quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Faltam três

Pelotas viveu a maior catástrofe de sua história quando o ônibus com os profissionais Xavantes não venceu a curva que levaria à BR 392 e tombou de uma altura de mais de 30 metros, fazendo três vítimas fatais – Millar, Régis e Giovane – e dezenas de vítimas físicas. A cidade amanheceu uma sexta-feira de sombras. Torcedores de qualquer dos times andavam sem conseguir entender e, muito menos, aceitar, que a desgraça tivesse aberto seus braços sobre uma torcida que sabia, literalmente, o que era “bombar” um time.
O meu espírito áureo-cerúleo sofre por conviver num local em que há uma autêntica “nação xavante”, coisa diferenciada em todo o Brasil, onde um time de futebol não conta com 11 jogadores, mas com 12, pois o “bafo” faz a diferença.
No acidente que vitimou os profissionais ficou claro que não há como, num primeiro momento, analisar apenas as questões futebolísticas, mas também o caráter de cada um. Cláudio Millar, um uruguaio, que transformou a camiseta do clube em sua segunda pele. Não só queria terminar a carreira como jogador, mas também ser presidente do Brasil, num futuro! Régis veio das categorias de base, percorreu todos os níveis e, além de um espírito alegre, era considerado um líder. Giovane, um professor de educação física, trabalhando com crianças carentes em escolinha, que somente estava no futebol porque era um torcedor xavante!
No entanto, quando, se discute o futuro do Esporte Clube Brasil, temos que registrar: embora considerada uma torcida violenta, quando provocada, o que se viu foi uma despedida emocionante e, no templo do futebol, um silêncio profundo e respeitoso por personalidades que já fazem parte da história de Pelotas. Marcaram seu espaço e merecem o reconhecimento da sociedade, que se divide entre três agremiações esportivas, mas, num momento como este, reconhece a tragédia que se abateu sobre o espetáculo: perdemos adversários de talento que, em qualquer apresentação, fazem a diferença para um bando de pernas de pau.
Millar, Régis e Giovane. Faltam três. Diferentes em seu estilo, mas com uma única paixão: o futebol, não deixando de lado um mar de torcedores, levando a qualquer lugar - em Pelotas, no Estado ou no Brasil – a certeza de que, ao dobrar uma página da História, haverá um guerreiro – como o Milllar – a estender o arco e apontar uma flecha para o futuro.