública do Estado inaugurou uma gibiteca. Lugar para crianças e adolescentes de todas as idades reencontrarem com figuras que auxiliaram a criar o hábito da leitura, fizeram parte do estímulo necessário para, depois, avançar em direção aos livros. Num tempo em que estes estavam fora de nosso alcance - os pilas eram curtos - ganhar um gibi significava ter condições, depois de lido, de trocar entre os companheiros de brincadeiras na rua ou na entrada do cinema (também bolinhas de gude e figurinhas...), nas matinés de domingo.

Na minha infância, ainda haviam figuras como o tio Patinhas, Mickey, Pateta, Margarida, madame Mim, Maga Patológica e tantos outros que, recentemente, descobri em animações de páginas no YouTube. Fiquei um longo tempo vendo os velhos personagens, com as mesmas características dos desenhos, mantendo as antigas histórias: uma aventura, atores atrapalhados, mas um final feliz (às vezes com uma pequena perseguiçãozinha…), com o sentimento de que havia uma lição a ser aprendida, especialmente no respeito ao outro, com valores vividos em família ou em sociedade.

A Biblioteca Pública Pelotense tem uma sala de leitura infantil, onde também tem uma ala de gibis. O hábito da leitura é um entretenimento que estimula a concentração. O pequeno mundo de cada um de nós se expande e faz percorrer outros universos. A aquisição de novas ideias enriquece a capacidade de raciocínio, assim como o vocabulário das crianças. Mas que não está fora do alcance de jovens e adultos… É bom, mesmo depois de tanto tempo, percorrer suas páginas e voltar aos lugares onde a fantasia e a imaginação eram a riqueza de que necessitávamos para tocar a vida!

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